FERREIRA, A. Justino

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Casa de Sarmento

 Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: geral@csarmento.uminho.pt URL:  www.csarmento.uminho.pt  Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.  https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/     Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento    APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DA INSTRUÇÃO PRIMÁRIA NO CONCELHO DE GUIMARÃES. FERREIRA, A. Justino Ano: 1911 | Número: 28   Como citar este documento: FERREIRA, A. Justino, Apontamentos para a história da instrução primária no concelho de Guimarães. Revista de Guimarães, 28 (3-4) Jul.-Dez. 1911, p. 97-105.  --I casa sarmento de I 1-.; I ® ® ® ®  APONTAMENTOS PARA A À HISTORIA DA INSTRÚCÇÃO PRIMARIA NO co\cnmio DE GUIMARÃES ` 1. 0m amigo, a quem muito preso, pediu-me alguns dados estatísticos sobre a instrucção primária no concelho de Guima- rães, nos ultimos anos, para serem publicados nesta interes- sante REVISTA, Não podendo deixar d'aceder a tão cativante convite, vou tentar satisfazer os desejos d'aquelle meu boro amigo, consoante m o  permitirem os elementos que possuo. Tomarei corno ponto de partida 1907, data desde quando me encontro 8 testa deste circulo escolar. Até aí escasseiain os dados em que possa basear-me para um estudo conscien- cioso. Tem o concelho de Guimarães, segundo o censo de leoa, uma população de facto de 5-1:273 almas, agrupadas em oi- tenta freguezias, distribuidas estas por uma superfície quilo- métrica de 257,10. 0 numero d'escolas existentes naquela data, 1907, era de quarenta e oito, sendo dezenove do sexo masculino, oito do feminino e vinte e uma mistas, mas apenas devemos con- tar vinte destas ultimas, porquanto, uma, apesar de criada ha mais de doze anos, nunca tinha sido posta a funcionar, ernizâira estivesse provida e fossem abonados os respectivos vencimentos á professora. Uma bela ajuda de custo. que não era para despresar, a quem só tinha o trabalho de, no íifn de cada mes, preencher o recibo e mandar a tesouraria cobrar o ordenado. Ás veses dava-se o caso d'alguem, por artes mági- cas, ter-se já. antecipado nessa missão, decerto no iouvavel 28.0 Amuo. 'I tl96 a Ú*JÍ:Íz intuito d'aliviar de toes canceras a felis professora, sem es- cola, e, quando tal sucedia, tombem sem proventos. Mas adiante. . . Até á proclamação da República, apenas se criaram qua- tro escolas, desde aquela data, sendo uma para o sexo mas- culino, duas para o feminino e uma mista. Além disso foi convertida em feminina e posta funcio- nar a tal mista a que acabo de me referir. Teriamos, pois, um total de cincoenta e duas escolas se não houvesse a considerar que as quatro desta cidade (duas de cada sexo) foram convertidas em duas centraes, ficando, portanto, aquele número reduzido a cincoenta, isto é, deze- nove do sexo masculino, incluindo uma central, dez do fe- minino, incluindo tombem uma central, e vinte e uma mistas. Depois da proclamação da Republica, criaram-se trinta .e sete escolas, sendo treze para o sexo masculino, tres das quaes resultaram do desdobramento doutras tantas mistas, quinze para o sexo feminino e nove mistas. Além disso, tres das do sexo masculino, que então exis- tiam em freguezias pouco populosas, firam convertidas em mistas. Resulta, pois, que atualmente o número descolas primá- rias no concelho de Guimarães eleva-se a oitenta e sete, sendo vinte e nove do sexo masculino, vinte e oito do feminino e trinta mistas. É certo que nem todas podem ser postas a fun- cionar desde já. por vários motivos, como sejam a falta d'edi- ficios em condições, poucos recursos para acquisição de me- bilia e de material d'ensino, etc. No entanto, se da parte das corporações administrativas, auxiliadas pela iniciativa particular, houver boa vontade, como creio que a haja, dentro de dois anos, pelo menos, po- dem ser todas postas a funcionar. E então já o ensino obrigatorio se deve considerar um facto, e averiguar-se-lia da necessidade ou não de se criarem mais escolas ou (le se modificar a distribuição das existentes. A atual ~issão municipal administrativa do concelho de Guimarães é digna dos nossos sinceros aplausos pelo en- tranhado amor com que sempre tem atendido as questões d'instrucção e a ela se deve, á sua anuencia, a criação d'aquelas escolas, algumas das quaes vão começar a funcio- nar muito . .Bem haja, porisso. Assim ela continue sempre na mesma orir mação, e que as camaras suas sucessoras lhe sigam o exerngl- sao estes os nossos votos mais sinceros. b re VE; h E0 Q uI vã L-‹ ce = H H ii ea n l I oo ca eo L*-. O I - I r - 1  O oo C\l p* "O QD ol 16 b- N é ú .›‹ O o 5 v ea f.‹ CÁ-‹ à u z hã o UI ao TO ou oo U.) m <r‹ CÁ m l I rã n u c a  W m a  e - « v - ‹ ¡ - ‹  e - f r - ‹  1-1 â zé H cá .-. 5 H C! .›-‹ u a o ø C' GJ H Cz. / m IS CD w LN E* oo L×- m cs oa |>- oo ' IO D- L\ y"l m Q Qd m' v - i p - - 1  l z l / D- cz) m <r‹ O O oo CÁ m á m pá O Õ r-‹ CO 1 - i v ' - l v ¬  v--4 v-‹ oo w Q giz li* D ro ss â L. 0 as Q 5 rã O O H gt? a a : z m d o O sa. H 99 os ... 'rs -o a l l . 'HH . rã CD Q: m co oo ¬=r‹ m o IO o Í.\- P' z-‹ [¬-1 L» IO lã' b¬- é zé oo m Giz O ‹t‹ ln-1 ' 1  I .  o o CH v-1 eo CD Ç; ¬=j-1 m p-1 F-'I IS" .  qq O s: 0 :: U' 0 E-‹ EH 1-I I - ¬ l - ‹  ; U q-1 m C \ ‹ c \ .  'd* D- cf: oo O *Tê m m CD QQ cu má cz) LT: cu m OG e OS 2; H U  :J u 0: Q pá š o :-‹ 3 GJ 8 S-s ~:: z ã rá 1 a- C \ ‹  II*-I w qq m vá O 10 co' won /.\- Êfí m c) CJ L*-: cá*.) Í . . . n . . . . . • . . . . . . Q ¡ . . . 1 • . . . • I . . w O O Y-Í v-‹ L Ã ‹  O O  o c :  r - 4 ! - 4  G) 'CS vá c m o  C D v - 4  c m o  V - 4 r - I  v-1 I I QD o C? L O Q w o cu cá O Q I _o ñ 2 <=¬ 7-1 Cá p-1 ¬-‹ v-1 Y-4 v-‹1 ø I I I I I I I * 100 * 0 quadro atroz (pag. 99) dá-nos uma i d a  clara e aproxi- madamente exacta do movimento escolar no concelho de Gui- marães, desde que me encontro 8 frente deste circulo. Digo aproximadamente exacta, porquaNto no último ano letivo es- tiveram encerradas-cinco escolas, o que influe sobremaneira nas percentagens achadas, reduzindo-as, se tal facto se não houvesse dado, maior tinha sido o número de crianças matri- culadas, maior a frequencia, etc. ` A percentagem d'augmento de crianças matriculadas desde maio de 1907 a Outubro de 1911 foi de 71,9 no sexo masculino e 154,7 no feminino; -a da frequencia re- gular foi de 44,3 no sexo masculino e 117,4 no feminino ; a da frequencia média de 44 no sexo masculino e 96,2 no fe- minino. Considerando tão somente as escolas desta cidade, que eram quatro em maio de 1907, sendo duas para cada sexo, atualmente transformadas em duas rentraes, temos que naquela data estavam matriculados nas do sexo masculino cento e dois alunos, com uma frequencia regular de oitenta e tres, a irre- gular de dezenove, sendo a média de frequencia de oitenta ; nas do feminino achavam-se matriculadas cio:oenta e tres crianças com uma frequencia regular de quarenta e seis, a irregular de sete e a média de quarenta e cinco. N último ano letivo, a matricula na escola central para O sexo masculino elevou-se a duzentos e sessenta e uma crian- ças, sendo a frequencia regular de cento e cincoenta e oito, a irregular de trinta e tres e a média de cento e oitenta e seis; na do sexo feminino foi de cento e cincoenta e sete o número de crianças rnatdculadas, com uma frequencia regular de cento e seis, a irregular de trinta e quatro e a média de noventa e nove. Na primeira, a .percentagem d'assento de matriculas foi de 155,8,= e de 196,2 na segunda; na frequencia regular, deu-se o augmeuto, respectivamente, de 90,3 e l30,«i, na média, esse aumento é de noventa e cinco no sexo mascu- lino e cento e vinte no feminino. Tomando como base o último recenseamento, a percenta- gem da população escolar pela superficie quilométrico do con- celho é de 29,1 ; -em relação à população de facto é 0,l37; -em relação ao numero descolas, de 149,G;-em n130,4, ,1 ; \L'J eo <u-ú v - 1 N  cá om o ~‹1‹ z.: zé ea co D- r.- cá Q; cu oo o nó v-4 D o 'ã '2 › 'Oi o o a 1-‹ u u o 'U á zs I I a â ou ea -‹ zé: Nó. vá --‹ m co Í ‹‹-É zé I › co oo D- AÍ G\I C\I v-4 á zé m o -cu às › o Is Q ‹=1 r-4 ~ ‹ : t ‹ : n ( n  I f á  m à rã' ca ¬I¬ cê co m v-1 v-1 cu fi‹ D* G: fi* F-1 54-1 ad Í o ea a as ..‹ u G S on o 'U ea u o n a a o o m o 'U es > o i-1 Q. ‹n l o .Ê +-› c. o Q O aa Q m u o == â a a : a z m O -a H-‹ ro oo 'YU ® v-1 ¬-r v--‹ C\II PO :O á at oo cá lN O OD oo : n o  e - - ‹ m  e - ‹ H  v-‹ as ‹.› o Q. H I I • L» o CD n . • . • . . oo O: O -4 O Q v-0 1-4 CÁ m C; ca v-‹ ,-4 vá v-4 v-‹ é vi eo C\l L - c r :  m m  OS ‹1‹ XO *H vós rá em ( 3 0 7  O r- vá I - I v - Q u - d r - ‹  à w m N - ‹ \ e : I > ¬ - o u  * C \ 1 0 0 *  -.z rá su r . ~ r : - * fi c n  v-1 â at C O K E U  I-‹ : o c o  M H  eo (N 101 : as $4 em 0 0 FÁ o 'C1 ui 0 E as H H ‹.; zé ‹ à m o -o v-. g eu o " :-‹ ° Q. E :Q m Q '0 m I 1 | tá C\ll I I s ‹..: /5 i i a õâ h ea ia .. os m r'-I v-4 eo H á rá | m O 'U as › o .-. D‹ o nó: á ui I IO oo |>- IO --I I ‹..: . ro 0 -5 .. =â E: 4: u I  o Q u  E ã ou ra vn o 'U d › o I-I Ou ‹ o nó u- zé eo ou -#1 mo 1--1 n 83 .s -u a o O é m l 1 Fi FÁ 'd* O ua Q v-1 v-4 OS a eu ag 8: u g o  0 m v-1 ‹‹ ~=l‹ o oo 'n eo â cu I Í :H m . a ú i V . zé o o GIZ ra n I I . • . I n . • I I I I I • • • • I • • . . I • • O I I • • • • • • L×- O m cv O CD oo o G - ‹ :  Q; c u m  p á * r ' - Í r fl  m m  m m  N --I eo oo m eo C H I * - d i  p - ( I - 1  o (N I 1 á :o p-1 -4 EN o co P' cu w ol rá ‹.; c/8 C Y 3 C \ 1 C D < l ' l \ 1 ' >  109 103 relação ao numero de professores, de 131,3 ; isto é, estão re- censeadas 29,1 crianças por cada quilómetro quadrado , 13,7 por cada cem habitantes , cabem 149,6 a cada escola e 131,3 a cada professor, número excessivamente elevado, 0 que comprova exuberanternente a necessidade de serem postas a funcionar todas as escolas recentemente criadas. Executado esse melhoramento, a percentagem das crian- ças recenseadas em relação ao numero descolas reduz-se a oitenta e seis e a 79,6 por cada professor. É uma percenta- gem muito elevada ainda. Criando-se, porém, mais uma meia ousia descolas e augmentando 0 pessoal docente nas de maior frequencia, nenhuma criança deve deixar de ser compelida á. frequencia, porque o ensino obrigatorio pode ser então um facto. Nus cálculos feitos não se considerou o ensino particular, onde se ministra a instrucção a algumas dezenas de crianças, mormente nesta cidade, porisso estas ultimas percentagens aparecem-nos maiores do que realmente são. $ Chegamos ao ponto mais escabroso, qual é o do resul- tado do ensino expresso nas provas finaes que os alunos prestam perante os jures. Os dois quadres atroz (pag. 101 e 102) sintetisam esses resultados. Como se vê, desde 1907 a 1910 o número d'aluoos das escolas oficiaes, que obtiveram aprovação no exame d'instruc- ção primaria do 1.° grau, foi aumentando sucessivamente, para rlccrescer no último ano letivo. Quanto aos do 2.° grau, no sexo masculino a percenta- gem, com pequenas variantes, manem-se quasi sempre a mesma, e no sexo feminino houve um pequeno aumento. Em relação as matriculas, a percentagem d'aprovações no 1.° grau, em 1907, foi de 4.5 no sexo masculino e 2,3 no feminino, em 1908, foi de 4,7 e 2,7; em 1909, de 6,1 e 3,3 , em 1910, de 5,5 e 3,8,  em 1911, de 4 e 2,7. No 2.° grau, a percentagem foi: em 1907, no sexo mas- culino, de 2,4 e de 0,5 no feminino, em 1908, foi de 1,3 e 0.9,  em 1909, foi de 1,9 e 1,7, em 1910, foi de 1,5 e 1,06, em 1911, 1,6 e 1,5. A média por escolas incluindo as mistas, foi, no sexo masculino: em 1907, de 183, em 1908, de 1,9, em 1909, de 2/4; em 1910, de 2,7, em 1911, de 2. No sexo feminino, 104 sexo incluindo tombem as mistas, foi, em 1907, de 0,4, em 1908, de 0,7; em 1909, de 0,8, em 1910, de 1.3, em 1911, de 1,1. No 2.° grau, em 1907, no sexo masculino, 0,8, e no feminino, 0,1 , em 1908, sexo masculino, 0,5, e no femi- nino, 0,e,  em 1909, no sexo masculino, 0.8, e no femi- nino, 0 ,4 ,  em 1910, no masculino, 0,7, e no femi- nino, 0,3, em 1911, no sexo masculino, 0,8, e no femi- HÍDO, 0,6, Estes resultados, devemos diz-lo, sem rebuços, não correspondem ao sacrifício que o municipio faz, às despezas que a instrucçao popular custa. As escolas, que encontrei desprovidas por completo, acham-se actualmente muito melhoradas. Beneficiou-se a ins- tallação de muitas, adquiriu-se mobília e material d'ensioo para a maioria d'ellas, sendo algumas, como as desta cidade, que encontrei em perfeito estado d'abandono, completamente mobiladas de novo e dotadas de todo 0 material d'ensino in- dispensavel. 0 que havia, arcaico, podre e mau, foi tudo substituido. Já se não pode argumentar que falta tudo nas escolas, porque não falta. As verbas destinadas a mobiliarío e material d'ensino têm sido integralmente aplicadas desde 1907, preferindo-se na distribuição as escolas mais necessitadas e tombem as que mais .produzem. E preciso, pois, que todos trabalhamos e nos esforcemos em levantar a escola primaria, de forma que e la  produza os fructos que todos ambicionamos. 0 analphabetismo predomina , a falta d'educação não pode ser mais sensível. É necessario, pois, que a escola instrua e, sobretudo, que eduque, que forme cidadãos d'8manhã, porque só assim poderemos constituir um povo livre e feliz. Que os resultados produzidos pelas escolas deste con- celho não correspondem ao que seria desesperar, não ba duvida, e senão basta atender a que ha uma escola num. dos conce- lhos que tem per tecido a este circulo, a qual desde 1907 até 191 1 apresentou cento e sete crianças a exame do L' grau e oitenta e tres ao 2.° Quero dizer: a alludida escola, nestes cinco anos, produ- ziu no l.° grau mais do que as cincoenta deste concelho, em cada um dos anos de 1907, 1908, 1909 e 1911 e menos tres do que as mesmas cincoenta produziram em 1910. No o.o grau, a mesma escola produziu mais do dobro, OS 105 naquele periodo, do que as ciucoenta doeste concelho em cada um dos referidos anos. Aponto este facto para que ele sirva d'estimulo a todos aqueles que tem a seu cargo a nobre missão d'educar. Novembro de 1911. A. JUSTINO FERREIRA, Inspector escolar. .~ i I '

Apontamentos para a história da instrução primária no concelho de Guimarães.

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