Fernando Augusto Pacífico

João Marcos da Silva Dantas

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An Fac Med Olinda, Olinda, 2022; 7 (1) : 52PONTO DE VISTAO ERRO DE DESCARTES: EMOÇÃO, RAZÃO E O CÉREBRO HUMANOJoão Marcos da Silva Dantas1, Fernando Augusto Pacífico21 Discente do Curso de Medicina, FMO, 2 Professor e Coordenador do Laboratório Morfofuncional, FMORecebido: 27.abril.2022 | Aprovado: 25.maio.2022António Rosa Damásio, nascido em Lisboa, Portugal, radicado nos Estados Unidos des-de 1975, é um médico neurologista que atua como diretor do Departamento de Neurologia do Comportamento e Neurociência Cognitiva da Universidade de Iowa, ainda fazendo parte do Centro de Investigação da Doença de Al-zheimer desta, além de lecionar neurociência na Universidade da Califórnia. A partir de sua escrita e da sua pesquisa, Damásio passou a ser conhecido, evidentemente, como um dos grandes nomes dos integrantes da medicina mundial. A sua investigação na abordagem ao processo de tomada de decisão, pelo qual a humanidade é imposta inúmeras vezes, o fixa como grande pensador no âmbito do cru-zamento da psicologia social com a medicina ativa e investigativa. Dentre os expoentes que fazem parte do con-junto de sua obra, destaca-se “O erro de Des-cartes”, fazendo alusão ao conhecido dualismo cartesiano que postula a mente, configurada como razão sublime, que reside na alma, sen-do independente do corpo e das emoções e deixando de ocupar um espaço físico. Tal ideia influenciou fortemente a pesquisa científica e o pensamento filosófico ocidental (a exemplo de Kant), e é contraposta pela escrita de Damásio, que ainda se mostra desfavorável ao método mecanicista de análise do filósofo iluminista francês, propondo a união da investigação neu-ropsicológica com o estudo neurobiológico.A obra inicia dando destaque ao incrível caso de Phineas Gage, caso mundialmente conheci-do na medicina, no qual um adulto jovem teve o seu crânio transfixado por uma barra de ferro. O capítulo narra (com linguagem fluida) como o caso repercutiu pois, embora tenha ocorrido um mínimo ou mesmo nulo comprometimento funcional motor ou de linguagem, o caráter e a personalidade do acidentado mudaram brusca-mente, como na frase consolidada: “Gage dei-xou de ser Gage”.Assim sendo, é relatado que o ocorrido fomen-tou diversos debates na sua época, visto que alguns cientistas defendiam que as funções psicológicas não poderiam ser imputadas a uma determinada região cerebral, enquan-to outros davam enfoque à especialização de certas partes na geração de distintas funções mentais. O texto ainda segue atribuindo papel às ferramentas de conhecimento desse tempo, como a “organologia” que deu origem ao cam-po de estudo da frenologia.Ao dar continuidade, o livro segue exemplifi-cando o caso do trágico acidente, porém ilus-trando e trazendo a abordagem da neuroanato-mia, a qual também é contida para mostrar as descobertas de Broca no tempo de Gage, fato desafiador para a tentativa de compreensão de John Harlow, médico responsável pelo caso. O passar das páginas denotam a relação entre o sistema límbico e o córtex frontal.Fazendo essa relação, é elucidado que uma interrupção no julgamento de ações futuras, como ocorreu com Phineas Gage após a lesão, demonstra que indivíduos com déficit de inte-grar funções do córtex frontal ao sistema lím-bico são incapazes de conter emoções secun-dárias, havendo uma perda de aprendizagem emocional.Seguindo nas ideias propostas, o autor intro-duz a hipótese do marcador somático, foco que também protagoniza o tema do livro. Definida por uma elaboração neuropsicológica da teo-ria da emoção do psicólogo americano William James, Damásio traz que há tanto emoções primárias e secundárias, quanto o sentimento associado às emoções, mostrando, de forma categórica, como esses elementos interagem para a criação de imagens mentais.Desse modo, a elegante obra de Damásio mer-gulha na intenção de elevar o entendimento do leitor ao contrapor uma impressão filosófica es-tabelecida de que a emoção é um empecilho An Fac Med Olinda, Olinda, 2022; 7 (1) : 53PONTO DE VISTApara o desenvolvimento do processo racional, sendo aquele essencial para este. O levanta-mento histórico de um caso marcante, a pes-quisa neurobiológica, a explicação do meca-nismo intuitivo, a proposição dos marcadores somáticos, bem como o destrinchar do racio-cinar com aporte emocional e da capacidade de decisão num contexto pessoal e social tiram a idealização da alma imaterial da sua apoteo-se e praticamente obrigam a mudar este ponto de fundamento que Descartes deixou, indo de “Cogito, ergo sum”, do latim, “Penso, logo exis-to” para “Existo, tenho emoções, logo penso”. 

O erro de descartes

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