TRABALHO FEMININO DE CUIDADOS EM SETORES DE SERVIÇO: UMA ANÁLISE DOS EFEITOS SOCIOECONÔMICOS E PSICOSSOCIAIS DA PANDEMIA COVID-19

Abstract

O presente resumo trata da intenção de pesquisa proposta para realização junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Objetiva-se analisar efeitos socioeconômicos e psicossociais da pandemia de Covid-19 em processos de trabalho femininos de cuidado, a partir da análise de ocupações em setores de serviços na interface com as relações de gênero, no município de Criciúma/SC. Para tanto, propõem-se articular pesquisas documental e de campo, respectivamente, por meio de levantamento em bases estatísticas da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), no período de 2020 e 2021, e de entrevistas com trabalhadoras de setores de serviços, no campo dos trabalhos do cuidado e limpeza. A produção de estudos no campo da divisão sexual do trabalho evidencia a extensa participação de mulheres no setor de serviços, configurando-se como maioria da força de trabalho nas seções de ocupações associadas ao cuidado e limpeza, tais como nas áreas da saúde, assistência social e serviços domésticos. Caracterizado pela sua heterogeneidade de atividades e ocupações, de acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o Setor de Serviços comporta as subclasses de Saúde Humana e Serviços Sociais e de Serviços Domésticos, propostas como objeto de análise traduzido pela categoria de trabalhos de cuidado, a partir da definição proposta por Kergoat (2016, p. 17): “como uma relação de serviço, apoio e assistência, remunerada ou não, que implica um sentido de responsabilidade em relação à vida e ao bem-estar de outrem”. No campo do cuidado e da limpeza, sustenta-se uma estrutura de trabalho informal, marcadas pelo racismo e sexismo, que cria e atualiza um grande contingente de “trabalhadoras desempregadas”, conforme palavras de Davis (2016, p. 240). Negar o cuidado como parte da vida seria nocivo ao ideal democrático que transcende a igualdade formal, uma vez que assim é negado também o reconhecimento das necessidades humanas de quem solicita cuidado e as condições de trabalho de quem atende a tais demandas. Biroli (2015) articula o cuidado no campo da democracia, propondo pensar quais sujeitos acessam e como ocorre tal acesso ao cuidado e, além, questionar a dualidade público/privado. Para além do cuidado médico, a gestão da pandemia se sustentou sobre a economia de esgotamento dos corpos pela feminização da indústria da limpeza/cuidado (VERGÈS, 2020). Para a autora, “a análise feminista decolonial antirracista e anticapitalista da gestão dessa pandemia não difere tanto daquela do cuidado e da limpeza, pois ambos são indispensáveis para o funcionamento do mundo.” (VERGÈS, 2020, p. 22). Desta forma, sustenta-se a importância de considerar os atravessamentos de gênero, raça e classe no setor de serviços causados pela pandemia de Covid-19, em articulação com a análise de processos socioeconômicos e psicossociais

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