“O PIRARUCU É PEIXE FINO E MILINDROSO, E TAMBÉM ENSINA SEUS FILHOS A PESCAR!”: TRADIÇÕES E EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS NA PESCA DE PIRARUCU NA AMAZÔNIA (PRAINHA-PA)

Abstract

Pirarucu fishing (Arapaima gigas) requires complexity of knowledge and techniques,  and body skill for success in catching the animal. In addition,  in the Ipiranga community (Prainha-PA), there is a repertoire of symbolic protection measures to prevent or cure panemice - a category referring to episodes of failure in fishing. In this text, we will address the traditions of transmitting techniques in fisheries and processes of protection and cure against panemice, in addition to their main causes. In these processes are undertaken technical guidelines in the observation and practical experience so that young people train the “ways” to sensitively perceive the animal, locate and capture it, divergent from the western technical universe. Inspired by native cosmologies, we argue that the pirarucu also invest in feeding techniques so that their young learn to fish their prey. Finally, our research discusses the role of techniques in local morality among fishermen of Ipiranga, having as theoretical foundation the proposition of Marcel Mauss who considers the technique as an effective traditional act that does not differ from the magical act, religious and symbolic.A pesca de pirarucu (Arapaima gigas) requer complexidade de saberes e de técnicas,  e habilidade corporal para o sucesso na captura do animal. Além disso,  na comunidade Ipiranga (Prainha-PA), há um repertório de medidas de proteção simbólicas para evitar ou curar a panemice - categoria referente aos episódios de insucesso na pesca. Nesse texto, iremos abordar as tradições de transmissão das técnicas nas pescarias e nos  processos de  proteção e cura contra a panemice, além de suas principais causas. Nesses processos são empreendidas orientações técnicas na observação e na vivência prática para que os jovens treinem os “modos” de perceberem sensitivamente o animal, o localizarem e o capturarem, divergente do universo tecnicista ocidental. Inspirados nas cosmologias nativas, argumentamos que os pirarucus  também  investem no repasse de técnicas de forrageamento para que seus filhotes  aprendam a pescar suas presas. Por fim, nossa pesquisa discute o papel das técnicas na moralidade local entre pescadores de Ipiranga, tendo como alicerce teórico a proposição de Marcel Mauss que considera a técnica como um ato tradicional eficaz que não difere do ato mágico, religioso e simbólico

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