Este artigo pretende refletir sobre a idealização do papel feminino na personagem Dulcinea del Toboso da obra El Ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha (1605-1616) em oposição à lavradora Aldonza Lorenzo, uma camponesa rude e de pouco trato, representante da mulher trabalhadora rural do século XVII. No capítulo X da segunda parte, Miguel de Cervantes, (1547-1616) configura o modelo feminino criado pela tradição do amor cortês, da qual as novelas de cavalaria do século XI e XII são exemplos, e Dulcinea del Toboso, coroamento. Um senhor que, como Don Quijote, tivesse partido às batalhas pensando em restabelecer a justiça social e os valores cristãos no mundo, precisava ter a quem oferecer suas vitórias, uma bela donzela que o esperasse cheia de amor e saudade, seguindo, assim, o modelo proposto por aquela tradição. A mestria de Cervantes consiste em fazer sua obra mergulhar no imaginário popular criado em torno a uma atitude fictícia frente à vida. Os cavaleiros andantes ocupam um papel relevante nesse imaginário: eles juravam vassalagem à mulher e sofriam qualquer tipo de provação pelo seu amor. Dessa situação, derivam todos os parâmetros de avaliação de Don Quijote. A temática deste capítulo se articula nos códigos de cavalaria. Normas e ditames morais são obedecidos cegamente pela personagem para modificar seus atos ou conduta. Observa-se que tal aspecto é decisivo para a constituição da subjetividade moderna e a compreensão da forma de construir a realidade na obra