Magalhães, Paulo Araújo

Mayrink, Wilson

Portuguese

Cadernos Espinosanos (E-Journal)

Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 11(1):11-12, janeiro-fevereiro, 1969 ODU 616.993.161· DIAGNóSTICO DO CALAZAR I - Emprêgo da esplenocontração com adrenalina Wilson MAYRINK (1) e Paulo Araújo MAGALHÃES (2) RESUMO Em 18 pacientes clinicamente suspeitos, residentes em zona endêmica de calazar e que apresentavam quadro clínico de leishmaniose visceral, realizou-se o exame de medula óssea obtida pôr punção esternal. Diante dos resultados negativos e persistirido as suspeitas clínicas, realizou-se o exame de um nôvo material colhido por uma nova punção, meia hora após ter sido injetado 1 ml de solução milesimal de adrenalina. Neste material, foram en-contradas leishmânias em 14 casos. INTRODUÇÃO O diagnóstico do calazar não apresenta, na · maioria dos casos, dificuldade alguma para diagnóstico, provàvelmente porque o paciente procura o médico já com um pa-rasitismo intenso e com quadro clínico mui-to evidente. Alguns poucos casos, entretanto, especial-mente aquêles ainda em fase inicial, têm trazido algum problema de diagnóstico. Na Campanha Contra a Leishmaniose, que ora se realiza no Vale do Rio Doce, tive-mos a oportunidade de observar casos que clinicamente eram diagnosticados como ca-lazar e nos quais a punção de medula óssea revelou resultados negativos. Muitos dêsses pacientes viajavam centenas de quilômetros para serem examinados e não tínhamos con~ dições para os manter em observação duran-te um maior espaço de tempo. Como tam-bém não dispúnhamos de outros meios de diagnóstico, ocorreu-nos repetir as observa-ções de MADRIAGA '2• MATERIAL E MÉTODOS O material constou de 18 pacientes, cli-nicamente suspeitos de calazar, nos quais uma punção mostrou-se negativa para a pes-quisa de leishmânia. Meia hora antes da segunda punção es-ternal, procedíamos . à prova de esplenocon-tração, injetando 1 ml da solução milesi-mal de adrenalina por via subcutânea. A quantidade de adrenalina empregada variou de acôrdo com a idade do paciente. O in-tervalo entre as duas punções foi de 1 a 7 dias. A punção foi realizada no manúbrio, ao nível do segundo espaço intercostal, fazen-do-se pr,êviamente, a anestesia local com no-vocaína a 1%. RESULTADOS A pesquisa de leishmânia em material de medula óssea, obtido por punção esternal em 18 pacientes clinicamente suspeitos de Trabalho realizado com o auxilio do Centro de Pesquisas "René Rachou" do INERu. e do Conselho de Pesquisas da U.F.M.G. (1) Do Departamento de Parasitologia (Serviço do Prof. Dr. Amílcar Viana Martins) da F.M.U. F.M.G. e da Cadeira de Parasitologia da Escola de Farmácia de Ouro Prêto (2) Médico Sanitarista do DNERu 11 MAYRINK, W. & MAGALHÃES, P. A. - Diagnóstico do calazar. I - Emprêgo da e~lenocon-tracão com adrenalina. Rev. Jnst. Med. trop. São PauÍo 11:11-12, 19ô9. calazar, · mostrou-se negativa ao primeiro exame em todos os casos. Entretanto, o re-sultado foi positivo em 14 casos, quando a pesquisa de leishmânia foi feita em nôvo material colhido também por punção de me-dula óssea, após realizar o teste da espleno-contração. Os 4 casos restantes, através de outros exames (parasitológico de fezes, he-mocultura, reação de Widal) mostraram não se tratar de casos de calazar. DISCUSSÃO A prova de esplenocontração com adre-nalina foi empregada no calazar, pela pri-meira vez, por BARROS & RosENFELD 1. Parece-nos, entretanto, que êsses Autores não a relacionaram com o parasitismo. MADRIAGA 2 utilizou essa prova de diagnós-tico em três casos clinicamente suspeitos. Em um caso, realizou punção esternal três vêzes, obtendo resultados negativos. A quar-ta punção, realizada trinta minutos após a aplicação de adrenalina, mostrou a presen-ça de leishmânia. No segundo caso, obteve também resultados negativos em duas pun-ções que precederam a esplenocontração. No terceiro caso, repetiu a punção após a aplicação · de adrenalina, _ obtimdo resultado positivo. Posteriormente, temos as observações de PRATA 3 , que faz menção à prova. de adrena-lina. Em suas conclusões, diz não haver interferência com a taxa de leucócitos. Pa-rece-nos que também não a relacionou com o parasitismo. SrLVA 4 faz menção a esta prova para o diagnóstico do calazar, não a realizou em sua casuística. Tivemos a oportunidade de realizar tal prova em 18 casos: em 14, houve compro-vação parasitológica e os restantes, após novos exames (hemocultura, reação de 'Wi-dal) mostraram não se tratar de leishma-niose visceral. No diagnóstico da malária, esta prova tem o seu mecanismo de positividade expli-cado pelo lançamento na corrente circulató-12 ria de hemácias parasitadas. No calazar, devido à diferença de parasitismo, não po-demos explicar do mesmo modo a positivi-dade do teste, mas também não foi encon-trada ainda uma outra explicação. Isso não obstante, a nossa experiência concorda com os achados de MADRIAGA, le-vando-nos a admitir que esta prova deve ser mais usada no diagnóstico da endemia. SUMMARY Diagnosis of Kala-Azar I - Spleen contraction by the use of adrenalin ln 18 patients under clinicai susp1c10n of Kala-Azar and who have· been living in an endemic area, Leishmania donovaní has been searched in the bone marrow obtained through sternal puncture, with negative re-sults. As clinicai suspicion of Kala-Azar persisted, a second sternal puncture was performed on the sarne patients, after sub-cutaneous injection of adrenalin: the bone marrow of 14 of the patients became posi-tive for L.D. bodies, by this procedure. REFER:i,;NCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. BARROS, O. M. & ROSENFELD, G. -Leishmaniose visceral americana, um caso da Bolívia. Rev. Clín. (São Paulo) 11:93-99, 1942. 2. MADRIAGA, A. C. - La puntion esternal como medio diagnostico dei Calazar en el adulto ':y mielograma en misma enfermidad. Clínica y Laboratorio. Zaragossa 43:253-269, 1947. 3. PRATA, A. - Quadro clinico e laboratorial do Calazar. Arq. Brasil. Med. Naval 65: setembro, 1947. 4. SILVA, J. R. Leishmaniose Visceral (Calazar). Tese. Rio de Janeiro, Faculda-de Nacional de Medicina, 1957. Recebido para publicação em 17/6/1968. !.. 

Diagnóstico do calazar.  I - Emprêgo da esplenocontração com adrenalina

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