Cerca de 90% dos casais numa relação de compromisso fará a transição para a
parentalidade em algum momento da sua relação. A gravidez e o pós-parto são
considerados períodos de vulnerabilidade para o bem-estar sexual dos casais, sendo
frequente surgirem dificuldades sexuais (e.g., distress sexual, baixo desejo, dor genital) que
podem iniciar-se na gravidez e persistir até 12 meses pós-parto. O bem-estar sexual é
uma dimensão crítica para a qualidade e longevidade das relações de casal e está associado
a melhores índices de saúde global e qualidade de vida. Contudo, o conhecimento acerca
de fatores associados com o início e com a persistência de problemas sexuais perinatais é
pouco robusto e, atualmente, não existem intervenções baseadas em evidência focadas no
bem-estar sexual desta população. O presente trabalho visa compreender processos
psicológicos intra- e interpessoais envolvidos no bem-estar sexual dos casais durante a
transição para a parentalidade. Com base em modelos de ajustamento diádico e modelos
cognitivo-afetivos de resposta sexual, apresentamos cinco estudos que investigam de que
forma padrões de interdependência entre as experiências de casal contribuem para o
bem-estar sexual durante este período. Recolhemos dados de amostras de casais durante
a gravidez e após o parto (total n = 512 casais) usando desenhos diádicos transversais e
longitudinais. Os resultados destes estudos indicam a presença de vários mecanismos
interpessoais (e.g., padrões de [des]semelhança cognitivo-afetiva intradíade,
bidirecionalidade entre dimensões de bem-estar sexual e relacional) que contributem para
índices de bem-estar sexual (e.g., função sexual, satisfação sexual, distress sexual) durante a
gravidez e no pós-parto, de forma transversal e longitudinal. Adicionalmente, identificamos
classes de casais com trajetórias de bem-estar sexual distintas ao longo do tempo e
examinamos o contributo de determinantes biológicos, psicológicos e relacionais para a
pertença a estas trajetórias. Os resultados desta tese contribuem para uma maior
compreensão dos processos interpessoais envolvidos no bem-estar sexual em períodos
críticos de vida, bem como para o desenvolvimento de intervenções baseadas em
evidência para promover o bem-estar sexual desta população