Fischman, O.

Londero, A. T.

Portuguese

Cadernos Espinosanos (E-Journal)

Rev. Inst. Med. trop. São Paulo MVtZGO-ZeS, novembro-dezembro 1959 PIEDRA BRANCA A propósito de uma modalidade do Rio Grande do Sul (Brasil) e de seu agente causador A. T. Londero e O. Fischman RESUMO Os autores verificaram, em Santa Maria (Rio Grande do Sul), dois casos de uma modalidade de Piedra Branca, sendo que anteriormente 2 outros haviam sido registrados em Porto Alegre, por Ribeiro. Do estudo do cogumelo isolado do caso de Ribeiro resultou uma nova espécie — T. riheroi Gomes de Moraes, 1941. Do estudo comparativo com 10 cepas de T. beigelii, os autores julgam que o cogumelo isolado de seus casos seja idêntico ao T. beigelii. Ressaltam: 1) o aspecto característico do cabelo parasitado, em "pau de fósforo", com nódulos em capuz ou coifa, no ápice; 2) as lesões: bifidez ao nível do nódulo apical e, também, desorganização do cabelo. 0 fungo não ataca o cabelo "in vitro". A colonização do cabelo se inicia pela superfície de secção, na extremidade livre. Fazem comentários sôbre o gênero Trichosporon e a espécie T. beigelii, tendo em vista recentes conhecimentos. INTRODUÇÃO Em 1937, Ribeiro 19, em Porto Alegre (Rio Grande do Sul), descreveu novo aspec- to dermatológico de Piedra Branca. Anotou as seguintes diferenças: a) nódulos de ta- manho diminuto; b) presença de um só nódulo por cabelo; c) concreções ocupan- do, exclusivamente, a extremidade livre dos cabelos. Tais características lhe sugeriram duas felizes comparações: os cabelos "da- vam a impressão de terem sido chamusca- dos" e, ao microscópio, tinham o aspecto de "paus de fósforo". Obteve culturas "leve- mente amareladas, com saliências e depres- sões". O material de um segundo caso de Ribeiro foi estudado por Gomes de Moraes 12. Êste autor denominou a parasitose de Tricomico- Faculdacie de Farmácia de Santa Maria (da Universidade do Rio Grande do Sul). Cadeira de Zoologia e Parasitologla (Proí. A. T. Londero), se Nodular de Ribeiro e criou nova espécie de fungo — Trichosporon ribeiroi Gomes, de Moraes, 1941. Além dos achados de Ri- beiro, verificou: a) nódulos múltiplos num mesmo cabelo, embora raramente, sempre muito próximos ao terminal; b) ataque à epidermícula do cabelo; c) culturas de três tipos: 1) rugosas, semelhantes às do Tri- chosporon giganteum (T. beigelii); 2) li- sas e cremosas, semelhantes às de Geotri- chum; e, enfim, 3) colônias mistas. Revisando a literatura, só encontramos re- ferências em Brümpt 2. Londero ,0, em 1958, descreveu o terceiro caso. Londero & Netto em 1959, citam o quarto. MATERIAL E MÉTODOS Material — a) de dois casos, vistos em 1958, estudados clínica e micològicamente; b) 10 estirpes de Trichosporon beigelii (uma. 260 MINDKKO, A. T. Sc FIMCHMAX, O. — Pinlm hmnca; u propósito dr uma modalidade do Klo (brande do Sul «Brasil» r dr «eu uçrnlr eaiiMUdor. Rev. Insl. >lrd. trop. são Paulo I:"!60-í65. 1959. gcnlili-za do Prof. Perrira Filho; ns demais, gentileza do Prof. C. S. Lncaz). Métodos — a t estudamos o asjK-elo em parasilismo pelos processos comuns, em es- pecial o de Arêa Leão"'""'1; b) estuda- mos, comparativamente, nossas 2 amostras com as 10 ciladas; 1 ( nos aspectos macro e micromoríológico das culturas em Sahou- raud-glicose, com 2% de ágar, caldo de ba- tata. ágar-sangue. caldo simples. Saliouraud- liquido. gelatina e Czapeck; 2) ação sôbre alguns hidratos de carbono e produtos nilro- genados; 3) micromorfologia dos cultivos em lâmina gelosada e em gôla pendente; e, 4) cultivo em cala-lo. "in vitro", |»elo pro- cesso de Va.n3REI'sechem RESULTADOS O quadro I mostra, resumidamente, os aehados em nossos dois casos. O quadro II mostra o que de mais importante verifica- mos no estudo das 12 amostras. DISCUSSÃO Em iKirasilismo. verificamos (caso 11 le- sões pilares bastante pronunciadas, mas ra- ramente. Como Nino ,3, olíservamos biíide/. do cabelo parasitado (fig. 1. d) e. também, desorganização da haste do cala-lo com inva- são pelo fungo, recordando o aspecto do pa- rasilismo por dermatófilos endoectolrix. Ia-- sões da baste do cabelo, na Picdra Branca, são ciladas por alguns autoresa *8 e não são características especificas do cogumelo causador. Lesões mínimas, como o levanta- mento da epidermíeula, são necessárias para a fixação do nódulo (Arêa Leãot). G>mo Nino 14. não verificamos substância cimenlária inlcrcelular. agregando os elemen- tos formadores do nódulo e. como Akka Leão ; •'nem as massas de cocos e formas Itacilóidcs. tão bem coraenladas por Pena No tocante ao aspecto cnllural. nas duas amostras que isolamos, não obtivemos as co- lônias lisas e membrannsas. de (.ornes de Moraes ,i!. Nas duas amostras que isolamos, o modo de reproduzir-se foi idêntico ao descrito por Gomes de Moraes, ao criar o T. ribeiroii tL Fifi. I — Cabelos parasitado», x 100 (em eon- traste de /ase/. Aspecto de "pan de /ris/oro', com nódulo» em "capni" ou Toifa". Um (I solar a hi/ide: do rabelo ao nível do nódulo. "as células das bifas que vão resultar ar- trospórios. ainda inteiramente ligadas entre si. no filamento, dilatam-se lateralmente e assim, no correr da evolução, se tem a im- pressão de um rosário de células variando entre a forma elíplica e a esférica.... os artrospórios formam-se por um processo com- parável ao «Io Geotrichum e por um proces- so característico que parece próprio. Na última fase déste processo de reprodução, as células ao se libertarem do filamenlo, sendo artrospórios, se apresentam ao micros- cópio como um filamenlo gemulanle típico"'. Esta esplêndida descrição só peca em que não é própria de espécie nova; Ota 18 e PuNTOM 17 a descreveram e Fonseca F" a reproduz em gravura. Houve, ao lado da arlrospornlação a blasloartros|>orulação de que falam vários autores "• T- "■ "■ "■ '*•11 ' ". A variação no mudo ile reproduzir-se das 12 amostras estudadas é evidente (quadro 11). Bara por blastosporulução verdadeira. Heiiaei.i.i & ClFERRl chamam a atenção de que os blastospórios verdadeiros são ra- rissimos no '/'. heigelii. O tamanho variável 261 X-ONDERO, A. T. & ÍTSCHMA^   de seu a^ent; ^n. T^l do ««<> Gran^     ] a- trop- Sao ^lo 1:260-265, 1959. 3 W ü CO c CO W § § D O* c n CO •o 3 OJ s CO TO CO & O CO -C {O c0 cr> o o o C C JD CO 3 ÍH *~> •o =5 o iÊ o H 'D ÍO CO C W" £ ^ g -O <0 C3 r « 0 •O 1 c 5£ o .§ 3 S 5 U 2 D, « s 3 o t> ü B. o c0 oá 3 B 'a -o c c i o „ «U O "1 *c CO 3 a CO If 'n a; •o s c <c0 2 O e o s c D c O) *_> w m — o. o g O f- o 73 c-; s CO 2: - £ a S £ -0 'y o m CO ^ £ 3 | |wS to Q, •2 •- to w «—« *-2 .5 c 5 ei '2 to «3 â' s- s s s ^ 2 e * £ <v c o CO ^ et »h q ^ £ w CO w X ■ w aT £ OJ 3 QJ cr 'o ^ £ C-i 0 2 a O £ £ CO OJ 0 -3 a 7 g | fO • q - 6 -§ g; C «y ^ 8 o 1 s 's -a o 2 Co 03 e qj o S a o <y w a g £ £ <u 3 A CO m O c 3Í O D» *0 o q 0 V o ó «CO O § 2 « cq a •3 q O s £ § 2 to -3 O £ cO o q q £ gè cr ^ B II1 o- c £ <J J, 'V £ 3 o o "3" o , 3 §S CO CO <u ~ n cO •C u _ WJ £ «y S H .i2 o. CO S q «d •|H E .2 OJ cO - £ • M 03 CO g'0 § Ê O E ^■1 s " rt' 'h O f.§ - q o cO O *3 «M "3 OT f- s S CO cO 00 -o - c ^ (o >3 „ 5 ^ S Z O 2 § -c a -Í3 *3 O C D w S ô w £ co <M ~ to 5 3 Ci D. CO O O Q; q ^ o e e O w c á § 2; <0 ü c; CO 0 3 c O «3 O o3 N 3 0 I-c O -O 1-i O iH Cl ,3 CO s '3 q co o £ £ cc.£ o -g co £ «2 a, lr M .2 O ^ II g 3 « <y t- w to O 03 C CO o o G3 £ •M 3 3 ^ (U ^ O co ^ O i 0 3 c J2 JC o GJ 3 ei O 2 £ S Si§ > 03 O "C . 3 £ j-i 3 3 O 0 3 CO OJ O cO w C. O 2 1 'S Co 3 3 c 3 0 3 O 0" 0 Ê 3 "O 0» XS J- •o 3 03 S c ü D, 0 O 01 *3 3 3 03 0» "O > O O q 1 |§á co CO O N S «2 g N G o c 3 l-J K C ~ H ca s 262 LONDERO, A. X. & FISCHMAN, O. — Picdra branca; a propósito de uma modalidade do Rio Grande do Sul (Brasil) e de seu agente causador. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 1:260-265, 1959. CO W CO y: y. O) O» W U> ■tí r> i/l a ^ - - (í CO S-c V Vi Ifí Cfl O O rí «0 0,0 O O o M ~Z ICO C. jO 3 cv w> cO O 3 " C - ~ O •a ro o O 0.2 ^ n. ^ Z O u? Oiaj o, <r. D.O O b 0) s, a: ft«o ox> C í. P-a Q .. j- q Md ai rj ^ O ,.. cj- t- -i c: cl ca a> co a* co o 2 3 & - o £6 2-? ? o ^ O cO c; ■O 9 </> li *-> ÜQ sâs *'S o,±: o, a; O.^Í O) 3 o o - O O CO O </J o r O C <3 C; ? O w -C P á cC a; h cd a o a> b — t- "O O CL t, t- m N: bo o - Í3 * 5P t:6 t:6 r- O ~ O c. O - o ^ o 01 c. CO 1 CL U o o U ü X X x o CL C £ cd Q-c CLC CLP P<C CLP ac 3 cd 3 cO 3 cd 3 cd - co n p P (0 P O vi U VI 7) ;■ CO t-, S£ SP •V' p •5S 3o ?Q> 22 P 3 V > P > D V P-O O'O § -5 ^ p £ Oh R rP " 26S LOMIKKO, A. T. & FIS<"HMAX. O. — Pirdra branca; a prnp6.>U<. rtr uma modalidade do Ri» (irnndc d» Sul (Brasil) c dc seu agente causador, Rev. Inst. Med. trop. São Paulo IridO-rifi.l. 1959, a r ■ Pig. 2 — a) colduia de cogumelo íeoUuio, em Nubouiaud-í/licoíc, rom 2 '• de ãyar, temperatura ambiente; b) aspecto do cor- te ao nível de um ndiluio. Coloração lie- matozlllna-eoslna- <los elcnientos fúngicos, nas várias amostras, nos impressionou, mas Puntoni 17 já dissera que isto não pesa na (liferenciação das es- pécies. Para ArÊa Leão 7e Lanceron 8 os apressórios são lí|)ieos do gênero Trichospo- ron; como Ota ,5, não os encontramos em muitas das 12 amostras. Clamidospórios e corêmios foram encontrados por nós, em cer- tas amostras. Como Vanbreuseghem 3S, não verificamos a<,-ão do cogumelo sobre o cabelo, "in vitro". A liqüefarão tardia da gelatina também foi verificada [>or Pena 18 e Arêa Leão ' * Nino " oliservou a fermentação de açú- cares pelo 7. heigelii. í) resultado que ob- tivemos c pode ser visto no quadro II. c variável. Do exposto devemos concluir que nada há. no cogumelo isolado da modalidade sul- riograndense da Piedra Branca, que permi- ta conservar a espécie criada por Gomes de Moraes, em 1911. Hoje. também para éle, sinônimo de T. heigelii (comunicação pes- soal ). A1.GUMAS CONSIDERA CO KS SOBRE O TR1CH0- BPOKON E SOBRE O T. HEIGELII VUILLEMIN, 1902 Calie uma pergunta: o agente de Piedra Branca deve continuar a ser denominado ge- nèricamente Trichosporon. ou deve passar ao gênero Geolrichum. onde foi colocado por Cocdkrt '? Êsle autor, citando Iaiddkk e Van-Hij, escreve: a ausência de blaslospó- rios não permite conservar o 7". beigelii no gênero Trichosporon. conlràriamente à tra- dição. Ora. Hedaeli.1 Sc Cieerri ,s ressal- tam que os blastospórios verdadeiros são ra- rissimos no T. heigelii. Vemos no quadro II que os blastospórios são inexistentes em certas amostras; Ota ,s já apontara seme- lhanças entre Trichosporon e Geolrichum; e, Skixner & col.2" dizem que Geolrichum mul- tiplica-se regularmente por artrospórios, ra- ramente ou nunca por blastospórios. Há, pois. razão na pergunta acima formulada. -No gênero Trichosporon. Lodder & Van- Rij " comentam o grau diferente do desen- volvimento por artrospórios e blastospórios; que podem ocorrer clamidospórios; o abun- dante desenvolvimento de pseudomicélio c de mieélio verdadeiro; a existência de ação fermentativa; que os blastospórios sc for- mam de um único modo: pequenas cadeias. Mas. consideram o T. minar e o T. huama- kuakensis sinônimos de T. cutaneum; quan- to ao T. giganleum, T. heigelii, T. granido- sum. T. cerehriforme e T. ovoides. julgam-nos como "nomina dúbia". Conserve-se o gênero Trichosporon. para o agente da Piedra Branca. [H)is para Pu.NTO- ni ,7, o asper lo cultural em meio de ágar glieosado separa o Trichosporon de Geolri- chum; êsle dando colônias membranosas, aquêle, colônias eerebróides, de côr branca suja e consistência cerosa. Por que não conservar a designação Tri- chosporon beigelii para o agente da Piedra Branca, corno fazem Iodos os tratados de Micologia Médica? S U M M A R Y lf hite Piedra. Concerning a variety of Rio Grande do Sul (Bruzil) and ils eliologic ugenl. The aulhors found tuo cases oí a clinicai dermatológica! variety of W hite Piedra, in 264 X.ONDERO, A. T. & FISCHMAN, O. — Picdra branca; a propósito de «ma modalidade do Rio Grande do Sul (Brasil) e de seu agente causador. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 1:200-265, J959. Santa Maria, Rio Grande do Sul (Brazil). Two previous cases, both of Ribeiro, were detected in Porto Alegre (R. G. do Sul). In 1941, Gomes de Moraes created a new species — T. ribeiroi — studying Ri- beiro^ second case. The authors concluded, after a micromor- phological and comparativo study wilh ten other strains of T. beigelii, that the fungus isolated by them is identical to T. beigelii. And they think the Gomes de Moraes' strain is also identical to T. beigelii. They verified the characteristic lesion of the hair, giving the appearance of a "match", with the nodule in form of hood or coif at the free end of the hair. They found also the fragmentation or the bifidity inside the nodules. They noticed that the fungus be- gins the colonization at the section of the hair tip. The fungus does not attack the hair "in vitro". They make some commentaries about the genus Trichosporon and the Trichosporon beigelii species, because of recent acquisi- tions on the subject. REFERENCIAS 1 — BENEDEK, T. — Criticai survey of the mycological llterature of the years 1939 to 1942. Mycopath. et mycol. appl. 5:14-64, 1950. 2 — BRUMPT, E. — Précis de Parasitologie, v. XX, 5ème. ed. Paris, Masson, 1936. 3 — CONANT, N. F.; SMITH, D. T.; BAKER, R. D.; CALLAWAY, J. L. & MARTIN, D. S. — Manual of Clinicai Mycology, 2nd. ed. Philadelphia, Saunders, 1954. 4 — COUDERT, J. — Guide Pratique de Myco- logie Médlcale. Paris, Masson, 1955. 5 — FONSECA Filho, O. — O gênero Trichospo- ron. Trichosporoses ou trlchomycoses nodo- sas, pledra européa, piedra asiatlca e pie- dra americana. Rev. med. cir. 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White Piedra. Concerning a variety of Rio Grande do Sul ( Brazil ) and its etiologic agent

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