Apresentação de Dossiê intitulado Práticas desobedientes nas artes, na educação e na vida
(Org.).
Dra. Roberta Stubs
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Dr. Rafael Guimarães
Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ

Guimarães, Rafael

Stubs, Roberta

Portuguese

Portal de Periódicos da UNEB

É tempo de radicalidades: Práticas desobedientes nas artes, na educação e na vida STUBS, R.; GUIMARÃES, R.    4      É tempo de radicalidades:  Práticas desobedientes nas artes, na educação e na vida  Es tiempo de radicalidades: Prácticas desobedientes en las artes, la educación y la vida  It's time for radicals: Disobedient Practices in the Arts, Education, and Life   Profa. Dra. Roberta Stubs1 Universidade Estadual de Maringá (UEM)  Prof. Dr. Rafael Guimarães2 Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)    O presente dossiê se propõe a pensar práticas desobedientes nas artes, na educação e na vida. Desobedecer é praticar a vida por linhas dissidentes, é ativar nossa imaginação criadora para além do pensamento binário e das classificações que hierarquizam e ceifam os diferentes modos de viver em sua multiplicidade heterogênea. Como tempo de radicalidades, invocamos nesse dossiê a necessidade de esgotar o possível como condição também de criar outros mundos. Tomamos como radicalidade a prática inventiva de criar outras suavidades e sensibilidades, que hackeiam a realidade para ficcionalizar a vida sobre outras bases estéticas, políticas, éticas e poéticas. Tal como aponta Preciado (2021), falamos diretamente da  1 Artista, curadora e pesquisadora com doutorado em psicologia com ênfase em arte, gênero e produção de subjetividade pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Assis.  Líder do DOBRA - grupo de pesquisa em arte, subjetividade, educação e diferença. Professora do curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Maringá. Com trabalhos em fotografia, vídeos e objetos, insere a questão da experiência no lugar da representação. Apagamento, deformação, derretimento e deslocamento tem sido operações plásticas e visuais para tensionar clichês, fabular narrativas contra hegemônicas e ativar outros planos de sentido e sensações. Possui experiência na área de psicologia, arte contemporânea e gênero, com ênfase em processos de subjetivação na contemporaneidade e políticas inventivas da vida. https://orcid.org/0000-0002-1089-5499 Endereço eletrônico: robertastubs@gmail.com. 2 Artista moquequeiro, psicólogo, professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós Graduação em Artes, Urbanidades e Sustentabilidade da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), docente do Programa de Pós Graduação em Educação/UFBA e Psicologia/Unesp Assis, líder do grupo de pesquisa GRIETA. Tem pesquisado-criado no campo das escritas e imagens documentais, narrativas autobiográficas e performance, com ênfase no debate sobre as diferenças, dissidências, culturas alimentares e autonomismos políticos. https://orcid.org/0000-0001-9864-9825 Endereço eletrônico: rafaorlando@ufsj.edu.br. 5 5 ABATIRÁ - REVISTA DE CIÊNCIAS HUMANAS E LINGUAGENS Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII V4:: n.7 Jan : Jun :: 2023. p. 1- 497 ISSN 2675-6781   AApprr eess eenntt aaçç ããoo          DDooss ssii êê  TTeemmáá tt iicc oo  encruzilhada, um local onde opostos não existem, onde as margens se encontram para invocar pedaços de horizontes. Questões relativas às dissidências sexuais e de gênero, relações étnico-raciais, políticas das corporeidades, debates feministas e reflexões alinhadas aos pensamentos pós, contra, anti e de/s/coloniais nas artes, na vida e na educação se apresentam nesse dossiê como forma de praticar e imaginar o mundo numa radicalidade outra. Artigos, ensaios, resenhas, relatos e experimentos artísticos figuram nesse volume como um modo de também praticar o pensamento em sua radicalidade. No primeiro artigo Isabela Cabral Felix de Sousa e Ana Lucia de Almeida Soutto Mayor analisam o filme A Onda, lançando um olhar crítico para os discursos autoritários que tem refletido perigosamente no campo da educação. Dado a atualidade desse debate, haja vista os violentos ataques à algumas escolas no Brasil, e tendo em vista um horizonte de transformação, o artigo reflete tanto sobre o papel do professor em sala de aula quanto sobre a pressão do contexto social em episódios de violência e autoritarismo.   “Da criação de corpos, famílias e conhecimentos do axé”, é o segundo artigo desse dossiê. Nele, Cátia Oliveira se vale de relatos de experiencia de adeptos do candomblé na cidade de Belmonte-Bahia para pensar sobre como os processos de inserção no candomblé se relacionam com a transmissão de conhecimentos baseados na ancestralidade. Pertencimento, gênero e outras práticas de cura são articulados a partir de uma outra matriz de sabedoria.  Compartilhando inquietações políticas, produções artísticas e articulações teóricas, nesse terceiro artigo, Ruth Piveta e Fernanda Magalhães versam sobre a exuberância das corpas gordas em suas vivências num tecido social violento quanto às dissidências e desviâncias da norma. A aposta das autoras é nas artes políticas e performáticas como modo de driblar os fascismos de nosso tempo presente.  Kauane Bernando e João Paulo Baliscei, por sua vez, refletem sobre as desobediências de gênero desde a cultura visual. Se aventurando na seara das eleições presidenciais do Brasil em 2023, os autores analisam alguns memes divulgados pelos candidatos Jair Bolsonaro e Luiz Inacio Lula da Silva ou por seus apoiadores de modo a refletir sobre as pedagogias culturais implícitas nos mesmos. Ideologia de gênero, fake news e atributos de uma masculinidade tóxica são alguns dos ingredientes presentes no debate dos autores.  É tempo de radicalidades: Práticas desobedientes nas artes, na educação e na vida STUBS, R.; GUIMARÃES, R.    6      O quinto artigo desse dossiê é dedicado a pensar o autorretrato pela perspectiva da produção de mulheres artistas. Na contramão do apagamento de vivências de mulheres, Kelly Salgado e Roberta Stubs percorre a história do retrato e do autorretrato do renascimento à contemporaneidade na intenção de dar visibilidade a artistas mulheres e suas produções muitas vezes dissidentes.  “Pode Stella do Patrocínio falar? Guerrilhas linguísticas no hospital (colônia) Juliano Moreira”, figura como o sexto artigo aqui presente. Nele, Flavia Carvalhaes problematiza imagens de controle presentes nos poemas presentes na obra “Reino dos bichos e dos animais é o meu nome” da poetiza Stella do Patrocínio, mulher negra e interna do hospital psiquiátrico Colônia Juliano Moreira. A autora destaca a importância do debate interseccional entre gênero e raça no contexto da saúde mental, assim como a relevância da produção de saberes que se tecem em perspectivas inventivas, poéticas, comunitárias, radicalmente desobedientes. Na sequência, temos “Primavera e a quebra da semente: potências de um devir mulher para traçar caminhos outros”, de Priscila Castro de Souza e Roberta Stubs. Nele, as autoras apostam nas potências de um devir mulher como modo de traçar caminhos que escapem às foças de capturas e homogeneização que incidem sobre o corpo da mulher na história da arte. A poética de Primavera é apresentada aqui como uma figuração feminista que se manifesta irônica e contraposta às formas autoritárias de poder que predominam numa sociedade misógina.  Marcos Ribeiro de Melo e Yasmin Nascimento de Oliveira, por sua vez,  partem do longa metragem Jojo Rabbit para realizar, num encontro entre cinema e infância, uma reflexão sobre gestos e emoções desobedientes como modos de existência e resistência infantis. Analisado cenas, diálogos, sequencias, enquadramentos e o contexto de prescrição nazista do filme os autores refletem sobre as transformações vividas pelos personagens no encontro que se dá entre as diferenças que compõem o universo existencial de cada um deles.  Se valendo de uma escrita artística, teórica, acadêmica e biográfica a artista Lua Clara Fontes, juntamente com a co-autora Roberta Stubs, realiza uma amarração poética e visual sobre o trauma. Como criar em conjunto com o trauma? Como (re)criar a partir do trauma? De que modo as questões subjetivas se apresentam no processo criativo? Como ressignificar ao ponto de formar novas linhas vitais? Como praticar desobediências nas artes, na educação 7 7 ABATIRÁ - REVISTA DE CIÊNCIAS HUMANAS E LINGUAGENS Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII V4:: n.7 Jan : Jun :: 2023. p. 1- 497 ISSN 2675-6781   AApprr eess eenntt aaçç ããoo          DDooss ssii êê  TTeemmáá tt iicc oo  e na vida? Como produzir sentido? São algumas das perguntas lançadas pelas autoras e que funcionam, no oitavo artigo desse dossiê, como força movente para a produção artística de Lua Clara.  Nilson Carlos Nascimento dos Santos e Elis Cristina Fiamengue narram, em seu artigo, uma experiência potente de educação insurgente ocorrida durante o período da pandemia, no interior da Bahia. A experiência narrada, politicamente engajada com o ensino de língua, mas sobretudo com as questões que atravessam a vida das pessoas educandas, deram o tom desta proposta pedagógica. Por meio de uma pedagogia crítica e racialmente referenciada desde os lastros da história do Partido dos Panteras Negras, o texto nos instiga  a pensar sobre a colonialidade e também sobre as resistências à branquitude que podem compor as práticas pedagógicas críticas. Joana Schlooser Camões Orlando, Natália Rezende de Araújo e João Batista de Oliveira Ferreira nos enlaçam desde uma pesquisa-intervenção que põe em diálogo inspirações esquizoanalíticas e saberes decoloniais para debater as desobediências de gênero numa perspectiva afirmativa, para além da denúncia (justa) de opressões. O texto, que opera como um desenho de linhas, composto desde muitas corporalidades, foge da representação e abre possibilidades infinitas para pensar o tema por meio do encontro das diferenças. O artigo de Giovanna Marafon, Julia Muniz Alvarenga e Yago Marinho Aquino do Nascimento se inscreve por meio de uma experiência de escrita acadêmica que propõe desobedecer esteticamente, já que tem as cartas e a poesia como formas que podem protagonizar este espaço, tão marcado por “fôrmas” distantes do que se convencionou chamar de literatura. Com inspirações feministas, esta experimentação da escrita conflui com tantas outras experiências e muito mais do que apresentar um “modo de fazer” ao estilo manual, serve como inspiração para que possamos desobedecer (n)a academia, produzindo saberes coletivos, escritos e inscritos de muitos modos. Para fechar este dossiê, Lígia Borges conta histórias multi-linguagens vivenciadas na Escola Municipal de Iniciação Artística, em São Paulo. Este texto se compõe metalinguisticamente, encarnando-se em ações que envolvem a experimentação e a fruição de forma muito consistente e potente, dialogando com as noções domesticadas de infância e de É tempo de radicalidades: Práticas desobedientes nas artes, na educação e na vida STUBS, R.; GUIMARÃES, R.    8      feminino, propondo deslocamentos, tensionando o lugar ocidentalizado que marca estas noções. Nós, que organizamos este dossiê, sentimos a potência destes textos que responderam ao nosso chamado na e pela desobediência. Criar espaços acadêmicos, em revistas científicas, que também desobedecem os cânones e os manuais do fazer acadêmico nos interessa, e agradecemos muito, tanto pela abertura da Abatirá, quanto a participação de gente de muitas partes do Brasil que decidiu compor conosco este espaço. Criamos geografias desobedientes, abrimos fendas e desenhamos outras linhas, potencializamos aqui outras performances acadêmicas, que são menores em forma e em conteúdo.  Roberta Stubs e Rafael Guimarães Maio de 2023.   

É tempo de radicalidades: Práticas desobedientes nas artes, na educação e na vida

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