A calcinose sistêmica em equinos é uma doença rara, de fisiopatologia não completamente elucidada, com curso geralmente letal e lesões histopatológicas caracterizadas por inflamação e mineralização sistêmicas. Apresenta correlações com a miosite imunomediada, que é uma doença genética de origem inflamatória, relacionada com uma variante do gene MYH1 que codifica a cadeia pesada da miosina 1. Apesar da falta de comprovação da influência genética no desenvolvimento de calcinose sistêmica, ambas as doenças apresentam curso clínico inicial semelhante, acometendo, principalmente, equinos da raça Quarto de Milha, e estão frequentemente associadas a históricos prévios de infecções bacterianas ou vacinação, que parecem servir de evento desencadeador das doenças. A miosite imunomediada diferencia-se da calcinose sistêmica por apresentar um bom prognóstico, causando atrofia muscular imunomediada com rápida recuperação, enquanto a calcinose sistêmica apresenta um curso grave de alta letalidade. Poucos estudos abordaram a calcinose sistêmica, sua relação com miosite imunomediada e com a mutação no gene MYH1. O objetivo deste estudo foi descrever os aspectos epidemiológicos, patológicos e moleculares de casos de calcinose em equinos submetidos à necropsia entre os anos de 2018 e 2021 nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil. No período estudado, cinco casos histologicamente compatíveis com lesão muscular definida como calcinose sistêmica foram diagnosticados. Os equinos afetados eram da raça Quarto de Milha, tinham idade mediana de 15,4 meses e tiveram evolução da doença de 16,8 dias em média. As alterações macroscópicas eram caracterizadas por áreas de palidez acentuada na musculatura, com lesões microscópicas de necrose, calcificação, atrofia e regeneração muscular e manifestação em vários órgãos, com predomínio de processos inflamatórios e mineralizantes. Quatro dos cinco cavalos tiveram material submetido a avaliação molecular e todos apresentaram mutação para a variante patológica do gene MYH1 em homozigose (n=1) ou heterozigose (n=3). Não havia outra mutação relacionada à doença muscular nos casos testados. Três equinos apresentaram marcação positiva contra antígenos de Streptococcus equi na avaliação imuno-histoquímica, especialmente, no trato respiratório. Os achados genéticos do presente estudam reforçam o envolvimento da variante MYH1_p.E321G no desenvolvimento da calcinose sistêmica em equinos QM e que esta apresenta consonância entre os achados clínicos e epidemiológicos da miosite imunomediada, diferenciando-se na manifestação histopatológica.Systemic calcinosis in horses is a rare disease with pathophysiology that is not completely elucidated, typically fatal course, and histopathological lesions characterized by systemic inflammation and mineralization. It presents deep correlations with immune-mediated myositis, which is a genetic inflammatory disease related to mutations in the MYH1 gene that encodes the heavy chain of myosin. Despite the lack of evidence for genetic influence on the development of systemic calcinosis, both diseases present similar initial clinical courses, mainly affecting Quarter Horse breed horses, and are commonly associated with previous histories of bacterial infections or vaccination, which seem to serve as triggering events for the diseases. Immune-mediated myositis differs from systemic calcinosis in that it has a good prognosis, causing immune-mediated muscle atrophy with rapid recovery, while systemic calcinosis presents a severe course with high lethality. Few studies have addressed systemic calcinosis, its relationship with immune-mediated myositis, and the MYH1 gene mutation. The aim of this study is to describe the epidemiological, pathological, and molecular aspects of cases of calcinosis in horses submitted to necropsy between 2018 and 2021 in the South and Midwest regions of Brazil. During the studied period, five histologically compatible cases with muscle injury defined as systemic calcinosis were diagnosed. The median age of affected horses was 15.4 months, all Quarter Horse breed, with an average disease progression time of 16.8 days. Macroscopic alterations were characterized by areas of pronounced paleness in the musculature with microscopic lesions of muscle atrophy with manifestation in various organs, with a predominance of inflammatory and mineralizing processes. Four of the five horses had material submitted to molecular evaluation and all presented a mutation for the pathological variant of the MYH1 gene, one homozygous and three heterozygous horses. There was no other mutation related to muscle disease in the tested cases. Three horses showed positive marking against Streptococcus equi antigens on immunohistochemical evaluation, especially in the respiratory tract. The genetic findings of the present study indicate that the MYH1 gene is involved in the development of systemic calcinosis and that it presents consistency between the clinical and epidemiological findings of immune-mediated myositis, differing in histopathological manifestation