Dutra, Márcia de Castro

Fonseca, Maria Evangelina Ferreira

Lagrota, Maria Helena do Carmo

Portuguese

Cadernos Espinosanos (E-Journal)

Rev. lnst. Med. trop. São Paulo 19(4) :251-253, julho-agosto, 1977 CDU 616.916.1 SURTO EPIDÊMICO DE RUBEOLA NO RIO DE JANEIRO EM 1974 Maria Helena do Carmo LAGROTA (1), Maria Evangelina Ferreira FONSECA (1) e Márcia de Castro DUTRA (2) RE.S UM O Em 1974 observamos surto epidêmico de rubéola, na cidade do R~o de Janeiro, que iniciado em julho, estendeu-se até dezembro daquele ano. Foram coletadas amostras de soro de 46 pacientes que apresentavam sintomas clínicos de virose ou que tinham his-tória de contacto com pacientes suspeitos. A virose foi comprovada laboratorialmente através do teste de inibição da hemaglutinação (HI) realizado com os soros pareados e da pesquisa de anticorpos do tipo IgM realizada com apenas uma amostra de soro. Nos soros em que não se confirmou tal infecção, apesar do paciente apresentar quadro clí-nico semelhante ao causado pelo vírus da rubéola, tentamos pesquisar a possível etio-logia vira!, submetendo tais soros à pesquisa de anticorpos heterófilos presentes na mo-nonucleose infecciosa e anticorpos fixadores do complemento para sarampo. INTR~DUÇAO Muitos casos de epidemias por rubéola têm sido registradas, observadas e estudadas, especialmente após 1941, ocasião em que os es-tudos clássicos de GREGG (Austrália) em que relatam doenças graves congênitas com ru-béola em gestantes, foram divulgados. No Brasil, no entanto, salvo dados clínicos registrados nos Serviços de Saúde Pública, não se encontram trabalhos que descrevam a ocor-rência de surtos dessa virose. Em 1974, tivemos a oportunidade de acom-panhar nova epidemia de rubéola na cidade do Rio de Janeiro, uma vez que o Serviço de Saúde Pública desta cidade tem registrado um surto ocorrido em 1968, fazendo-nos inferir daí que um intervalo de aproximadamente 6 anos separam os picos epidêmicos entre si, o que ocorre também nos Estados Unidos da América do Norte 5 • MATERIAL E !MÉTODOS Soros Obtidos no início da infecção e a segun-da amostra, 15 a 20 dias após a primeira. Hou-ve casos em que não nos foi possível coletar a segunda amostra, correspondendo portanto, a amostra única à da fase aguda. Os soros fo- · ram divididos em duas partes: uma foi inati-vada a 56°0 e estocada a -20º0 para posterior determinação da IgM, teste de Paul-Bunnell e reação de fixação do complemento para sa-rampo. A outra foi tratada com caolim a 25% em pH 9. O com a finalidade de se retirarem os inibidores inespecíficos da reação e poste-riormente tratada com hemácias de ganso a 50% em DGV, a fim de se destruir as agluti-ninas inespecíficas 2 • Titulação dos Antígenos Para a titulação dos antígenos, utilizamos microtécnica. O antígeno hemaglutinante de rubéola foi tratado de acordo com a recomen-dação da B.D. Mérieux utilizando-se hemácias de ganso no lugar de hemácias de pinto. O antígeno fixador do complemento para saram-po foi obtido a partir de amostra vacina! cul-tivada em céltulas HEK, utilizando-se o líqui-do sobrenadante da cultura de células infec-tadas com o vírus do sarampo. Trabalho realizado no Departamento de Virologia, do Instituto de Microbiologia, da Un_iv€rsidade Federal _d_o Rio de Janeiro, Era.si!. (1) Auxiliar de Ensino do Instituto de Microbiologia (2) Bolsista de pós-graduação do Conselho Nacional de Pesquisas 251 LAGROTA, M. H. do C.; FONSECA, M. E. F. & DUTRA, M. de C. - Surto epidêmico de rubéola no Rio de Janeiro em 1974. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 19:251-253, 1977. Reação de inibição da hemaglutinação Os 46 soros foram testados pelo método descrito pela B .D. Mérieux utilizando-se he-mácias de ganso a 0,16% em pH 6,2. Pesquisa de lgM A pesquisa da IgM foi feita nos soros úni-cos coletados na fase exantemática e também nos soros pareados que não apresentaram con-versão sorológica. A técnica descrita por BA-NATVALA & col. 1 (precipitação da IgM com 2-mercaptoetanol) foi a utilizada por nós. Teste de Paul-Bunnell Foi ,realizado nos soros que não apresenta-ram conversão sorológica para rubéola e nem anticorpos de tipo IgM (LENNETTE & SCHMIDT 5). Reação de Fixação do Complemento para Sa-rampo Esta reação foi realizada com os soros ne-gativos para rubéola e mononucleose infeccio-sa, segundo técnica descrita por LENNETTE & SCHMIDT 5 • RESULTADOS De 66 casos clinicamente observados, de pessoas que contrairam a infecção pelo vírus da rubéola ou que tiveram história de contac-to com o vírus, amostras de soros de 46 pa-cientes foram obtidas e submetidas ao teste sorológico de pesquisa de anticorpos inibido-res da hemaglutinação (HI) para o vírus. Desses 46 pacientes, conseguimos 32 amos-tras de soros pareados, das quais 17 apresen-ta,:çam conversão sorológica para o vírus da rubéola, sendo que nos soros coletados na fase aguda, os títulos de anticorpos inibidores da hemaglutinação variaram de 1/10 (considera-do por nós como resultado negativo) até 1/40, enquanto que na fase convalescente os títulos subiram até 1/320 em média; 15 amostras mostraram-se negativas. Dos 14 soros não pareados, três. apresentaram anticorpos do ti.:. po IgM para o vírus, indicando infecção re-cente (VESIKARI & VAHERI7). 252 Dos 15 soros sem conversão sorológica, 10 representam mulheres grávidas que não con-traíram a infecção clínica, mas que durante o período epidêmico entraram em contacto com pessoas infectadas. Os cinco casos res-tantes provieram de pacientes com forte sus-peita clínica de rubéola, uma vez que apre-sentaram todos os sintomas característicos dessa virose. Destes cinco pacientes, dois fo-ram comprovados laboratorialmente como ten-do adquirido mononucleose infecciosa e um adquiriu sarampo, sendo os outros dois res-tantes, de etiologia desconhecida. Dentre os soros não pareados que não apresentaram anticorpos de tipo IgM encon-tramos um caso cuja infecção foi causada pe-lo vírus da mononucleose infecciosa, sendo os demais, provenientes de gestantes com histó-ria de contacto com o vírus. DISCUSSÃO O quadro clínico apresentado pelos pa-cientes cujos soros mostraram conversão so-rológica para rubéola, foi típico daquela viro-se; os pacientes apresentaram intensa irrita-ção de orofaringe, conjuntivite, febre normal-mente baixa ou ausente, linfoadenopatia cer-vical e occipital e exantema macular. A doen-ça atingiu em sua maioria, adultos e jovens que se queixaram de artralgia intensa, com-plicação bem conhecida dessa virose em adul-tos. Dos casos que apresentaram· conversão so-rológica, apenas um teve infecção subclínica. Um outro paciente apresentou infartamento generalizado com adenite inguinal, sem exan-temas. A infecção nesse paciente durou 30 dias. Segundo o Serviço de Epidemiologia da Saúde Pública foram registrados em 1973, no Rio de Janeiro, 316 casos de rubéola e em 1974 época da epidemia descrita, os casos atingiram o número de 1. 221, o que confirmou nossas observações. Informações pessoais. 4 confirmam surto epidêmico da virose em 1968, o que nos faz in-ferir que o mesmo ocorra a cada seis anos nesta região e consequentemente em todo o território brasileiro, já que o vírus é endêmi-co (FERREIRA & col 3). LAGROTA, M. H. do C.; FONSECA, M. E. F. & DUTRA, M. de C. - Surto epidêmico de rubéola no Rio, de Janeiro em 1974. Rev. Inst. Med. trop, São Paulo 19:251-253, 1977. SU!M!MARY Epidemie outbreak of rubella in Rio de Janei-ro in 1974 An outbreak of rubella has occurred in Rio de Janeiro, Brasil, in 1974. In 66 patients with rubella-like symptoms and with a pre-vious history of suspect contacts, serological tests confirmed the etiology. 46 Sera were col-lected from the observed patients. Some of the sera (14) had no paired samples, so IgM antibodies were tested in the acute-phase sample by hemagglutination inhibition test. Our observations about the outbreak were con-firmed by the Public Elealth Service of Rio de Janeiro that registred 1,221 cases of rubella in 1974 against 316 cases in 1973. REFERt!:NCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. BANATVALA, J. E.; BEST, J. M.; KENNEDY, E. A. ; SMITH, E. E. & SPENCE, M. A. - Sero-Jogycal method for demonstrating recent infection by Rubella virus. Brit. Med. J. 3:285-286, 1967. 2. CLARKE, D. H. & CASALS, J. - Techniques for hemagg!utination-inhibition test with arthropod-borne viruses. Amer. J. Trop, Med. & Hyg, 7: 561-573, 1958. 3. FERREIRA, M. E.; LAGROTA, M. H. do C. &. ANDRADE, C. de M. - Estudos epidemiológicos s.obre rubéola. Rev. Lat. Amer. Microbiol. 16:: 143-146, 1974. 4. GARCIA, A. - Comunicação pessoal, 1974. 5. INGALLS, T. H.; BABBOTT, F. L.; HAMPSON, K. W. & GORDON, J. E. - Rubella: its epidemio-logy and teratology. Amer. J, Med. Se. 239:$63-383, 1960. 6. LENNETTE, E. H. & SCHMIDT, N. J. - Diag-nostic :i>rocedures for Vira! and Rickettsial Infec-tions. 4th ed. New York, American Public Health Association, Inc., 1969, 364-413. 7. VESIKARI, T. & VAHERI, A. - Rubella: a me-thod for rapid diagnosis by serologycal means of a recent infection by demonstrating of the IgM antibodies. Brit. Med. J, 1:221-223, 1968. Recebido para publicação em 26/5/1976. 253 

Epidemie outbreak of rubella in Rio de Janeiro in 1974

https://www.revistas.usp.br/rimtsp/article/download/197901/182060

Surto epidêmico de rubeola no Rio de Janeiro em 1974

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