PINA, Luís de

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Casa de Sarmento

 Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: geral@csarmento.uminho.pt URL:  www.csarmento.uminho.pt  Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.  https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/     Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento    O ROMÂNICO NO CONCELHO DE GUIMARÃES. V IGREJA DE SÃO PEDRO DE POLVOREIRA. PINA, Luís de Ano: 1929 | Número: 39   Como citar este documento: PINA, Luís de, O Românico no concelho de Guimarães. V Igreja de São Pedro de Polvoreira. Revista de Guimarães, 39 (3-4) Jul.-Dez. 1929, p. 182-189.  | I I i I | I . , i  . -\i i I v 0 Românico no concelho de Guimarães 1 I 1, ¡ .. V I L 1 ` 4 I I A igreja de S. Pedro de PoIvoreira n ›. I I 1 i I ‹ Entre as freguesias de S. Vicente de Mascotelos e Santo Estêvão de Urgeses., a Norte, S. Salvador de Pinheiro . e Santa Eulália de Pentieiros, a Este, S. Cipriano f de Taboadeloe Santa Maria de Incas, a Sul; e Santa Eulália de Nespereira, a Oeste,"está a fre- guesia de S. Pedro de Polvoreira. A sua igreja assenta no cimo dum mirro, cujas fadas são riscadas, a Nas- cente, pela estrada de Guimarães a Gémeos, e a Poente pelo caminho de ferro e pela estrada que daquela cidade leva ao Pôrto. . . - ` . Foi este monte outrora moradia de populações prè- e proto-históricas, a tal se referindo Sarmento em várias passagens dos seus trabalhos. Nos ~Materiaes para a archeologia do Concelho de Guimarães» (1), indica-nos as investigações que realizou nesse monte e terras próximas, tendo encontrado nestas (Lujó «parte austral do monte de Polvoreira››) vestígios de um «castro ou cousa que 0 Vallzav. Por aí «tanto no cimo do monte, como pelas suas vertentes, sobretudo pela vertente oriental, fragmentos de telha romana, fragmentos de louça egual á da Citanta, são extre- mamente vulgares á superficie. . . v .  «Estes vestígios duma povoação, que não devera ser pequena, vão rareando, quando se marcha para o sul pela espinha do monte .e cessam inteiramente, desde que se entra no Lujó propriamente dito". , . M. Sarmento hesitou tem chamar Castro ao cabeço de Polvoreira, mas desconfiava de certos acidentes de Í I e is I i 1 I I .I I z I c 183 I I .  ~l 'I I 1 I I 1 ), la l I I terreno que «nada t e m  de naturaes» (2), Bastante cerâmica ,e telha aí também encontrou, Colhendo a , lenda de guerras entre mouros da Penha e; de Pol- voreira, batendo-se rijamente à pedrada (3). r 1 Pinho Leal afirma que «no monte da Polvoreira, proximo ás Caldas de Vizella, ha um dolmen» (*). Vilhena Barbosareforça, pelas mesmas palavras, esta asserção (5)`. iA estas se referiu José .CaldaS na g_a sessão do Congresso Internacional de AntrOpologia e Arqueologia 'Pire-historicas (1880), nada dizendo sabre a sua veracidade (Ô). ‹ 1 , w Em Folvoreira existe uma propriedade denomi- nada do Carvalho de Arca; perto, mas já na freguesia de S. Salvador de Pinheiro, outras duas herdades se chamam Arca do Meio e Arca de Baixo: Estas desi- gnações populares ¿não estarão lembrando a existên- cia, por aqueles sítios, de um ou mais dolmens, hoje destruídos? Quem sabe! Da Gruta dos Mouros no Lujó, queztanto preocupa* a atenção do povo, dizia M. Sarmento «ser possivel, senão provavelv, ter pa- tenteado alguns objectos de pedra polida, como gruta sepulcral que lhe pareceu ser (Ç No mesmo uma-lasca de granito, alguns carvões, tudo no sopé de Íuma fraga, consoante o informaram (**). Isto O levara a pensar que ali seria o cemitério do povoado de Polvoreira, Se a este se queria referir Sarmento quando falava «na outra extre- midade do monte» (9), Também colheu Sarmento a tradição da existência dum penedo baloiçante, já refe- rido por Fereira Caldas, que no entanto não logrou ver (10), nota curiosa pela importância que actualmente estão . adquirindo tais megalitosí para 0 estudo da pro-história. , . I . ê No entanto, nada de positivo adiantou. Por mim, que calcurriei algumas 'vezes .aqueles lugares à. cata das particularidades:indicadas *por Sarmento e outros, especialmente ~o dólmen, por aquela extensão de terras enconchadasmo as de Irias, Polvoreira e Pinheiro, so posso dizer que as não encontrei, nem delas logrei informe. E' possível que em novo espiolhar alguma cousa tope de jeito, quando se me oferecer ocasiao, nos escassos momentos de folgamos meus deveres profis- I E I . . - o no1~1$ànI¡:0 NO CONCELHO DE GUIMARAES | ¬ I . Lujá apareceram sob triângulo compreendido entre as igre- I I *F Í I i I I I I 184 ' 'REVISTA DE *evmânãzs I ! I I I I t . sionais e oficiais. Contudo,¡são realmente abundantes , por aquelas paragens OS zíragmentos de cerâmica, '-tijolo, etc. Enfim, tudo o que venho referindo diz respeito indirectamente à Igreja que neste artigozinho .apresento aos leitores. l - 3 = ‹ Como é sabido e os' factos' vão. demonstrando, os cristãos elevaram a morparte dos seus templos primitivos nos mesmos locais em que o paganismo erigira os seus, às vezes sabre as suas próprias ruínas. Isso tem sido verificado em muitos castres, como por ex., sem irmos fora do concelho de Guimarães, na Penha (ermida 'de S. Mamede), Citânia de Briteiros (ermida de S. Romão), Infías (igreja de ln fias), etc; A este propósito, e referindo-se a esta última, Sar- ' mento fala na situação da de S. Pedro de Polvoreira, no cimo do monte do mesmo nome, pretenso castro, dizendo: Se daqui se contasse noticia identica á do templo pagão d'lnfias, feriamos de rejeital-a sem pro- vas claras, mas sempre accrescentariamos que a sua posição era um indício que valia por uma prova. Não existe tal noticia, nem através das reedificações da egreja de Poivoreira escapou cousa alguma, que denun- cie a grande antiguidade que decert‹¿,tem~ (**). " *1 Qual seja essa antigo=dade, não sabemos: â E'1 pos- sível, porém, que a actual igreja seja uma reconstru- .. lçäo da primitiva, da qual não colhizaindaznotícias. ; As mais antigas referências.que encontrei a S. Pe- dro* de.Polvoreira.são do, século XIII (1220) e lêem-se nas Inquirições do rei D. Afonso IIÍ: I -  . D e  parrochia Sancti Petri de Polvoreira. Geraldus julian Preta- I I Hic incípit inquísitio Ecclesie, etc.. .. (13), E' curioso que nestas últimas Inquirições se nomeiam os prelados da dita igreja: flüunsalvus johannis, juratus eu inter- rogatus cujas est ipsa Ecclesia, dixit quota semper íllam abbadaverunt herdatores eu guberfzatores ipsius Ecclesie, et post morem Dompni Giraidi, qui fui iode prelatura, venial Dompnus Egidius Martini. eu dedit illam suo vicario Gonsalvo Egeqm. › Na colectânea «Vimaranis Monvmenta Historicaw, registou o Abade de Tàgilde a seguinte nota a propó- sito da igreja de Polvoreira: «Em 30 fAbri l  de 1345 tos,etc.... (42) e.fnas'de D. Afonso III (1258) 5 r I I I Está levantada a igreja de S. Pedro de Polvoreiraz no cume do cerro do mesmo nome, entre a residência abacial e o pequeno cemitério. E' uma construção de regulares dimensões, muitíssimo danificada, comovera de esperar, na sua primitiva traça. A começar pela frontaria, nota-se-lhe um acréscimo para a esquerda, pesado remendo de cantaria que sustenta, ao alto, 0 campanário de três janelas de arcos redondos, banal e moderno (século XVIII), para ele dá acesso um alto lanço de escadas de cantaria, para cujo assentamento serviu o referido acréscimo (I. Fig. 1.fi), . A frontaria está voltada a . oeste, não apresen- tando as características linhas das igrejas do género, parecendo uma obra inacabada, inestético, desagra- dável. Quisi ao centro, abre-se uma vulgaríssima janela quadrangular, com seu caixilho de vidro. A parte mais importante, por ser a mais antiga, é a u porta principal, molduras, de arco levemente quebrado; este e constituído por duas D. Theresa Martins, mulher de D. Afƒonso Sanches, .z . e seu filho D. joão Affonso d'Albuquerque, com bene- . . placito d'El-Rei D. Diniz, por escritura feito em Lis¬=" . . boa, doaram ás freiras de Santa Clara de Villa do 1 Conde o padroado 'desta Egreja (Arch. ida Com. Ecc. de z: Braga, Estados Egrejarios, maço 1.° da' letra P.) (m). . Sôbre O mesmo assunto diz Pinho I_eal: «As reli- giosas de Santa Clara (franciscanas) de Villa do Conde apresentavam, in solidum, o abbade, que tinha 450.000 reis de rendimento annual» (45). E' claro que O autor refere-se ao abade de S. Pedro de Polvoreira. › - l 2Q0 refe- rem-se também a freguesia, nestes termos: u -ƒregue- sia de Sam p r o  de poluoreira e casa. . .›› (W). Eis as notícias que pude colher sabre esta igreja; fraca é a colheita, porém o arquivo paroquial não existe, ou, se existe, nada vale, afirmou-me O seu último e falecido abade P.° José. Vejamos, c.ontudo, o que nos segredam as pedras da vetusta igreja rural, por forma a obtermos os dados que os documentos escritos não forneceram. _ As Inquirições Gerais de D. Denis o~ ROMÃNICO NO CONCELHO DE GUIMARÃES sem tímpano, sem I . * 185 J Q I | ¡ - °¬ . L I é . - r. 'I Ê* 4 ¿ I *W ,Já l r  'I L... ..3 ê~ * i  ?s i .::¡ l 1*l. i I 5 I 1 I ÚW HI ‹~f\1 I li=là5 l W lã I N H' 1h II I I II W 'w.fl.='1 ia. c I. h..*§ uuL.L1 ..-J.l'I I i =L o` ROMÂNICID NO CONCELIÍU DE GU1MARÂES 187 ‹ â I !  I I i Ê . ê ; I I l E : : arquivoltas, de arestas agudas, esquadriadas. E. . . nada mais! . . As paredes sul e norte são as partes da igreja que nos revelam elementos nitidamente romanicos. Na face sul rasga-se também um pórtico de arco que- brado, singelíssimo, com .timpano assente em pilastras lisas. Como na zporta principal, é total a ausencia de gravuras ou esculturas (II. Fig. 1."). Ao nível do ângulo do seu arco existem três pequenos modilhões lisos, que sustentavam 'um alpendre modesto, entre dois . deles rasga-se uma fresta de troneira, primitiva, seme- lhante a uma outra da face Norte. O beiral . da parede que vinha tratando assenta sobre uma fiada de dezoito modilhões, a mor parte .deles lisos. Alguns, contudo, são de almofada (III. F1g.=1.*), dois, escul- pidos, apresentam ramos de árvore, assuntos realistas tão repetidos na arte românica (V. Fig. 1.*). A esta - ¬ ' tia sem valor. parede Sul encosta se uma vulgar sacrls ,. Passemos à lace Norte, à qual está arrimada uma pequena capelinha da Senhora do Rosário, curiosa por ser tida forrada a azulejos de diversa época e matizes diferentes, alguns deles valiosos, Como bre‹ vertente se poderá verificar no pequeno estudo que deles estou fazendo. Para essa. capela' entra-se, do corpo da igreja, por uma porta à primeira vista vul- gar, mas que mostra indícios de ser semelhante à que descrevi na face Sul, que lhe fica mais ou menos em frente. Presentemente, a caliço e a argamassa cobrem- lhelo arco e o tímpano, se o tem! : A meio da altura desta parede vê-se um modi- lhão singelo, análogo aos que ficam sabre a porta.do lado sul. A cornna, simples, em que assenta o beiral norte, repoisa também sobre uma fila de vinte e tres modilhões idênticos aos do sul; somente dois são historiados: um, ostenta uma flor grosseira de oito pétalas (IV. Fig. La); o outro, talvez uma filha vege tal espalmada ou parte de outra rosácea (IV. Fig. 1.*=). Os restantes modilhões almofadados assemelham-se a tantos outros de igrejas romanas vimaranenses, como a Colegiada da Oliveira, S. Salvador de Pinheiro, etc. Os outros, lisos, aproximam-se bastante da forma dos existentes noutras igrejas do Concelho, como Í a i I I -  ¡ :  . I . i r l I › I I  I 1 188 REVISTA DE GVIHABÃES I I z I S. Miguel do= Castelo, S. Cipriano de j Taboadelo, Santa Eulália de Fentieiros, Santa Cristina de Serze- .delo e S. Miguel de Serzedo, como se ,verá quando ` ¡destas igrejas tratar nos próximos números desta Revista. Exteriormente, nadasse revela digno de atenção, nesta igreja de S. Pedro de Polvoreira, a não ser a cruz rematante do ângulo exterior do transepto, que é de pé e braços curtos, prismáticos, por certo da mesma idade que os outros elementos arquitectónicos referidos. Interiormente, nada da primitiva fábrica se encontra. Se nao fossem as mutilações 'e remen- dagens que esta igreja sofreu, eia seria llm belo exemplar do estilo românico nortenho, por certo ducentista. I B I B L I  O O R A  F I A  I I s I 1-2 Martins Sarmento- Materiaes para a archeologia do concelho de Guimarães. ‹Rcv. de Guimarães N.¡° 4. Vol. II. 1885; Guimarães. : 3 Martins Sarmento - Antiqua. Biblioteca da Soc. Martins Sarmento. Cad. manuscrito n.° 2. i *i v Portugal Antigo e .Moderrzo. Vol. 7.°. 1876. Finho Leal Lisboa. l Vilhena Barbosa - Monumentos de Portugal. .. :18só. Lisboa. = : I I I José Caldas - Archéologie préhistorique dans la province de Minho. Compte-Rendu du Congros International d'Anthropolo- gie et d'Archéologie préhístoriques (1880). Lisboa. 1884. li 7‹8-9~10-11 Martins Sarmento- Materiaes etc. Ob. cit. 12. Vimararzis Mo nvmen ta Historica. Colig. pelo Abade de Tàgilde; Doc. CXCIV. Fars I. 1908. Guimarães. \ I I s e r i ! I I o › .o nome,Ico no CONCELHO DE GUIMARÃES 189 I Í 13 Vimaranis Mo/1. Hist. Ob. cít. Doc; CCLIX. H Vim. Mon. Hist. Ob. cít. Nota a pág. 282. I 15 Pinho Le .al- Ob. cit. - 16 Vimaranis MOÍÍ. Hísi. Ob. cít. Doc. CCLXXVIII. i I Apênd ice  a I I i I I A igreja de S. Salvador de Pinheiro I l I (vol. xxxvl. N_o 4. 1926) I J ¡I! 0 I No estudo que fiz desta igreja na «Revista ide Guimarães" (*) referia-me a uma inscrição que se dizia existir na aduela de um dos seus arcos, facto aliás já indicado há muitos anos pelo grande Martins Sar- mento num dos números da mesma publicação, por estas palavras: u Na reconstrução da igreja de Pinheiro foi aproveitado um lanço da parede do lado do sul, onde havia uma larga porta ogival. Affirma-se que nas aduelas do vel/zo arco existe uma inscripção. Exis- tirá; mas está /zoje completamente sumida debaixo duma crosta de caliço. Pedi ao digno paroc/zo que ƒorcCjasse por tornar bem visivel aquella memoria, pro- vavelmente relacionada com a /2istoria da igreja. Parece porém que a junta de parochia ac/2a esquipa- tica de mais uma tal ideia» -). O abade de Tàgilde igualmente se refere à porta lateral de S. Salvador de Pinheiro e a certa inscrição ao lado da mesma, na parede (3). GraçaS a Deus, fui mais feliz que. M. Sarmento, pois topei com um padre inteligente e de visão clara, ao qual contei a suposição daquele arqueólogo e a z i I . I : I I 1. r I I I I I I i I E S I 

O Românico no concelho de Guimarães. V Igreja de São Pedro de Polvoreira.

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O Românico no concelho de Guimarães. V Igreja de São Pedro de Polvoreira.

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