A Biotecnologia pode ser definida como o conjunto de conhecimentos, técnicas e
métodos de base científica ou prática, que permite a utilização de seres vivos, ou de suas partes funcionantes, no processo de produção industrial e de bens e serviços (JONAS, 1994).

Gilmar Roberto Zaffari

Ornamental Horticulture

Directory of Open Access Journals

Geração e transferência de biotecnologias para a cadeia produtiva de plantas frutíferas e ornamentais.  Zaffari, Gilmar Roberto1  1Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Estação Experimental de Itajaí, CP 277, CEP 88.301-970, Itajaí, SC, Brasil – Professor da Universidade do Vale do Itajaí, (UNIVALI), CTTMar, CP 360, CEP 88.302-202, Itajaí, SC, Brasil; E-mail: gzaffari@epagri.sc.gov.br   A Biotecnologia pode ser definida como o conjunto de conhecimentos, técnicas e métodos de base científica ou prática, que permite a utilização de seres vivos, ou de suas partes funcionantes, no processo de produção industrial e de bens e serviços (JONAS, 1994). A biotecnologia pode ser classificada como uma síntese das ciências fundamentais constituídas pela Biologia, Química e a Engenharia. A área de Biotecnologia Vegetal tem contribuído muito em duas grandes sub-áreas: a de Biologia Celular e Molecular e a de Cultura de Tecidos de Plantas.  O desenvolvimento de sistemas eficientes de propagação massal de plantas pode ser baseados nos modelos da oferta e da demanda de geração e transferência de biotecnologias.  Modelo da oferta (espontâneo):  - quando o pesquisador (ou empresa pública ou privada)  oferta tecnologias a partir da sua análise / interpretação da realidade do setor. Modelo da demanda (induzido):         -  quando o pesquisador participa, conhece e interage com o setor discutindo as demandas e ou quando o produtor/cliente diz que produto precisa. O modelo onde o pesquisador formula e gera novos conhecimentos e biotecnologias a partir de percepções da análise da realidade local, regional e nacional da cadeia produtiva de determinado produto, nem sempre alcança o resultado desejado. Por outro lado, quando a busca por conhecimentos e biotecnologias tem origem dentro da cadeia produtiva e é compartilhado com pesquisadores de instituições públicas e/ou privadas, geralmente o resultado é a aplicação imediata. Dois modelos de geração e transferência de biotecnologia foram vivenciados dentro de uma instituição pública – a Epagri. O modelo da oferta desenvolveu-se a partir de 1991, na área da Fruticultura/bananicultura. A produção de mudas de bananeira era realizada por meio da propagação vegetativa a campo por meio de rizomas; mudas do tipo pedaço de rizoma, chifrinho e chifre. Este método exigia área para a manutenção e crescimento das matrizes, mão-de-obra intensiva, tempo demasiado e tratamento fitossanitário, e as mudas ainda poderiam apresentar pragas como nematóides e broca. A produção não ultrapassava 30 mil mudas. Além disso, a empresa tinha necessidade de aumentar a captação de recursos financeiros para subsidiar as pesquisas do Projeto de Fruticultura Tropical e da Estação Experimental de Itajaí/Epagri. Desta forma, os trabalhos iniciaram-se regidos pela visão unilateral “da oferta” dos pesquisadores da área, que detinham o conhecimento teórico-prático da produção “in vitro”.   No caso da Floricultura o processo ocorreu de forma inversa, caracterizando o segundo modelo da demanda. Em 2001, produtores de flores e plantas ornamentais, organizados numa associação estadual – APROESC – solicitaram através do CEDERURAL/Câmara Setorial de Flores e Plantas Ornamentais da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina, que a Epagri participasse das reuniões com os produtores e a partir das demandas do setor designasse técnicos e pesquisadores para atuar na área afim. Depois de algumas reuniões com os produtores, visitas as áreas de produção e participações em eventos da área (exposições, feiras, seminários e congressos) iniciamos os trabalhos de geração e transferência de biotecnologias para a cadeia produtiva da Floricultura.    Os modelos de oferta e demanda de geração e transferência de biotecnologias vivenciados na Epagri foram baseados nas seguintes premissas: 1. Geração de biotecnologias: origem da demanda; desenvolvimento da pesquisa, resultado da pesquisa, validação dos resultados; 2. Transferência de biotecnologias: visão do pesquisador; difusão do resultado; validação do resultado; 3. Adoção da biotecnologia gerada e transferida para o setor (Tabela 1).   Tabela 1. Descrição das fases da Geração e Transferência de Biotecnologias a partir dos modelos de oferta e demanda.  Fases da Geração e Transferência de Biotecnologia  Modelo da Oferta (Espontâneo)  Modelo da demanda (Induzido) 1. Geração Origem da demanda de pesquisa  - condicionada pelos propósitos e valores vigentes nas organizações a que estão vinculados os pesquisadores; - fundamentada no conhecimento teórico e na experiência dos pesquisadores em Instituições de Pesquisa e Universidades;  - condicionada pelas necessidades e desejos do produtor/cliente; - fundamentada no conhecimento prático da realidade do setor, da cadeia produtiva e do mercado por parte do produtor/cliente; Desenvolvimento da pesquisa - depende da motivação do pesquisador; - depende da infraestrutura física e de recursos humanos e financeiros; - disponibilidade de conhecimento científico e tecnológico; - depende das necessidades do produtor/cliente em resolver problemas ou aprimorar o produto;- acompanhamento e interação do produtor com o pesquisador; - depende da infraestrutura física e de recursos humanos e financeiros, o que muitas vezes conta com o subsídio do produtor; - disponibilidade de conhecimento científico e tecnológico; Resultado da pesquisa - confirma ou não a hipótese da pesquisa; - fatores que contribuíram para o sucesso ou insucesso da pesquisa; - se a biotecnologia /produto definitivo é possível de se obter; - qual o custo da tecnologia /produto; - vantagens e características específicas da tecnologia/produto; Validação do resultado - ensaios na instituição ou propriedade do produtor; - aceitação ou confirmação por outros pesquisadores e técnicos de outras instituições; - qualidade final do produto; - produção em larga escala e em curto período de tempo; - vantagens da tecnologia/produto em relação ao sistema convencional; - modificações compatíveis no processo produtivo; 2. Transferência Visão do pesquisador   - comunicar o resultado da pesquisa em eventos científicos, acadêmicos e aos produtores;  - comunicar os resultados parciais da pesquisa ao produtor; - comunicar o resultado final da pesquisa ao produtor/cliente; Difusão do resultado - apresentar em congressos e publicar em revista científica; - comunicar em reuniões técnicas dentro e fora da Instituição; - dia de campo com o produtor; - contato permanente com o produtor/cliente de forma pessoal e via as organizações; - utilização da biotecnologia/produto pelo produtor no sistema convencional;- dia de campo com os produtores interessados; - apresentar em congressos e publicar em revista científica; - comunicar em reuniões técnicas dentro e fora da Instituição; - dia de campo com o produtor; Validação do resultado - pesquisa de opinião sobre o nível de adoção; - fazer ajustes na biotecnologia/produto; - avaliar custo/benefício da biotecnologia; - adoção plena pelo produtor; - aceitação do produto pelo mercado; - repasse do conhecimento teórico e/ou tecnológico da geração da biotecnologia a outras instituições e laboratórios; 3. Adoção da biotecnologia Adoção da biotecnologia   - pesquisa qualitativa e quantitativa para avaliar o nível de adoção; - discussão entre os pesquisadores e técnicos da Instituição e da cadeia produtiva;   - utilização imediata da biotecnologia/produto no processo produtivo; - modificações no processo produtivo em função da biotecnologia; - nível de satisfação do produtor;   Segundo Byerlee & Collinson (1980) as tecnologias geradas pela pesquisa agropecuária só trazem benefícios à sociedade a partir do momento em que são adotadas pelo produtor.  Uma instituição de pesquisa agropecuária e extensão rural, à semelhança de qualquer indústria, tem como metas, criar produtos e ou serviços para os seus clientes. Para definir o que pesquisar, é necessário realizar uma “pesquisa de mercado” e, para que o produto gerado seja aceito (adotado), é mister que se conheça profundamente o sistema que se pretende beneficiar e se faça o produto à conveniência do seu consumidor. A decisão de adoção de uma tecnologia gerada, mesmo que resolva problemas, depende de muitos fatores, como por exemplo: políticas macroeconômicas, necessidades de investimentos, risco da atividade, expectativas de preços futuros e objetivos familiares (nas unidades familiares de produção os objetivos familiares e empresariais se confundem).  Peixoto et al. (2002), constataram que, normalmente, as demandas tecnológicas são definidas a partir de uma construção social da realidade, permeada por uma concepção das possíveis mudanças que as tecnologias podem acarretar no sistema produtivo e nas relações sociais, sendo tal construção elaborada em conformidade com os interesses dos grupos que ocupam posições hegemônicas. Consideram ainda, que o modo como os agentes institucionais, encarregados da execução dos serviços de extensão e de pesquisa, compreendem a realidade, objeto do estudo, e o papel que devem desempenhar para sua transformação, encontra-se condicionada pelos propósitos e valores vigentes nas organizações a que estão vinculados.   Afirmam que, tradicionalmente, a definição dos problemas de pesquisa está fundamentada no conhecimento técnico dos pesquisadores e em sua experiência com atividades desenvolvidas em estações experimentais. Neste modelo, os objetivos são suficientemente alcançados quando se estuda o sistema agrícola relativo à agricultura patronal, no entanto, tal fato não se observa, com relação à agricultura familiar, organizada, de modo geral, a partir de severas limitações, tais como: baixa disponibilidade de capital, pequenas áreas ocupadas, baixo nível de escolaridade, entre outros.  Em relação aos serviços públicos de geração e transferência de biotecnologias, somente a clara identificação das demandas pode assegurar as condições necessárias à geração e transferência de tecnologias que correspondem às reais necessidades do produtor/cliente. Ramalho & Contini (1987), analisaram, sob o ponto de vista teórico, os principais aspectos relativos ao mercado de tecnologias agropecuárias. Identificaram como fatores determinantes da oferta de tecnologias: a) os objetivos da sociedade; b) as motivações dos pesquisadores; c) a infraestrutura de pesquisa (física, de recursos humanos e financeiros); d) a disponibilidade de conhecimentos científicos e de tecnologias; e) a concorrência organizacional e interpessoal. Do lado da demanda foram identificados como principais fatores: a) o desejo de lucro; b) o nível do capital do agricultor; c) o custo de oportunidade das novas tecnologias; d) a capacidade administrativa do agropecuarista; e) as pressões dos grupos de agricultores, consumidores e da agroindústria; f) as condições edafoclimáticas; g) a política governamental.  Muniz & Neves (1998) discutiram a hipótese relacionada ao hiato existente entre o sistema de C&T e as necessidades tecnológicas locais dos produtores rurais. Declararam que, enquanto os pesquisadores são determinados por um sistema de C&T, os produtores rurais tem, na “experiência vivida”, um sistema determinante diferenciado. Concluíram que os produtores rurais são incapazes de introduzir as inovações tecnológicas e o sistema de C&T não tem oferecido alternativas para mudar a situação, pois ele se fundamenta na universalidade dos princípios e não na localidade das restrições socioeconômicas.  A produção massal de mudas micropropagadas, na área da fruticultura e da floricultura, independentemente dos modelos de geração e transferência de biotecnologias adotados, têm provocado muitas discussões internas na Instituição. Muitos pesquisadores, técnicos e administradores pensam e afirmam que as demandas de grupos de produtores podem desviar a missão da Epagri, de atender o pequeno produtor rural. Outros afirmam que somente a pesquisa com origem no cliente consolidado trará inovação e tecnologia e o consequente desenvolvimento da cadeia produtiva. O tema é bastante polêmico, porém cabe salientar que nossa missão como empresa pública é a busca por sistemas de produção mais eficientes, ambientalmente seguros e socioeconômica e culturalmente aceitáveis, isto é, biotecnologias que contribuam para o desenvolvimento sustentável.   REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  BYERLEE, D.; COLLINSON, M. (Eds.).  Planning technologies appropriate to farmers: concepts and procedures. Economic Program, México: CIMMYT(Centro Internacional de Mejoramiento de Maiz y Trigo): 1980.71p.   JONAS, R. O que é biotecnologia? In: VIEIRA, P.F.; GUERRA, M.P. (Org.). Biodiversidade, biotecnologias e ecodesenvolvimento. Florianópolis: UFSC, 1995. p.53-60.  MUNIZ, J. N.; NEVES, A do C. O sistema de C&T e a experiência vivida dos produtores rurais. Cadernos de Ciência e Tecnologia, v.15, n. 3, p.83-102, 1998.  PEIXOTO, S.E.A.A.; CERQUEIRA, J.H.A.; SILVA, T.M. Posição social e percepção de prioridades de pesquisa para a agricultura familiar: levantamento das demandas no Estado da Bahia. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 19, n.1, p. 69-98, 2002.  RAMALHO, J.P.; CONTINI, E. Considerações teóricas sobre o mercado de tecnologias agropecuárias. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 4, n. 1, p. 39-57, 1987.   PALAVRAS CHAVES: Biotecnologia, cadeia produtiva, frutíferas, ornamentais. 

Geração e transferência de biotecnologias para a cadeia produtiva de plantas frutíferas e ornamentais

https://rbho.emnuvens.com.br/rbho/article/download/1975/1534

Geração e transferência de biotecnologias para a cadeia produtiva de plantas frutíferas e ornamentais

Abstract

Similar works

Full text

Available Versions

Directory of Open Access Journals