Editorial do dossiê 48 - "Educação e processos de criação: relações contemporâneas".N/

Ayoub , Eliana

Carlin, Mariana Henriques Duarte

Dias, Wagner Miranda

Martinelli, Paula

Pfützenreuter, Edson do Prado

Portuguese

Cadernos Espinosanos (E-Journal)

      Revista de  Crítica Genética ISSN 2596-2477  N. 48• 2022 Educação e processos de criação: relações contemporâneas Para nós, os(as) editores(as) de Manuscrítica, a proposta de um número desta publicação dedicado ao entrelaçamento entre crítica genética e educação surgiu a partir da constatação de que todos(as) nós, pesqui-sadores(as), desenvolvemos práticas compartilhadas em ambas as áreas. Dessa forma, a educação é a gênese das atividades de pesquisa e dos(as) próprios(as) agentes criativos(as) que a empreendem. A crítica genética tem se ampliado e diferentes processos criativos se tornaram objetos de pesquisa e análise (SALLES, 2006). Esse movi-mento iniciou com as diferentes manifestações artísticas e, posterior-mente, integrou outras áreas, incluindo o aspecto criativo dos proces-sos educacionais em diferentes cenários. De acordo com Cecilia Salles (2006, p. 36), a criação é resultado de tra-balho, que abarca o raciocínio responsável pela introdução de novas ideias e, por consequência, a perspectiva de transformação. Essa ação transformadora, contínua, incerta e inacabada, envolve a forma com que se dão as seleções e combinações dos elementos dispersos no per-curso, conformando as redes de criação. Devemos aprender a lidar com a criação na perspectiva temporal onde tudo se dá na continuidade, ao longo do tempo - no universo do inacabamento. Para tal, precisa-mos estar alertas à sua inserção na história e na cultura, compreender sua relação com o futuro e lidar com a im-possibilidade de se definir início e fim, entre tantas ques-tões. (SALLES, 2006, p. 37) Na presente edição da Manuscrítica, este conceito geral das redes da criação dirigiu-se para a educação como construção coletiva de trocas constantes e transformações sociais e culturais. Ao pensarmos nas possíveis relações entre educação e processos cria-tivos, selecionamos um trecho dos escritos de Paulo Freire, no qual ele nos convoca a assumir a potência da imaginação criadora como possi-bilidade de desenharmos nossos sonhos: É necessário que a professora ou o professor deixem voar criadoramente sua imaginação, obviamente de forma dis-ciplinada. E isto desde o primeiro dia de aula, demons-trando aos alunos a importância da imaginação em nossa vida. A imaginação ajuda a curiosidade e a inventividade da mesma forma como aguça a aventura, sem o que não criamos. A imaginação naturalmente livre, voando ou an-dando ou correndo livre. No uso dos movimentos do corpo, na dança, no ritmo, no desenho, na escrita, desde o mo-mento mesmo em que a escrita é pré-escrita – é garatuja. Na oralidade, na repetição dos contos que se reproduzem dentro de sua cultura. A imaginação, que nos leva a sonhos possíveis ou impossíveis, é necessária sempre. É preciso es-timular a imaginação dos educandos, usá-la no “desenho” da escola com que eles sonham. (FREIRE, 1997a, p. 47) Manuscrítica n. 48 – 2022 Editorial Educação e processos de criação: relações contemporâneas 2 Neste número da Manuscrítica, reunimos contribuições que assinalam os proces-sos criativos envolvidos na educação, que destacam a construção de saberes ou-tros e diversos, podendo acolher diferentes contextos relacionados à educação básica e à educação superior, além de práticas pedagógicas, explícitas ou não, que estão presentes em processos de criação artística. Trazemos novamente Paulo Freire quando defende que “Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes di-ante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fizemos” (FREIRE, 1997b, p. 35). É justamente essa dimensão da nossa ação no mundo curiosa e cri-ativa, experimentada em variados processos educacionais, que nos interessa compreender mais profundamente — tarefa que empreendemos junto aos(às) autores(as) que integram a presente edição. Agradecemos a todos eles(as), bem como ao corpo editorial da Manuscrítica e, em especial, à Larissa Kurata, cujos tra-balho, assistência e disponibilidade foram fundamentais durante todo o processo de edição. A edição é aberta pela seção “Prelúdio”, na qual o artigo elaborado por membros do Grupo de Pesquisa em Processos de Criação da Pontifícia Universidade Cató-lica de São Paulo (PUC-SP) deixa clara a dialética estabelecida entre as mais vari-adas experiências individuais na docência e os processos do próprio grupo. O ar-tigo, elaborado a pedido dos(as) editores(as), ilustra o mosaico de práticas peda-gógicas que vem a seguir, na seção “Ateliê” e seus cinco artigos. No primeiro deles, intitulado "Processos criativos do professor-autor: esboços para a composição de uma paisagem em movimento", as autoras discutem a docência como percurso autoral, em grupo e transversal, sobre a qual incidem as atenções que dispensamos aos demais processos de criação, incluindo o olhar atento aos arquivos. O artigo “Imersões poéticas e processos de criação na formação de li-cenciadas(os) em Artes Cênicas” aborda um relevante projeto artístico-pedagó-gico, destacando o processo de criação de um espetáculo cênico-coreográfico e seu impacto e contribuição para o corpo docente e discente das licenciaturas em artes cênicas das universidades federais. “Relato de uma experiência no enfrenta-mento de um caso de bullying com jogos teatrais como metodologia ativa para a resolução de conflitos” descreve o processo de enfrentamento de bullying em uma escola, por meio da implementação de metodologia pedagógica ativa e transdisciplinar desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que se utiliza de jogos teatrais para promover o ensino e a reflexão em ação. O artigo “Entre o pó de cimento e o sopro de esperança: experiências com curadoria e fotografia na escola” relata uma experiência com fotografia, realizada em uma escola da rede municipal de São Paulo, em 2018. O projeto surgiu a partir do inte-resse dos(as) estudantes por fotografia e teve como metodologia as ações propos-tas pela Abordagem Triangular elaborada por Ana Mae Barbosa. Por fim, o artigo “O caderno do pequeno artista: expressão e transformação no desenho da se-gunda infância” narra uma experiência desenvolvida com estudantes na disci-plina artes, do ensino fundamental 1, em uma escola de São Paulo. A situação ve-rificada envolveu a mudança do suporte onde os trabalhos são desenvolvidos pe-las crianças, passando de folhas soltas para um formato de livro. Esta mudança gerou alterações na postura de trabalho. Manuscrítica n. 48 – 2022 Editorial Educação e processos de criação: relações contemporâneas 3 Em “Diálogo”, a seção de entrevistas da Manuscrítica, reunimos conversas sobre o criar e o ensinar. A primeira delas, intitulada “Educação e criatividade na forma-ção docente”, é a entrevista realizada com o professor Guilherme do Val Toledo Prado e a professora Ana Terra Rodrigues Costa sobre a relação entre os processos criativos e educativos, e a formação de pessoas que irão trabalhar em sala de aula. Guilherme está preocupado com as pessoas que atuarão na área de alfabetização enquanto Ana está voltada para a formação de docentes na área de dança. As entrevistas se articulam e trazem reflexões importantes para a relação que origi-nou a conversa. Na segunda, as professoras Ana Clara Santos, Ana Isabel Soares, Mirian Tavares e Cecilia Salles conversam sobre o trabalho que resultou no curso de Pós-Graduação em Processos de Criação, uma parceria entre a PUC-SP e a Uni-versidade do Algarve, Portugal. A seção “Fac-símile”, com o ensaio “O percurso criativo na educação pública: no-vas concepções frente aos desafios impostos pela pandemia de Covid-19”, traz um relato de processo pedagógico protagonizado por professores(as), coordenado-res(as) pedagógicos(as) e estudantes da EMEF Érico Veríssimo, localizada na peri-feria de São Paulo, no ano de 2021. É importante salientar que nós, editores(as) desta edição da Manuscrítica, compreendemos e apreciamos os relatos de pro-cesso, tais como documentos, arquivos e, portanto, os tomamos como passíveis de uma leitura crítica. A seção “Incipit” traz quatro artigos que, embora não estejam no escopo do pre-sente dossiê, contribuem para os debates sobre a crítica genética em uma pers-pectiva ampla. “Arquivos literários — a vanguarda ativando os meios de conserva-ção” reflete sobre os modos de conservação e estudo de arquivos literários imple-mentados por algumas das mais relevantes instituições educacionais brasileiras e como esses processos se ligam à semana de 22. “El archivo como espacio topo-lógico: aportes críticos de una categoría para pensar un archivo digital literário” fomenta a importante discussão sobre o tratamento dedicado ao Archivo Digital Julio Cortázar, abrigado pela Universidade de Poitiers, França: digitalizar um acervo originalmente analógico, organizá-lo e disponibilizá-lo em meios digitais é um trabalho — também criativo — que implica aspectos cruciais sobre o que, como e quem arquiva. O artigo intitulado “No limiar entre carta, poesia e tradução: uma leitura de Katherine Mansfield e Ana Cristina Cesar”, em que a autora se pro-põe a discutir a tradução de cartas — gênero textual instável e ambíguo —, a qual se produz por meio de um complexo processo de criação. Fechando esta seção, o artigo “A construção da rede literária americanófila de D. Pedro II a partir de seus documentos de processo”, por meio do mapeamento do dossiê composto por car-tas, extratos de diários e manuscritos autógrafos, permite vislumbrar uma cadeia de influências recebidas e transmitidas entre a corte brasileira e a república norte-americana, fruto das interações sociais estabelecidas por D. Pedro II com a elite cultural estrangeira. Por fim, em “Passado a limpo”, destacamos pesquisas concluídas recente-mente, além de publicações e eventos relacionados aos temas de interesse para esta publicação. Manuscrítica n. 48 – 2022 Editorial Educação e processos de criação: relações contemporâneas 4 Esperamos que as leitoras e os leitores deste número de Manuscrítica possam se inspirar com os processos criativos constitutivos de pesquisas, experiências e es-tudos aqui compartilhados.  Edson do Prado Pfützenreuter (Unicamp) Eliana Ayoub (Unicamp) Mariana Henriques Duarte Carlin (PUC-SP) Paula Martinelli (PUC-SP) Wagner Miranda Dias (PUC-SP) Editores  Manuscrítica Revista de Crítica Genética São Paulo n. 48 – 2022  Referências bibliográficas FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d’Água, 1997a. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática edu-cativa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997b. SALLES, Cecilia. Redes da criação: construção da obra de arte. 2ª ed. Vinhedo, SP: Editora Horizonte, 2006.   Manuscrítica n. 48 – 2022 Editorial Educação e processos de criação: relações contemporâneas 5 EDITORES DESTE NÚMERO  Edson do Prado Pfützenreuter  (Universidade Estadual de Campinas) Eliana Ayoub (Universidade Estadual de Campinas) Mariana Henriques Duarte Carlin (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Paula Martinelli (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Wagner Miranda Dias (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)  DIAGRAMAÇÃO  Larissa Kurata  ILUSTRAÇÕES  Design: Mariana Henriques Duarte Carlin   EQUIPE EDITORIAL  Editores-chefes Edson do Prado Pfützenreuter  (Universidade Estadual de Campinas) Claudia Amigo Pino  (Universidade de São Paulo) Editores-executivos Patricia Kiss Spineli  (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Aline Novais de Almeida  (Universidade de São Paulo) Katerina Blasques Kaspar  (Universidade de São Paulo) Giovani T. Kurz  (Universidade de São Paulo) Leonardo Cavalcante Mendes  (Universidade de São Paulo) Wagner Miranda Dias  (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Thiago Leão Antunes  (Universidade de São Paulo) Lea Hafter  (Universidad Nacional de La Plata)  Manuscrítica é uma publicação da Associação dos Pesqui-sadores em Crítica Genética (APCG) e da Pós-Graduação em Letras Estrangeiras e Tradução (LETRA) da Universi-dade de São Paulo.  E-mail: manuscritica@usp.br Portal da revista: www.revistas.usp.br/manuscritica  UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Programa de Pós-Graduação em  Letras Estrangeiras e Tradução Coordenadora da Pós-Graduação: Eliane Lousada Vice-coordenadora: Mona Hawi  DIRETORIA APCG Presidente - Edson do Prado Pfützenreuter (Unicamp) Vice-presidente - Patricia Kiss Spineli (PUC-SP) Membro honorário da APCG - Lea Hafter (UNLP) Secretária Geral - Katerina Blasques Kaspar (USP) Tesoureiro - Giovani Kurz (USP) Secretária de divulgação - Aline Novais de Almeida (USP) 1º suplente: Wagner Miranda Dias (PUC-SP) 2º suplente: Thiago Leão Antunes (USP) 3º suplente: Lueldo Bezerra Teixeira (UESPI) CONSELHO EDITORIAL Alícia Duhá Lose (Universidade Federal da Bahia) Aline Novais de Almeida (Associação de Pesquisadores em Crítica Genética) Aparecido José Cirillo (Universidade Federal do Espírito Santo) Aurèle Crasson (Institut des textes et manuscrits modernes) Cecília Almeida Salles (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Carla Cavalcanti e Silva (Universidade Estadual Paulista) Claudia Amigo Pino (Universidade de São Paulo) Edson do Prado Pfützenreuter (Universidade Estadual de Campinas) Erica Durante (Brown University) Graciela Goldchluk  (Universidad Nacional de La Plata) Josette Monzani  (Universidade Federal de São Carlos) Lea Hafter  (Universidad Nacional de La Plata) Mabel Meira Mota  (Universidade Federal da Bahia) Márcia Ivana Lima e Silva  (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Márcia Edlene Mauriz Lima  (Universidade Estadual do Piauí) Marcos Antonio de Moraes  (Universidade de São Paulo) Maria Eunice Moreira  (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) Maria da Luz Pinheiro de Cristo  (Universidade Federal do Espírito Santo) Maria Soledad Falabella  (Universidad de Chile) Max Hidalgo Nácher  (Universitat de Barcelona) Miguel Rettenmaier  (Universidade de Passo Fundo) Moema Rodrigues Brandão Mendes  (Centro Universitário Uni Academia.  Fundação Casa de Rui Barbosa) Mônica Gama  (Universidade Federal de Ouro Preto) Patricia Kiss Spineli (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Paolo D'Iorio  (Institut des textes et manuscrits modernes.  École normale supérieure de Paris) Philippe Willemart  (Universidade de São Paulo) Rosa Borges  (Universidade Federal da Bahia) Sérgio Romanelli  (Universidade Federal de Santa Catarina) Sílvia Maria Guerra Anastácio  (Universidade Federal da Bahia) Telê Ancona Lopez  (Universidade de São Paulo) Viviane Araújo Alves da Costa Pereira  (Universidade Federal do Paraná)  

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