Dissertação de mestrado, Psicologia (Área de Especialização em Psicologia Clínica e da Saúde - Psicologia Clínica Sistémica), 2020, Universidade de Lisboa, Faculdade de PsicologiaA literatura sobre parentalidade demonstra que variáveis como o estatuto
socioeconómico, a psicopatologia e o funcionamento reflexivo parecem impactar o
ajustamento psicológico dos filhos. Contudo, permanecem lacunas sobre a relação entre
estas variáveis em amostras em desvantagem económica e social. Este estudo teve como
objetivo analisar as relações entre a psicopatologia dos pais (depressão, hostilidade e
ansiedade), o funcionamento reflexivo parental (pré-mentalização, certeza dos estados
mentais dos filhos e curiosidade e interesse nos estados mentais dos filhos) e o
ajustamento psicológico dos filhos (total de problemas psicológicos dos filhos) em
parentalidades de risco em contextos de desvantagem socioeconómica. A amostra foi
constituída por 78 cuidadores sinalizados por parentalidade de risco e de contextos de
desvantagem social e económica, a coabitarem com pelo menos um filho. Os resultados
revelaram correlações positivas entre hostilidade e pré-mentalização, e entre esta e o
ajustamento psicológico dos filhos. Especificamente, através da testagem de um modelo
de mediação, verificou-se um efeito indireto positivo e significativo entre hostilidade e
pré-mentalização no ajustamento psicológico, sugerindo o contributo destas variáveis
para uma maior presença de problemas psicológicos dos filhos. Não se verificaram
associações entre a psicopatologia e o ajustamento psicológico. O estudo ilustra a
necessidade de se continuar a clarificar a relação entre as dimensões da psicopatologia e
do funcionamento reflexivo parentais e o seu contributo para o ajustamento psicológico
dos filhos, principalmente em contextos de desvantagem social e económica. Ao focar-se
o papel destas variáveis parentais (psicopatologia e funcionamento reflexivo) no desenho
de intervenções psicossociais no âmbito da parentalidade poderão construir-se programas
bem-sucedidos e eficazes.Literature on parenting shows that variables such as socioeconomic status,
psychopathology and reflective functioning seem to impact the psychological adjustment
of children. However, literature gaps remain regarding the relationship between these
variables within the context of socioeconomic disadvantage. This study analyzed the
relationship between parent's psychopathology (depression, hostility and anxiety),
parental reflective functioning (pre-mentalization, certainty about child’s mental states
and curiosity and interest about the child’s mental states) and child psychological
adjustment (children’s psychological problems) in parenthood within contexts of
socioeconomic disadvantage. The sample consisted of 78 caregivers referred by risk
parenting, living in contexts of socioeconomic disadvantage, and cohabiting with at least
one child. Results revealed positive correlations between hostility and pre-mentalization,
and between pre-mentalization and the child psychological adjustment. Specifically, the
testing of a mediation model, revealed a positive and significant indirect effect between
hostility and pre-mentalization in the child’s psychological adjustment, suggesting the
contribution of these variables to a greater incidence of children's psychological
problems. No associations between psychopathology and psychological adjustment were
found. The study illustrates the need to clarify the relationship between the dimensions
of parental psychopathology and parental reflective functioning and their contribution to
children’s psychological adjustment, particularly within the context of socioeconomic
disadvantage. By targeting these parental variables (psychopathology and reflective
functioning), parenting psychosocial programs may be designed to improve programs
success and effectiveness