Historicamente, o papel das mulheres nos thrillers limitou-se ao de vítimas, figuras passivas da dinâmica da narrativa. Quando exerciam papel preponderante, surgiam de forma pouco realista, como artifício do autor para criar uma narrativa pouco credível ou como uma personagem sedutora e maligna. Vítimas ou culpadas, as figuras femininas no thriller raramente ganhavam voz, instrumentos da sociedade patriarcal em que se inseriam. Hoje, no século XXI, esse modelo está em transformação: as mulheres aos poucos têm abandonado o papel que tradicionalmente lhes é atribuído para assumir outro: o de agentes da história. Porém, não sem antes passarem-se como loucas, perturbadas, desequilibradas e emocionalmente instáveis. A fim de demonstrar esse percurso, o presente trabalho faz um estudo de caso de The Girl on the Train, de Paula Hawkins, um exemplo de como a narrativa feminina triunfa no fim, apesar da fragilidade e descrédito de suas protagonistas. Para além da análise editorial da estrutura, da caracterização e do cenário, é demonstrado como questões como casamento e maternidade são abordadas sob uma nova perspectiva, segundo a qual a esfera privada, outrora refúgio feminino por excelência, torna-se opressora. Reflexo de uma sociedade em transformação, na qual o masculino e o feminino afirmam seus novos papéis.Historically, the role of women in thrillers has been limited to that of victims, passive figures in the dynamics of the narrative. When they played a leading role, they appeared in an unrealistic way, either as author's artifice to create an unreliable narrative or as a seductive and evil character. Victims or culprits, the female figures in thrillers rarely had a voice of their own, instruments of the patriarchal society in which they were in. Today, in the 21st century, this model is changing: women have gradually abandoned the role traditionally assigned to them to assume another one: agents of history. However, not without being considered crazy, disturbed, unbalanced and emotionally unstable. In order to demonstrate this path, the present work makes a case study of The Girl on the Train, by Paula Hawkins, an example of how the female narrative triumphs in the end despite the fragility and discredit of its protagonists. In addition to the editorial analysis of the structure, characterization and scenario, it is shown how issues such as marriage and motherhood are approached from a new perspective, according to which the private sphere, once a feminine refuge par excellence, becomes oppressive. It is reflection of a society in transformation, in which the masculine and the feminine affirm their new roles