O propósito deste artigo é discutir de que modo o ente humano está em meio ao oceano da ausência de indigência (Not der Notlosigkeit) e como ele pode atravessá-lo até chegar à serenidade (Gelassenheit). A partir das reflexões de Heidegger, demonstramos que a ausência de indigência é fruto do distanciamento da vigência do ser, na medida em que o homem está no interior da maquinação (Machenschaft). Ao se esquecer da verdade originária, tal homem passa a considerar a si mesmo como o fundamento da realidade, calculando e apoderando-se da natureza. Todavia, Heidegger indica o caminho de relembrança da verdade originária que passa pela serenidade, a partir da qual o ser-aí (Da-sein), graças aos acenos do ser, reconhece o quão pobre e indigente é a sua existência. Nesse sentido, a serenidade em Heidegger, que não pode ser interpretada como uma via de calmaria, aponta para o deslocamento em direção ao “encontro” da Região (Gegnet) (essência re-veladora), onde o ser-aí se torna o apropriado e o acolhedor do ser.