Boas razões para um desempenho ruim em testes: o substrato interacional dos exames educacionais

Abstract

This paper was originally published in 1992. It arose out of a project to study how clinicians tell parents a diagnosis of a developmental disability. That specific project was part of a larger one conducted in 1985-1986 to study the delivery of bad and good news in both ordinary and medical settings (Maynard, 2003). As part of the developmental disabilities study, we also examined how testing was done as a precedent to deciding on diagnosis (Marlaire and Maynard, 1989), and the paper here about the “interactional substrate” was meant to show the orderliness of testing interactions – the basic structures that made it possible to generate valid and reliable examination scores that could lend to the official assessment. More recently (2013-2015), a research team and I returned to the same clinic with a grant from the U.S. National Science Foundation, to study more intensively the testing and diagnosis of Autism Spectrum Disorders (ASD). In the time between the 1985 study and the recent one, the prevalence of ASD had skyrocketed in the U.S. from 1 in 5000 children to the current rate of 1 in 68. A study of the micro-interactions surrounding testing and diagnosis does not explain the increase in prevalence but it does say just how testing is done and how clinicians use results and other information to diagnose children. With regard to testing, in particular, we have come back to the paper on the interactional substrate again and again because probing this substrate and the practices by which it is constituted remains as an avenue in to understanding ASD as not just a condition of the child but as something that is manifested as a feature of social interaction. There are ways in which ASD as a child’s condition is co-produced by way of (i) the orderliness of interactions between clinicians and children, and (ii) how tests constrain both the clinician and the child in terms of what is visible as “competence.” Thus, in current work, we distinguish between what we call first-order, or concrete competence, which, by way of the interactional substrate, allows testing to be done, regardless of what the official results may be, and second-order displays of abstract competence (Maynard and Turowetz, 2016). Abstract competence involves the ability to produce general answers or ones that are shorn of embodied or other contextual orientations to questions or that involve what Donaldson (1978) has called “disembedded knowledge.” The emphasis of clinical tests on measuring second-order, abstract competence may obscure various kinds of first-order, concrete competence and “autistic intelligence” a child displays (Maynard, 2005). By doing so, testing can potentially make the child seem more impaired than he or she is, or at least suppress information that could improve performance and/or be informative for how to design home and schooling environments that enhance a child’s skills and integration into these social units.Keywords: psychological testing, conversation analysis, disability.Este artigo foi originalmente publicado em 1992. Ele surgiu de um projeto para estudar como os médicos apresentam aos pais um diagnóstico de deficiência no desenvolvimento infantil. Tal projeto específico fazia parte de outro mais amplo, conduzido entre 1985-1986, para estudar a comunicação de boas ou más notícias tanto em cenários cotidianos quanto em cenários de tratamento de saúde (Maynard, 2003). No estudo das deficiências de desenvolvimento, também examinamos o modo como eram realizados os testes que precediam a decisão sobre o diagnóstico (Marlaire e Maynard, 1989), sendo que o artigo aqui apresentado, sobre o “substrato interacional”, visava a mostrar o caráter ordenado das interações durante os testes – as estruturas básicas que possibilitavam gerar escores de exames válidos e confiáveis que pudessem levar à avaliação oficial. Mais recentemente (2013-2015), retornei à mesma clínica com um grupo de pesquisa, com financiamento da Fundação Nacional de Pesquisa dos EUA (U.S. National Science Foundation), para estudar mais intensivamente a testagem e o diagnóstico dos Transtornos do Espectro Autista, TEA, (Autism Spectrum Disorders, ASD). Entre o estudo de 1985 e o mais recentemente realizado, a prevalência de TEA nos EUA disparou de 1 em 5000 crianças para a taxa atual de 1 em 68. Um estudo das microinterações envolvidas nos testes e diagnósticos não explica o aumento na prevalência, mas revela, sim, como os testes são realizados e como os médicos usam os seus resultados e outras informações para diagnosticar as crianças. Em relação à testagem, em particular, retomamos inúmeras vezes o artigo de 1992 sobre o substrato interacional, pois o exame desse substrato e das práticas que o constituem continua sendo um caminho para que se compreendam os TEA não só como condição da criança, mas também como algo que se manifesta como traço da interação social. Há, pois, maneiras de se coproduzir os Transtornos do Espectro Autista como uma condição da criança, as quais se prendem a: (i) o caráter ordenado das interações entre médicos e crianças, e (ii) o modo como os testes cerceiam tanto o médico como a criança em termos do que é visível como “competência”. Assim, no trabalho atual, distinguimos entre, primeiro, o que chamamos de competência concreta ou de primeira-ordem, que permite, por meio do substrato interacional, que a testagem seja realizada, independentemente de quais possam ser os resultados oficiais; e, segundo, o que chamamos de demonstrações de competência abstrata, ou de segunda-ordem (Maynard e Turowetz, 2016). A competência abstrata envolve a habilidade de produzir respostas gerais ou que sejam despidas de orientações para a pergunta com base em elementos corporais ou contextuais de outra natureza, ou que envolvam o que Donaldson (1978) chamou de “conhecimento desencaixado” (“disembedded knowledge”). A ênfase dos testes clínicos em medir a competência abstrata, de segunda-ordem, pode tornar obscuros vários tipos de competência concreta, de primeira-ordem, e de “inteligência autista” que uma criança demonstre (Maynard, 2005). Realizada assim, a testagem pode, potencialmente, fazer uma criança parecer mais incapacitada do que realmente é, ou pode, no mínimo, suprimir informação que pudesse melhorar o desempenho e/ou contribuir para projetar ambientes domésticos e escolares que ampliem as habilidades da criança e a sua integração nessas unidades sociais.Palavras-chave: teste psicológico, análise de conversa, deficiência

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