LIMA, Fernando de Castro Pires de

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Casa de Sarmento

 Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: geral@csarmento.uminho.pt URL:  www.csarmento.uminho.pt  Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.  https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/     Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento    CANCIONEIRO DE S. SIMÃO DE NOVAIS. LIMA, Fernando de Castro Pires de Ano: 1923 | Número: 33   Como citar este documento: LIMA, Fernando de Castro Pires de, Cancioneiro de S. Simão de Novais. Revista de Guimarães, 33 (1) Jan.-Mar. 1923, p. 31-38.  O limão é coisa azeda, so se bota no assado. ¿ Quem te manda a tá falar, se não és aqui chamado ? 123 Monte da Serra das Neves, onde o penedo caiu. _ Ninguém diga o que não sabe, nem afirme O que não viu. 125 Minha mãe, p r a  me casar, prometeu-me três ovelhas : uma manca, outra cega, outra mona, sem orelhas. 127 Minha mãe, quando eu morrer -assim deixo destinado - que me peguem ao caixão quatro rapazes do fado. 129 Esta noite foi ao fado, certa menina a mais eu : era nova, não sabia, todo _o trabalhojoí meu. FERNANDO DE CASTRO PIRES DE LIMA S . 121 SIMÃO DE NOVAIS (Cone. do vol. XXXII, n.° &, pág. 399) C A N C I O N E I R O  COLIGIDO POR D E  Chapéu de meia moeda, nmguém O tem senão eu ; quando o ponho na cabeça, dou vivas a quem mo deu. 124 O' minha mãe dos trabalhos ! Para quem trabalho eu ? Trabalho, mato o meu corpo, não tenho nada de meu 1 12ó Mandas-me vir à um' hora, há duas que eu aqui estou ; ¿pensas que não é pecado enganar a quem 'sperou ? 128 Quem quiser que eu cante bem, dê-me uma pinga de vinho : o vinho é coisa boa, faz o cantar mais fininho. 130 Tenho O meu peito à chuva, não acho retellzador ; chovem, dentro como fora, lágrimas do meu amor. 122 32 132 131 Tenho o meu quarto à chuva, e não ha retelhacior, que arnolecern o sobrado lágrimas do meu amor. 133 O' acipreste do adro, não assoinbres a igreja E Que bem assombrado anda quem não logra o que deseja. . . 135 Hei-de ir ao S. J'ão a Braga e a Braga ao S. João. O S. João é em Braga e o S. Brás em Chavão. 137 Prirninho, não seja mau, não faça mal à menina. Três pingas de Nicolau faz arder a larnparina. 139 Adeus, meus queridos País, vou pára a guerra, vou morrer 1 adeus, meus queridos Pais, que vos não torno a ver 1 141 Eu queria uma Mãe, indo que fera uma silva ; indo que ruela arranhasse, eu sempre era sua filha E 143 Esta noite tive um sonho, havia de ser um'hora : uma pulga deu-me um couce, deitou-me da cama fora. 145 Era duma vez um homem, que vivia numa aldeia : so queria Jejuar depois da barriga cheia. O' laranjeira do alto, bota laranlas de praia ' Tomar amores não custa, deixa-los é o que mata. 134 I Quando eu peguei a amar indo não era pecado, nem o mundo em mundo, nem o mar era sagrado. 1aó S. Bartolomeu do Mar é padrinho de Maria ; eu também sou afilhado da Senhora da Abadia. 138 Pára te amar, deixei a Deus , vê, amor, o que eu perdi : agora vejo-me só, sem amor, sem Deus, sem t i !  (1) 140 Minha Mãe, que nos criastes, minha Mãe, com tais carinhos ! Eu agora vou pára a guerra, morrer como os passarínhos g. 142 O' terra negra do adro, sepultura dos anlinhos Z O' terra, que tens colhido corpos tam inocentinhos 1 144 Era duma vez um homem casado c'ilnla mulher : não ficaram bem casados, cada uni faz o que quer. 14ó Da minha casa p ra  a tua é O salto duma cobra. Ando morto por chamar a minha Mãe tua sogra. (1) Cf. 27. -| 33 147 Não me cortes a oliveira, nem lhe ponhas o machado, que é o que dá o azeite p r a  alumiar ao Sagrado. 149 148 Fui-me deitar a dormir ao pe da água que corre I a água me respondeu : Quem tem amores, não dorme. 150 O sol nasce e inquelina as pedras do meu anel. Eu também sou inclinada ao nome de Manuel. Rapariga, tu és tela E Eu não sou o teu amante , ou tu nasceste sem lua, ou no quarto-nlinguante. 151 l. Duma flor nasceu a vara v da vara nasceu a flor , duma flor nasceu Maria ; de Maria, o Redentor. 153 Minha Mãe, case-me cedo, enquanto sou rapariga : o milho sachado tarde nem dá palha 11cm dá 'spiga. 155 I Eu queria ir p r a  a Maia um ano, para meu gesto , quero ver as maiatmhas com que lavam o seu rosto. 157 Tenho dito aos meus olhos que não chorem por minguem : os meus olhos, de chorar, já nenhuma graça toem. 159 ll/1ô‹_.a solteira, não case, logre-se da boa vida ' Eu já sei de uma casada que chora de arrependida. 1ó1 Freg'sía de S. Simão, ela é meia de ladeira : de inverno tudo é lama, de verão tudo é poeira. 163 Hei-de me vestir de preto, do mais preto que há na laje, que eu ia tenho por notícia que O meu amor que me foge I 152 O mar também é casado, também tem sua mulher : é casado c'o a areia, dá-lhe beijos quando quer. 154 Vós dizeis que -Viva a Maia ? Não sei que graça 'he achais : terra de milho miúdo, as caras são como as mais. 156 Olhos lindos como os meus em poucas caras os vedes : olhos brancos, olhos pretos, olhos azuis, olhos verdes. 158 Quando eu era pequenina, trazia frias e laços , agora que sou casada trago meus filhos nos braços. 1ó0 Minha Mãe é uma rosa ; com meu Pai se arrecebeu, e a filha é um botão que da rosa rescendeu. 162 Quatrocentos guardanapos, seis vinténs em cada ponta, menina, que é tanl fina, faça-me lá essa conta ' 164 Quando eu nasci, chorava, eu chorava por nascer › parece que adivinhava que sorte havia de ter. I ¬11:.1 í l i l  I Í I  I I I I  w z . l . .  . ¬ . . . . . .  I 34 166 I Eu já vi nascer o sol num copinho de beber. Tu nasceste para mim, que lhe havemos de fazer ? 168 Vou cantar uma cantiga sem licença de meu bai ; a primeira vai a medo, a segunda a medo val. 170 O' prima, chame-me primo ' Eu, prima, não te conheço ; também quero que me digas donde vem o parentesco. . . 172 Quando eu nasci, chorava, chorava por ter nascido : parece que adivinhava a sorte que tenho tido. . . 174 (*) 165 O' preto! ¿P'ra que te lavas, se branco nunca lhas-de ser Í* A água já o jurou, de ti branco não fazer. 167 Se fores ao meu jardim não cortes a marcrarida : se a souberes estimar, . tens rosa p r a  toda a vida. 169 Não quero amor soldado ; não no tenho como gente antes quero capitão, ou alferes, ou tenente. 171 O meu anlor é ourives e o teu é mercador : o meu dá-me prendas de ouro e o teu não tem valor. 173 Eu não sei que fiz ao sol, que não dá namànha *ga : hei-de me vestir e pre o, que, de branco, anda a lua. . . 175 Valha-me Nossa Senhora 1 Que linda palavra eu del E Nossa Senhora me guarde, . já que eu guardar-me nao sei ' 177 Lindos olhos tem António, Santa Luzia, guardar-lhos.' Se não hão-de ser p r a  mim, Santa Luzia, tirar-lhos l 179 O' Senhora da Saúde E Eu bem alto vo-lo digo : para o ano lá hei-de ir, que vos tenho prometido. Azeitona míüdinha que azelte pode render ? Homem pequeno, sem barba, que respeito pode ter ? 176 O se+e‹estrêlo vai alto, mais alto vai o luar l Mais alta vai a ventura, que Deus tem para inc dar 1 178 O' Senhor dos Aƒelitos, livrai»1rle de aƒelições ! Livrai-me dos maus intentos em certas ocasiões 1. 180 Não te ponhas de joelhos, que eu não sou nenhum altar ' Eu não sou santo nem santa, que me estejas a adorar. . . 1 I ‹*› cá. 164. I | . _ 35 181 O' alegria do mundo. por onde é que tens andado D Tenho con-1do mil terras, não te tenho encontrado. . . 183 O' alto lírio roxo 1 abriga-me tua sombra, que eu furtei uma menina, não tenho onde a esconda. 165 Dizeis que não sei cantar, que tenho a fala grossa . . Com ela me arremedeio, não vos vou pedir a vossa. . . 187 Uma velha, muito velha, mais velha que a Saragoça, falaram-lhe em casamento : depois de velha, foi rnôça. 189 Quando eu cuidei que tinha minhas pêras acabadas. . . Agora vejo que as tenho de novamente o-obradas I 191 Minha sogra morreu ontem, a rnaleita vá com ela | Deixou-me a chave da loja, o vinho bebeu-o ela. . . 193 Debaixo de água 'si água, debaixo da água ' s á  ledo. Eu não falo de ninguém, de n11m fala o mundo todo. . . 195 182 A cantar ganhei dinheiro, a bailar se me acabou : o dinheiro mal ganhado, agua o deu, água o levou. . . 184 Menina do amarelo, diga-me quanto custou, que eu quero vestir dele, ja que tanto me agradou. . . 186 Menina, venha a mais eu, não tenha medo à fome, que meu pai tem uma quinta, que sustenta quem não come. 188 Estes rapazes de agora todos quer andar na moda : traz um lencinho no bolso, com as pontínhas de fora. . . 190 Minha sogra morreu ontem : Deus a leve ao Paraíso ; deixou-me uma manta velha, não posso chorar com riso. . . 192 Minha sogra morreu ontem, foi-se enterrar à cadeia ; os presos todos disseram : Que cara ela tem tam feia I 194 Minha mãe, vou-me casar I Minha filha, diz com quem. . . Vou casar-c'nm caiador. Minha filha, fazes bem E 196 Rosa' de mim 'stás queixosa . Tu te queixas sem razão ' já te encontrei esfolhada, não te tirei do botão. . . O rouxinol é vadio, faz a cama onde quer . c como O rapaz solteiro, enquanto não tem mulher. 197 198 Coitadinho de quem ama um amor que já foi meu | Agora, colhe-lhe a fama, pois a flor colhi-lha cu. . . Coitadinho de quem ama um amor que é pequeninho ! Puxa-lhe pelas orelhas : Anda cá, meu maluquinho ' 1 z ! I I §  f1 l l  I I I II I Í i I  I I  I I  ›lllírI1¡.Hr.1n¡¡..«nn-;u¡u... l I I 36 199 Vós chamais-me trigueírínha ? Isto é do po da e l a  : vereis-me, la pra domingo, como a rosa da roseira. 201 \ A cana verde, no mar, anda de beira em beira. E' como os moços solteiros a verse acham quem nos quelra. (1) 203 Chamaste-me moreninha ?! O' preta, vai-te lavar l . . . Eu ainda tenho amores que te posso amostrar. . . 205 Daqui para a minha terra tudo é caminho chão : tudo são cravos e rosas plantados por mlnha mão. 207 200 Andas muito azangada, companheira! Não te entendo... Se e por causa do namoro, guarda-o qu'eu não no pretendo. 202 Pensavas que eu que te qu'ria, meu abanado do vento l Eu até me desprezava se assim perdia o meu tempo. . . 204 O Afonso é um homem ; veio cá buscar as notas. Assim que as pilhou no bolso, logo lhe virou as costas. 206 ]á tenho namoro, hei-de namorar : eu sou solteirinha, querome casar I 208 O' minha pombinha branca, empresta-me o teu vestido ! Indo que seja de pêras, eu em penas também vivo. . . . 210 ¿Que passarinho é aquele que canta na carvalheira ? E' o galo do abade, que fugiu da capoeira. 212 Subi ao céu e sentei-me, duma nuvem fiz encosto , dei um beijo numa estrela, cuidando que era em teu rosto. 214 No meio daquele mato ' s á  uma pombinha branca ; não é pomba, não é nada ‹ é o mar que se levanta. 209 ¿ Que passarinho é aquele, que anda no lampeiro verde ? Sempre c'o bico na água, dizendo que morre à sede. . . 211 Não sei que me quer o Põrto, que tanto chora por mim. . . Eu he1!~de ir morar p'r.a o Pôrto, p ra  a rua do Bonjardim. 213 Assubi ao altar-rnor, acendi a luz ao trono. Coitadinho de quem ama amores que já toem dono l Cravos brancos são beijinhos ; eu tantos te tenho dado. . . Hoje estou arrependido ‹ meu coração 'st virado. (1) cá. 120. z é  ¬ z 1 . . ! l 1  I I  Eu hei-de ir, e hei-de vir, falas te não hei-de dar : hei-de-te fazer moer, como o navio no mar. Bem-me-queres, mal-me-queres tenho eu no meu jardim : bem-me-quer's depressa acabam, mal-me-quer's nunca tem tim. . . 231 E' noite, o sol está posto, menina, vamos à ceia ! São horas de recolher quem é de fora da aldeia. 227 Indo que se o lume apague, na cinza fica o calor. Indo que o amor se ausente, no coração fica a dor. 229 Da outra banda do rio tem meu pai um castanheiro que dá castanhas em Maio, uvas brancas em Janeiro. 225 Oliveira do Brasil, deita para cá um cano ! O meu amor é teimoso ; a teima dura-lhe um ano. Meu amor está doente, toma chá de violeta. Ao que eu prometo não falto, pede a Deus que eu prometa. . . 221 215 Coitadinho dum amor, que ama sem ser amado E Fica c'o tempo perdido, e 0 coração magoado. 217 Homem casado, rèdío, va para a sua mulher ! Se morre, vai pára 0 inferno, nem os demónios O quer. . . 219 I 223 37 O' comboio d'hora e meia, não te posso ver passar l Levaste-lo meu amor pra a vida de militar. . . 216 Amores de homem casado, quem nos toma é porque quer; ha boa resposta a dar : Va para a sua mulher ' 218 Diz que eu sou bexigoso ? Que te importa os meus sinais ? Não há céu sem as estrelas, nem altar sem castiçais. 220 No meio do mar 'são rosas, eu bem lhes vejo os botões ; eu bem vejo caras lindas : mas não vejo corações. . . 222 Salsa . da beira do rio, alecrim da outra banda. Hei-de vencer os teus olhos, indla que eu corra demanda. 224 ¿Dizeis que não pode ser silva verde dar limpes ? Eu tenho no meu quintal nabiças que dão feijões. 226 E' noite, o sol está posto, menina, vamos embora l São horas de recolher o canário à gaiola. 228 Suspiros, ais e dores, imaginações, cuidados. é o manjar dos amores, quando vivem separados. 230 Silva verde, não me prendas, olha que 1ne não seguras ' Olha que eu já rebentei outras verdes e mais duras ! 232 38 233 234 O' 1neu amor, anda, anda, que te quero ver andar 1 Quero ver como é teu bno e mais o teu passear. . . 235 O' Galiza, e ó Galiza, manda~me de lá um ramo, ta o meu amorqueé trombudo ! unam-lhe as trombas um ano. (1) 236 O meu amor é José, é josé que se lhe chama ; não é quem o mundo cuida : o mundo também se engana. . . 238 I Troquei OS meus olhos pretos pelos teus acastanhados; agora todos me chamam amor dos olhos trocados. 237 Se Coimbra fosse minha , como é dos estudantes, I mandava-lhe pôr no centro uma coroa de brilhantes. 239 Amor com amor se paga nunca vi coisa tam justa. Paga-me contigo mesmo, saberás quanto te custa. 240 I I O' Ana, três vezes Ana \ María uma só vez ! Mals vale uma so Maria, do que as Anas todas três. 242 A cana verde me disse que eu que havia de ir com ela, vai-te embora, cana verde, que eu não delxo ninha terra' (2) Eu já fui ao Céu em vida, já vi o que por lá vai : tanta mulher sem mando,- tanto menino sem pai. . . 241 Moro à beira do rio, moro mesmo à beirinha : da janela do meu quarto ouço cantar a sardinha. 243 Eu hei-de aprender a ler, você há-de-me ensinar ; diga-me a primeira letra, onde eu hei-de começar ! 245 Da minha casa pra a tua todo o. caminho é chão ; tudo são cravos e rosas plantados por minha mão. 244 Chamaste-me pequeninlza ? Sou tamanha como vós : delgadinha como a linha, fuinha como arretroz ! (3) 246 Da minha casa b'ra a tua é um fio de algodão , todos passam e não caem, só eu caí na prisão. . . ("') I I r E (Continua). | y i 1 (*) (2) (3) (1) cf. 221. cá. 201. cf. 76. cá. 146, 2105, 245. I 4 

Cancioneiro de S. Simão de Novais. IIª Parte.

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