LIMA, Fernando de Castro Pires de

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Casa de Sarmento

 Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: geral@csarmento.uminho.pt URL:  www.csarmento.uminho.pt  Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.  https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/             Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento     O CERÔTO, POEMA HERÓI-CÓMICO POR VENÂNCIO DE MATAMÁ. LIMA, Fernando de Castro Pires de Ano: 1931 | Número: 41  Como citar este documento: LIMA, Fernando de Castro Pires de, O Cerôto, poema herói-cómico por Venâncio de Matamá. Revista de Guimarães, 41 (3) Jul.-Set. 1931, p. 197-200.  fi casa sarmento de centro do estudos do patrimÓr¬io @®®O U GERÚTO", POEMA HERÓI-GÚMICO p o r  V E N Â N C I O  D E  M A T A M Á  Entre a centena de poemas herói~cómicos portugueses registados por Àlberto Pimentel (*), conta-se O Cerco, poemeto em quatro cantos, de que muito se fala ainda hoje na região ein que foi escrito. Referindo~se a ele, diz aquele escritor: *Dana é que 'faltem ao poema as notas precisas para desembrulharmos as suas alusões pessoais, mormente porque a composição tem valor literário.›› Um feliz acaso deu-nos ensejo a conhecer um pouco O seu autor e a génese do poema, por isso, vimos escla- recer esses pontos. O autor de O Cerõfo foi o D." Luís José de Oliveira Nascimento, de S. Simão de Novais, concelho de Vila Nova de Famalicão, distinto orador sagrado, que morreu subitamente em 1901, quando desempenhava as funções de pároco da freguesia de S. Mateus de Oliveira, do mesmo concelho. *Venâncio de Matamã› é um mero pseu- dônimo e /Vlafamá é o nome de uma quinta da freguesia próxima de Bairro. A personagem principal do poema ê o farmacêutico Luis de Sousa Gonçalves, natural de Santa Marinha de Costa, concelho de Guimarães, que veio estabelecer-se em tempos em Dèlães. A sua farmácia ainda hoje existe e pertence ao Snr. Joaquim Higino Ferreira Veloso. O Gonçalves nasceu a 4 de Maio de 1856, falecendo a 9 de Março de 1895. O Sm. José Fernandes da Silva, a quem é dedicado o poema, era seu criado, a quem o autor consagrava grande afecto. Foi vitimado, há anos, por uma lesão cardíaca. e O (*) Àlberfo Dimeníel. Poemas herÔ¡~cómicos portugueses, (verbêíes apostilas). Dôrío, s. d. 198 TIl*Í"\*J STA DE G\'1]\[AR Xlas A Dono da Pisca é uma ponte minúscula que se en- contra à saída de.Guimarãe5 e a Donde de 5anƒÀna alra- vessa o Rio Ave, ligando as freguesias de Riba d'Ave e Sarei/Âna de Oliveira. Essa região, outrora árida e despovoada, é hoje a sede de um irnporianíissimo centro industrial. Em ambas as margens do Rio Ave levantam~se foi numerosas fábri* cas de Íecidos de algodão e ricos palácios, onde habitam roprieiários. í OS seus p Pusmil é um lugarejo da freguesia de Dèlães, onde brota uma conte rústica. Perto de Dusmil estabeleceu Gonçalves a sua farmácia. Pica era o proprietário de Imã  quinta do mesmo nome, situada unto da igreja de Úèlães. Chamava-se Jerónimo da Costa Rodrigues e era antigo soldado miguelista. Francisco José Machado era o tabelião do antigo Julgado de Dèlães. A Engrácia do Pomar parece que era um criado do farmacêutico. Salasar e Ábreu eram proprietários de casas importantes daquela região. Os .Salasares eram de Pedome e os Àbreus de Sistelo (Santa Maria de Oliveira). Eram todos politicos assanhados. o D.*= Luís do N fá ascimento era muito amigo e companheiro de divertimentos do boticário Gonçalves. Eram correligionários politicas, militando ambos no par- tido regenerador. Um dia o farmacén*ico mudou de @par- lido e o seu amigo D.e Luís não lhe perdoou a acção, resolvendo castiga-lo. E' esta a génese de O Cerôfo, poema que foi escrito muito tempo antes de publicado. O sobrinho do seu autor, o meu amigo Rev. D. Luis Maria de Qliveira Nascimento, da casa do Àrieiro, Rui- vães, concelho de Famalicão, adquiriu há pouco o prirni~ tive manuscrito de O Cerco. Teve a inabilidade de mo emprestar e eu, confrontando-o com um exemplar impresso, verifiquei que eles diferem muito. O manuscrito é muito mais extenso. O DF Luis do Nascimento refundiu muito a sua obra quando se decidiu a publica-la. Suprimiu muitas estâncias e alterou outras, mais ou menos profundamente. No primitivo poema, as alusões eram mais numerosas e mais incisivas. Confronte-se, para exemplo, a estância XIII do canto I c • «U LERÔTO» do poema publicado com a estância XII do mesmo eônío do manuscrito : F Coça largueza de vistas costun1a~{"a, Santo fhvrso eternisa, dum noíavel, Na pedra íõsca e bruta, afeiçoada À imagem, tal qual era o memoravel - Na pedra - que na Éauâa apayxonaâa Da híslória ficaria indecitravel . . . Mas quem, como Pusmil, tem lá no centro Um verão que as dê todas para dentro ! ! !  XII Bares [em Santo Thyrso e o Cara Linda : Tem o Frises com Anjos em chá o`Iidos ; Tem o Pelado e em outros ainda, Todos <i'honras em graus quilo subidos ; (houves frades); parece que é inunda Esta ela, brazões assim luzidos : Mas não em, só Delães em em seu seio Senador que lhas dá fedas em cheio ! ! I No manuscrito vêem-se diversas referências satiricas a vários indivíduos de Braga, Guimarães, Famalicão, etc. O Cerôío fala erradamente em Deniebe. Era Denide que o autor quis dizer. Trata-se de um monte muito pedregoso, situado junto da igreja de Dèlães. O Rev. Abade desta freguesia, que me forneceu vários esclare- eirnentos para estas notas, informou-me que nesse monte apareceu em tempo uma ara de sacrifícios, q.ue foi vista pelo Abade de Tàgilde. Perto fica o monte de S. Miguel~ ~o~Anjo, onde se encontram muitos vestígios de um castro luso-romano (Q). O poema foi lido pelo autor numa reüniâo de padres, em Março de 1890, em 5. Miguel das Aves. Todos aeon~ se la ram o autor a publicá~lo, mas o Abade de Serzedelo, (2) J. À. Pires de Lima. Uma vísila ao monte de S. Mzguel-o~ ~Ánjo. (Trabalhos da Sociedade Doríuguesa de .Ànfropologia I Efno- grafia, HI, 4). XIII 199 I 200 REVISTA DE GYIMARKES \ ainda hoje vivo, Rev. Francisco Manuel Barbosa, foi de opinião que o livro não saísse em vida do farmacêutico. O autor conformou-se com essa opinião e só O publi- cou oiço anos mais Íarde, depois da m o r e  do proíagonisia. Muito agradeço os esclarecimentos que, para êsie artigo, me forneceram os meus amigos Rev." Abade de Dèlães e DF Luis do Nascimento. FERNANDO DE CASTRO D1R1¿5 DE LIMA. S. Simão de Novais--Ouíubro de 1950. e I I . I  

O Cerôto, poema herói-cómico por Venâncio de Matamá.

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