Dissertação (mestrado) — Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, 2021.Os agentes quimioterápicos e a irradiação utilizados em tratamentos agressivos de combate ao câncer
podem levar à insuficiência ovariana prematura. Uma técnica promissora para preservar a fertilidade
feminina e restaurar a função endócrina ovariana é a criopreservação do tecido ovariano, antes do
tratamento oncológico, seguida de transplante, após a remissiva total da doença. No entanto, o estresse
decorrente dos processos de criopreservação e descongelamento pode levar a alterações e/ou danos
à estrutura e funcionalidade mitocondrial. Além disso, grande parte dos folículos são perdidos ao longo
do intervalo isquêmico que ocorre entre o transplante e a neovascularização tecidual. Nesse cenário, o
objetivo deste estudo foi caracterizar a atividade mitocondrial em tecido ovariano de camundongos
submetidos à criopreservação de congelamento lento, seguida de transplante e, também, avaliar o
efeito da administração de eritropoietina na sobrevivência folicular. Na fase I, amostras de tecido
ovariano de camundongos (n=20) (Swiss nu / nu) foram submetidas a quatro condições diferentes:
Fresco, Transplante Fresco, Criopreservado e Transplante Criopreservado. O tecido ovariano foi
criopreservado por congelamento lento e armazenado em nitrogênio líquido (-196 °C) por 7 dias.
Imediatamente após o descongelamento, o tecido ovariano foi transplantado e recuperado após 7 dias.
As amostras foram submetidas à análise histológica e as taxas de consumo de oxigênio determinadas
por meio de Respirometria de Alta Resolução. Para avaliação do efeito da administração de
eritropoietina (EPO), na fase II, os camundongos foram divididos em três grupos: Grupo Controle
(n=10), Grupo EPO (n=10) e Grupo Salina (n=10). Cada fêmea do Grupo Controle recebeu o
transplante de dois hemiovários criopreservados, na região subcutânea dorsal. As fêmeas do Grupo
EPO receberam 500 UI/kg de EPO, via intraperitoneal, administrada em duas doses de 250 UI/Kg cada
(12/12 horas, BID), durante cinco dias consecutivos, dois dias antes da ovariohisterectomia (OSH), no
dia da OSH e dois dias após a OSH. As fêmeas do Grupo Salina receberam solução fisiológica 0,9%
estéril, via intraperitoneal (12/12 horas, BID), no mesmo esquema e no mesmo volume total da EPO
recebida pelo Grupo EPO. A retirada dos fragmentos foi realizada aos 7 e 14 dias após o transplante.
Os resultados da oximetria demonstraram um consumo de oxigênio relevante em todas as amostras
analisadas, responsivo a todos os reagentes utilizados no protocolo SUIT, embora tenha ocorrido uma
redução significativa da função mitocondrial em relação ao tecido ovariano fresco. Essa diminuição na
atividade mitocondrial se deu conforme o tipo de tratamento a qual o tecido ovariano foi submetido
(criopreservação e/ou transplante). O efeito da criopreservação no metabolismo mitocondrial foi menos
intenso do que o efeito do transplante, uma vez que o transplante afetou todos os estados mitocondriais.
Na fase II, foi demonstrado que a eritropoietina contribuiu para um maior desenvolvimento folicular no
D7 pós-transplante, mas que seu efeito não foi prolongado até o D14. Além disso, seu potencial de
ação é maior quando administrada após o recebimento dos enxertos. Apesar da diminuição na
viabilidade folicular e na atividade mitocondrial, a técnica de criopreservação seguida de transplante de
tecido ovariano mostrou-se viável, tanto morfológica quanto metabolicamente, para tentativas de
restauração da função ovariana.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (CAPES).The chemotherapeutic agents and irradiation used in aggressive attempts to combat cancer can lead to
premature ovarian failure. A promising technique for preserving female fertility and restoring ovarian
endocrine function is cryopreservation of ovarian tissue, before cancer treatment, followed by
transplantation after total remission of disease. However, stress resulting from cryopreservation and
thawing processes can lead to alterations and/or damage to mitochondrial structure and functionality.
In addition, a large part of follicles is lost along the ischemic interval that occurs between transplantation
and tissue neovascularization. In this scenario, the aim of this study was to characterize the
mitochondrial activity in mice ovarian tissue that underwent slow-freezing cryopreservation, followed by
transplantation, and also to evaluate the effect of administration of erythropoietin on follicular survival.
In phase I, samples of ovarian tissue from mice (Swiss nu/nu) subjected to four different conditions were
analyzed: Fresh, Fresh transplanted, Cryopreserved, and Cryopreserved transplanted. The ovarian
tissue was cryopreserved by slow freezing and stored in liquid nitrogen (-196 °C) for 7 days. Immediately
after thawing, ovarian tissue was transplanted and recovered after 7 days. Samples were subjected to
histological analysis and oxygen consumption rates determined using high-resolution respirometry. In
order to evaluate the effect of erythropoietin (EPO) administration, in phase II, the mice were randomly
divided into three experimental groups: Control Group (n = 10), EPO Group (n = 10) and Saline Group
(n = 10). Each female in Control Group received transplant of two cryopreserved hemi-ovaries in the
dorsal subcutaneous region. The females of EPO Group received 500 IU/kg of EPO, intraperitoneally,
administered in two doses of 250 IU/Kg each (12/12 hours, BID), for five consecutive days, two days
before ovariohysterectomy (OSH), in day of OSH and two days after OSH. The females of Saline Group
received 0.9% sterile saline solution, intraperitoneally (12/12 hours, BID), in the same scheme and in
the same total volume of EPO received by EPO Group. The retrieved of the fragments was performed
at 7 and 14 days after transplantation. The oximetry results showed a relevant oxygen consumption in
all analyzed samples, responsive to all reagents used in the SUIT protocol, although there was a
significant reduction in mitochondrial function in relation to fresh ovarian tissue. This decrease in
mitochondrial activity occurred depending on the type of treatment to which the ovarian tissue was
submitted (cryopreservation and/or transplantation). The effect of cryopreservation on mitochondrial
metabolism was less intense than observed in transplanted hemi-ovaries since the transplantation
affected all the mitochondrial states. In phase II, it has been shown that erythropoietin contributed to
greater follicular development in post-transplant D7, but its effect was not prolonged up to D14.
Furthermore, its action potential is greater when administered after receiving the grafts. Despite
decreased follicular viability and mitochondrial activity, the cryopreservation technique followed by
transplantation of ovarian tissue proved feasible, both morphologically and metabolically, for attempts
to restore ovarian function