Redes sociais face aos desafios num mundo global / coordenação [de] Joaquim Manuel Rocha Fialho, e outros. - Lisboa : Universidade Lusíada. 2023. - ISBN 978-989-640-249-5 - P. 133-140

Martins, Inês Casquilho, 1985-

Matela, Thaís Carvalho de Oliveira, 1979-

Portuguese

Repositório das Universidades Lusíada de Lisboa (RUL)

http://repositorio.ulusiada.ptUniversidades LusíadaMatela, Thaís Carvalho de Oliveira, 1979-Martins, Inês Casquilho, 1985-Empoderamento através da imagem :intervenção comunitária com crianças e jovensatravés da autoimagemhttp://hdl.handle.net/11067/7058https://doi.org/10.34628/sksa-7v47MetadataIssue Date 2023Type bookPartThis page was automatically generated in 2023-10-21T13:41:17Z withinformation provided by the Repositoryempoderamento através da imagem 13311. Empoderamento através da imagem: intervenção comunitária com crianças e jovens através da autoimagemEmpowerment through image: community intervention with children and youth through self-imagethais matElaMestre. Centro Lusíada de Investigação em Serviço Social e Intervenção Social (CLISSIS) – Portugal. thaiscarvalhodeoliveira.79@gmail.cominês casquilho-martinsDoutora. Centro Lusíada de Investigação em Serviço Social e Intervenção Social (CLISSIS) – Portugal. inescasquilho@lis.ulusiada.pthttps://doi.org/10.34628/sksa-7v47Resumo: O Projeto “Empoderamento di Mudjer” teve como objetivo geral pro-mover interação positiva entre jovens, com idades compreendidas entre os 12 e os 20 anos, de diferentes nacionalidades, de âmbito intercultural, debater questões relacionadas à género e estereótipos, aumentar autoestima e desenhar projetos de vida estruturados para cada uma das participantes. O contexto socioecónomico das participantes é marcado por um ambiente de fragilidade a vários níveis. Para alcançar os objetivos do projeto, foi realizado um conjunto de intervenções socio-comunitárias, com apoio da rede social local, envolvendo uma série de entidades públicas e privadas, culminando numa exposição fotográfica itinerante e divulgada por meios e redes digitais. As metas específicas deste projeto pretenderam por esta via contribuir para o conhecimento das identidades próprias e das outras, reco-nhecendo semelhanças e diferenças; para o aumento da tolerância e compreensão perante a diferença; e para a partilha de experiências (desafios e sucessos) pessoais, familiares e comunitárias.Redes sociais face aos desafios num mundo global134Palavras-chave: desenvolvimento comunitário; empoderamento; intercul-turalidade; intervenção social; redes sociais; trabalho em rede.Abstract: The Project “Empoderamento di Mudjer”, (translated to English as “Empowerment of women”) had as a general aim the promotion of positive interac-tion between young people of different nationalities, aged from 12 to 20 years, in an intercultural context. Through the debate of issues related to gender and stereotypes, it sought to increase self-esteem and to design structured life projects for each of the par-ticipants. A fragile environment marks the socio-economic context of the participants at various levels. To achieve the project’s objectives, a set of socio-community interven-tions were implemented, with support from the local social network and involving a range of public and private entities, which culminated in an itinerant photographic exhibition that was then disseminated through digital media and networks. Therefore, the specific goals of this project contributed to enhance the understanding of people’s identities, both personal and of others by recognising similarities and differences, thus increasing tolerance and comprehension of said differences, while simultaneously being able to share personal, family and community experiences (challenges and successes).Keywords: community development; empowerment; interculturality; social inter-vention; social networks; networking.IntroduçãoEsta comunicação teve como intenção dar a conhecer uma experiência de intervenção social no âmbito de uma rede comunitária que envolveu um conjunto de jovens do género feminino, residentes num território socialmente vulnerável da Área Metropolitana de Lisboa (AML), com idades compreendidas entre 12 e 20 anos. As participantes possuiam nacionalidades diferentes, sendo elas: Angola; Brasil; Cabo Verde; Guiné-Bissau; Portugal (Comunidade Cigana). Neste sen-tido, foram desenvolvidas um conjunto de ações que procuram contribuir para um maior empoderamento destes jovens através da descoberta das suas identida-des e dos seus pares. Para alcançar os objetivos do projeto, a intervenção de base empoderamento através da imagem 135sociocomunitária, com apoio da rede social local, envolveu entidades públicas e privadas, que se constituíram parceiros nesta atuação. Uma avaliação diagnóstica inicial sobre o contexto socioeconómica das participantes no projeto, evidencia um ambiente de fragilidade socioeconómica marcado por: baixos rendimentos e insuficientes, níveis baixos escolaridade, qualificações profissionais frágeis, empre-gos precários, desemprego, consumo e adição a bebidas alcoólicas e utilização de estupefacientes, conflitos intrafamiliares, prática de furtos, roubos e delitos, entre outras condições e situações de vida reproduzidas geracionalmente. No âmbito de atuação, constituiu-se como intervenção social, de caráter comunitário, como um processo de mediação e de confiança, abordando diferen-tes componentes, de cada jovem na sua relação consigo mesma, nas relações inter-subjetivas, familiares e de amigos, e de cada uma individualmente e como grupo, em seu acesso à cidadania (Robert is & Pascal, 2014). Desta forma procurou--se que o projeto tivesse como meta desenvolver a capacidade de comunicação assertiva, escuta ativa e gestão de conflitos; valorizar a interculturalidade e relação intergeracional; desmistificar limitações relacionadas ao género; potenciar a per-tença ao grupo e à comunidade, bem como a integração sociocultural; e aumentar a autoestima individual e coletiva. Esta experiência permitiu que fossem reconhe-cidas semelhanças e diferenças, através da partilha de vivências pessoais das parti-cipantes, além das experiências familiares e comunitárias mais significativas e que apoiassem o processo de autoconhecimento e respeito intra e interpessoal. Como indicadores de avaliação dos resultados foram levados em conta três aspetos: i) o grau de satisfação dos participantes em relação ao projeto; ii) a autoa-valiação das ações pelos dinamizadores; iii) a opinião dos observadores/ comuni-dade através de comentários de retorno realizados pelos participantes, em suporte de papel e em vídeo publicado nas redes sociais do projeto. O contexto onde se insere o projeto reveste-se de significativa diversidade em diversos domínios, podendo criar tensões e conflitos na interação humana. Acredita-se que apoiando o ganho de competências pessoais, proporciona-se mudança na forma do indiví-duo ver a si e ao outro, tendo como consequência alterações positivas nos com-portamentos coletivos. Complementarmente, uma marca de roupa de biquínis convidou seis jovens do projeto a participarem como modelos da sua campa-nha de lançamento, que foi difundida por meios de comunicação digitais e de redes sociais, nomeadamente via Facebook. Em termos de impacto, este convite Redes sociais face aos desafios num mundo global136potencializou o projeto inicial e proporcionou um entendimento pessoal e cole-tivo, em muitos jovens do bairro, que, ao empoderar-se, ao traçarem metas e per-sistirem, podem alcançar seus objetivos e sonhos, independentemente do território de onde são oriundos. MetodologiaO Projeto Empoderamento di Mudjer, pode ser inserido na perspetiva latu sensu da Ação Social, que tem um caráter compensatório, promocional, de criação de serviços de aspeto educativo e comunitário, onde seu principal objetivo é fir-mar a prática da cidadania, reconhecendo os direitos sociais da população excluída (Rodrigues & Figueira, 2003). Para atender a algumas demandas de um grupo de jovens e fazer diagnósticos específicos de necessidades individuais e coletivas, foi criada uma atividade envolvendo a fotografia como ferramenta pedagógica, acabando por dar origem a um projeto de combate à exclusão social e pobreza de jovens em risco e/ou em perigo. O processo de intervenção teve cinco fases metodológicas distintas mas não indissociáveis, sofrendo avaliações e reflexões constantes: exploratória, onde foram feitos os diagnósticos para perceber a exequibilidade e pertinência; estruturação de um grupo constituído de jovens que mantinham relações conflituosas; dinâ-micas externas, fazendo com que o grupo exercesse uma força coletiva; encerra-mento da intervenção através de um projeto síntese, uma exposição fotográfica; avaliação final com recolha de relato escrito e audiovisual da opinião das jovens e de elementos da comunidade.Para alcançar os objetivos, foram realizadas uma série de sessões desde uma sessão fotográfica inicial com o tema “Eu no mundo”, a uma sessão reflexiva que visava compreender os sentimentos que sentiram no momento da sessão fotográ-fica. Foram também realizados workshops com as jovens sobre temas variados desde fotografia, empregabilidade, maquilhagem, modelagem, edição de imagem, bem como dinâmicas que permitiram exercícios de reflexão passando pela valoriza-ção da autoestima, da resolução de conflitos, das expectativas sobre o futuro, etc. Houve atividades que contaram com a presença de outras mulheres como as mães e avós, que deram corpo e voz à mesa-redonda “Biblioteca Humana”. A imagem empoderamento através da imagem 137assumiu uma forte representação neste projeto, tendo sido realizada uma sessão fotográfica composta por fotografias interculturais das jovens no bairro com o tema “Eu quero! Eu posso! Eu consigo!”. Posteriormente, surgiu uma oportunidade de que as jovens pudessem partici-par numa campanha publicitária de uma marca de roupa, que lançou uma coleção de roupa em que as jovens foram as protagonistas do vídeo divulgado no Facebook.ResultadosO processo de avaliação teve caráter de avaliação diagnóstica contínua (Gardner, 1995), ou seja, em cada ação era feita uma análise das necessidades de intervenção para elaboração da ação seguinte, levando em conta uma constante reflexão para garantir a cooperação, a continuidade e a relação dialética entre os sujeitos, extraindo o máximo de suas potencialidades individuais e enquanto grupo. Como indicadores de avaliação dos resultados foram levados em conta três aspetos: O grau de satisfação dos participantes em relação ao projeto; Autoavaliação das ações pelos dinamizadores; Opinião dos observadores/ comunidade através comentários de retorno realizado pelos participantes, em suporte de papel e em vídeo. Assim, o grupo constituído foi aprendendo a lidar com as suas próprias identidades individuais, mas também com a identidade de grupo. O Projeto Empoderamento di Mudjer foi concebido e concretizado em par-ceria com as jovens, obtendo impactos significativos para além dos previstos, na autoestima individual, do grupo e da comunidade. Houve uma legitimação da influência cultural e ancestral e um aumento substancial do respeito às diferenças dentro do grupo, nas suas relações familiares, proporcionando uma visível dimi-nuição dos conflitos entre vizinhos. Notou-se através da observação e dos registos escritos, fotográfico e audiovisuais, que houve uma mudança significativa no com-portamento das jovens envolvidas no projeto. Tendo sido um projeto de interven-ção e não de investigação científica, não foram, ainda, auferidos resultados através de métodos científicos. Progressivamente, observou-se a um desenvolvimento da valorização da sua imagem e da sua autoestima, através de um processo de consoli-dação de um sentimento de pertença, de apoio mútuo, de aprendizagem pela inte-gração, de força coletiva, de partilha e da implementação da esperança e expetativas Redes sociais face aos desafios num mundo global138face ao seu futuro. As jovens foram aprendendo a tomar decisões em conjunto a cada tarefa e reflexão das mesmas, o que muitas vezes se constituiu um desafio.Entre os principais resultados obtidos destacam-se alguns elementos que supe-raram as expectativas iniciais como por exemplo o desenvolvimento da capaci-dade de comunicação assertiva, a escuta ativa, a gestão de conflitos, a valorização da interculturalidade e da relação intergeracional; a desmistificação das limita-ções relacionadas ao género, a potencialização da pertença ao grupo e à comuni-dade, a integração sociocultural, o aumento da autoestima individual e coletiva e o desenho de projetos de vida estruturados. A visibilidade nas redes sociais digi-tais, designadamente no Facebook, fez com que estas jovens sentissem o reco-nhecimento externo sobre a sua imagem, sobre o seu valor e sobre a forma como eram acarinhadas pelo público. A publicação do vídeo que conta a história da cole-ção reuniu 9.800 visualizações, 113 reações positivas entre likes (78) e love (35). Apesar de apenas terem sido feitos 7 comentários, todos eles positivos, registou--se uma realização de 87 partilhas do vídeo na rede social Facebook. Uma outra publicação com menor duração de vídeo, reuniu 839 visualizações e 24 partilhas, as quais se somou 18 likes e 6 love.DiscussãoEste projeto centrou-se em mudar o olhar individual e coletivo dos jovens e de seus contextos, construindo forças e forma individual e coletiva para alcançar uma mudança social, envolvendo solidariedade, cidadania e democracia. Face aos seus objetivos, pretendeu transformações emancipatórias para os seus destinatá-rios que, segundo Freire (1994), não podem ser vistas como o ato de transformar o outro em objeto de recetividade passiva e nem parcial. A elaboração e execução das ações contidas no projeto exigiu uma presença das jovens como sujeitos no mundo e com o mundo, promovendo uma ação transformadora sobre a realidade, individual e coletiva, de curiosidade, numa ação de diálogo constante, permitindo estreitar mais os laços e diminuir as barreiras entre os técnicos e as jovens, entre as jovens e seu contexto e para além do seu território (Freire, 1994).O sistema de cooperação entre entidades, deu-se de forma orgânica, con-tando com as entidades governamentais locais e a população, que marcaram uma empoderamento através da imagem 139parceria e desenvolvimento de trabalho em rede, e, posteriormente com a loja que convidou seis das quinze jovens para trabalhar como modelos. Desta forma, proporcionou um conjunto de vinculações, unindo pessoas e grupos sociais entre si para socializarem, promovendo um sistema de interações, levando em conta a dimensão ética e a dimensão política, desencadeando o processo de mobilização (Robertis & Pascal, 2014).Como maior potencialidade, através da implementação de sinergias das forças existentes do procedimento de intervenção, levou a cabo uma enorme mobilização como forma de reapropriação do poder: o empowerment. Neste sentido, houve uma transformação visível, do estado de resignação para o exercício de uma cida-dania ativa. Abordou os domínios de identidade pessoal e da identidade coletiva, envolvendo a implicação de todos os atores no processo implementado, nomeada-mente as instituições, a equipa técnica e o público-alvo (Robertis & Pascal, 2014). Mobilizou as dinâmicas individuais de cada jovem, proporcionando elabo-ração de projetos de vida estruturados, que variaram desde planos de estudos à empregabilidade; estimulou as dinâmicas familiares, numa abordagem sistémica, integrando cada jovem com sua envolvente mais próxima, na medida em que mães e avós contribuíram, como bibliotecas humanas, na construção de um fio condu-tor, através da intergeracionalidade, das perspetivas das narrativas das histórias de vida para buscar identidade; incitou a dinâmica da rede primária, ou seja, fami-liares, vizinhos e amigos.O trabalho social com grupos possui uma distinção de outros métodos de intervenção, pois contém uma componente de ajuda mútua. Ou seja, não cabe unicamente a quem intervém, como técnico, este papel, é preciso uma consciên-cia nas capacidades das pessoas, com força de grupo, em estarem em constante entreajuda (Robertis & Pascal, 2014). Numa lógica de participação, que integra e assenta sobre os processos de socialização e de solidariedade, levou-se em conta ainda o laço comunitário. As intervenções realizadas tiveram impactos no sen-timento de pertença, na participação efetiva e uma mobilização no domínio da vida quotidiana, promovendo efetivamente uma mudança social, numa perspetiva de transformação e modificação do funcionamento do grupo e da comunidade.A divulgação online do vídeo da marca de roupa no Facebook teve grande impacto nas meninas. As jovens tiveram oportunidade de rever-se numa produ-ção profissional, estando maquilhadas e produzidas. Além de se perceberem com Redes sociais face aos desafios num mundo global140belezas únicas e especiais, puderam ver a divulgação do trabalho realizado. Este movimento consolidou a autoimagem positiva que foi trabalhada durante o per-curso do projeto, gerando um sentimento de empoderamento individual e cole-tivo. Além disso, movimentou toda a comunidade no sentido de encorajar outras jovens a seguirem o lema inicial “Eu quero! Eu posso! Eu consigo!”.As limitações iniciais tinham a ver com a própria dinâmica do grupo, que, possuía divergências, mas que foram sendo vencidas com o desenvolvimento das ações. Como as jovens envolvidas foram coautoras do projeto, a gestão do exer-cício da democracia, foi um desafio constante, tendo os técnicos assumido uma postura de aliança e escuta ativa, assentes em princípios éticos, com intuito de realização e autonomia, desenvolvimento das potencialidades e adaptação recí-proca, através de uma abordagem de consciencialização (Robertis & Pascal, 2014). Para continuidade deste estudo, pretende-se recolher o testemunho destas jovens e apresentar uma análise do impacto que a visibilidade deste projeto teve no seu percurso de vida.ReferênciasFreire, P. (1994). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.Gardner, H. (1995). Inteligências Múltiplas - A Teoria na Prática . New York: Artmed.Robertis, C. & Pascal, H. (2014). A intervenção social de interesse coletivo. Paris: Presses de I´EHESP.Rodrigues, F., & Figueira, M. M. (2003). Acção social na área da exclusão social. Lisboa: Universidade Aberta.

Empowerment through image : community intervention with children and youth through self-image

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Empowerment through image : community intervention with children and youth through self-image

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