TCC (graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Comunicação e Expressão. Curso de Licenciatura e Bacharelado em Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa.Este estudo tem como objetivo a descrição e análise dos róticos intervocálicos do português
principense (PP), falado na Ilha do Príncipe, de São Tomé e Príncipe (STP). A pesquisa é
realizada a partir de pares mínimos do português brasileiro (PB) e português europeu (PE),
considerando-se estudos que indicam que o português de São Tomé e Príncipe (PSTP) difere
da norma europeia empregada nos âmbitos formais do Estado quanto aos róticos intervocálicos
(AGOSTINHO, 2016, 2017; BOUCHARD, 2017; PEREIRA; HAGEMEIJER; FREITAS,
2018, entre outros). Por STP se tratar de um país multilíngue, o português falado nesta região
está em contato com as línguas crioulas santome e angolar, faladas majoritariamente na Ilha de
São Tomé, e lung’Ie e kabuverdianu, faladas majoritariamente na Ilha do Príncipe. Esta última
língua é nativa de Cabo Verde e as demais, atualmente ininteligíveis entre si, são geneticamente
relacionadas. As ilhas de STP, previamente desabitadas, foram colonizadas por portugueses,
outros europeus e escravizados africanos entre 1970 e 1971 (FERRAZ, 1978). Em 1975, com
a independência de Portugal, o português foi estabelecido como língua oficial de STP, sendo
falado, de acordo com Censo de 2012, por 98,4% da população. Para a presente pesquisa, o
método utilizado foi a transcrição e a análise acústica e oitiva de dados de fala através do
software Praat. Estes dados foram coletados por meio de experimentos fonológicos em trabalho
de campo in loco (AGOSTINHO; BALDUINO, 2016) com 6 mulheres naturais e residentes na
Ilha do Príncipe e de idade e escolaridade variadas. Os resultados indicaram a ausência de
distinção fonológica entre ‘r fraco’ e ‘R forte’ em PP, que sugere que há um único fonema
rótico nesta variedade. Houve 53,6% de realizações esperadas e 46,4% de realizações não
esperadas em PP para o sistema fonológico de PB e PE padrão. Para a posição fonológica de ‘r
fraco’, registraram-se 34,6% de realizações não esperadas, e para a posição de ‘R forte’, 58%
de realizações não esperadas. A variante mais utilizada em PP foi o tap [ɾ] (61,7%), seguido da
fricativa uvular [ʁ] (34,6%) e vibrante alveolar [r] (3,7%). Verificou-se considerável variação
inter e intraindividual, tanto em contexto de ‘r fraco’ quanto de ‘R forte’. Estes resultados
corroboram Agostinho (2016, 2017), Agostinho e Mendes (2020) e Agostinho, Soares e
Mendes (2020a, 2020b), que propõem que o rótico de PP é resultado de fusão fonológica dos
fonemas ‘r fraco’ e ‘R forte’ de PE em virtude do contato linguístico na região e da baixa carga
funcional dos róticos em português. Dessa forma, sugere-se que PP possui um sistema
fonológico diferente do de PB e PE padrão. Este trabalho contribui para um melhor
entendimento do sistema fonético-fonológico do português, bem como das variedades africanas de português, sobretudo o PP, uma vez que esta variedade é pouco descrita na literatura. A
pesquisa também contribui para o estudo de línguas em contato, ao serem também observadas
as possíveis influências das línguas crioulas de STP em PP, que possuem um ou nenhum fonema
rótico em seu sistema.This study aims to describe and analyze intervocalic rhotic from the Principiense Portuguese
(PP), which is spoken on the Island of Príncipe, in São Tomé and Príncipe (STP). The research
is carried out using minimal pairs of Brazilian Portuguese (BP) and European Portuguese (PE),
considering studies that indicate that the Portuguese of São Tomé and Príncipe (PSTP) differs
from the European standard used in the formal spheres of the State in terms of to intervocalic
rhotic (AGOSTINHO, 2016, 2017; BOUCHARD, 2017; PEREIRA; HAGEMEIJER;
FREITAS, 2018, among others). As STP is a multilingual country, the Portuguese spoken in
this region is in contact with the creole languages Santome and Angolar, mostly spoken on the
Island of São Tomé, and Lung’Ie and Kabuverdianu, mostly spoken on the Island of Príncipe.
This last language is native to Cape Verde and the others, currently unintelligible to each other,
are genetically related. The islands of STP, previously uninhabited, were colonized by the
portuguese, other europeans and enslaved africans between 1970 and 1971 (FERRAZ, 1978).
In 1975, Portuguese was established as the official language of STP with the independence of
Portugal. According to the 2012 Census, 98,4% of the population speak the Portuguese
language. For the present research, the method used was the transcription and the acoustic
analysis and listening of speech data through the Praat software. These data were collected
through phonological experiments in fieldwork in loco (AGOSTINHO; BALDUINO, 2016)
with 6 female informants from the Island of Príncipe and concerning diversified age and
education. The results indicated the absence of phonological distinction between ‘weak r’ and
‘strong R’ in PP, which suggests that there is a single rhotic phoneme in this variety. There
were 53,6% of expected realizations and 46,4% of unexpected realizations in PP for the
phonological system of standard BP and EP. For the phonological position of ‘weak r’, 34,6%
of unexpected achievements were registered, and for the position of ‘strong R’, 58% of
unexpected achievements were registered. The most used variant in PP was tap [ɾ] (61,7%),
followed by uvular fricative [ʁ] (34,6%) and alveolar vibrating [r] (3,7%). There was
considerable inter and intraindividual variation, both in the context of ‘weak r’ and ‘strong R’.
These results corroborate Agostinho (2016, 2017), Agostinho and Mendes (2020) and
Agostinho, Soares and Mendes (2020a, 2020b), who propose that the PP rhotic is the result of
a phonological fusion of the phonemes ‘weak r’ and ‘strong R’ of EP due to the linguistic
contact in the region and the low functional load of rhotic in Portuguese. Thus, it is suggested
that PP has a different phonological system than standard BP and EP. This work contributes to
a better understanding of the phonetic-phonological system of Portuguese, as well as the african
varieties of Portuguese, especially PP since this variety is rarely described in the literature. The
research also contributes to the study of languages in contact, by also observing the possible
influences of creole languages from STP to PP, which have one or no rhotic phoneme in their
system