Castro, Raymundo Martins

Fava Neto, Celeste

Gonçalves, Antar Padilha

Lacaz, Carlos da Silva

Pereira, Álvaro Magalhães

Cadernos Espinosanos (E-Journal)

CDU 616.992.28: Eev. Inst. lVled. trop. São Paulo 4(6):383-385, novembro-dezembro, 1962 576.8.077.031: 611.778 IMUNOLOGIA DA ESPOROTRICOSE I. A prova da esporotriquina após a cura da esporot~icose Grupo de Estudo da Esporotricose: Álvaro Magalhães PEREIRA (1 ), Antar Padilha GONÇALVES (1) (coordenador), Carlos da Silva LACAZ (2 ), Celeste FAVA Neto (3) e Raymundo Martins CASTRO ( 4 ) RESUMO Em 49 casos foi feita a prova entre 1 mês e 12 anos após a cura. Em 47 ela foi positiva e em 2 negativa. A comparação com provas realizadas antes do tratamento revelou que a intensidade das mesmas tanto pode permanecer idêntica, como diminuir ou aumentar após a cura. Fica demonstrado ser regra a permanência da prova da esporotriquina posi-tiva após a extinção da atividade da esporotricose. Assim, provas positivas veri-ficadas em indivíduos não portadores de esporotricose, ao invés de serem inter-pretadas como falsas, podem significar a existência prévia de um contágio imuno-alergizante com o Sporotrichum schencki ou infecções esporotricósicas despercebi-das que regrediram espontâneamente ou mesmo por tratamentos feitos para outras doenças, ou ainda sob diagnóstico errado. Estas verificações são favoráveis à teoria da esporotricose-infecção. INTRODUÇÃO Pouco ainda se conhece a respeito da evo-lução da prova · intra dérmica da esporo tricose nos casos de esporotricose, no que se refere ao que sucede após a cura da doença. Í:ste aspecto especial é uma das investigações pro-gramadas pelo Grupo de Estudo da Esporo-tricose. disseminados e, mais raramente, casos de for-mas localizadas da doença. Sabe-se pela literatura médica 3 , 4 , 7 , 9 , e pela experiência anterior de componentes do grupo 1 • 2 • 5 , 6 , 8 , 10, que a prova é pràtica-mente positiva em todos os casos de esporo-tricose: apenas em raras exceções pode ser negativa, entre estas figurando alguns casos Não existem trabalhos com largo número de provas intradérmicas realizadas após a cura da esporotricose. DE BEURMANN & Gou-GEROT 3 dizem que ela persiste, mesmo até dois anos, depois da cura. SILVA ,& GONÇAL-VES 10 encontraram-na positiva em três casos curados, havia um mês, oito meses e um ano. PEREIRA 9 verificou a persistência da positividade em 9 casos até 4 anos depois de curados, o mesmo observando LACAZ ,& col.8 em 6 doentes curados entre 6 meses e 2 anos. Departamento de Dermatologia da Policlínica Geral do Rio de Janeiro (Prof. J. Ramos e Silva) e da Fac. Med. Univ. de São Paulo, Inst. de Medicina Tropical de São Paulo, DeptQ de Microbio-logia e Imunologia (Prof. C. S. Lacaz) e Clínica Dermatológica e Sifiligráfica (Prof. S. A. P. Sampaio). (1) Assistentes - DeptQ de Dermatologia da Policlínica Geral do Rio de Janeiro. (2) Prof. Catedrático - Fac. Med. Univ. de São Paulo e Diretor do Inst. Med. Trop. de S. Paulo. (3) Assistente-docente de Microbiologia e Imunologia. (4) Assistente-doutor de Microbiologia e Imunologia e Médico-auxiliar da Clínica Dermatológica e Sifi!igráfica do Hospital das Clínicas. 383 GRUPO DE ESTUDO DA ESPOROTRICOSE - Imunologia <la esporotricose. I. A prova <la espo-rotriquina após a cura ela esporotricose. Rev. Inst. 1"Ie<l. trop. São Paulo 4:383-385, 1962. GONÇALVES & PEREIRA 6 exammaram 10 doentes curados de 1 mês a 5 anos, sendo a prova positiva em todos: em outros 10 casos curados de 3 meses a 14 anos, CASTRO 1 e CASTRO ,& BELLIBONI 2 também encontra-ram-na positiva em todos. O presente trabalho estuda 49 indivíduos nos quais a prova foi feita de 1 mês a 12 anos após a cura da esporotricose. Em todos, a micose fôra comprovada pela obtenção de culturas do Sporotrichum schen-cki e na maioria a prova intradérmica havia sido efetuada na época da evolução da doen-ça, podendo ser comparada a sua intensidade com a prova depois da cura. Em tôdas elas foi usada a esporotriquina celular constituí-da pela suspensão de formas em naveta do S. schencki padronizada pela escala 5 de Mac Farland e mortas por tindalização. Nesses 49 pacientes foram realizados 54 testes, uma vez que em 5 dêles o teste foi repetido depois da cura duas vêzes. Obti-veram-se 53 provas positivas e 2 negativas, significando que em 47 doentes o teste foi positivo e em 2 negativo. Os dois casos ne-gativos eram da forma linfangítica e estavam curados respectivamente havia 3 anos e 3 anos e 8 meses, sendo a prova anterior po-sitiva 4 + no primeiro e positiva 3 + no se-gundo. Nos casos em que se fêz a comparação antes e depois da cura, foram verificadas reações iguais em 15 casos, mais fracas em 12 casos e mais intensas em 12. Não pare-ceu haver relação entre a diminuição ou o aumento da intensidade e o tempo decorrido após a cura, já que se observou modificação de intensidade para mais ou para menos tanto com pouco tempo de cura, como mui-tos anos após esta. De qualquer forma é permitido concluir-se que a prova intradér-mica pode permanecer positiva, e com ele-vada intensidade, muitos anos após a cura da esporotricose. Os estudos do Grupo de Estudo da Espo-rotricose junto aos resultados de outros au-tores, levam à conclusão de que a regra é a permanência do teste positivo por longos anos, talvez mesmo por tôda a vida, após a cura. Í:ste fato parece importante para a cons-trução da teoria da esporotricose-infecção. 384 Se a prova, via de regra, permanece po-sitiva após o desaparecimento da esporotri-cose-doença, que foi vista e diagnosticada pelo médico, também é lícito se pensar que a mesma pode se tornar, e permanecer po-sitiva, em conseqüência à infecções esporo-tricósicas que passaram despercebidas, curan-do ou espontâneamente ou por tratamentos feitos para outras doenças concomitantes ou ainda sob diagnóstico errado. Assim sendo, a prova positiva em indiví-duos sem esporotricose ativa ( esporotricose-doença) no momento ou nos seus anteceden-tes mórbidos, poderia recair nessas hipóteses, devendo então ser encarada não como falso-positivo, mas positivo real, significando um estado de esporotricose-infecção, semelhante ao que já se tem verificado para outras in-fecções como a histoplasmose, a coccidioido-micose, a tuberculose, etc. Resta ainda a hipótese de que contatos anteriores, imuno-alergizantes, porém não infectantes como o Sporotrichum schencki pudessem ser a causa dessas provas intra-dérmicas, antes encarados como falso-positi-vos, que ocorrem nas pessoas sadias. SUMMAR Y The immunology of sporotrichosis. !. Sporo-trichin test a/ter the cure of sporotrichosis. The sporotrichin intradermic test was per-formed in 49 sporotrichotic patients cured for periods of time from 1 month to 12 years. It was positive in 47 and negative in 2 of them. ln comparison with the tests performed in those patients before treatment, the reactivity degree may be the sarne or may increase or decrease after cure. It is possible to conclude that the sporo-trichin intradermic test, as a rule, remains positive after the extinction of the activity of sporotrichosis. So, the positive tests ob-served in persons without sporotrichosis, in-stead of being interpreted as false-positive tests, probably mean a previans immuno-alergizing contact with Sporotrichum schen-cki or a previans unknown sporotrichotic infection healed spontaneously or in conse-GRUPO DE ESTUDO DA ESPOROTRICOSE - Imunologia ela esporotricose. I. A prova ela espo-rotriquina após a cura ela esporotricose. Rev. Inst. Meel. trop. São Paulo 4:383-385, 1962. quence to treatment prescribed for other diseases or under wrong diagnosis. These observations contribute to the ela-boration of the theory of the sporotrichosis-infection. REFERÊNCIAS 1. CASTRO, R. M. - Prova da esporotriquina: contribuição para seu estudo. Rev. Inst. Adolfo Lutz 20:5-81, 1960. 2. CASTRO, R. M. & BELLIBONI, N. - über den Sporotrichintest bei Patienten mit ge-heilter Sporotrichose. Mykosen 5:24-26, 1962. 3. DE BEURMANN, C. L. & GOUGEROT, H. - Les sporotrichoses. Paris, Felix Alcan, 1912. 4. FUKUSHIRO, R. - Sporotrichosis in Japan: clinicai and experimental studies. Japan J. Dermatol. 68:24, 1958. 5. GONÇALVES, A. P. & CARVALHO, L. P. - Apreciação do teste intradérmico com a esporotriquina. An. brasil. Dermatol. & Sif. 29:103-112, 1954. 6. GONÇALVES, A. P. & PEREIRA, A. M. -Contribuição para o estudo imunológico da esporotricose: comunicação à XVIII Reu-nião anual dos Dérmato-Sifilógrafos brasi-leiros, Fortaleza, 1961. 7. GONZALEZ-OCHOA, A. & SOTO-FIQUEI-ROA, E. - Polisacaridos dei Sporotrichum schencki: da tos inmunológicos, intradermo-reacción en el diagnóstico de la esporotri-cosis. Rev. Inst. Salub. & Enf. trop. 8:143-153, 1947. 8. LACAZ, C. S.; CASTRO, R. M. & LOPEZ, A. A. - O diagnóstico da esporotricose pela prova da esporo triquina: comunicação à X Reunião anual dos Dérmato-Sifilógra-fos brasileiros, Curitiba, 1953. 9. PEREIRA, C. A. Contribuição ao estudo do valor prático da intradermo-reação com a esporotriquina no diagnóstico da esporo-tricose. Rev. méd. Paraná 24:83-85, 1955. 10. SILVA, J. E. & GONÇALVES, A. P. - Nota sôbre o valor diagnóstico da esporotriquina. Hospital, Rio de Janeiro 38: 625-631, 1950. Recebido para publicação em 20 agôsto 1962. 385 

The immunology of sporotrichosis. I - Sporotrichin test after the cure of sporotrichosis – Sporotrichosis Study Group

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