Este relato trata da experiência da descoberta do tratamento de imagens, vídeo e áudio, a
partir da Disciplina Esporte e Mídia cursada no 5º período da faculdade de Educação
Física, e sua utilização enquanto poderosa ferramenta de ensino para o desenvolvimento
da consciência corporal em alunos das séries iniciais e divulgação de possibilidades
“inusitadas” de praticas corporais pouco utilizadas, mas importantes ao pleno
desenvolvimento bio-psico-social do aluno

Antunes, Scheila Espindola

Silva, Alex Freitas da

Repositório Institucional da UFSC

     Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador – Bahia – Brasil 20 a 25 de setembro de 2009  O USO DA MÍDIA PARA O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA CORP ORAL: O DESAFIO DE CRIAR AS PRÓPRIAS FERRAMENTAS DE ENSINO – RELATO DE EXPERIÊNCIA   Alex Freitas da Silva Scheila Espindola Antunes   RESUMO Este relato trata da experiência da descoberta do tratamento de imagens, vídeo e áudio, a partir da Disciplina Esporte e Mídia cursada no 5º período da faculdade de Educação Física, e sua utilização enquanto poderosa ferrament  de ensino para o desenvolvimento da consciência corporal em alunos das séries iniciais e divulgação de possibilidades “inusitadas” de praticas corporais pouco utilizadas, mas importantes ao pleno desenvolvimento bio-psico-social do aluno. Palavras-chave: Educação Física Escolar. Consciência Corporal.  TICs (tecnologias de informação e comunicação).    ABSTRACT That report treats of the experience of the discovery of the treatment of images, video and audio, starting from the Discipline Sport and Media studied in the 5th period of the university of Physical education, and his/her use while powerful teaching tool for the development of the corporal conscience in students of the initial series and popularization of "unusual" possibilities of you practice corporal little used, but important to the student's full development biological, psychological and social. Keywords: Physical Education. Body Awareness. Information and Communication Technologies.    RESUMEM El presente informe trata de la experiencia del descubrimiento del tratamiento de imágenes, vídeo y audio de la disciplina en los cursos de Deportes y Medios de 5 profesores a tiempo de la Educación Física, y su uso como una poderosa herramienta de enseñanza para el desarrollo de la conciencia corporal en estudiantes y la difusión de la primera serie de posibilidades "inusual" de la práctica corporal poco utilizado, pero importante para el pleno desarrollo bio-psico-social del estudiante. Palabras clave: educación física, conciencia corporal, tecnologías de la information y la comunicación.   INTRODUÇÃO    Sempre nutrimos uma grande atração pelo esporte e pela propaganda, em todas suas vertentes midiáticas. Encontrar uma disciplina opt tiva no 5º período intitulada “Esporte e Mídia” possibilitou-nos a incursão concomitante nos dois temas, e a percepção do seu grande entrelaçamento.     2 Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador – Bahia – Brasil 20 a 25 de setembro de 2009    Todas as discussões levantadas durante a disciplina levaram-nos a observações mais criteriosas do movimento de esportivização da E ucação Física, sua “apropriada” edição antes da veiculação pelas diversas mídias, lig da aos mais diversos interesses.   Essa “nova” percepção nos direcionou a idéia da cri ção de ferramentas próprias, para a utilização em aulas de educação física, com o intuito de potencializar as experiências corporais vividas pelas crianças e dar-lhes a compreensão do que são e do que podem ser no meio sócio-cultural em que estão inseridas.    A IMPORTÂNCIA DA CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO NO PROCESSO EDUCACIONAL    Na área de Educação Física Escolar há muitas discussões sobre os conteúdos que devem ser trabalhados pelos professores, as abordagens e áreas de conhecimentos que ela abrange, além disso, estudamos o movimento, com técnicas sofisticadas buscando a perfeição e adotamos como nossos conteúdos das áreas mais diversas como as médicas, as biológicas e humanas entre outras, por muitas vezes como docentes esquecemos, o nosso ponto chave que é o ser humano historicamente criado e culturalmente desenvolvido de uma maneira integral e única, destacado pelo Coletivo de Autores (1998).   A importância da compreensão do indivíduo enquanto ser cultural e suas relações interpessoais se faz presente nesse processo d  descobrir-se, e Medina (1948) menciona, que o homem só pode evoluir, cada vez mais, através da percepção gradual que se dá em relação a si mesmo, em relação aos outr , em relação ao mundo, assim nosso papel como educadores é o de proporcionar ess interação e conhecimento cada vez maior do ser humano com o mundo e suas relações.   Pensando sobre essa percepção gradual e a interação que devemos proporcionar enquanto educadores, percebi que a idéia de colocá-los de frente com seus próprios movimentos, a partir de imagens estáticas (fotografias), talvez não surtisse o efeito que eu esperava. Se o fato de reconhecer-se no outro gera conflitos e indagações na formação do sujeito, reconhecer-se em si, através das filmagens que eu fizesse deles, levaria esses meninos à transgressão do real imaginário que tinham em direção ao caminho das reais possibilidades corporais e suas potencialidades ímpares.   O Coletivo de Autores (1998) vem reforçar a citação acima e nos mostrar uma nova tentativa de inovar e buscar uma nova reflexão para a Educação Física quando destaca, no passado a perspectiva da Educação Física, tinha como objetivo o desenvolvimento da aptidão física do homem, onde a contribuição histórica é relativa aos interesses da classe dominante, mantendo uma estrutura capitalista, mas hoje nossa área começou a ter uma nova reflexão, sob um aspecto lúdico buscando investigar a criatividade humana e à adoção de uma postura invest gativa e produtora de cultura.   A aprendizagem corporal é facilmente compreendida pel s crianças através dos gestos. Para Fontanella (1994) a criança compreende muitos gestos antes mesmo de repeti-los. E dessa forma deve, ou pelo menos deveria, se dar com a aprendizagem de todos os movimentos. É a compreensão desses movimentos, com o objetivo da realização do movimento intencional, consciente, que é preconizado nas concepções trabalhada pela Motricidade Humana, e que supera a obotização do movimento humano.   Essa é a conduta que deveria ser adotada pelos professores de Educação Física para aprendizagem nesse contexto contemporâneo, que vai muito além de mecanizar um conhecimento ou movimento, e torna o indivíduo capaz de compreendê-lo e com isso     3 Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador – Bahia – Brasil 20 a 25 de setembro de 2009  trabalhar com esse novo aprendizado, acumulando assim dados que o levarão à independência intelectual, possibilitando a ele a litura do mundo.   Aprender de forma independente é utilizar a mímesis como meio para isso. A mímesis em sua concepção mais filosófica traduz a forma de apr ensão consciente, diferentemente da imitação pura e simples, o que é fr qüente nas aulas de Educação Física. É a mímesis que leva o indivíduo a interpretar o novo conhecimento, reelaborando a informação e armazenando o novo dado, o que enriquece o capital cultural do aprendiz.   A plenitude possível se faz através da corporeidad , isto é, aprender com o corpo todo. Segundo Ferreira Neto (1995, p. 117):  é o movimento que permite à criança encontrar um conjunto de relações (sujeito, as coisas, o espaço) necessárias ao eu desenvolvimento motor, aprendendo a perceber e a interacionar o vivido, o operatório e o mental. Ter no ato motor a conexão para a cognição e emoção com o meio social.    A corporeidade tem sido investigada por filósofos, pedagogos, professores de Educação Física, psicólogos entre outros pesquisadores. Investigam-se seus aportes teóricos e suas interpenetrações nos campos do saber. Para Assmann (1995, p. 101) corporeidade e motricidade são linguagens de uma só f la porque “a motricidade é o vetor da identidade corporal”, corpo e movimento humano são muito mais que ato mecânico de deslocamento no espaço, um está para o outro através da história revelada na análise dos movimentos que o homem realiza através do tempo.   A corporeidade se constitui na essência do ser vivo em seu entorno. Conceituar corporeidade é relacioná-la à existência do sujeito em uma cultura, e que resulta em conhecimento adquirido através do movimento, ou melhor, da motricidade do homem no meio social em que vive e que essa motricidade, qu  é dinâmica, permite a interpelação com outros homens, de outras culturas. Sobre esses e outros estudos temos estudiosos da antropologia como Maus, Bofes e Da Matta que ratificam através de seus postulados sobre a relação corpo e cultura quando nos revelam que há corpos diferentes porque as sociedades não são iguais e porque os corpos são a expressão das diversas culturas, que se manifestam por gestos e técnicas corporais próprias (DAOLIO, 1995).  ENTRE A EMPOLGAÇÃO INICIAL E A RESPONSABILIDADE EDUCACIONAL    A criação do vídeo Redescobrindo o espaço escolar: um laboratório do movimento corporal (novembro/2008) partiu de uma atividade proposta durante a disciplina, mas sua conclusão se deu após inúmeras experimentações e reconhecimento da ilha de edição do programa Windows Movie Maker. Su preendeu-nos a facilidade do manuseio deste, por tratar-se de um programa simples, mas com possibilidades reais e de bons resultados nas manipulações de imagens estáticas, vídeos e áudios.   Mesmo antes do contato acadêmico com os trabalhos dos mais renomados estudiosos da Educação Física, já era possível perceber que residia na intervenção do professor à maior parcela da responsabilidade do desenvolvimento corporal e intelectual do aluno. Encantou-nos a possibilidade de demonstrar nossa visão sobre as possibilidades dessa intervenção, e o transformar de dificuldades em ações concretas e relevantes para a mudança de atitudes e valores dos alunos enquanto agentes do seu próprio desenvolvimento bio-psico-social.     4 Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador – Bahia – Brasil 20 a 25 de setembro de 2009    Somos defensores assumidos da consciente utilização das palavras como poderosa ferramenta de desenvolvimento social e cultural. Mas a interpretação dos movimentos, como linguagem universal de expressão dos pensamentos, das idéias, é que nos fascinaram após o contato com os teóricos da Educação física, levando-nos à idéia de produzir vídeos próprios, em que os alunos se vissem como agentes no processo de transformação e transcendência, tornando  experiência muito mais significativa, por poderem ver-se ao invés de verem corpos estranhos executando os movimentos corporais propostos.  A CRIAÇÃO DO VÍDEO E POSICIONAMENTO SOCIOCULTURAL DOS PERSONAGENS   A Escola Municipal em que foram coletadas as imagens se localiza em um pequeno município do interior do Espírito Santo, e atende a alunos da educação infantil e das séries iniciais, englobando idades que variam nor almente dos 04 (quatro) aos 11 (onze) anos. Grande parcela de sua clientela é composta or crianças provenientes de famílias carentes e com falhas na formação cultural.  Não fazem parte da sua rotina programas culturais ou esportivos, o que agrava em muito as falhas no processo de descoberta do corp em todas suas vertentes.  Mas podemos perceber no brilho dos olhos e dos sorrisos dessas crianças o desejo de experimentar coisas novas. A vida moderna t m-lhes furtado os espaços de lazer, os locais onde poderiam ter contato direto com o solo, com a grama sob os pés. Vemos a escola como viável detentora de possibilidades desse contato com o lúdico e o subjetivo, com brincadeiras descompromissadas, com o divertimento e o aprendizado pelas experiências prazerosas.  No vídeo as crianças brincam. Nenhuma imagem foi coletada em momentos instruídos ou de aulas de Educação Física, e procuramos ser os mais discretos possíveis durante todo o processo de captação de imagens, o que se provou quase impossível, devido à grande curiosidade causada pela máquina fotográfica (artigo incomum em seu meio).  A “reconstrução” que as crianças fazem de tudo à sua volta, a interação de seus frágeis corpos com o meio e seus obstáculos, lembrou-nos em vários momentos o Le Par Cur francês, remetendo-nos à intervenção nem sempre apropriada dos professores.  O mais poético é que os mesmos pés descalços que revelam a pobreza, o viver constantemente subtraído, indicam a liberdade dos mvimentos e as diferentes experiências do contato com o meio social que lhes cercam, mas libertos das amarras institucionais.  Quantas dessas crianças foram ou serão subtraídas de suas possibilidades pelo desconhecimento, despreparo ou falta de comprometimento profissional?  O vídeo veio levantando algumas indagações quanto à importância do aproveitamento das experiências particulares de cada aluno, sua singularidade, para o planejamento de ações que tornem as aulas mais produtivas, mas principalmente, relevantes ao entendimento dos alunos enquanto seres produtores de suas próprias histórias.  Esse vídeo não traz fórmulas de sucesso. Sua principal virtude é transcender à “normalidade” e promover a reflexão mais crítica dos profissionais da educação. Quando apresentado ao corpo docente da escola provocou as mais diversas reações, que foram desde a comprovação de nossas afirmações até a completa neutralidade, passando pela constante preocupação quanto à integridade física das crianças.     5 Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador – Bahia – Brasil 20 a 25 de setembro de 2009   E a integridade espiritual, moral, social, política, todas enraizadas nas descobertas pessoais a que essas crianças devem ter acesso enquanto alunos? Como esses profissionais lidam no seu dia-a-dia com a idéia e formarem adultos que não tenham experimentado na fase das recepções afloradas situações que os levem ao reconhecimento próprio e pleno?  Esse vídeo é como um filho. O criamos, mas agora tmo pernas próprias e sobrevive por si, sujeito às mais diversas interpretações.  A partir disso vem a proposta do desenvolvimento de aulas através do conceito de consciência corporal e da tematização da cultura oc l, ou seja, correlacionar os conteúdos listados no planejamento docente com as vivências extra-escola dos alunos, será possível superar a dualidade do corpo que ainda compromete as abordagens atuais. O corpo contemporâneo é comercializado (corpo mercado ia) e não cidadão, corpo decapitado, dicotomizado e negado o que aponta para uma consciência em busca da totalidade. A consciência corporal aqui entendida como:  Todas as manifestações de movimento corporal das quis o indivíduo pode formar uma representação psíquica, atr vés de qualquer sistema de signos, e podem ser submetidas ao seu controle voluntário. Compreendida como processo em construção, cujas formas históricas se concretizam nas interações concretas do homem com a natureza e com outros homens, emerge nas suas diferentes manifestações como produto da interação dialética entre as propriedades biológicas do organismo e as práticas sociais que envolvem a ação de todas as instituições em seus aspectos ideológicos e materiais (KOLYNIAK FILHO, 1997, p. 32).   Grande parte das novas realidades que vemos surgir nessa escola aconteceu depois do filme ou ficou evidenciado pelo nosso “novo lhar”. Saltou aos olhos durante sua edição as novas visões do que já enxergávamos, mas não compreendíamos.  Quando o filme foi exibido aos alunos, causou muitas reações, mas o mais importante foi a relação que os “protagonistas” fizeram com as mudanças que eles causaram ao seu redor. Perceberem-se agentes de transformação, potenciais líderes, mesmo aos nove anos de idade, gera responsabilidades quanto aos seus comportamentos enquanto seres sociais.  Suas percepções de corpos afloraram. As belezas dos gestos sobrepuseram pés descalços, cabelos despenteados, roupas rasgadas, pobrezas e mazelas. A “boa” vaidade tornou-se amiga inseparável dessas crianças.  CONSIDERAÇÕES FINAIS   O corpo fala. E foi preciso “ver para crer”. E soa melhor aos ouvidos o que falamos de nós mesmos, nossas percepções do que somos. O professor pode dizer ao aluno o que ele representa, mas se ele descobrir por si, apenas instruído; se ele puder perceber as nuances que o diferencia ou aproxima de seus semelhantes, poderá compreender mais facilmente o poder e a responsabilidade de suas ações.   O projeto do vídeo pode ter transformado a idéia os alunos que fizeram parte dele, mas mudou incontestavelmente a percepção de vi a e responsabilidade profissional dos educadores que dele fizeram parte.     6 Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador – Bahia – Brasil 20 a 25 de setembro de 2009   A utilização da mídia foi de suma importância à divulgação e percepção dessas realidades, intercedendo de forma preponderante nos momentos de comprovação das idéias relativas ao mau posicionamento ou preparação dos profissionais da área educacional.  Sua veiculação conferiu-lhe mais importância enquato ferramenta educacional do que experiência acadêmica surgida em uma disciplina da faculdade, estimulando à propagação das idéias surgidas a partir das discussões e produção de novas “ferramentas” midiáticas.  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  ASSMANN, H. Paradigmas educacionais e corporeidade. 3. ed. Piracicaba, SP: Unimep,1995. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez,1992. DAOLIO, J. Da cultura do corpo. Campinas: Papirus, 1995 (Coleção Corpo e Motricidade). FERREIRA NETO, C. Motricidade e jogo na infância. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.FONTANELLA, F. Coletânea do II Encontro Nacional de História do Esporte, Lazer e Educação Física. São Paulo: Unicamp, 1994. KOLYNIAK FILHO, C. Movimento humano consciente: objeto de estudo para a educação física. IN: Revista Discorpo. São Paulo, n. 5, p. 15-32. MEDINA, J. P. S. A Educação Física cuida do corpo... e “mente”. 5ªed. Campinas/SP: Papirus, 1948. 

O USO DA MÍDIA PARA O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA CORPORAL: O DESAFIO DE CRIAR AS PRÓPRIAS FERRAMENTAS DE ENSINO – RELATO DE EXPERIÊNCIA

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