Baia, Maria de Fátima de Almeida

Santos, Raquel Santana

Portuguese

Portal de Periódicos da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

 Estudos da Língua(gem) Vitória da Conquista v. 21, n. 1 p. 229-233 Jul. 2023   Este artigo está licenciado com Creative Commons Attribution 4.0 International License. Estudos da Língua(gem) - ISSN: 1982-0534   DOI: https://www.doi.org/10.22481/el.v21i1.13353    (Psico)linguística, Música e Musicoterapia: diálogos possíveis ______________________________________________ (Psycho)linguistics, Music and Music Therapy: possible dialogues  (Psico)lingüística, música y musicoterapia: posibles diálogos       O interesse pela comunicação humana não para nunca. Quer esta comunicação se faça pelas diferentes línguas humanas, quer pela universalidade musical, quer também pelo uso da música na intervenção terapêutica. Em 2021, no meio de uma grande pandemia, esperava-se que as pessoas parassem, se recolhessem, entrassem em quarentena. Mas nem sempre isso é possível; a curiosidade, a vontade de saber e compartilhar o que se sabe são sempre maiores, fazem a resistência. Assim, em 23 de julho de 2021, o GEPDEF (Grupo de Pesquisa de Psicolinguística e Desenvolvimento da Linguagem), grupo integrante do LALALIN (Laboratório de Aquisição da Linguagem e Aspectos Linguísticos) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, realizou o I Workshop Diálogos entre estudos de (Psico)linguística, Música e Musicoterapia, evento remoto transmitido pelo youtube. A prova de que a necessidade do saber atinge a todos é que o evento foi organizado pelos alunos de graduação e iniciação científica da Letras e da Psicologia, e pelos pós-graduandos do PPGLIN (Programa de Pós-Graduação em Linguística) da UESB. O evento congregou brasileiros e portugueses, e no Brasil, conectou pesquisadores de várias regiões, apresentando ou participando como ouvintes.   A proposta do Workshop foi a de proporcionar um momento de debate e aprendizagem entre as três áreas. Esse debate, como o presente dossiê apresenta, não é novo, mas ainda carrega várias perguntas em aberto. Segundo Fitch (2006), são três as grandes abordagens comparativas com a música: a) Maria de Fátima de Almeida Baia e Raquel Santana Santos 	 230 Inter-cultural – a mais antiga – o estudo comparativo da música entre diferentes culturas, mais característica dos estudos da Musicologia e da Etnomusicologia; b) Relação entre música e linguagem – o foco deste dossiê – compreende a relação entre música e linguagem na sua evolução, desenvolvimento e processamento; por fim, c) Comparação entre comportamentos musicais de diferentes animais – a comparação, por exemplo, entre a musicalidade dos diferentes animais e dos humanos.   No Workshop, contamos com a seguinte ordem de exposição das áreas antes do painel conjunto: (Psico)linguística com a palestra da profa. Dra. Raquel Santana Santos da  Universidade de São Paulo - Adquirindo a musicalidade das línguas naturais; Música com a palestra do prof. Dr. João Pedro Lopes Reigado da Universidade Nova de Lisboa - Variações sobre fios de voz no germinar da comunicação humana; e na Musicoterapia a palestra do prof. Dr. Renato Tocantins Sampaio da Universidade Federal de Minas Gerais - Sentidos de experiência musical em Musicoterapia: relações entre o linguajar, o musicar e a promoção da saúde.   O evento trouxe a inspiração para este dossiê, no qual reunimos, além das vozes dos palestrantes convidados, vozes de outros pesquisadores que têm se destacado nas três áreas no Brasil e no exterior. Ao longo da apresentação de cada artigo, o leitor encontrará achados científicos que entrelaçam as três áreas contempladas nesta edição, dando destaque para a linguagem. Os 11 artigos deste dossiê estão divididos em três seções, organizadas de acordo com a ordem do evento, a saber, (Psico)linguística, Música e Musicoterapia.   A seção de (Psico)linguística é aberta com o artigo escrito por Gladis Massini-Cagliari da Universidade Estadual Paulista, intitulado Encavalgamento poético e pistas prosódicas do limite final do enunciado fonológico a partir da análise das Cantigas de Santa Maria (século XIII). O estudo se situa no campo da fonologia e, além de estabelecer um diálogo riquíssimo entre música e linguagem, parte de dados históricos ao analisar a relação entre música e letra nas Cantigas de Santa Maria, com base na notação musical das cantigas. Tendo como base a Fonologia Prosódica proposta por Nespor e Vogel (1986), Massini-Cagliari conduz uma análise do enunciado fonológico (U), constituinte mais alto da hierarquia prosódica.  O segundo artigo da seção, de autoria de André Luiz de Souza (Universidade Estadual do Paraná), Marcus Vinícius Moreira Martins (Universidade Estadual de Minas Gerais) e Waldemar Ferreira Netto (Universidade de São Paulo), intitulado Música e entoação na língua portuguesa, estabelece uma relação entre a formação melódica musical e a produção da (Psico)linguística, Música e Musicoterapia: diálogos possíveis __________________________________________________________________________________ 	 231 fala, focando o desenvolvimento histórico da música ocidental. O estudo, além de apresentar um quadro histórico dos estudos de prosódia e de melodia na música, entrelaça e discute achados nas áreas de Psicologia da Música e Psicolinguística ao destacar que, embora haja uma constante diferenciação entre a cognição prosódica e cognição musical, letra e melodia continuam podendo conviver em uma mesma análise.  O terceiro estudo da seção (Psi)colinguística, da autoria de Raquel Santana Santos e de Aline de Lima Benevides da Universidade de São Paulo, aborda a musicalidade presente ao longo do desenvolvimento e aquisição da linguagem pela criança. O estudo Sw ou wS para o acento primário em português brasileiro - as pistas de um sistema não transparente discutem e analisam as pistas que a criança utiliza do input para a marcação do pé prosódico do português brasileiro, contrapondo com possíveis pistas para crianças adquirindo outras línguas.   O quarto e último estudo da seção, escrito por Gláucia Danielle do Prado Ferreira, Vera Pacheco, Maria de Fátima de Almeida Baia e Marcelo Meira Alves da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, além de retomar o papel do input para a aquisição de aspectos prosódicos da língua, tais como o ritmo e a entoação, apresenta uma análise comparativa da fala direcionada à criança gêmea e não gêmea. O estudo O papel da Child-directed Speech no desenvolvimento fonológico: o triângulo vocálico apresenta resultados que não mostram diferenças significativas entre a fala da mãe na interação com crianças gêmeas e da mãe da criança não gêmea. Além disso, os autores conduzem um estudo do triângulo vocálico da fala direcionada à criança e a fala das mães falando com adultos, de acordo com os estudos já realizados com outras línguas. É observado que, no contexto do português brasileiro, além das alterações prosódicas, os cuidadores alteram aspectos vocálicos, isto é, marcas segmentais.   A seção Música dá sequência à discussão a respeito da relação entre fala e canto no desenvolvimento infantil com o estudo de João Pedro Lopes Reigado da Universidade Nova de Lisboa (Portugal). No estudo Desenredando fios da fala e do canto infantis: diferentes matizes da mesma cor, o autor destaca que fala e canto são duas funções comunicativas humanas que partilham processos cognitivos e neurais, o que torna a investigação das duas modalidades no desenvolvimento um desafio. O seu estudo, com base na análise acústica do canto e da fala das crianças, indica que há características acústicas que explicam Maria de Fátima de Almeida Baia e Raquel Santana Santos 	 232 a distinção entre as vocalizações produzidas em resposta à fala e ao canto no segundo ano de vida.  O segundo estudo da seção, da autoria de Beatriz Raposo de Medeiros da Universidade de São Paulo, dá continuidade ao papel do input no desenvolvimento da criança, destacando o canto na interação entre cuidadores e crianças. O estudo O canto infantil e traços de seu desenvolvimento: complementaridade entre estudos e teorias apresenta a relação entre o canto infantil e o canto direcionado à criança como objeto de estudo promissor para entendermos melhor a percepção do ambiente musical e a linguagem da criança. Ademais, o estudo enriquece o nosso dossiê ao destacar os elementos musicais geralmente presentes no ambiente de desenvolvimento infantil.  A seção musical fica ainda mais florida com o estudo de Betânia Parizzi e João Gabriel Marques Fonseca da Universidade Federal de Minas Gerais. O estudo Palavra e música: um olhar para o ancestral comum apresenta uma reflexão teórica sobre possíveis origens comuns da palavra e da música, partindo da Arqueologia Cognitiva, aprofundando estudos da Parentalidade Intuitiva, e destacando a Musicalidade Comunicativa. Essa última área de destaque no estudo, segundo os autores, é a força matriz que abre caminho para que a criança percorra a trajetória ininterrupta e inevitável em direção ao mundo dos símbolos.  O último artigo da seção que foca a linguagem da música é o de Alexsandro Rodrigues Meireles da Universidade Federal do Espírito Santo. No artigo Estudo Acústico de cinco qualidades de voz com uma nota sustentada, o foneticista analisa cinco diferentes qualidades de voz com C4 sustentado: voz soprosa, voz fraca, voz modal, voz estridente e voz tensa. O estudo, além de se destacar por apontar a importância da análise da qualidade de voz nos estudos da linguagem - que tende ficar de lado -, estabelece um diálogo entre a literatura fonética e a da música.  Por fim, a terceira e última seção do dossiê, Musicoterapia, vem ilustrar como todo conhecimento apresentado anteriormente pode ser usado para a promoção da saúde e bem-estar. O estudo - de autoria de Maria de Fátima de Almeida Baia, Felipe Santos Viana, Ana Cristina Oliveira Santos e Isamar Marques Cândido Pales da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - O uso dos IAPs em sessões de Musicoterapia com crianças gêmeas: linguagem e identidade apresenta resultados após condução e análise das sessões de Musicoterapia com crianças gêmeas, nas quais o foco da terapia e análise foi a identidade musical e a relação entre desenvolvimento da linguagem e personalidade. Com (Psico)linguística, Música e Musicoterapia: diálogos possíveis __________________________________________________________________________________ 	 233 uso dos IAPs (Improvisation Assessment Profile), os autores mostram que, apesar de não serem encontradas diferenças significativas nos estudos de desenvolvimento fonológico de ambas as crianças, no que se refere à identidade musical, cada uma apresenta suas particularidades e própria identidade musical.   O estudo seguinte Do treinamento de habilidades ao ser-com-o-outro-na-música: duas formas de abordar o desenvolvimento, da autoria de Renato Tocantins Sampaio da Universidade Federal de Minas Gerais, o autor aborda duas formas de conceber e trabalhar com a experiência musical na Musicoterapia com crianças e adolescentes autistas. Por meio da Biologia do Conhecer e estudos de Semiótica, o musicoterapeuta descarta a noção da linguagem como uma simples representação do mundo, e a entende como a comunicação entre dois organismos, funcionando, assim, como uma coordenação consensual de ações entre eles.   Por fim, finalizando não apenas a seção de Musicoterapia como também o nosso dossiê, temos o estudo de Cléo Monteiro França Correia, da Universidade Federal de São Paulo. No estudo Musicoterapia Neurológica: o que isso tem a ver com linguagem?, a musicoterapeuta destaca o fato de a música ser processada praticamente em todo cérebro e, em Musicoterapia, ser um instrumento eficaz para melhorar aspectos motores e organizadores da fala, além do planejamento e coordenação motora. Seu estudo destaca a importância da Musicoterapia desde a fase intrauterina até a fase final da vida por intervir de forma efetiva.  Convidamos você, caro(a) leitor(a), a se aventurar nas próximas páginas repletas de aspectos linguísticos e musicais. Entenda as páginas seguintes como portões, por meio dos quais você entrará em notações repletas de melodias, ritmos e expressões comunicativas, características desde as primeiras vocalizações do bebê até a riqueza da mutabilidade linguística humana na fase final da vida. Toda essa organização do dossiê pode ser finalizada com um ritornelo - marcação musical que delimita um trecho musical a ser repetido na partitura -, mostrando que a riqueza musical e linguística existe na nossa essência desde as nossas primeiras até as últimas vocalizações da existência.   Maria de Fátima de Almeida Baia Raquel Santana Santos  (organizadoras) Maria de Fátima de Almeida Baia e Raquel Santana Santos 	 234  

(Psico)linguística, Música e Musicoterapia: diálogos possíveis ((Psycho)linguistics, Music and Music Therapy: possible dialogues)

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(Psico)linguística, Música e Musicoterapia: diálogos possíveis ((Psycho)linguistics, Music and Music Therapy: possible dialogues)

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