Apresenta&ccedil;&atilde;o do Dossi&ecirc; &quot;Corpo e Cultura&quot; &mdash; Corpo, pensamento, modernidade: temas para as Humanidade

Gomes, Ivan Marcelo

Vaz, Alexandre Fernandez

Portuguese

Projeto SABER

TEMAS & MATIZES - Nº 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 5 ACorpo, pensamento, modernidade:temas para as HumanidadesAPRESENTAÇÃOT E M A S & M A T I Z E Stemática do corpo não é uma novidade nas discussões doque chamamos Humanidades. Trata-se de um tema que emdiferentes períodos e perspectivas teóricas esteve e estápresente tanto em discursos que o evidenciam como naquelesque se esforçam para colocá-lo em plano secundário. Estasafirmações podem ser ilustradas por meio dos distintosdualismos – como, por exemplo, corpo e alma no cristianismoou ainda corpo e razão na emergência do pensamento científico – queorganizam nossa civilização. A urgência em se (re)discutir o corpo naatualidade se coloca, no entanto, com as mudanças que vivemos nacontemporaneidade. Nos discursos das Humanidades, o corporeaparece como algo a ser interpretado, mas também, como fonte deinterpretações. As incertezas e o descontrole que afetam as relaçõesde trabalho, da família, da religião, da política, tão evidenciadas nocontexto atual, impõem uma nova atitude nas relações cotidianas,como também permitem um novo olhar frente a questões antes vistassob a ótica das certezas provenientes das sociedades tradicionais eperpetuadas na constituição da modernidade. Pensar sobre o corpocoloca o desafio de refletir sobre o imponderado, o momento de“descontrole” que simultaneamente habita e desafia a razão.Nude in Repouse  - Alfred Gockel - 1975TEMAS & MATIZES -  Nº 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 6 O corpo ressurge como temática que possibilita, por um lado,“encontrar” novas possibilidades teóricas, como em sua experiênciamediadora com o mundo ou nas possíveis reflexividades geradas noprocesso de construção das identidades exacerbadas na atualidade. Poroutro lado, ele se apresenta como uma fronteira possível de ser dominadapelos indivíduos em um contexto em que a confiança proporcionada pelasantigas certezas parece entrar em processo de crescente corrosão. Oquestionamento daquilo que parecia certo, advindo dos apelos à ordem eao progresso, e a conseqüente perda de crédito dado às instituições quelegitimavam este discurso explicitou um abalo nas referências do sujeitomoderno que repercutem, por sua vez, nas inúmeras preocupações com ocorpo nas últimas décadas. Utopias coletivas transferem-se para registrosindividuais, como a busca incessante da perfeição corporal visualizadanas infinitas intervenções sobre o corpo fornecidas pelo desenvolvimentode tecnologias.Por outro lado, o tema corpo vincula, em virtude de sua complexidade,elementos de conexão com os dilemas contemporâneos que são tensionadosnas Humanidades pelos diferentes matizes teóricos. O olhar sobre o corpose desnaturaliza criando diferentes possibilidades de interpretação, hajavisto que estes olhos não pertencem ao mesmo corpo teórico. Talvez estejaaí um dos elementos clássicos, mas também fronteiriços, paradoxais, nodebate das Humanidades: corpos que analisam corpos, a busca decompreensão e explicação sobre algo que também faz parte da constituiçãode quem o analisa, colocando o observador em situação sempre suspeitaao se debruçar sobre o tema.Com este espírito é que os textos presentes nesta edição materializamversões diferenciadas de análise sobre o corpo no contexto contemporâneo.Interpretações que dialogam com o corpo em diferentes ângulos tanto noque diz respeito às tradições teóricas como em relação ao enfoque deanálise.Se podemos classificar disciplinarmente as invocações e intervençõesque aqui são apresentadas como artigos ou ensaios, é possível dizer queeles buscam interfaces com áreas como a Filosofia, a Sociologia e a História.Dessa forma, os dois primeiros textos se radicam em um diálogo com atradição da Teoria Crítica da Sociedade da Escola de Frankfurt. RogerHansen se ocupa do tema do sofrimento tal como desfiado nos cruzamentosque Max Horkheimer e Theodor W. Adorno fazem de Nietzsche, Kant e doMarquês de Sade no II Excurso de sua obra-prima Dialética do Esclarecimento.Inspiração semelhante têm Cláudia e Erica Almeida para discutirem arelação entre corpo e subjetividade nas imagens contemporâneasproduzidas sob os auspícios da indústria cultural.a p r e s e n t a ç ã oTEMAS & MATIZES - Nº 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 7 Logo após, Deonir Luís Kurek e Lucas de Carvalho propõem umareflexão sobre os regimes — de controle, disciplinares etc.— que tomamo corpo como vítima, trazendo exemplos do cotidiano que, se parecemprosaicos, são plenos de significados ao demarcarem pontos das teiasque compõem a sociedade contemporânea.Santiago Pich apresenta-nos, por sua vez, um texto sobre a posiçãoque o corpo pode ter nos movimentos religiosos pentecostais, com ênfasena hipótese de que o corpo exerce um papel fundamental de moralizaçãodos indivíduos, dados os rumos de reordenação subjetiva e teológica.A seguir, Alexsandro Araújo Oliveira e Ivan Marcelo Gomesdiscutem como o corpo se constituiu como elemento das estratégias deação elaboradas na modernidade tendo como referencial a perspectivasociológica de Zygmunt Bauman. A argumentação desenvolvida apontapara a relação intrínseca entre as preocupações com o corpo e astransformações atreladas a uma sociedade com ênfase no consumoque marcam a transição — mas não o desaparecimento — daspreocupações disciplinares para a busca do colecionador de sensações.Alexandre Fernandez Vaz e Victor Andrade de Melo tratam darelação entre cinema e esporte, tomando o boxe como tema central. Osautores trabalham com algumas cenas históricas dessa relação,destacando o caráter múltiplo que o esporte pode ter: civilizador,moralizante, espetáculo, mas também modelo para a expressão estéticae política.Beatriz Staimbach Albino e Alexandre Fernandez Vaz têm comotemática o corpo feminino. Os autores nos permitem visualizar imagensda mulher por meio de estratégias de embelezamento difundidas naimprensa catarinense nas décadas de 1930 e 1940. Assim, analisamde que forma dispositivos como a saúde, a ciência e a estética seentrelaçavam com aspectos moralizantes nos conselhos difundidos paraa mulher em relação aos cuidados que deveria ter com seu corpo paratornar-se moderna.a p r e s e n t a ç ã oA Minton Earthenware Plaque of a Painted Female Nude— W. S. Coleman (1872) —TEMAS & MATIZES -  Nº 07 - PRIMEIRO SEMESTRE DE 2005 8 Henrique Witoslawsky traz em seu texto o tema do corpo e sua relação com aconstrução de identidades. O autor busca mostrar, mais especificamente, como ocorreuuma valorização da miscigenação racial durante o Estado Novo tendo na música um dosaspectos ilustrativos desta questão.Marcus Aurelio Taborda de Oliveira e Diogo Rodrigues Puchta, partindo de umaperspectiva histórica, explicitam a tentativa de constituição do Paraná como Estado modernopor meio da educação. Os autores acentuam a idéia de que a educação corporal na escolaprimária na virada do século XIX para o século XX privilegiava o controle do corpo para aformação moral e intelectual.Em um mesmo enfoque, Sidmar dos Santos Meurer aborda o corpo infantil a partirde uma perspectiva da História da Educação. O autor apresenta elementos do cotidianoda cultura escolar no Paraná na virada do século XIX para o século XX atrelando em suaanálise aspectos micro e macro-sociais. Ressalta ainda a importância das fontes para acompreensão da corporalidade infantil nos tempos e espaços do recreio.Os artigos aqui apresentados representam algumas das diversas possibilidades decontribuição das Humanidades em relação ao corpo. Os textos não apresentam, e nãotinham essa pretensão, uma unidade argumentativa, da mesma forma que o corpo não é,e não pode ser, uma unidade indiferenciada.Ivan Marcelo GomesAlexandre Fernandez Vaz(Organizadores)Anatomical Study - Peter Paul Rubens - 1615a p r e s e n t a ç ã o

Corpo, pensamento, modernidade: temas para as Humanidades

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Corpo, pensamento, modernidade: temas para as Humanidades

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