The present dissertation was written in a scientific article format, allowing the
development of research skills in field of Clinical and Health Psychology expected by
students on this stage of their academic path, according with EuroPsy – The European
Certificate in Psychology. Several studies approach the impact of life trauma on mental
health and suicidal behavior in several populations, however, no references are
available to studies that consider these variables in the Community of Portuguese
Language Countries (CPLC). Therefore, the present study intends to fill this gap and
aims to 1) describe the traumatic experiences, mental health levels and suicidal
behavior of participants, comparing differences between country of residence; 2) assess
correlations between traumatic experiences and mental health, and suicidal behavior;
and 3) assess the impact of exposure to a lifetime traumatic event on mental health and
suicidal behavior. The participants of this study were 1006 individuals from Portugal,
Brazil, and African Countries with Portuguese as an Official Language (ACPOL). The
measurement instruments included a sociodemographic questionnaire, the Portuguese
version of the Brief Symptoms Inventory-18 (BSI-18), the Brief Trauma Questionnaire
(BTQ), and the Portuguese version of Suicidal Behaviors Questionnaire-Revised (SBQR). The ACPOL participants reported greater impact of war, while Portuguese
participants reported greater impact of disasters and Brazilian participants reported
greater impact of psychological and sexual abuse, assault, and death of a family
member. Brazilian participants showed the worst levels of mental health and greater
suicidal thoughts, but Portuguese participants showed greater probability of
committing suicide. Although strong correlations were found between traumatic
experiences and mental health levels and suicidal behavior, only physical and sexual
abuse were positively correlated with all BSI-18 and SBQ-R subscales. A linear
regression analysis revealed that traumatic experiences explained 23.4% of the variance
in mental health levels and 11.6% of the variance in suicide probability.Segundo Giller (2010), a palavra “trauma” é comumente utilizada em referência a um
evento stressante, contudo, é a capacidade de adaptação e coping de cada pessoa que
define se um evento é ou não traumático para si. Quando um evento ou situação
traumática excede as habilidades de coping da pessoa, este cria um trauma psicológico
(Giller, 2010), comprometendo a saúde mental e física da pessoa (World Health
Organization, 2020; World Health Organization Regional Office for Africa, n.d.).
Vários estudos indicam que a exposição a eventos traumáticos contribuem para piores
níveis de saúde mental (Ackan et al., 2021; Husain et al., 2021; Van Assche et al., 2020)
e constituem um fator de risco para o comportamento suicidário (Pham et al., 2021;
Watters & Yalch, 2021; Yrondi et al., 2021). Contudo, esta área permanece por explorar
na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), sendo objetivo da presente
dissertação combater esta lacuna e 1) descrever as experiências traumática, os níveis de
saúde mental e o comportamento suicidário, comparando diferenças entre países de
residência; 2) avaliar correlações entre as experiências traumáticas e a saúde mental e o
comportamento suicidário; e 3) avaliar o impacto da exposição a um evento traumático
na saúde mental e no comportamento suicidário.
A amostra do estudo é composta por 1006 participantes provenientes de Portugal, do
Brasil e de Países Africanos com Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Os instrumentos
de medida incluem um questionário sociodemográfico; a versão portuguesa do Brief
Symptom Inventory-18 (BSI-18); o Brief Trauma Questionnaire (BTQ); e a versão
portuguesa do Suicidal Behavior Questionnaire-Revised (SBQ-R).
Os valores de média para a sintomatologia ansiosa, depressiva e somática reportados
pelos participantes encontram-se dentro das médias para a população comunitária
portuguesa (Nazaré et al., 2017). Cerca de 10% dos participantes reportou histórico de
tentativa de suicídio, e cerca de 19% da amostra reportou alguma probabilidade de vir a
cometer suicídio. Os participantes residentes no Brasil apresentaram piores níveis de
saúde mental e maior número de pensamentos suicida, no entanto, foram os
participantes provenientes de Portugal que apresentaram maior probabilidade de
cometer suicídio.
Foi avaliado o impacto de dez experiências traumáticas na saúde mental e no
comportamento suicidário: (1) zona de guerra ou área militar com tragédias de guerra; (2) acidente grave; (3) desastre natural ou tecnológico; (4) doença com risco de vida;
(5) abuso físico antes dos 18 anos; (6) abuso psicológico antes dos 18 anos; (7) abuso
sexual antes dos 18 anos; (8) assalto, rapto ou ataque; (9) morte violenta de um
familiar ou alguém próximo; e (10) testemunhar morte ou acidente trágico. De entre
estas dez experiências, o assalto, abuso psicológico, testemunhar morte ou acidente
trágico e morte violenta de um familiar ou alguém próximo foram as experiências mais
reportadas. Diferenças estatisticamente significativas foram encontradas no impacto
das experiências traumáticas entre país de residência: os participantes dos PALOP
reportaram maior impacto da guerra, enquanto os participantes residentes em Portugal
reportaram maior impacto de desastres e os participantes provenientes do Brasil
reportaram maior impacto do abuso psicológico e sexual, do assalto e da morte de um
familiar ou alguém próximo. No Teste de Correlação de Pearson, apenas o abuso físico
e o abuso psicológico foram positivamente correlacionados com todas as subescalas do
BSI-18 e do SBQ-R. Uma análise de regressão linear revelou que as experiências
traumáticas explicam 23.4% da variância nos níveis de saúde mental e 11.6% da
variância na probabilidade de cometer suicídio.
Os resultados deste estudo indicam que o abuso psicológico foi a experiência
traumática mais reportada pela generalidade dos participantes e demonstram uma
correlação entre esta experiência e todas as subescalas do BSI-18 e a ideação e tentativa
de suicídio. Nesse sentido, os resultados são consistentes com os resultados de diversos
estudos. Por exemplo, no estudo de Li e colaboradores (2015), a experiência traumática
mais reportada foi a negligência emocional. O estudo de Van Assche e colaboradores
(2020) encontrou correlações entre correlações entre a exposição a eventos traumáticos
e os níveis de ansiedade e depressão, especificamente com o abuso/negligência
emocional. Haug e colaboradores (2015) encontraram correlações entre o
abuso/negligência emocional e o comportamento suicidário.
O contributo mais relevante do presente estudo é o facto de ser pioneiro no tema do
trauma, saúde mental e comportamento suicidário na Comunidade de Países de Língua
Portuguesa, elucidando e reforçando o impacto que as experiências traumáticas têm na
saúde mental e o seu papel enquanto predito do comportamento suicidário. Desta
forma, contribuem para uma melhor compreensão destes temas e suportam futuras
intervenções preventivas e remediativas