Sakakibara, Albino M.

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Cadernos Espinosanos (E-Journal)

Papéis Avulsos de Zoologia Papéis Avulsos Zool.j S. Paulo, vol. 23 (15): 137-144 12.11.1971 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SÔBRE MEMBRACIS FOLIATA LINNÉ, M. FLAVEOLA GMELIN E M. LUNATA FABRICIUS E DESCRIÇÃO DE UMA NOVA ESPÉCIE (HOMOPTERA, MEMBRACIDAE) Albino M. Sakakibara Abstkact In this paper the author presents a discussion ahout the vali- dity of Membracis foliata Linné, M. flaveola Gmelin and M. lunata FahriciuSj species of douhtfull status until now. The des- cription of a neWj correlated speciesj Membracis flavofasciata (type-localityj Brazilj Minas Geraisj Araxá), is included. Introdução Pairava até o presente, uma certa dúvida quanto a validade das espécies Membracis foliata Linné, M. flaveola Gmelin e M. lunata Fabricius. No catálogo de Funkhouser (1927) encontramos flaveola incluída em foliata e lunata como uma espécie a parte. Já no último catálogo, Metcalf & Wade (1965), ao contrário de Fun- khouser, isolaram flaveola colocando lunata na sinonímia de foliata. Seria realmente lunata = foliata? Germar (1835) admitia as três espécies como sendo distintas. Descreve-as em seu trabalho da seguinte maneira: «3. M. flaveola. Fusca, stethidio flavo, fascia maculaque fuseis. Stoll, Cie. tab. 1, fig. 2. Oliv. Ene. VII, 662, 4 Memhr. flaveola Fahr. Syst. Rhyng. 7, 7, Membr. foliata. — Habitai in America meridio- nali. 4. M. foliata. Fusca, stethidio fascia antica abbreviata arcuque ante apicem albo diaphanis. Stoll tab. 5, fig. 24 Linn. Syst. nat. 2, 705, 2, Cicada foliata. Degeer, Ins. 3, 205, 8, tab. 32, fig. 9. Oliv. Ene. VII, 662, 3, Membr. foliata. Habitat in America meridionali. 5. M. lunata. Nigra, stethidio fascis duabus abbreviatis lunatis, maculaque ante apicem albo-diaphanis. Stoll, Cie. tab. 5, fig. 24, A. Fabr. Syst. Rhyng. 8, 11, Membr. lunata. Habitat in America meri- dionali. Praecedenti simillima, magnitudine paullo majore, colore nigro et arcu postiço stethidii basi interrupto praecipue distineta.» Contribuição n9 259 do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná. Bolsista do Conselho Nacional de Pesquisas. 138 Papéis Avulsos de Zoologia A minha opinião coincide com a de Germar. As espécies real- mente se assemelham muito, principalmente foliata e lunata, porém, podem-se distinguir perfeitamente as três. M. flaveola Gmelin (fig. 1) é a maior de tôdas (15 mm de comprimento por 12 de altura). Apresenta, como nas demais espécies, o pronoto fortemente comprimido, foliáceo, pouco mais longo que alto, de contorno quase semicircular. A parte posterior quase atinge o ápice das tégminas. A coloração é fusco-escura, quase prêta, com uma faixa vertical amarela na parte anterior ocupando tôda a porção que fica à frente da cabeça. Parte posterior com duas faixas amarelas de cada lado, uma vertical e outra horizontal, unidas logo após os ângulos umerais formando um "L". As faixas verticais de cada lado atingem a linha média dorsal unin- do-se entre si e as faixas horizontais por sua vez, dispostas na margem inferior, unem-se posteriormente em uma pequena mancha apical. Na chave de Goding (1928) encontramos esta espécie com o nome de maculata, e é caracterizada pelo autor da seguinte forma: "9 (4). Pronotum yellow with a broad transverse band extended from humeral over dorsum to humeral, and a large triangular spot before apex, black  maculata/' m 1 ÍB- m. % m- FÁi & 2 i i m mm ❖íf? ã I L- -J 1_ —I 10 I 1, Membracis flaveola; 2, M. foliata; 3, M. flavofasciata, sp. n..; 4, M, lunata Vol. 23 (15), 1971 139 M. foliata Linné (fig. 2) é uni pouco menor (12 mm de com- primento por 10 de altura). A parte posterior do pronoto termina entre o ápice e o ângulo interno das tégminas. A coloração é fusco-escura. quase prêta, com uma faixa amarela vertical na parte anterior, não ocupando, porém, tôda a porção que fica à frente da cabeça. • Parte posterior, logo após os ângulos umerais, com uma mancha em forma de "C" (daí o nome c-album dado por Fairmaire). Tanto a faixa vertical anterior como a mancha em "C" não atingem a linha média dorsal, isto é, deixam uma faixa escura ao longo da mesma desde a parte anterior até o ápice, porém inferiormente, as manchas atingèm o bordo. Genitália: 5, Membracis foliata; 6, M. lunata; 7, M. flavofasciata, sp. n. Linné, em "Systema Naturae" (1758) dá a seguinte descrição: <ffoliata. 6. C. foliacea rotundata nigra arcu albo. Merian. surin. t. 5 f. ult. Habitat in índia. De Geer. Thorax e folio perpendiculari, semicordato, atro, antice rotundato, utrinque, in altero sexu, arcu albo, in altero vero antice linea alba, postice arcu albo. Postice subtus corpus Elytris 2 nigris Alisque 2 albidis. Pedes anteriores extimo articulo gibbosi." Pela descrição acima, parece que Linné tinha em mãos, além de foliata propriamente dita, uma outra espécie com desenho dife- rente, e que considerou como sendo do sexo oposto. Com o material existente em nossa coleção, pude verificar que tanto o macho como a fêmea têm o mesmo desenho, não sendo portanto um caráter condicionado ao sexo. O exemplar tido por Linné como de outro sexo seria provàvelmente flaveola. M. lunata Fabricius (fig. 4) tem o tamanho, forma e côr idên- ticos à precedente, inclusive a faixa amarela vertical na parte anterior. A mancha amarela posterior, entretanto, não forma um "C". Apenas duas manchas curtas, verticais e isoladas, "lunulis tribus albis", como descreve Fabricius. Esta espécie era tida como uma variedade da anterior. Buckton (1903) quando descreve M. foliata diz: "Pronotum semi-circular at the rim, which is black. The flat disc is marked by one anterior, upright, white stripe, followed, by two others, which, if they united before reached the lower margin of the pronotum, would form a conspicuous white C. If they do not so unite, they take the form of the variety M. lunata (fig. 3), in which the white stripes are separated." 140 Papéis Avulsos de Zoologia r Da mesma maneira encontramos na chave de Goding, já citada: «11 (12). Pronotum black with 3 vertical yellow bands each side not extended to dorsum, the front band touching lateral margins, the others distant from lateral margins sometimes united below by a 'short curved ptrip© foliata." Voltando atrás, em "Revue de la tribu des Membracides" de Fairmaire (1846), encontramos as seguites descrições: «3. M. lunata. — Fab. Mant. Ins. 2, 262, 6. Ent. Syst. 4, 9, 5. S. Rh. 8, 11. — Germ. Rev. Silb. III, 224, 5. — Stoll, Cie. t. 5, f. 24A. M. foliata, Oliv. Ene. Meth. 662, 3. — Brésil. Long. 0,008. Fusco nigra, fasciis tribus albidis abbreviatis, quarum posterior brevior. 4. M. C-alhum*. — M. lunata, Fab. var.: — M. foliata, Germ. Rev. Silb. III, 224, 4. — Oliv. Ene. Meth. 662, 6. — Cicada foliata fasciata, Deg. Ins. 3,205, 8, t. 32, fig. 9, 10. — Amerique méridiona- le. Long. 0,008. Fusco nigra, fascia antica abbreviata, arcuque posteriore albi- dis. Cette espèce a été confundue avec la précédente par Fabricius: elle lui ressemble beaucoup, mais je n'ai jamais vu de passages de Pune à Tautre: les fascies de la seconde espèce sont beaucoup plus larges, et l'on trouve les deux sexes parmi les individus des deux espèces. M. Germar Ta prise pour la foliata de Linné." Se considerarmos o desenho de lunata como sendo uma variação intraespecífica, poderia supor-se a existência de uma forma inter- mediária como diz Fairmaire "de passages de Pune à Tautre". Entretanto, isto não acontece. Com base no desenho podemos sempre separar em grupos de espécimes com mancha em "C" e de espécimes com duas faixas verticais isoladas. Digo com base no desenho, porque pela genitália segundo pude constatar, não se pode distinguir as duas, uma vez que a estrutura é quase que idêntica (Figs. 5 e 6). Um outro caráter, embora não positivo, é o da coloração dos tarsos. Em foliata os tarsos são mais escuros, isto é, da mesma côr das tíbias, enquanto que em lunata são mais claros. Distribuição geográfica Segundo o material estudado, as espécies têm a seguinte distri- buição geográfica: M. flaveola: Amazonas, Tabatinga e Benjamin Constant; Pará, Belém. M. foliata: Amazonas, Itacoatiara e Tefé; Pará, Óbidos e Jacarè- acanga; Minas Gerais, Passos e Serra do Salitre; São Paulo, Mogi Guaçu, Cosmópolis, Pedregulho. M. lunata: Pará, Mangabeira; Rio Grande do Norte, Natal; Bahia, Salvador. Como podemos notar (fig. 8), M. lunata concentra-se mais no nordeste, e M. flaveola no norte do Brasil. M. foliata, por outro Vol. 23 (15), 1971 141 A f o I i a t a ■ 1 u n a t a • f I av e o I a *]A A Fig. 8, distribuição geográfica. lado, é encontrada tanto no norte como na região sudeste, na altura de São Paulo e Minas Gerais. É interessante notar que os exemplares do norte (Amazonas e Pará) são um pouco maiores do que os da região sudeste (Minas Gerais e São Paulo), talvez por motivos ambientais. O tamanho médio das fêmeas do norte é de 12 por 11 mm. Apresentam ainda uma coloração mais acastanhada e as faixas amarelas relativamente largas. Os exemplares da região sudeste são menores, bem mais escuros e com as faixas amarelas mais estreitas. O tamanho médio das fêmeas desta área é de 10,5 por 8,5 mm. O material examinado, infelizmente, além de escasso, constou apenas de exemplares brasileiros, não permitindo um estudo mais acurado no sentido de estabelecer com precisão a área de distri- buição de cada uma. De acordo com o que consta na literatura, teríamos os seguintes dados: 142 " Papéis Avulsos de Zoologia M. flaveola: Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana Francesa, Pará e Rio Grande do Sul. M. foliata: México, Guatemala, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Pará, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. M. lunata: Suriname, Guiana Francesa, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Pelas localidades acima citadas, as espécies apresentam uma área mais ou menos comum de distribuição. Isto talvez devido à confusão que havia na identificação das mesmas pelos autores, principalmente as espécies M. flaveola e M. lunata que eram consi- deradas ora sinônimas de M. foliata e ora como espécies distintas. No mapa, entretanto, em que foram assinaladas apenas as locali- dades dos exemplares tidos em mãos, as espécies parecem se loca- lizar em áreas mais ou menos distintas, embora M. foliata ocorra tanto no norte como na parte sudeste do país. Supõe-se, contudo, que elas se estendam pela parte central do Brasil, pelos Estados de Mato Grosso e Goiás. A falta de material proveniente desta região não nos permite confirmar o fato. A ocorrência de M. fla- veola e M. foliata no Rio Grande do Sul, conforme se acha registrada no catálogo de Metcalf & Wade (1965), me parece muito improvável. Membracis flavofasciata, sp. n. (Figs. 3 e 7) Diagnose Pronoto foliáceo, aproximadamente duas vêzes mais longo que alto. Coloração geral prêta, com manchas amarelas, sendo uma anterior vertical que ocupa tôda a área situada à frente da cabeça e outra posterior em forma de "L", não incluindo porém o ápice do pronoto. Descrição Cabeça preta, vértice mais ou menos convexo, com os bordos inferiores projetados para baixo em ângulo agudo e com os lados ligeiramente voltados para a frente. Olhos semiglobulares e pouco salientes. Ocelos conspícuos, equidistantes entre si e dos olhos e situados na altura da linha que passa pelo centro dêstes. Clípeo tão largo quanto longo, foliáceo, ligeiramente côncavo na metade inferior e com um tufo de pêlos no ápice. Pronoto fortemente comprimido e foliáceo, aproximadamente duas vêzes mais longo que alto, de contorno superior quase semi- circular cujo raio se alonga ligeiramente para a extremidade poste- rior. A parte foliácea anterior se projeta para baixo em lóbulo até -a altura da margem inferior do vértice. Margem ínfero-poste- rior paralela ao bordo interno das tégminas não atingindo porém o ápice das mesmas. Coloração geral prêta, opaca, com pontuação fina e uniforme. Parte anterior à cabeça inteiramente amarela. Parte posterior logo após os ângulos umerais, com duas faixas amarelas de cada lado. uma vertical e outra horizontal, esta última junto à margem inferior, unidades entre si em ângulo reto. A faixa vertical é mais estreitada em sua parte superior. A faixa ascende Vol. 23 (15), 1971 pouco antes de atingir o ápice deixando nêste uma pequena ,área prêta. A faixa vertical de um lado, assim como a horizontáí, se une com a de outro lado na linha média dorsal. Tégminas prêtas e opacas, cóm pontuação idêntica à do pronoto, com duas células discoidais e cinco apicais. Asas hialinas com quatro células apicais. Pernas inteiramente prêtas. Primeiro e segundo par com tíbias foliáceas. Genitália: edéago cilíndrico, curvado para cima, de comprirp^nto aproximadamente quatro vêzes o seu diâmetro médio, ápice arre- dondado, ligeiramente afilado visto de perfil. Em sua parte dorsal encontramos, medianamente, um aglomerado de pêlos cerdiformes e, no têrço apical, pequenas e numerosas excrescências denticuLares. Parâmeros relativamente robustos e terminados em gancho, porém apresentando o ápice mais alargado e com a parte de cima reta como se fôsse cortada. Medidas em mm: comprimento total 12,00; comprimento do pronoto 11,50; altura máxima do pronoto 6,00; largura entre os ângulos umerais 2,80. Tipos Holótipo, de Minas Gerais, Araxá, 5.IX. 1965, T. & C. Elias col. (no Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná), Parátipos: 3^, 49, com os mesmos dados do holótipo; 6^, 119, de Minas Gerais, Ibiá (DZUFP); 4<£, 15 9, Mato Grosso, Rio Cara- guatá (Coleção Campos Seabra); là, 19, Bolívia, Província dei Sara, Santa Cruz (DZUFP). Dois parátipos e 9) depositados no Museu Nacional, Rio de Janeiro; dois parátipos no Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo. Discussão taxonômica A espécie descrita acima é muito próxima de flaveola Gmelin, podendo num exame rápido, ser confundida com a mesma. M. fla- veola, entretanto, é bem maior do que flavofasciata, e tem o desenho amarelo posterior um pouco diferente embora em ambas se apre- sente em forma de "L". Na primeira, o ramo horizontal do "L" atinge o ápice do pronoto onde se alarga ligeiramente, ao passo que em flavofasciata o mesmo não atinge o ápice do pronoto, isto é, se curva para cima pouco antes do ápice. Em outras palavras, a parte apical do pronoto em flaveola é amarela, e em flavofasciata é prêta. Referências Buckton, G, B. 1903. A monograph of the Memhracidae. Pp. 1-296, 60 pis. Fabricius, J. C. 1803. Systema Rhyngotorum. Brunsvigae, pp. 1-314. Fairmaire, L. 1846. Revue de la tribu des Membracides. Ann. Soe. Ent. France 4: 235-320; 479-528. 144 Papéis Avulsos de Zoologia Funkhouser, W. D. 1927. General Catalogue of the Hemiptera. Fase. 1, Membracidae, pp. 1-581, Smith College, Northampton, Mass.. Gbrmar, E. F. 1835. Species Membracidum Musei E. F. Germari. Rev. Ent. Silb. 3: 223-261; 307-311. Gmblin, J. F. 1788. in Linnaeus, C., Systema Natuírae. Editio décima tertia ... Cura J. F. Gmelin. Vol. 1, pars 3: 2092-2096. Goding, F. W. 1928. Membracidae of South America and Antilles III. Subfamily Membracinae. Journ. New York Ent. Soe. 36 : 201-234, 1 pl., 15 figs. Linnaeus, C. 1758. Systema Naturaej Editio décima reformata. Vol. 1, Holmiae. Metcalf, Z. P. & V. Wade 1965. General Catalogue of the Homoptera. Membracoidea, section II: 745-1552. 

Algumas considerações sôbre Membracis foliata Linné, M. flaveola Gmelin e M. lunata Fabricius e descrição de uma nova espécie (Homoptera, Membracidae)

https://www.revistas.usp.br/paz/article/download/210730/193185

Algumas considerações sobre Membracis Foliata Linné, m. Flaveola gmelin e m. Lunata fabricius e descrição de uma nova espécie (Homoptera, Membracidae)

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