This dissertation explores how the manipulation of time, empathy, and
historical events resonate in Colum McCann’s Let the Great World Spin (2009). We
focus on the novel's ability to weave critical interpretations of the war with dialectical
perspectives of New York City. Mainly, we understand how the characters actualize
their coping mechanisms into the novel’s aesthetics. Borrowing concepts of history
and time from David Harvey (1990), Walter Benjamin (1969), and Paul Ricoeur
(2004), we attempt to understand the author’s connections between form and time
and how they complexify historical tensions. The historical context of the wars plays
an important part in the amalgamation of form and time. The novel plays with images
of the 9/11 and the changing perception of it.
The past sheds light on the present as we trace parallels to America’s
erasure of marginalized people and racial tensions in urban systems. Much like a
living organism, the city is inherently connected to its inhabitants. This ecosystem will
form and be defined by the structures of social life. Every chapter shifts its style to
reflect the tensions and highlight the internal contradictions. In our close analysis of
the novel, the connections between urban spaces and the characters become
stronger—as do their relations with historical processes. Revolving around the city,
the novel also focuses on the potential for empathetic relationships that are only
possible in urban structures.
Prospects of redemption are only made possible through community and
connection. Divided into three parts, the dissertation attempts to show us how the
novel functions as a postmodern revision of US history. First, we touch on the effects
of a particular image within the novel, Vic DeLuca’s photograph. Depicting Philippe
Petit’s unauthorized crossing of the Twin Towers in 1974, its relationship with the text
highlights the importance of images for narrative construction. Secondly, we delve
into the two female narrators’ experiences of time. Intrinsically connected with urban
space, this part analyzes the structures of the text and the city. Finally, we concern
ourselves with the ramifications of power within the characters’ narratives.
Comparing two radically different experiences of the city, we envision how the
systems of power can affect life, art, and family. Overviewing the effect of systematic
oppression and the images employed in the novel, we attempt to understand how
the novel intertwined history in its empathetic process.Esta dissertação desenvolve os efeitos da manipulação do tempo,
espaço, eventos históricos e suas projeções artísticas em relação a grandes centros
urbanos. Em específico, olhamos para o livro Let the Great World Spin (2009),
explorando como Colum McCann trabalha estes aspectos em relação à cidade de
Nova Iorque. O efeito dessa manipulação é caleidoscópica, mas também um convite
à participação empática do leitor, reconstituindo relações entre personagens. A
sombra do onze de setembro projeta-se num passado fragmentário e no quotidiano
das personagens, sendo que as percepções temporais constantemente se adaptam
a estas vivências. Entretanto, há uma sugestão de redenção através de sentimentos
de comunidade e empatia.
A diversidade de vivências cria a textura do romance, muitas vezes
dando voz às pessoas comuns. Ademais, tentamos entender como o livro se propõe
expandir a representatividade de comunidades racializadas, evitando usar classes
oprimidas apenas como ferramenta narrativa. Devido à pluralidade de linhas
narrativas, temas e perspectivas, torna-se impossível explorar o romance na sua
totalidade; portanto, faremos os devidos cortes em nosso escopo. Nosso principal
foco será no prefácio, na fotografia inserida dentro do livro, e nos capítulos: “Miró,
Miró, on the Wall,” “This is the House that Horse built,” “Parts of the Parts,” “All Hail
and Hallelujah” e “Roaring Seaward, and I Go.”
Estes capítulos possuem grande variação em estilos, pontos de vista,
tempo, espaço e até mesmo contexto histórico. O último capítulo coloca a narrativa
em 2007, vinte e sete anos após a primeira parte. O romance em si é constituído por
múltiplas peças montadas ao redor de um local, Nova Iorque. Sua diversidade
impossibilita qualquer tentativa de resumir sua experiência narrativa, sendo
utilizadas técnicas de fragmentação que refletem a vida moderna. Não obstante, o
romance cria uma experiência intimamente ligada ao contexto histórico que se
retrata nas narrativas.
Através da incorporação de diferentes técnicas, o romance articula a
experiência moderna em suas escolhas estéticas. Temas urbanos expõem a
intenção de construir pontes entre experiências pessoais e históricas. Estas
escolhas não podem ser entendidas descoladas de seus contextos de criação. O
discurso que relaciona o onze de setembro com um ‘ataque à democracia' contribui
para o tom justiceiro americano, colocando a invasão ao Iraque e Afeganistão como
defesa aos princípios democráticos.
Ao contrário da literatura predominante no pós-queda, o escritor irlandês
redireciona a sua escrita com um olhar empático para os habitantes de Nova Iorque.
A experiência traumática ressoa no dia-a-dia, em pequenas e grandes ondas que
atingem diferentes espaços de diferentes maneiras. Imaginar possíveis links entres
os microcosmos urbanos é central para descobrirmos possibilidades de redenção.
Teóricos do espaço urbano como Jane Jacobs (1961) veem diversidade de
formatos, perspectivas e hábitos como oportunidades para criação. De vários
modos, isto é exatamente o que tentamos ressaltar nesta dissertação: como a
construção da diferença no livro reflete a construção do espaço, possibilitando
faíscas de mudanças e relacionamentos.
Firmamos o nosso argumento na importância do espaço para relações
empáticas e investigamos como construções imagéticas centralizam a experiência
marginalizada. Para fundamentar os nossos argumentos, esta dissertação será
dividida em três capítulos. Primeiramente, propomo-nos dissertar sobre a base
teórica e conceitos-chaves, como, por exemplo, imagens dialéticas e o uso de
imagens dentro do livro. Tocamos nos efeitos da fotografia de Vic DeLuca para a
narrativa. Retratando Philippe Petit enquanto o artista atravessa as Torres Gêmeas
em 1974, a fotografia ressalta a importância de imagens para a construção da
história. Quando olhamos para o prefácio, teóricos como Barthes e Butler ressurgem
para nos auxiliar no melhor entendimento das variadas ressignificações imagéticas
possíveis através do tempo. No prefácio, analisamos a assimilação de perspectivas
históricas e suas ressignificações ao longo do texto. No fim, debruçarmos-nos sobre
as construções de ponto de vista e exploramos as ressignificações da fotografia de
DeLuca.
No segundo capítulo, dissecamos como o autor se apropria dos
diferentes espaços urbanos na construção da cidade, atentando nas escolhas
estilísticas, bem como na influência urbana nas perspectivas dos personagens e
suas relações semióticas com símbolos urbanos. Nesta parte, restringimos a nossa
análise aos capítulos “Miró, Miró, on the Wall” e “All Hail and Hallelujah”. Ao
olharmos para este recorte, exploramos como suas narrativas experienciam o
tempo. Uma vez que a temporalidade se conecta intrinsecamente com o espaço
urbano, analisaremos simultaneamente as estruturas textuais e metropolitanas.
Uma porção significativa da argumentação se baseia em teorias de tempo e
otherness desenvolvidas pelos teóricos Lefebvre (2000) e Homi Bhabha (2004).
Ademais, buscamos explorar como a presença da cidade ressurge e se infiltra nas
vivências dos personagens, influenciando suas emoções e relações. Utilizaremos a
técnica de close reading para refletir sobre a importância do Outro nas tentativas de
superar traumas históricos. Para oferecer uma visão mais abrangente em temas do
espaço público/privado, Michel de Certeau (1988) e outros teóricos do espaço
urbano nos auxiliam no entendimento de como pontos de vista divergentes
representam um exercício para o olhar. Passado e presente coexistem num
continuum que possibilita imaginarmos potencialidades.
A última parte trabalha com criação de imagens através de diferentes
perspectivas. Descobrindo como McCann conduz o ato de olhar nos capítulos “This
Is the House That Horse Built” e “Parts of the Parts”, questionamos a criação
sistemática de estereótipos para promover discursos dominantes. Através de nossa
análise, concluímos como o olhar judiciário é conduzido de modo a ostracizar o
outro, principalmente quando levamos em conta dinâmicas de poder entre grupos
marginalizados. Autores como Coplan & Goldie (2014) e Suzanne Keen (2007) se
tornam fios condutores para a compreensão das relações entre personagens. Este
capítulo também toca na questão de representações artísticas para grupos
marginalizados, e suas ramificações na exploração histórico-urbana do texto. Nos
preocupamos, especialmente, em entender as ramificações das estruturas de poder
em como os personagens veem o seu local dentro deste sistema e as suas
possibilidades de mudança.
Por fim, através de recortes na malha de Let the Great World Spin,
suplementados por teorias de diversos campos, concluímos que o livro se faz fio
condutor para a mudança. Através do exercício do olhar, o romance procura
potencializar comunidade e possibilidade. Desafiando construções estáticas do
passado, torna-se relevante pela sua pluralidade e poder imaginativo. Ao todo,
tentamos contemplar como, através de imagens, o texto trabalha com classe e
história no desenvolvimento de processos empáticos