Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Faculdade de Educação Física, Programa de Pós-Graduação em Educação Física, 2019.A presente pesquisa de doutorado teve como objetivo compreender as zonas de
ruptura do “corpo-cotidiano” forjadas nas mediações entre o brincar e o brigar,
como formas de interação social no universo infantil, em um Centro de Atenção
Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC), situado em Sobradinho – DF.
Golpeando, empurrando e esbarrando na escola, as crianças expõem significados
sociais que trazem à tona ambiguidades que marcam a relação entre os universos
infantis e adultos. Com base nisso, o estudo dispõe de natureza qualitativa e
apresenta como aportes teórico-metodológicos as sociologias do cotidiano e da
infância. A investigação em campo foi realizada ao longo de sete meses do ano
letivo de 2017, com trinta e quatro crianças, sendo dezenove meninas e quinze
meninos, com idades entre 9 e 12 anos, organizadas em duas turmas do 4º ano na
referida escola. Os instrumentos de pesquisa utilizados foram a observação
participante, entrevistas semiestruturadas e a produção de cinco desenhos
temáticos. A análise de dados foi concebida a partir da triangulação entre a
literatura, o ponto de vista do pesquisador e o dos sujeitos, convertidos, em
alguns momentos do texto, em recortes episódicos. Os registros de campo
permitiram a identificação de categorias que compreendem a interpretação das
crianças acerca do “corpo-cotidiano”, um corpo simbólico e ritualizado que
transpassa tensões, rupturas e idiossincrasias, frutos das interações sociais.
Ademais, as impressões apresentadas sugerem que as brincadeiras de lutinha e as
brigas são fundadas por dimensões paradoxais do cotidiano infantil, que
carregam no seu bojo o conflito enquanto mediador das relações concebidas
dentro e fora da escola. Nesse contexto, o lúdico e a violência se mostraram
importantes moduladores, uma vez que dispõem de significados que transitam
entre as narrativas reais e imaginárias, bem como entre o bater de “verdade” e o
bater de “mentirinha”.The present PhD research aimed to understand the rupture zones of the "daily
body" forged in the mediations between playing and fighting, as forms of social
interaction in the infant universe, in a Center for Integral Attention to Children
and Adolescents (CAIC), located in Sobradinho - DF. By striking, pushing, and
bumping into school, children expose social meanings that bring up ambiguities
that mark the relationship between the infant and adult universes. Based on this,
the study has a qualitative nature and presents as theoretical-methodological
contributions the sociologies of daily life and childhood. Field research was
carried out during seven months of the 2017 school year, with thirty-four
children, with nineteen girls and fifteen boys, aged between 9 and 12 years old,
organized in two classes of the 4th year in said school. The research instruments
used were participant observation, semi-structured interviews and the production
of five thematic designs. The data analysis was conceived from the triangulation
between the literature, the researcher's point of view and that of the subjects,
converted, in some moments of the text, into episodic clippings. The field
records allowed the identification of categories that include the children's
interpretation of the "daily body", a symbolic and ritualized body that
transgresses tensions, ruptures and idiosyncrasies, fruits of social interactions. In
addition, the impressions presented suggest that playfights and real fights are
based on paradoxical dimensions of children's daily life, which carry the conflict
as mediator of relationships conceived inside and outside school. In this context,
play and violence have been important modulators, since they have meanings
that pass between real and imaginary narratives, as well as between the beating
of "truth" and the beating of " little lie"