LOBO, F. M. Costa

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Casa de Sarmento

 Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: geral@csarmento.uminho.pt URL:  www.csarmento.uminho.pt  Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.  https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/     Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento    COMEMORAÇÃO SOLENE DO NASCIMENTO DE MARTINS SARMENTO. DISCURSO DE HOMENAGEM A M. SARMENTO, PRONUNCIADO PELO PRF. DR. FRANCISCO MIRANDA DA COSTA LOBO, PRESIDENTE DO "INSTITUTO" E DIRECTOR DO OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA. LOBO, F. M. Costa Ano: 1933 | Número: 43   Como citar este documento: LOBO, F. M. Costa, Comemoração Solene do Nascimento de Martins Sarmento. Discurso de homenagem a M. Sarmento, pronunciado pelo Prf. Dr. Francisco Miranda da Costa Lobo, Presidente do "Instituto" e director do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra. Revista de Guimarães, 43 Jan.-Dez. 1933, p. 76-80.  I. o DISCURSO DE HOMENAGEM A M. SARMENTO, PRO- NUNCIADO FELO PROF. DR. FRANCISCO MIRANDA DA COSTA LOBO, PRES. DO ‹[NSTITUTO› E DIRECTOR DO OBS. GASTRONÓMICO DA UNIV. DE COIMBRA, NA SESSÃO SOLENE PROMOVIDA PELA SOC. M. s. O Dr. Francisco Martins Sarmento, a quem Portu- gal presta hoje uma grandiosa e patriótica homenagem, promovida pela douta Sociedade Martins Sarmento, que tomou para si a honrosa missão de perpetuar a memória deste ilustre português, aumentando dia a dia o seu prestígio com sucessivas descobertas sabre as suas admiráveis investigações, sabre a sua profunda e conscienciosa critica e sabre as suas notáveis con- clusões, que revelam O espirita sagaz e reflectido do infatigável investigador, foi favorecido pela Providên- cia com preciosos dons. Marcaram-lhe desde logo uma respeitada e sim- pática situaçao as suas cristalinas qualidades morais, traduzidas por uma extrema bondade que é apanágio das almas fortes e bem temperadas. Ao mesmo tempo possuía um espírito lúcido e acção perseverante, qualidades estas que assegurarani os triunfos intelec- tuais que esmaltaram a sua existência. Mas repetidas vezes as circunstâncias do meio e do tempo tudo perturbam, e o homem dotado com aque- las qualidades encontra-se inibido de as aproveitar útil rente, com grande prejuízo para a sociedade. Felizmente para a nossa Pátria, gozou Martins Sarmento de excepcionais vantagens, tanto no espaço como no tempo, as quais ele soube aproveitar pela forma mais profícuo, O que lhe permitiu honrar a nação portuguesa com uma obra scieiitítica de invul- gar valor. E não foi preciso que se deslocasse, 11e1n que íôsse encerrado num templo de investigação. O talento u m a CENTENÁRIO DE MARTINS SARMENTO 77 foi preciso peregrinar para aprender. abriu-lhe, largas, as portas da investigação scientífica , a região onde a Providência O colocou, tendo por cúpula o azul dos céus, forneceu-lhe um laboratório abundantemente provido de preciosos materiais para poder dar aplicação às suas eminentes qualidades. Não lhe ‹ A Universidade de Coimbra, aqui representada pelo seu Ilustre Reitor Dr. Jogo Duarte de Oliveira, bastou para lhe educar O espírito. Foram os scientistas nacionais e estrangeiros que se deslocaram para virem receber as lições do Mestre e apreciar as descobertas do sábio português que, vivificado pelo ambiente que desde remotos tempos preparou a eclosão da nacio- nalidade bortuguesa, que nesta gloriosa região de Guimarães teve o seu berço, produziu a obra que rememoramos neste solene momento. Tornou ela Martins Sarmento digno descendente dos ínclitos companheiros de D. Afonso Henriques, que foi o nosso primeiro Rei, e que ocupará sempre o primeiro lugar entre os portugueses. Aqueles conquistaram terras e criaram a presti- giosa nacionalidade portuguesa que merece, pelos seus feitos e inolvidáveis serviços prestados à Huma- nidade, geral admiração e respeito. Martins Sarmento fez do passado o campo das suas conquistas e acres- centou aos .dominios já possuídos pela nação portu- guesa, vastas regiões de existência longínqua soterradas pela acção incessante do tempo, que tanto destrói como cria, pertencentes aos povos que em épocas remotas aqui floresceram, e nas quais descobriu fecundos materiais para a edificação da história dos precursores da nacionalidade portuguesa, os quais, em consequência destas admiráveis descobertas, vão . distantes do que era até hã pouco lícito deduzir das conjecturas dos predecessores de Martins Sarmento, que soube explorar com notável espírito scientífico a privilegiada região onde a Providência, poderemos crer, proposita- damente o colocou. Mas também no tempo a Providência favoreceu excepcionalmente o nosso homenageado. Com efeito, Martins Sarmento gozou, no periodo da sua mais efi- ser recuados para épocas muito mais 78 REVISTA DE GVIMARÃES ciente actividade, de uma época de calmaria em que o nosso país se encontrou em relativa tranquilidade. Efectivamente, nascido em 1833, Martins Sarmento ainda terá sentido no berço, e mesmo na primeira infância, o rescaldo das violentas lutas que então agi- taram Portugal, como consequência de cataclismos inevitáveis que, na terra, como nos espaços indefini- dos, como na vida da Humanidade se sucedem, mar- cando transições aparentemente bruscas, embora sejam realmente fatal consequência de prolongadas e com- plexas gestações. Foram violentas, e até sangrentas, as lutas que por essa época assolarain a Pátria portuguesa, t ende»  tes a consumar a transformação de um regime ao qual Portugal ficou devendo serviços de supremo valor, mas que perdera a oportunidade, noutro harmónico com O espírito da época, O qual também produziu apreciados frutos, mas de duração relativamente efé- mera, tão veloztnente vai aumentando a acelaraçào do tempo social. As convulsões, que sempre sucedem a tais abalos, ainda persistiram por algum tempo, mas, finalmente, em 1851, quando a juventude se anunciava para Mar- tins Sarmento de energia vibrante, o equilíbrio tinha sido atingido, e Martins pôde gozar de uma situação de pacífica tranquilidade nacional durante cerca de 40 anos, a qual aproveitou desde os 18 até aos 58 anos, por assim dizer durante todo O tempo da sua mais eficaz actuação, visto que, infelizmente, temos a lamentar a perda da sua extraordinária capacidade em 1899, com ÕÕ anos de idade, exactamente quando já se encastelavam adensadas nuvens carregadas de paixões violentas, prestes a desencadearem temerosas tempestades, não só para Portugal, mas até para tida a Humanidade. Felizmente Martins Sarmento tinha tido a fortuna de realizar uma obra completa, melhor direi, muitas obras, porquanto a sua actividade intelectual afirmou- -se em variados ramos, inclusive no campo puramente literário. Contudo foi principalmente na investigação pire-histórica que a obra de Martins Sarmento adqui- riu direito a profunda consideração. Com justificada Í CENTENÁRIO DE MARTINS SARMENTO 79 razão pode este sábio investigador ser considerado o ÉTico-Brahe da pire-história portuguesa, e é certo que embora várias teorias se devam a este sábio astrónomo, até a concepção de um sistema planetário com que pretendeu harmonizar as divergências scientíficas, o seu especial valor reside 110 grande rigor das suas observações, realizadas com instrumentos rudimenta- res, visto que então ainda não cornpreendíam peças ópticas, cuja aplicação se deve a Galileu. Demais para a sciência da Humanidade creio que ainda não apare- ceu O .Kepler que tenha deduzido as leis das órbitas humanas, baseadas 11a observação individual dos actos, e muito menos o Newton que tenha estabele- cido a lei geral que rege as órbitas sociais, que per- mita prever os acontecimentos futuros e constatar os passados, o qual possivelmente nunca existirá. Não me pertence entrar em detalhes sabre a obra de Martins Sarmento, tarefa reservada aos especialistas que, tão distintamente como o meu sábio colega e amigo Dr. Mendes Corria, dispõem sobejamente dos recursos precisos para dela se ocuparem, é, porém, para mim muito grato poder consignar que O Instituto de Coimbra, a que tenho a honra de presidir, teve a distinção de possuir entre os seus membros honorá- rios o sábio Martins Sarmento, que enriqueceu a Revista do Instituto com preciosos artigos. Ainda desejo observar que ao nosso ilustre home- nageado se deve a grande consolação que o nosso espírito experimenta ao assistir à comovida e grandiosa comemoração que se está desenrolando, a qual prova as duas asserções que principiei por enunciar. --- a grandeza moral e intelectual de Martins Sarmento. Tôda a nação portuguesa acompanha com entusiasmo esta manifestação, orgulhosa por ter possuído tão eminente vulto scientífico. Assim o demonstra a repre- sentação do Governo da Nação, a cargo do Ilustre Director Geral do Ensino Superior, Sr. Dr. Dias Costa, como delegado de Sua Excelência o Senhor Ministro da Instrução Pública. Impressiona o cari- nho com que esta região constantemente tem rendido homenagem ao patrício ilustre que tão grande prestí- gio lhe dá. Pela minha parte, quero ainda cumprir o 80 REVISTA DE GVIMAHÃES grato dever de testemunhar em nome do Instituto de Coimbra, e pessoalmente, o mais profundo respeito e admiração pelo sábio incansável que foi Martins Sarmento, e o nosso constante reconhecimento às delicadas atenções que esta nobre cidade de Guima- rães, e, especialmente, a Sociedade Martins Sarmento, nos tem prodigalizado. I . 

Comemoração Solene do Nascimento de Martins Sarmento. Discurso de homenagem a M. Sarmento, pronunciado pelo Prf. Dr. Francisco Miranda da Costa Lobo, Presidente do "Instituto" e director do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra.

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Comemoração Solene do Nascimento de Martins Sarmento. Discurso de homenagem a M. Sarmento, pronunciado pelo Prf. Dr. Francisco Miranda da Costa Lobo, Presidente do "Instituto" e director do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra.

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