“Quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro” : o Serviço Social e as interfaces da questão social expressas na luta pelo direito à cidade

Abstract

O presente estudo sistematiza a abordagem da questão social e suas expressões na condição, modo de vida e organização política de mulheres residentes de uma ocupação urbana organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, na interface com a luta pelo direito à cidade. Foi desenvolvido a partir de pesquisa qualitativa, com a adoção da metodologia de História Oral, ancorada no método dialético-crítico. Por meio de entrevistas vídeo gravadas e registros fotográficos realizados com mulheres que residem na Ocupação Povo Sem Medo, as trajetórias de vida evidenciam as contradições engendradas pelo modo de produção capitalista, num cotidiano permeado de desigualdades e resistências sociais. Trata-se de uma angulação de pesquisa ainda pouco explorada na área de Serviço Social, que pode subsidiar novas estratégias de trabalho, tendo como centralidade a análise da questão social, em suas múltiplas expressões na cena contemporânea, a partir dos subsídios teóricos da teoria social marxista, destacando-se a relevância da produção de Henri Lefebvre acerca das noções de direito à cidade e cotidiano. Enquanto resultados, verificou-se no conjunto de depoimentos que as experiências do estigma da identidade sem teto, dos processos de exclusão mediados pela pobreza, conferem unidade às histórias de vida sobretudo no que tange um universo coletivo onde são gestados os sonhos e esperanças. Nesta perspectiva podemos inferir que a discussão das condições de vida, foram evidenciadas a partir da interlocução do nível de acesso à moradia, trabalho e renda, como determinações que impactam diretamente no direito à cidade. Permeada pela construção de sociabilidades e modos de viver que emergem da vida cotidiana no âmbito coletivo e pautados por laços de solidariedade classista, as estratégias de lutas e resistências se apresentam como elementos essenciais à organização política das mulheres sem teto. Neste sentido, as experiências referem o método das ocupações de vazios urbanos que não cumprem com a função social de propriedade como principal estratégia utilizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto na disputa do espaço urbano como expressão da luta de classes. Os achados da pesquisa revelam também que no âmbito da produção científica na área de Serviço Social tal abordagem permanece diminuta, sobretudo em referência às lutas sociais travadas no contexto de ocupações urbanas. Sob a perspectiva de totalizações provisórias, compreende-se que se torna fundamental fortalecer as estratégias de lutas travadas pelas organizações políticas da classe trabalhadora, sobretudo na mediação do trabalho dos/das assistentes sociais em articulação com os movimentos sociais urbanos, apreendendo-as como ferramentas que conferem renovação política às bases organizativas dos coletivos sociais, no horizonte da radicalidade democrática e da emancipação humana.This study systematizes the approach to the social issue and its expressions in the condition, way of life, and political organization of women residents of an urban occupation organized by the Homeless Workers' Movement in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, in the interface with the struggle for the right to the city. It was developed from qualitative research, with the adoption of the Oral History methodology, anchored in the dialectic-critical method. Through videotaped interviews and photographic records made with women who live in the Povo Sem Medo Occupation, their life trajectories show the contradictions engendered by the capitalist mode of production, in a daily life permeated with social inequalities and resistance. This is an angle of research that has been little explored in the area of Social Work, which can subsidize new work strategies, focusing on the analysis of the social issue, in its multiple expressions in the contemporary scene, from the theoretical subsidies of Marxist social theory, highlighting the relevance of Henri Lefebvre's production on the notions of the right to the city and daily life. As result, it was verified in the statements that the experiences of the stigma of the homeless identity, of the processes of exclusion mediated by poverty, confer unity to the life stories, especially when it comes to a collective universe where dreams and hopes are born. From this perspective, we can infer that the discussion of living conditions was evidenced from the interlocution of the level of access to housing, work, and income, as determinations that directly impact the right to the city. Permeated by the construction of sociabilities and ways of living that emerge from daily life in the collective sphere and guided by ties of class solidarity, the strategies of struggle and resistance are presented as essential elements to the political organization of homeless women. In this sense, the experiences refer to the method of occupying urban vacant lots that do not fulfill the social function of property as the main strategy used by the Homeless Workers' Movement in the dispute for urban space as an expression of the class struggle. The research findings also reveal that the scientific production in the field of Social Work has little to offer, especially about the social struggles waged in the context of urban occupations. Under the perspective of provisional totalization, it is understood that it becomes fundamental to strengthen the strategies of struggles waged by the political organizations of the working class, especially in the mediation of the work of social workers in articulation with urban social movements, apprehending them as tools that confer political renovation to the organizational bases of social collectives, on the horizon of democratic radicalism and human emancipation

    Similar works