Benetti, Antônio Domingues

Bursztejn, Sara

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Lume 5.8

 I-540 - PRESENÇA DOS DEZ AGROTÓXICOS MAIS COMERCIALIZADOSNOS SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA BRASILEIROSSara Bursztejn(1)Engenheira Civil com ênfase em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia da PUCRS. Mestre emGestão  Ambiental  e  Economia  Sustentável  pelo  PROFÁGUA/IPH/UFRGS.  Doutoranda  em  RecursosHídricos e Saneamento Ambiental pelo PPGRHSA/IPH/UFRGS.Antônio Domingues Benetti(2)Engenheiro  Civil  (UFRGS).  Mestre  em  Recursos  Hídricos  e  Saneamento  Ambiental(PPGRHSA/IPH/UFRGS).  Doutorado em Civil  and  Environmental  Engineering (Cornell  University).  Pós-doutorado em Process Engineering no Swiss Federal Institute of Aquatic Science and Technology (EAWAG).Endereço(1): Rua Cel. Corte Real 462/201 – Petrópolis – Porto Alegre – RS – CEP: 90630-080 – Brasil – Tel: (51)999-562332 – e-mail: saraburszt  @  h  otmail.com  RESUMOSegundo a  Organização  das  Nações  Unidas  para  Alimentação  e  Agricultura,  o  Brasil  é  o  terceiro  maiorconsumidor mundial  de  agrotóxicos  (FAO,  2023).  Entre  os  fatores  atribuídos a  alta  demanda inclui-se  aextensão de terras aráveis e ao clima tropical que permite obter até três safras anuais. Este emprego, aliado aausência de um regramento mais incisivo no uso e conservação do solo, tornam as fontes de abastecimento,como aquíferos, rios e lagos, vulneráveis a presença destes compostos. Com o objetivo de constatar a presençade  agrotóxicos  na  água  para  consumo  humano  no  Brasil,  foram  identificados  quais  os  agrotóxicos  sãoregulados pela Portaria da Qualidade da Água do Ministério da Saúde estão entre os dez mais comercializados.Os dados de comercialização do IBAMA foram confrontados com os dados de monitoramento do SISÁGUA.Dos dez agrotóxicos mais comercializados no Brasil em 2020, apenas 5 constavam no anexo XX da PortariaMS n.o  5/2017,  os  dados  da  Portaria  888/21  ainda  não  constam no  SISÁGUA.  Observou-se  uma  baixadetecção em concentrações acima das permitidas na água para consumo humano, que pode estar relacionadaas condições de monitoramento. Portanto, uma recomendação deste trabalho é avançar no conhecimento sobrecomo coletar amostras que sejam representativas à presença de agrotóxicos na água para consumo humano.PALAVRAS-CHAVE:  Agrotóxicos em água para  consumo,  Monitoramento  de agrotóxicos,  Controle deagrotóxicos na água, Portaria da Qualidade da Água, Dados do SISÁGUA.INTRODUÇÃOSegundo a  Organização  das  Nações  Unidas  para  Alimentação  e  Agricultura,  o  Brasil  é  o  terceiro  maiorconsumidor mundial  de  agrotóxicos  (FAO,  2021).  Entre  os  fatores  atribuídos a  alta  demanda inclui-se  aextensão de terras aráveis e ao clima tropical que permite obter até três safras anuais. Este emprego, aliado aausência de um regramento mais incisivo no uso e conservação do solo, tornam as fontes de abastecimento,como aquíferos, rios e lagos, vulneráveis a presença destes compostos.A contaminação de recursos hídricos por agrotóxicos pode ocorrer por escoamento superficial ou lixiviaçãopara o lençol freático. Propriedades como solubilidade, pressão de vapor e tempo de meia-vida influenciamseu comportamento, determinando a persistência, mudanças de fase e preferências pelas formas dissolvidas ouassociadas a sedimentos. Características climáticas e da bacia hidrográfica também contribuem para o seudestino no ambiente (MARTINI et al., 2012).O monitoramento de agrotóxicos em mananciais empregados para abastecimento público é particularmenteimportante,  uma vez que os processos de tratamento de água adotados nas cidades brasileiras  apresentampouca  ou  nenhuma eficiência  na  remoção  destes  contaminantes  (FERNANDES  NETO  e  SARCINELLI,2009).Face ao exposto, este trabalho visa identificar os ingredientes ativos mais aplicados no Brasil e sua presençana água distribuída à população, a partir dos dados oficiais disponibilizados pelo Ministério da Saúde.ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 OBJETIVO DO TRABALHOIdentificar a presença dos dez agrotóxicos mais consumidos no Brasil na água para consumo humano, a partirdos dados oficiais do Ministério da Saúde.OBJETIVOS ESPECÍFICOS– Identificar os agrotóxicos que são regulados na água para consumo humano no Brasil; – Identificar os dez agrotóxicos mais comercializados no Brasil;–  Verificar  a  disponibilidade  de  dados  de  monitoramento  dos  dez  agrotóxicos  mais  comercializados  nossistemas de abastecimento de água do Brasil.METODOLOGIAForam examinadas as  Portarias  do Ministério  da Saúde MS  n.º  5/2017 (Anexo XX) e  a  vigente,  MS n.º888/2021. Elas dispõem sobre os procedimentos de controle e vigilância da qualidade da água para consumohumano e seu padrão de potabilidade. Identificaram-se os dez ingredientes ativos mais empregados no Brasil,através  das  informações  sobre a  comercialização  de agrotóxicos disponibilizadas pelo IBAMA (BRASIL,2022). Para verificar se os agrotóxicos com maior demanda estão presentes na água distribuída à população,foi  consultado  o  banco  de  dados  do  Sistema  de  Informação  de  Vigilância  da  Qualidade  da  Água  paraConsumo Humano SISÁGUA (BRASIL, 2021).RESULTADOS OBTIDOS A Tabela  1  traz  a  relação  dos  10  agrotóxicos  mais  comercializados,  em 2020.  Note-se  que  os  dados  doSISÁGUA limitam-se aos 27 ingredientes ativos (i. a.) regulados na Portaria n.º 5/2017. A atual, n.º 888/2021,requer o monitoramento de 40, ainda não disponíveis no sistema. Por esta razão, a Tabela 2 mostra o número devezes fora do padrão, apenas dos 5 i. a. que constam na Portaria n.o 5/2017. A Tabela 3 apresenta o número deanálises realizadas, e os resultados inconsistentes e inconclusivos relativas a estas, no período compreendidoentre os anos de 2014 a 2022.Tabela 1:Relação dos 10 agrotóxicos mais comercializados no Brasil, em 2020.Classificação Agrotóxico1º Glifosato 2º 2,4-D3º Mancozebe4º Atrazina5º Acefato6º Clorotalonil7º Malationa8º Enxofre9º Imidacloprido10º ClorpirifósFonte: da Autora, 2022. Dados IBAMA.ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental2 Tabela 2. N.º de análises fora do padrão por Região, entre 2014 a 2022.Classificação Agrotóxico 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 20221º Glifosato1S2CO,NO3 1CO,2S0 0 3CO2CO5SE02º 2,4-D0 0 1S0 0 0 0 0 2SE3º Mancozebe1SE0 1S1S0 0 0 0 04º Atrazina2NE, SE1SE42S,2SE76SE, S1SE1S1SE6SE1CO10º Clorpirifós0 0 0 0 0 0 2SE2SE0Fonte: da autora (2022). Dados SISÁGUA, 2022.Nota: 1. S = Sul, SE = Sudeste, NE = Nordeste, CO = Centro-Oeste e N = Norte.Tabela 3. N.º de análises de agrotóxicos, de dados inconsistentes1 e inconclusivos2,entre 2014 a 2022.Classificação n.º por ano 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 20221ºGlifosato Análises 6211 8655 9783 15067 18341 21392 22005 27816 16299Inconsistentes 839 935 826 1103 657 312 216 329 179Inconsistentes (%) 14 11 14 11 8 7 4 1 1Inconclusivos 0 7 0 0 2 0 1 0 02º2,4-DAnálises 5627 7768 8716 14917 17910 20878 22300 25875 12385Inconsistentes 602 687 469 1171 523 303 411 554 344Inconsistentes (%) 11 9 5 8 3 1 2 2 3Inconclusivos 1 8 0 0 3 0 1 0 13ºMancozebeAnálises 3548 5063 7479 13066 15932 18877 20602 24404 12956Inconsistentes 601 871 413 522 478 279 201 1763 166Inconsistentes (%) 17 17 6 4 3 1 1 7 1Inconclusivos 0 0 2 2 0 1 1 82 04ºAtrazinaAnálises 6214 8994 10280 16383 19382 22389 23799 27617 13478Inconsistentes 1297 906 788 1634 720 358 325 468 306Inconsistentes (%) 21 10 8 10 4 2 1 2 2Inconclusivos 2 9 4 5 4 0 1 1 010ºClorpirifósAnálises 3695 5994 8330 14209 17320 20476 21922 26239 17072Inconsistentes 606 629 535 1061 524 376 300 402 157Inconsistentes (%) 16 10 6 7 3 2 1 2 1Inconclusivos 0 6 1 3 0 0 1 1 0Fonte: da autora (2022). Dados SISÁGUA, 2022.Notas: ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 1.  Inconsistentes:  situações  com  erro  no  preenchimento  do  resultado  da  análise,  ou  com  informaçõesincompletas para avaliar o atendimento ao valor de referência;2. Inconclusivos: quando não permitem avaliar se o resultado está acima ou abaixo do VMP.ANÁLISE DOS RESULTADOS Dos dez agrotóxicos mais comercializados no Brasil em 2020 (Tabela 1), apenas 5 constavam no anexo XX daPortaria MS n.o 5/2017 – Glifosato e seus sais (1.º), 2,4-D (2.º), Mancozebe (3.º), Atrazina (4.º) e Clorpirifós(10.º). A atual, MS n.º 888/2021, contempla 9 dos mais consumidos em 2020. Apenas o Imidacloprido (9º)não  foi  regulado.  Todavia,  ainda  não  há  informações  no  SISÁGUA  sobre  o  monitoramento  dos  quatroparâmetros adicionados na portaria vigente. Assim, são somente disponibilizados os resultados das análisesdos 27 regulados pela Portaria MS n.o 5/2017. Em relação à frequência de amostragem, tanto a Portaria MS n.o5/2017 quanto a n.º 888/2021 estabelecem a exigência de uma amostragem mínima semestral para cada umdos ingredientes ativos.A Tabela 2 destaca o número de vezes que as amostras de agrotóxicos apresentaram valores acima do máximopermitido (VMP) entre os anos 2014 e 2022 (com série incompleta, por estar em curso) e a região brasileiraem que ocorreu. Os ingredientes ativos que apresentaram maior número acima das concentrações permitidasforam o glifosato e a atrazina, respectivamente, 5 e 6 vezes em 2021. Estes números são bastante baixos emrelação  ao número total  analisado em 2021, respectivamente,  27816 e 27717 para glifosato e atrazina.  Opercentual de amostras inconsistentes foi geralmente abaixo de 5%, eventualmente alcançou valores acima de15%, como a atrazina em 2014 (21%).Em  relação  ao  baixo  número  de  agrotóxicos  com  valores  acima  dos  permitidos,  vale  ressaltar  que  omonitoramento representativo é um grande desafio por ser uma fonte difusa de poluição. A detecção na águadepende  de  uma  série  de  fatores,  como uso  do  solo  na  bacia  hidrográfica,  regime  de  chuvas,  época  deaplicação e características físico-químicas. Dado o elevado consumo em nosso país, é surpreendente a suabaixa detecção nos mananciais que servem para o abastecimento público.CONCLUSÕES / RECOMENDAÇÕESEste trabalho identificou os 10 agrotóxicos mais comercializados no Brasil no ano de 2020. Destes 10, apenas5  eram  regulados  pela  Portaria  MS  n.o  5/2017  e  somente  estes,  constavam  no  sistema  do  SISÁGUA.Observou-se uma baixa detecção em concentrações acima das permitidas na água para consumo humano, quepode estar relacionada as condições de monitoramento.O monitoramento de agrotóxicos é um grande desafio e seu planejamento depende de vários fatores paraaumentar  a  representatividade  dos  resultados.  Portanto,  uma  recomendação  deste  trabalho  é  avançar  noconhecimento sobre como coletar amostras que sejam representativas à presença de agrotóxicos na água paraconsumo humano.A  Portaria  MS  n.º  888/2021  trouxe  um  avanço  em  relação  às  exigências  que  auditam  a  presença  deagrotóxicos, nos sistemas de abastecimento de água brasileiros, pois ampliou o número de parâmetros de 27para 40, incluindo 9 dos 10 agrotóxicos mais consumidos no Brasil. O monitoramento é uma etapa crítica para a segurança da água consumida, uma vez que os processos detratamento  empregados  nas  cidades  brasileiras  apresentam pouca  ou nenhuma eficiência  de  remoção  dosingredientes  ativos.  Ampliar  o  controle  destes  químicos  serviria  de  subsídios  às  políticas  públicas,  parapriorizar as estações de tratamento que necessitam incluir técnicas para remoção de agrotóxicos.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. BRASIL.  Ministério  da  Saúde. Portaria  Nº  2.914,  de  12  de  Dezembro  de  2011.  Dispõe  sobre  osprocedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão depotabilidade.  Disponível  em:<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>  Acesso  em:  29  out.ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental4 2022.2. BRASIL.  Ministério  da  Saúde.  Portaria  de  consolidação  nº  05/2017.  Disponível  em:<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0005_03_10_2017.html    >  Acesso  em:  29  out.2022.3. BRASIL. Ministério  da  Saúde.  Portaria  GM/MS  Nº  888,  de  4  de  maio  de  2021.  Dispõe  sobre  osprocedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão depotabilidade.  Disponível  em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-888-de-4-de-maio-de-2021-318461562   > Acesso em: 20 Set.2021.4. BRASIL. Ministério  da  Saúde.  Sistema  de  Informação  de  Vigilância  da  Qualidade  da  Água  paraConsumo  Humano.  SISÁGUA.  2021.  Disponível  em:<http://sisagua.saude.gov.br/sisagua/paginaExterna.jsf   > Acesso em: 18 Set.2021.5. BRASIL.  Ministério  do  Meio  Ambiente.  IBAMA.  2022.  Disponível  em:<http://ibama.gov.br/relatorios/quimicos-e-biologicos/relatorios-de-comercializacao-de-agrotoxicos>Acesso em: 03 mai. 2022.6. FAO.  Organização  das  Nações  Unidas  para  Alimentação  e  Agricultura.  2023.  Emprego  mundial  depesticidas. Disponível em: <https://www.fao.org/faostat/en/#data/RP> Acesso em 10 jan. 2023.7. FERNANDES NETO, M. de L.; SARCINELLI, N. P. de.  2009. Agrotóxicos em água para consumohumano: uma abordagem de avaliação de risco e contribuição o processo de atualização da legislaçãobrasileira. Disponível  em:  <https://www.scielo.br/j/esa/a/YxJ97Sgv3VZNYNLx7nRb6dw/?lang=pt    >Acesso em: 8 dez. 2022.8. MARTINI, L. F. D. et al. Risco de contaminação das águas de superfície e subterrâneas por agrotóxicosrecomendados para a cultura do arroz irrigado. Ciência Rural, Santa Maria, v.42, n.10, p.1715-1721, out, 2012.Disponível em: <https://www.scielo.br/j/cr/a/vdktPcvDVXJzWJdT8RnmSJg/?format=pdf&lang=pt    > Acessoem: 8 dez. 2022.ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

Presença dos dez agrotóxicos mais comercializados nos sistemas de abastecimento de água brasileiros

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