Chieffi, Pedro Paulo

Hirata, Maria da Graça M.

Paes, Roberto A. Pinto

Ueda, Mirthes

Yokomizo, Ryuko M.

Portuguese

Cadernos Espinosanos (E-Journal)

Rev. Inst. Med, trop. São paulo24(4):193-197, julho-agosto, lgïzANTICORPOS ANTI.FIOMPHALARIA EM SOROS DE PACIENTES ECAMUNDONGOS IÑFECTADOS POR SCHISTOSOMA MANSONIPedro Paulo cHrEF'Fr (1,2), Mtrthes UEDA (r), Roberto.å,. p¡nto paES (l,p), ru¿rr¡ de crege M.HIBATA (1) e Ryuko M. YOKOMTZO (t)RESUMOcom a finalidade de estudar a ocorrência e a dinâmica de surgimento de an-ticorpos anti-Biomphalaria no soro de seres humanos e camundongos infectadospor Schistosoma mansoni, analisaram-se através de reação de hemaglutinaçãopassiva 52 soros de pacientes comprovadamente parasitados pelo trematódeo e40 soros de camundongos experimentalmente infectados. como grupos controleutilizaram-se, no primeiro caso, 42 soros de indivíduos não esquistossomóticos e,no segundo, 15 soros de camundongos náo infectados peto helminto. Os resulta-dos revelaram que nos pacientes esquistossomóticos e especialmente nos camun-dongos experimentalmente infectados os títulos do anticorpos anti-Biomphalariasáo maig elevados do que nos grupos controle. o exame de camund.ongos infec-tados, em diversas ocasiões, revelou a presença de anticorpos anti-Biomphalaría,em níveis pouco variáveis, a partir do 15.. dia após a infecção e, pelo menos, atéo 95." dia, osasião em que se encerróu o experimento.cDU 616.995 .122A existência de fenômeno de mascaramen-to antigênico na esquistossomose, decorrenteda adsorção ou produção de antígenos semelhantes a constituintes do hospedeiro por es-quistossômulos durante sua fase de evoluçãono hospedeiro vertebrado, é admitida há maisde urna década. Este processo, perdurandoapós a rnaturação dos vermes, seria respon-sável pela evasão do parasita frente a respos-ta imunitária do hospedeiro que o alberga +.Ao nÍvel do hospedeiro intermediário, diversos Autores mostraram a ocorrência de an-tÍgenos comuns entre miracídios, esporocistose cercárias de Schistosoma haematobium e S.mansoni e planorbÍdeos3.8,2,6'7,10.No soro de seres humanos infectados porS. mansoni e S. haematobium demonstrou-se aexistência de anticorpos anti-cararnujos,T.INTRODUçÃONo presente trabalho estuda.se a presen-ça de anticorpos anti.Biomphalaria no soro depacientes infectados por S. m¿ulsoni em nossomeio e procura-se determinar a dinâmica deaparecimento destes anticorpos ena camundon-gos infectados experimentalmente pelo trerna-tódeo.MATERIAL E MÉTODOSO trabalho foi dividido em duas partes. Naprimeira pesquisou.se a presença de anticor-pos anti-Biomphalaria em soros de 52 pacien-tes oomprovadamente infectados por S. ma¡so-ni e provenientes de diversas regiões do país,além de 42 soros de indivíduos originários deregiões não endêmicas para esquistossomose ecom exames coprológicos negativos. Na segun-da etapa do trabalho procurou-se estudar a(1) Instituto Adolfo Lutz, São Pauto(2) Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São pauto193cHIEFT'I, p. p.; UEDA, M.; PAES, R. A. P.; HIRATA, M. da G.M. &YOKOMIZO,R.M.-Anticorposanti-Biomphal¿riaem soros de pacientes e camundongos infe€tados por Schisúosoma rnansoni, Rev. Inst, Med. trop. São Paulo 24:193-197. 1982.dinâmica de apa,recimento de anticorpos anti-caramujo, em camundongos experimentalmenteinfectados. Utilizaram-se 60 qamundongos albi-nos, machos, cepa A,/SN, com dors meses deidade, dividido,s em dois lotes. O primeiro lote,composto de 45 animais, foi infectado, por viatranscutânea, com 40 a 50 cercárias de S. man'soni (cepa SC-3), obtidas de 15 exemplares deBiomphalaria glabrata; os restantes 15 camun-dongos constituírarn o grupo controle, não in-fectado.A partir do 15.' dia até o 95." dia após a in-fecçáo, em diversas ocasiões, animais dos gru-pos controle e experimental foram sangrados(ver figura). No grupo experimental cinco ca-mundongos morreram antes do término doexperimento, permitindo obter-se soro em ape'nas 40 animais; no grupo controle não ocorreunenhum óbito.Pesquisou-se a presença de anticorpos anti-Biornphalaria nos soros humanos e de camun-dongo's através de reação de hemaglutinaçãopassiva, utilizando-se antígeno extraído deexemplares não infectados de B. glabrata, cria-dos em laboratório.Para, a, realização, da reação de hemagluti-naçáo passiva empregaram-se hemácias huma-nas do grupo O, Rh negativo, formolizadas etaninizadas. Obteve-se a sensibilização das he-mácias com o antígeno específico na concen-tração de 500 a 600 mcg P/ml. Efetuou-se a rea-çáo por técnica de microtitulação em placasde poliestireno co n fundo em V.Para a extração do antígeno exemplares deB. glabrata, livres de infecção por larvas detrematódeos, foram retirados de suas conchase lavados três vezes em solução de NaCl 0,15 Me, a seguir, pesados. Para cada 450 mg de mo-lusco adicionaram.se 3 ml de solução de TrÍtonX.100 (octil fenoxi polietoxietanol) a 10/0. Asuspensão obtida foi homogeneizada, perrnane-cendo a 4'C durante 15 a 18 horas. A seguir,centrifugou-se a suspensão em centrífuga Ser-va,ll RC-2 a 32.000 g, durante 30 minutos. Osobrenadante, que constituiu a solução ¡l.ntigê-nica, foi separado; dosou-se seu teor protêicopelo método de biureto.Por método análogo ao acima descrito, ob-tiveram-se antígenos de duas outras espéciesde moluscos, B. tenagophila e Bradyb&ena sp.,que foram utilizados, na segunda etapa da pesquisa, com a finalidade de determinar a espe-cificidade dos anticorpos anti-Biomphalaria for-mados nos camundongos infectados por S. man.soni. Para tanto, 20 soros de camundongos in-fectados por S. mansoni foram, concomitante'mente, testados com antígenos de B. glabrata,B. tenagophila e Bradybaena sp..RESI]LTADOSNa primeira parte do trabalho, notou-seque me,smo indivÍduos não infectados por S.rna¡rsoni podem apresentar anticorpos anti-Biomphalaria em títulos baixos; contudo, nospacientes lnfectados pelo parasita os títulosobservados foram significativamente mais ele-vados, conforme mostra a Tabela I.Na segunda etapa, os resultados obtidos emcamundongos mostrararn também a presençade anticorpos anti-BiomplralarÍa em animaisnão infectados por S. mansoni, todavia em tí-tulos bem menores do que o verificado enrseres humanos. Ao mesmo tempo,28 (?00/o) den-tre os 40 camundongos infectados revelaramtítulos superiores aos do grupo controle nãoinfectado (ver Tabela II).TABELA IDistribuição dos tÍtulos de anticorpos antiBlomphelariÐ om soros de pacientes esquistossomóticos e em controles nãoinfectadosSoros(diluição)PacientesEsquistossomóticosControles19410 t2 19IIOIÐIóOltlg24 1:20485242CHIEFFT' P' P'; UEDA, M'; P'{Es, R. A. P.; HTRATA, M. da G. M. & YoKoMrzo, R,. M. - Anticorpos anti-Biomphelariaem soros de pacientes e camundongos infectados por schistosoma mansoni. Rev. rnst, Med. trop. são p¿ulo 24:193.19?. 1982"TABEL.A IIDistribuição dos tftulos de anticorylos anti'Blomphaìaia em soros de carnundongos infectados experimentalmenrc por s.m¿nson¡ e em controles não infectad.osSoros(dituição)CãmundongosfnfectadosControlesA figura abaixo mostra que já a partir do15.' dia após infecção por S. mansoni se en-contram anticorpos anti-Biomphala,ria no soro2332334107.ode camundongos, mantendo-se os títulos, deforma quase inalterável, até, pelo menos, o95." dia pós infecção.Quan'do se testaram 20 soros de camun-dongos com antígeno extraído de B. tenago.phila'e os resultados foram comparados com oso;btidos com o antígeno produzido a partir deexemplares de B. glabrata, verificou-se peque-na discordância nos títulos de anticorpos anti-caramujo. Em 14 ,soros os títulos forarn iguaisou diferiram em apenas uma diluiçáo e em 6soros obtiveram-se títulos menores, duas oumais diluições, quando se utilizotl o antígenoextraÍdo de B. úenagophila. Quando estes mes-mos soro6 foram testados com antígeno obtido40lðFìCuro: lílulo6 dc oñticorpos onti-BiomÞholor¡o, dclactoóor por hamoglul¡noçõo po!!¡vor en ¡oro¡ dgcoúundongoÊ iñfectoóo3 por schilto$mo nonsoîia partir de exemplares de Bradybaena sp.,não ocorreu aglutinação em nenhum caso.DISCUSSÃONão existe ainda uma explicação definiti-va para a existência de anticorpo,s anti.cara.mujo no soro do hospedeiro vertebrado de tre-matódeos do gênero Schistosoma. Achados deJACKSON ó, que trabalhou com S. haemato.bium, levantam a hipótese de ca¡reamento deantígenos do planorbídeo pelo glicocálice das195oGiupo ønlroler Grupo inlcctodoCHIEFFI, p. p.; UED,{, M.; PAES, R. A: P.; HIRAT.A, M. da G.M. &YCIKOMIZO,R.M.-AnticorposantlBlomph¿lari&em soros de pacientes e câmundongos infe€tados por Schistosoma m&nsoni. nev. Inst. Med. trop. São Paulo 24:193-197, 1982.cercánas, para o organismo do hospedeiro ver-tebrado. Outros pesquisadores 3's,1 obtiverarn r€-sultados que levaÍr a supor que existe reati,vidade cruzada entre antígenos de Biomphalariae fases evolutivas de S. mansoni. STEIN& BASCHe acreditam, por sua vez, que é pos-sível que estágios evolutivos de S. mansoni,ainda no interior de caramujos, sejam capa-zes de sintetizar antígenos de superfície imu-nologicamente semelhantes aos do hospedeirointermediário, configurando-se mecanlsmo demascaramento antigênico comparável ao já des-crito para a evolução do parasita em seu hos-pedeiro vertebrado+.Os resultados do'presente trabalho suge-rem a existência de anticorpos anti-Biompha-laria no soro de pacientes corn infecção es-quistossomótica, a,ssiln como em camundongosexperimentalmente infectados pelo tremató'deo,confirmando achados de outros pesquisado-¡ssó'7¡10. É importante destacar que tanto nosoro de camundongos do grupo controle, comoem seres humanos não infestados por S. man.soni, ocorreram naturalmente, em títulos pou-co elevados, anticorpos anti-Biomphalaria. Re-sultado semelhante foi cornunicado por JACK-SON & DE MOORz. Todavia, o encontro de tí-tulos mais elevados de anticorpos anti-Biom-phalaria e:m TOVI dos carnundongos infectadospor S. mansoni, mostra que a prqsença do pa-rasita é importante para a manutenção de ní-veis altos de tais anticorpos.Os antlcorpos anti-Biomphalaria surgiramprecocemente nos animais infectados, podendoser demonstrados a partir do 15: dia pós in-fecção e se mantiveram, sem grandes varia-ções, até, pelo menos, o 95.' Qia. Verificou-sereatividade crazada entre o's soros de camun-dongos testados e antígenos obtidos a partirde B. glabrata e B. tenagophila, embora as cer-cárias utilizâdas p,ara a infecçáo dos camun-dongos fossem todas originárias de exempla-res de B. glabrata. Este fato, aliado à falta dereatividade dos soros estr¡dados com o antigeno obtido a partir de exemplares de Bradry.baena sp., leva a ¡supor que os anticorpos anti-caramujo que surgem na infecçáo esquistosso-mótica são gênero-específicos.Dentro das limitações metodológicas queexistem no presente trabalho náo é possÍvel su-gerir outras hipóteses, além das já existentes,196para explicar a presenga de anticorBos anti-Biomphalari& no soro de hospedeiros verteþra'dos de S. mansoni. Contudo, este fenÔmeno me-rece estudos mais aprofundados pela possfbili-dade de elucidar melhor certos aspectos da bio'logia dos trematódeos do gênero Schistosoma.SUMMARYAnti.Bíomphalaria antibodies in sera from pa'tients and mice infected with SchistosomamansoniF'ifW-t\Mo sera from bilharzia infected indi'viduals and 40 sera from mice experimentallyinfected with S. mansoni were studied bymeans of passive haemagglutination test, inorder to investigate the occurrence of anti-Biomphalaria antibodies. As control groups, inthe first study 42 sera from healttty individualswere employed, and 15 uninfected mice serain the second case. The results indicated thatthe titers of anti-Biomphalaria antibodies are'higher in sera from patients with S. ma¡rsoniinfections that in the control group. This phe-nomenon was strikingly evident when resultsobtained from infected mice were considered.The sera from infected mice collected atdifferent time demonstrated the occurrence ofanti-Biomphalaria antibodies, with an incons-picuous variation in titers, as from the 15thday after infection aJrd, at least until the 95thdayr just the time when this experiment wasbrought to end.REFERÊNCIASI BIBLIOGRÁFICAS1. BASCH, P. F. & DI CONZA, J. J. - Snails and larvalschistosomes: common antigens. l1th. Joint Conferenceon Parasitic Diseases, Japan, 1976. Apud: STEIN, P.C. & BASCH, P. F. - Bge snails coll-line antigens:ineffectiveness as antischistosomal vaccine in mice. J.P¿rasit. 65: 862-869, 19?9.2. 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Anticorpos anti-biomphalaria em soros de pacientes e camundongos infectados por Schistosoma Mansoni

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Anticorpos anti-biomphalaria em soros de pacientes e camundongos infectados por Schistosoma Mansoni

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