Memoria, J. M. Pompeu

Pellegrino, J.

Portuguese

Cadernos Espinosanos (E-Journal)

Rev. Inst. Med. trop. São Pau.lo 2(6):335-340, novembro-dezembro 1960 A REAÇÃO INTRADÉRM!CA NA ESQUiSTOSSOMOSE MANSONI VI. Comportamento da resposta cutânea após terapêutica específica J. PELLEGRINO e J. M. Pompeu MEMORIA RESUMO A reação intradérmica, com antígenos de cercana, verme adulto e ôvo (S. mansoni), foi praticada em 33 pacientes com esquistossomose mansoni, antes e 1, 2, 4, 6, 9 e 12 meses depois de terem recebido medicação antimania!. De acôrdo com o resultado do tratamento, os pacientes foram divididos em dois grupos: a) não curados ( 17 casos) ; b) possivelmente curados ( 16 casos) . Os resultados não evidenciaram, nos dois grupos, nenhuma tendência para a negati-vação do teste cutâneo até 12 meses após o término do tratamento. Na opinião dos autores, o teste cutâneo não deve ser usado como critério de cura na esquis-tossomose mansoni. INTRODUÇÃO Desde o trabalho inicial de F AIRLEY .& WILLIAMS, em 1927, sabe-se que a reação intradérmica, em pacientes com esquistosso-mose, de regra continua positiva após tra-tamento específico. Í:ste fato tem sido con-firmado por numerosos autores com diver-sos antígenos (MANSON-BAHR 7, TALLIAFERRO .& T ALLIAFERRO 2 2, KHALIL ,& HASSAN 5, Ou-VER:GoNZALEZ .& PRATT 15 , LOPES 6, MAYER .& PIFANO 9• 10 , MARTINS 8 , RODRIGUES DA SIL-VA,& CosTA 21, PESIGAN ,& col. 20, OLIVER-GON-ZALEZ 12, DAVIES .& ELIAKIM 3, OLIVER-GON-ZALEZ, BAUMAN ,& BENENSON 14 ). Entretanto, alguns autores (ALVES .& BLAIR 1, KATZIN ,& MosT 4, MosT ,& col.11 ) admitem que o teste intradérmico se negati-va quando a terapêutica específica é hem sucedida. Para êsses autores, a negativação do teste cutâneo depois do tratamento signi-ficaria a çura da infecção. No presente trabalho serão relatados os resultados da reação intradérmica feita com antígenos de cercária, verme adulto e ôvo (S. mansoni) em pacientes com esquistosso-mose, antes de medicação específica e até 12 meses depois. MATERIAL E METO DOS Casos de esquistossomose. As nossas ob-servações foram feitas em 33 pacientes adul-tos ( 20 a 33 anos de idade) , do sexo mas-culino, com exame de fezes positivo para ovos de S. mansoni. Os pacientes foram selecionados entre elementos da Polícia Mi-litar, sediados em Belo Horizonte. Dadas as atividades e hábitos dos pacientes, as possibilidades de reinfecção após o trata-mento podem ser consideradas como míni-mas. Terapêutica específica. O tratamento dos pacientes foi feito com Triostib (gluconato trivalente de antimônio e sódio) e Sulfan-Inst. Nacional de Endemias Rurais, Centro de Pesquisas de Belo Horizonte e Inst. de Biologia, Fac. de Filosofia da Univ. de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. 335 PELLEGRINO, J. & MEMORIA, J. M. P. - A reação intraclfamica na esquistossomose mansoni. VI. Comportamento ela resposta cutânea após terapêutica éspecífica. Rev. Inst. Mecl. trop. São Paulo 2:335-340, 1960. timon ( dimercapto-succinato de antimônio), de acôrdo com os seguintes esquemas: Triostib: 20 mg/k de pêso, dose total di-vidida em 5 dias; administração endovenosa. Receberam êste tratamento 24 pacientes. Sulfantimon: 40 mg/kg de pêso, dose to-tal dividida em 5 dias; administração por via intramuscular. Receberam êste trata-mento 9 pacientes. O contrôle parasitológico da eficiência te-rapêutica foi feito por exames de fezes re-petidos ( 6 a 8 vêzes) no período compreen-dido entre 4 e 8 meses após o término do tratamento. O método usado para o exame cropológico foi o de Hoffman, Pons & J a-ner, descrito em trabalho anterior (BRENER, PELLEGRINO & CHIARI 2 ). Foram considera-dos como possivelmente curados os indiví-duos nos quais o exame de fezes foi repe-tidamente negativo. Antígenos. As reações intradérmicas fo. ram feitas com antígenos de cercária, verme adulto e ôvo diluídos a 1: 1.000 em relação ao pêso do material dessecado. As técnicas de preparação dos antígenos acham-se des-critas em trabalhos anteriores (PELLEGRINO & MEMORIA 18• 19 ). Reação intradérmica. Os antígenos ( 0,05 ml) foram injetados na face flexora do an-tebraço com seringa tipo tuberculina de 0,25 ml de capacidade. A leitura foi feita 15 minutos depois, determinando-se a área das pápulas de acôrdo com o método de PELLE-GRIN0 ,& MACEDO 17 • Foram consideradas po-sitivas as reações com áreas equivalentes a 1,2 cm2 ou mais. As reações foram prati-cadas antes do tratamento e 1, 2, 4, 6, 9 e 12 meses depois. QUADRO Reação intradérmica com antígeno de cercária, verme adulto e ôvo, em pacientes com esquistossomose mansoni, antes e depois do tratamento especifico. Resultados expressos em áreas médias·· (cm2 ) das pápulas. Antígeno de cercária Antígeno de verme adulto Antígeno de ÔVO Em pacientes Em pacientes Em pacientes Em pacientes possivelmen-Em pacientes posslvelmen-Em pacientes possivelmen-não curados te curados não curados te curados não curados te curados Antes do tratamento 1,72 2,32 1,96 2,54 1,78 2,14 Após 1 mês . . . ' . . 1,92 2,08 1,93 2,42 1,68 2 meses .... 1,81 2,32 1,93. 2,30 1,62 4 meses .... 1,84 2,39 2,00 2,39 1,54 6 meses .... 2,40 2,66 2,40 2,59 1,75 9 meses .... 2,36 2,40 2,36 2,37 1,94 12 meses .... 1,98 2,10 2,26 2,16 1,84 . .. _.:, NOTA: - Os pacientes possivelmente curados tiveram 6 a 8 exames negativos entre 4 a 8 meses após o tratamento. 336 1,69 1,90 1,92 2,27 2,03 2,00 PELLEGRINO, J. & MEMORIA, J. M. P. - A reação intradérmica na esquistossomosc mansoni. VI. Comportamento da resposta cutânea após terapêutica específica. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 2:335-340, 1960. RESULTADOS O contrôle da eficiência terapêutica feito pelo exame de fezes, repetido até 8 vêzes depois do término do tratamento, mostrou que êste foi mal sucedido em 17 pacientes. Em 16 · casos os exames mantiveram-se ne-gativos para ovos viáveis ou maduros de S. mansoni, após o tratamento. De acôrdo com êstes resultados dividimos os pacientes em dois grupos: a) não curados; b) possi-velmente curados. Os resultados das reações intradérmicas feitas antes e depois do tratamento acham-se resumidos no Quadro. No grupo de indi-víduos tratamentos e não curados ( Fig. 1), a análise de variância mostrou que as dife-rern;;as entre as áreas médias obtidas em di-ferentes ocasiões foram estatisticamente sig-nificativas para os antígenos de cercária e verme adulto. Entretanto, a comparação da Fig. 1 - Grupo de pacientes tra-tados e não curados. Ãrea média das pápulas obti.rlas antes e .de-pois do tratamento. "' E u "' ~ " e. ·o e. "' o"O o 'õ . ., E o ~ º<t 2,8 27 2/5 2/S 2,4 2,3 2,2 2,1 2p 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1,4 1,3 ~2 1,1 1,0 o área média obtida antes contra as áreas ob-tidas depois do tratamento foi significativa apenas para o antígeno de cercária (nível de 5% de probabilidade). No grupo de in-divíduos tratados e possivelmente curados ( Fig. 2), somente para o antígeno de ôvo as diferenças entre as áreas médias obtidas nos diversos intervalos foram estatisticamen-te significativas (nível de 5% de probabili-dade) . Para êsse antígeno, a diferença en-tre a área média obtida antes e as verifi-cadas depois do tratamento não foi estatis-ticamente significativa. A figura 2 mostra claramente que, embora tenha havido varia-ção nos resultados da área média depois do tratamento, os níveis mantiveram-se sempre muito acima do limite inferior de positivi-dade (1,2 cm 2 ). Mesmo examinando-se os casos, individualmente, não se observou ne-nhuma tendência para a negativação do tes-te cutâneo até 12 meses após o tratamento. Pacie nles não curados ( 17) .............. _--overm6 adulto "'b cercária Ôvc. 2 3 4 5 s 1 a 9 10 11 12 Me ses após tratamento 337 PELLEGRINO, J. & MEMORIA, J. M. P. - A reação intraclérmica na esquistossomose mansoni. VI. Comportamento ela resposta cutânea após terapêutica específica. Rev. Inst. Mecl. trop. Sfto Paulo 2:335-340, 1960. 2,0 27 Pacientes possivelmsn1o curados { 16) 2,6 2,5 2,4 N 2,3 E -2. ., ~ ::, 2,1 e. ·o e. --------------- ôvo ., o 1,9 -o .2 i,e ·o . ., E 1,7 o ., -~ 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1 IP0 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Meses após tro!omonto DISCUSSÃO Chama a atenção, no grupo estudado, a percentagem relativamente pequena de casos que puderam ser considerados como "possi-velmente curados". Assim, de 33 pacientes que receberam terapêutica antimonial, de acôrdo com esquemas usualmente seguidos, apenas em 16 casos o exame de fezes, após o tratamento, manteve-se repetidamente ( até 8 vêzes) negativo. Não nos foi possível sub-meter êstes pacientes à biopsia retal, o que teria tornado ainda mais rigoroso o critério de "cura" da infecção. Os nossos resulta-dos mostram que, pelo menos durante os 12 meses que se seguiram ao término do tra-tamento, não foi evidenciada nenhuma ten-dência para a negativação do teste cutâneo feito com antígenos de cercária, verme adul-to e ôvo. Portanto, em concordância com a maioria dos autores, somos de opinião que a reação intradérmica não deve ser empre-gada como critério de cura na esquistosso-338 F'ig. 2 - Grupo de pacientes tra-tados e possivelmente curados. Área -média das pápulas obtidas antes e depois do trata-menta. mose mansoni. Resta ainda verificar o que ocorre quando a prova de transferência pas-siva de Prausnitz-Küstner é praticada após 0 tratamento ( cf. PELLEGRINO J.G). O exame do Quadro e das Figuras 1 e 2 mostra que o antígeno de ôvo proporcio-nou reações menos intensas do que as pro-duzidas pelos antígenos de cercária e verme adulto, fato para o qual já chamamos a atenção em trabalho anterior (PELLEGRINO ,& MEMORIA 19 ). A percentagem de reações positivas com o antígeno de ôvo, antes do tratamento, foi de 81,8%. Êste achado es-tá de acôrdo com o que foi exposto em tra-balho anterior (PELLEGRINO & MEMORIA 18 ) e não confirma as observações de ÜLIVER-GoNZALEZ, BAUMAN ,& BENENSON 13 • 1 4, se-gundo as quais a reação intradérmica com antígeno de ôvo, em pacientes com esquis-tossomose mansoni · ativa, seria negativa na maioria dos casos. PELLEGRINO, J. & MEMORIA, J. M. P. - A reação intradérmica na esqu:stossomose mansoni. VI. Comportamento ela resposta cutânea após terapêutica específica. Rev. Inst. iVIed. trop. Sâo Paulo 2:335-340, 1960. SUMMAR Y T he intradermal test in the diagnosis of schistosomiasis mansoni. VI. Cutaneous response a/ter specific therapy. The intradermal test was performed on 33 patients infected with S. mansoni before and after ( 1, 2, 4, 6, 9 and 12 months) antimonial therapy. The following antigens were used: cercaria!, adult worm and egg (S. mansoni). The patients were classified into two groups according to results of treat-rnent: a) not cured ( 17 cases) ; b) pos-sibly cure d ( 16 cases). There was no trend for negative reactions within the period studied. The Authors believe that the intra-dermal test should not be used as a criterion for the assessrnent of cure in schistosomiasis rnansoni. REFERÊNCIAS 1. ALVES, W. & BLAIR, D. M. - Diagnosis of Schistosomiasis; intradermal test using a cercaria] antigen. Lancet 251: 556-560, 1946. 2. BRENER, Z.; PELLEGRINO, J. & CHIARI, E. - Valor do método de Hoffman, Pons & Janer no diagnóstico da esquistossomose mansoni. Rev. brasil. Malariol. & Doenças trop. 9: 497-500, 1957. 3. DA VIES, M. 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The intradermal test in the dlagnosls of Schistosomiasis mansoni. VI. Cutaneous response after speciflc therapy

https://www.revistas.usp.br/rimtsp/article/download/203083/187106

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