Os autores relatam um caso de cisto ósseo traumático em corpo mandibular esquerdo em uma menina de 17 anos. A lesão foi diagnosticada radiograficamente como achado acidental. As características radiográficas eram incomuns, mostrando uma imagem de cisto ósseo traumático envolvendo um terceiro molar não irrompido.The authors report a case of the traumatic bone cyst in the left mandibular body in a 17 -year-old girl. The lesion was diagnosed radiographically as an accidentnl finding. The radiographic characteristics was unusual showing a image of traumatic bone cyst involving an unerupted third molar

Dalla Bona, Reni Raymundo

Dalla-Bona, Diego Araújo

Silveira, Heloísa Emília Dias da

Revista da Faculdade de Odontologia de Porto Alegre

Portuguese

Lume 5.8

55 Cisto ósseo traumático: revisão da literatura e relato de um caso Traumatic bone cyst: a review o f the literature and report o f case RESUMO Diego Araújo Dalla-Bona* Heloisa E. Dias da Silveira ** Reni R. Dalla-Bona*** Este trabalho apresenta o caso clínico de uma paciente jovem que após se submeter a realização de uma radiografia panorâmica foi descoberta acidentalmente a p resença de uma lesão radiolúcida, cujas características radiográ.ficas em nada faziam pensar na hjpótese de um cisto ósseo traumático. No entanto, este foi o diagnóstico estabelecido após a intervenção cirúrgica e posterior exame histopatológico. UNITERMOS Cisto ósseo traumático; cisto ósseo simples; cistos; patologia bucal. INTRODUÇÃO O cisto ósseo traumático é uma le-são benigna, intra-óssea, não revestida por epitélio que, algu mas vezes, contém uma pequen a quantidad e de fl uld o (serosanguineo ) e ,quando curetado, são identificados tecido conjuntivo e frag-mentos ósseos viáveis no exame histopatol6gico. Usualmente não ocor-rem manifestações clínicas, como ex-pansão das cort icais ou dor, o que torna a descoberta desta patologia, n a grande maioria dos casos. um achado aciden-taL Com o aumento do uso da radiogra-fia panorâmica, o número de diagnósti-cos de lesões ben ignas do t ipo cisto ós-seo traumático cresceu significativamen-te e ,este , já não é mais um achado ra ro. REVISÃO DA LITERATURA O cisto ósseo traumático ocorre ge-ralmente na mandíbula afetando, na mai-oria das vezes, o corpo mandib ular, sendo a sínfise o segundo local de mai-or prevaJência. os maxilares , as lesões são usual-mente assintomáticas, mas ocasional-mente pode ocorrer prese nça de dor, aumento de vol ume, parestesia e fratu -ra patológica, segundo MacDO AL O-JANKOWSKI 1 1 • DELLINGER et a i. ~ . relataram um caso de cisto ósseo trau-mático em uma paciente do gênero fe-minino, negra, 5 1 anos, em que a quei-xa era parestesia no lado da mandíbula onde estava o cisto. A etiologia do cisto ósseo traumático é descon hecida, mas parece estar rela-cionada a trauma. Por ém, outr os traba-lhos como o de BEASLEY1, discordam não encontrando esta relação. A histó-ria de trauma r elatada pelos pacientes é bastante variável, tendo sido observada em 18% dos pacientes no trabalho de FO RSSELS e 81% no estudo de HAJ'lSE 1'. HOWP e WHINE RY 17 fizeram uma boa r evisão das teorias q ue podem dar origem ao cisto ósseo traumático. Algu-mas dessas teorias incluem: isque mia com conseq uente necrose da medula gor-durosa ; a partir de um tumor ósseo q ue sofreu degeneração cística; reabsorção causada por distúrbio na circulação, de-vido a trau m a , cri ando u m desequilíb r io entre reabsorção e neoformação; d efeito no metabolismo do cálcio, secundariamente à doença de paratireóide; áreas císticas que sofre-ram anteriormente uma infecção crônica e hemorragia intramedu la r. Ainda que , as causas continuem incertas, a teoria da hemorragia intramedular a parece como a mais aceita. Defensores desta teoria acredi tam que o trau ma tenha, ge-ralmente, uma força insuficiente p ara fraturar o osso elástico d e um individuo jovem, mas suficiente o bastante, para produz ir uma hemorragia ar te rial intr amedular, que é o primeiro evento da for mação do cisto ósseo traumático. Embora muilos pesquisadores rela-tem uma ocorrência na ord em de 2 :1 e m relação ã homens e mulh e r es, KAUGARS8 et ai., n uma revisão de 161 casos, observaram uma distribuição pra-ticamente igual entre os gêneros. Segu ndo RUSHTON 14 , o cisto ósseo traumático deveria ser único, porém, em vários trabalhos co mo o de BEL T RÃO et al.2, e MacDONALD-JANKOWSKI 11, este pseudocisto encontrava-se associ-ado ã outros cistos. O d iagnóstico diferencial para este cisto, de acordo com KH OSLA9 , deve incluir: granuloma periapical, granuloma central reparativo de céltdas gigantes, granuloma eosinofilico, fibroma desmop lásico , doença das células de Laoger hans, ameloblasto ma, cistos odontogênicos e displasia fi brosa. O di-agnóstico final , entretanto, é baseado na exploração cirúrgica3 • O aspecto radiográfico mais carac-terístico, segundo LANGLAIS et al. 10 , é o de uma ár ea r adiolúcid a acima do canal mandibular que se pr onuncia en-tre as raízes. E stas, embora raro, po-dem sofrer reabsorções, com os dentes manten do a vitalidade. Geralmente, existe uma fina linh a esclerótica na mar-gem, q ue pode ser defi nida, intacta, fina, condensada ou ainda. irregular e descontínua. Raramente existe expansão inferior, ocorrendo mais no sentido ves-tíbulo-lingual. O canal alveolar inferior pode estar deslocado para baixo ou sua corti cal est ar co mp letamente reabsorvida, e então, o cirurgião pode encontrar a banda neurovascular suspensa no vazio, de acordo com KAUGA RSetal.8 .Segundo SHAFER et al. 15, o tratamento do cisto ósseo trau-mático , geral mente consiste em explo-ração cirúrgica e curetagem das pare-des ósseas. Este procedimento, resta-belece o sangr ame nto no interior da le-são, ocorrendo a organização do coá-gulo e formação de tecido ósseo. O de-saparecimento da cavidade é observa-do radiograficamente entre 6 a 12 me-* Acadêmjco da Faculdade de Odontologia da UFRGS, Porto Alegre, RS. ** Profa. Adjunta da Faculdade de Odontologia da UFRGS, Porto Algre, RS. Especialista em Radiologia Odontológica/ UFSC, Mestre em Patologia Bucal/ UFRGS, Doutora em Estomatologia Clinica/PUCRS. *** Prof. Adjunto da Faculdade de Odontologia da UFRGS, Porto Alegre, RS. Especialista em Radiologia Odontológica!CFO, Mestre em Clínica Odontológica-Radiologia/UFRGS. R. Fac. Odonwl., Porto Ak gre, ~. 41, n.l , p. 55 - 58, jul. 2000 56 ses. Quando este cisto é explorado ci-rurgicamente pode estar vazio, ou con-ter uma com binação de fluid o am arronzado, coágulo sanguineo, teci-do co njuntivo fibroso ou tecido de granulação, co nform e WOO D e GOAZ18 • BREEN e ADDANTE3 , relatam qu e muitos autores acreditam que o cisto ós-seo traumático seja uma lesão autolimitante e capaz de desaparecer es· pontaneamente. Isso apresenta suporte clinico pelo fato de ser rara a observa-ção deste cisto e m pessoas com mrus de 30 anos. SZER LIPH•, descreve o caso de uma paciente com cisto ósseo trau-mático bilateral, onde houve re missão espontânea em um período de 4 anos. No entanto. KAUGARS e t al.8• não reco-mendam o controle radiográfico de ima-gens que parecem cistos traum áticos por causa da possibilidade de erro de diag-nóstico e ocorrê ncia de fratura pelo não tratamento da lesão. PRECIOUS e McF A DDEN 13 • inje tar am sangue do próprio paciente em um grande cisto que não tin ha se resol-vido com curetagem. E, neste segundo procedimento, houve uma produção rá-pida de osso co m o desaparecimento da lesão em três meses. DELLINGER et al.4 • sugerem ain da a co mbinação d e hidroxiapati ta, sangue e frag mentos ós-seos do p róprio paciente, se não ocor-rer sucesso com a curetagem. R ELATO DO CASO A paciente L. V. S., 17 anos. gê-nero feminino , leucoderma. procurou atendimento odontológico para uma con-sulta de rotina. Após a anamnese e exa-me fís ico foi solicitada a realização de um a radiografi a panorâmica para a co mpleme ntação do exame c lín ico . Na radiografia observo u-se uma á rea radiolúcida de limites moderadamente de finidos envolvendo as raízes e esten-de ndo-se por distol da coroa do 38, run-da não erupcionado(Fig. 1). Pnra me-lhor visualização da lesão foram exe-cutadas novas técnicas radiográficas. Uma incidência periapical para tercei-ro molar (Fig. 2) que não conseguiu abranger toda a extensão da patologia , mas mostrou o envolvimento na ima-gem radiolúcida da raiz distai do 3 7. A técnica de Oonavan (Fig. 3) realizada para investigar a existência de abaula-mento das corticais ósseas no sentido vestíbulo-lingual , demonstrou uma le-são com co ntornos nítidos e que não havia promovido expansão das corticais. A paci e n te não apresentava sintomatologia clínica. a área radiolúcida media aproximadam e nte 2.5 em de diâmetro e as hipóteses de diagnóstico radiográfico eram várias. dentre elas, ceratocisto odontogênico e cisto ósseo ancurismático. Desta forma. se tornou imprescindível a realização da biópsia com poster ior exame histopatológico. Co mo já se tinha constatado a inexistência do 28, o cirurgião optou pela remoção do 38 durante o procedi-mento cirúrgico para a realização da biópsia, que detectou a presença de res-tos hemorrágicos dentro de uma cavi-dade, sendo exec utada então. uma curetagem. O diagnóstico histopatológico estabelecido foi de cisto ósseo trau-mático (Fig. 4). A paciente recebeu acompanhame nto clinico e foi novamen-te radiografada após quatro meses. ob-servando-se nesse momento. o proces-so de cicatrização óssea do local e m fase final (Fig. 5). DISCUSSÃO O diagnóstico definitivo do cisto ós-seo traumático requer a combinação de uma história clínica cuidadosa, exame físi co, estudo radiográfico e exploração cirúrgica. No caso apresentado, a biópsia foi imprescindlvel para o diagnóstico final da lesão, pois esta não poderia ser de-finida apenas pela imagem radiográfica que não se apresentava nada caracte-rística, e runda, envolvia um dente não erupcionado, o que é raro, em se tra-tando de cisto ósseo traumático. Assim, várias hipóteses foram formuladas, in-cluindo o ceratocisto odontogênico e o cisto ósseo aneurismático, estando de acordo com KHOSLA9• Durante o ato cirúrgico foi detecta-da a prese nça de restos hemorrágicos de ntro de uma cavidade, concordando com WOOD e GOAZ18• A curetage m cirúrgica foi o tratamen-to da lesão e resultou bem sucedida. pois após 4 meses observou-se a cica-trização óssea da área e nvolvida já em fase final. Mais uma vez chama-se atenção para a importância da radiografia panorâmi-ca como complementação do exame fi. sico, já que muitas lesões como esta são assintomáticas. e descobrirmos sua exis-tên cia c r ia a poss i bilidade d e estabelermos diagnósticos precoces, an-tes de ocorrerem alterações anatômicas e funcionais que denunciem a sua pre-sença. Para o paciente, de pende ndo do diagnóstico encontrado, pode represen-tar a dispensa de um tratam e nt o mutilatório, com comprom etime nto es-tético importante e, por vêzes, a pró-pria vida. R. Fac. Odo,loL, Porro A~grt, v. 41. 11..1, p. 55 ·58, juL 2{)()() SUJ\fMARY The authors report a case of the traumatic bone cyst in the left mandibular body in a 17 -year-old girl. The lesion was diagnosed radiographically as an accidentnl finding. The radiographic characteristics was unusual showing a image of traumatic bone cyst involving an unerupted third molar. RE FERÊNCIAS BIBLIOGRÁFI-CAS 1. BEASLEY , J. D. 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Figura 2- Aspecto radiográfico da lesão na radiografia periapical. R. Pac. Odot~lol., Porto Alegre, v. 41, rr. I, p. 55- 58, jul. 2000 58 Figura ..J- Observa-se fragmentos de tecido ósseo, te-cido conju ntivo e muitas hemáceas(HE 36X) R. F DL. (JdQfllol.. PtNW "Mt"· •· 41, -.1. 1 55 • 58, j11L ]()(}() Figura 3- Au~ncia de expansão das corticais ob-servada na técnica de Donavan. Figura 5- Após quatro meses da intervenção cirúrgi-ca observa-se o processo de cicatrização óssea em fase final. 

Traumatic bone cyst : a review o f the literature and report o f case

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