Fiorini, Maria Luiza Salzani

Nabeiro, Marli

Portuguese

Revistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia UNESP (Universidade Estadual Paulista São Paulo)

Revista Adapta, Presidente Prudente, v. 9, n. 1, p. 13-18, Jan./Dez., 2013  13Treinamento de Colegas Tutores como Auxílio à Inclusão de Alunos Artigos / ArticlesAs aulas de Educação Física promovem ativida-des como jogos, esportes, danças, lutas e ginásticas (BRASIL, 1998). Os professores de Educação Física, cotidianamente, necessitam estabelecer estratégias de ensino e selecionar recursos pedagógicos adequados e/ou adaptados para que seu alunado realize as ati-vidades propostas (SEABRA JÚNIOR; MANZINI, 2008; BLOCK, 2000). Especiicamente no caso de alunos com deiciência regularmente matriculado no Ensino Regular, uma das estratégias pode ser a Tutoria (NABEIRO, 2010; SOUZA, 2008). O aluno sem de-iciência que voluntariamente auxilia um aluno com deiciência, durante as atividades, a receber o maior número de instruções, informações e feedback é de-nominado de Colega Tutor (NABEIRO, 2010, 2002).Em decorrência de um estudo sobre a intervenção com o professor de Educação Física para inclusão edu-cacional do aluno com deiciência visual (FIORINI, 2008)1, foi realizado um treinamento de Colega Tutor para uma turma do 1º ano do Ensino Fundamental, no qual estava matriculado um aluno com cegueira total, de uma cidade da região Centro-Oeste do Estado de São Paulo. O treinamento de Tutores pautou-se no modelo tra-dicional elaborado por Houston-Wilson et al. (1997) e foi delineado em três etapas: 1) dinâmica com ima-gens; 2) sensibilização e vivência da deiciência visual; 1 Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências, Unesp – Marília, sob o Processo n°. 1019/46/01/08 Treinamento de Colegas Tutores como Auxílio à Inclusão de Alunos com Deficiência em  Aulas de Educação FísicaMaria Luiza Salzani FioriniUniversidade Estadual Paulista, Unesp – campus de MaríliaMarli NabeiroUniversidade Estadual Paulista, Unesp – campus de Bauru3) treinamento especíico e avaliação escrita. Estipulou-se que, a primeira e a segunda etapas aconteceriam com todos os alunos da sala, para que todos pudessem contribuir e se engajarem com a questão e, a terceira e quarta etapas seriam desenvolvidas com alunos indica-dos pelo próprio aluno com deiciência visual.  Primeira etapa do treinamento para Colegas TutoresInicialmente foi realizada uma conversa com o alu-no com deiciência visual para explicar a intervenção que seria realizada. Com o aceite do aluno, foi expla-nado com a turma sobre a deiciência visual, tendo o aluno colaborado nas respostas sobre as curiosida-des dos colegas de turma em relação à deiciência em questão.Com o objetivo de transmitir informações e dicas aos alunos sem deiciência sobre os modos de apro-ximação, auxílio e condução do aluno com deiciên-cia visual, buscou-se um procedimento adequado aos alunos do 1º ano do Ensino Fundamental e que ainda não eram alfabetizados. Para isso, recorreu-se ao uso de algo familiar a tal faixa etária: dinâmica com ima-gens (ORLANDO, 2007). Ao todo foram utilizadas seis imagens que retratavam situações do cotidiano escolar entre aluno com deiciência visual e alunos sem deiciência, para que as crianças da turma dis-sessem o que perceberam em tal igura, como agiriam neste caso e colorissem a parte representativa.14     Revista Adapta, Presidente Prudente, v. 9, n. 1, p. 13-18, Jan./Dez., 2013FIORINI, M. L. S.; NABEIRO, M. A “Figura 1” representou a ideia da responsabili-dade que o colega tutor precisa ter ao proteger o aluno com deiciência do perigo. A parte a ser colorida era o espaço que representava o perigo. Figura 1 – Responsabilidade. Fonte: (FIORINI, 2008).A “Figura 2” foi sobre a locomoção do aluno com deiciência visual. O elemento principal e que foi co-lorido pelos alunos foram os braços dos personagens desenhados. Figura 2 – Locomoção. Fonte: (FIORINI, 2008).Na “Figura 3”  foi abordado o respeito entre todos os alunos. O foco a ser colorido foi a criança desenha-da no centro de todas as outras e que representava o aluno com deiciência.Figura 3 – Respeito. Fonte: (FIORINI, 2008).A “Figura 4” enfatizou o sistema de maior inde-pendência no qual objetiva-se a performance do aluno com o mínimo de intervenção. Salientou-se a importância da comunicação verbal, da informação auditiva, da narrativa dos fatos ocorridos e que irão acontecer. Figura 4 – Informação verbal. Fonte: (FIORINI, 2008).A “Figura 5” continha uma situação de alunos brin-cando com bolas e o direcionamento da conversa foi no sentido de levar os alunos à percepção de algumas estratégias para melhor conduzir os movimentos do aluno com deiciência visual nesse tipo de atividade.Revista Adapta, Presidente Prudente, v. 9, n. 1, p. 13-18, Jan./Dez., 2013  15Treinamento de Colegas Tutores como Auxílio à Inclusão de Alunos Artigos / ArticlesFigura 5 – Brincando com bolas.Fonte: (FIORINI, 2008).A “Figura 6”  representou uma situação de uso da corda-guia, que pode ser utilizada na locomoção da pessoa com deiciência visual. Figura 6 – Corda-guia.Fonte: (FIORINI, 2008).Segunda etapa do treinamento para Colegas TutoresCompreendeu uma dinâmica em grupo realizada por meio de uma vivência para que todos os alunos da turma passassem por situações práticas com os olhos vendados, uma vez que o colega de sala apresenta deiciência visual, sendo uma adaptação da ideia de sensibilização a respeito da deiciência proposta por Houston-Wilson et al. (1997). Os alunos formaram duplas e cada uma destas recebeu uma venda, a qual foi utilizada de forma alternada pelos alunos, haven-do sempre um vendado e um Tutor sem venda, sendo que todos eles deveriam realizar todas as atividades propostas. É válido ressaltar que o aluno com deici-ência visual participou de todas as atividades.A sequência de atividades teve por objetivo geral trabalhar o que Houston-Wilson et al. (1997) denomi-nam de técnicas de comunicação e ensino. Na primei-ra atividade, os Colegas Tutores tinham como tarefa conduzir o aluno vendado até a outra lateral da qua-dra poliesportiva, porém a única instrução permiti-da era a verbal, não podendo haver contato físico. Ao chegar à lateral, inverteu-se o aluno vendado e a ativi-dade repetiu-se como pode ser visualizado na Figura 7, a seguir. O objetivo desta atividade foi justamente ressaltar aos alunos, assim como foi feito nas situações dos desenhos, a importância que a informação verbal e o diálogo de uma forma geral têm no dia a dia do aluno com deiciência visual. Figura 7 – Vivência em grupo. Fonte: (FIORINI, 2008).A segunda atividade abordou o uso da corda-guia a ser utilizada para facilitar o deslocamento do aluno com deiciência visual durante as atividades. Ainda em duplas, um vendado e outro sem venda, os alunos de-veriam deslocar-se pela quadra usando a corda-guia, que foi confeccionada com barbante no comprimento de 50 cm (LIERBERMAN et al., 2001). As vantagens no uso da corda-guia dizem respeito à diminuição do medo apresentado pelo aluno com deiciência visual em atividades de deslocamento, o aluno ter mais espaço disponível e pode se sentir mais independente do que com as demais técnicas (LIERBERMAN et al., 2001) e o aluno com deiciência apresenta plena amplitude de movimento dos braços, ao mesmo tempo em que está próximo ao Colega Tutor (WINNICK, 2004).Na Figura 8 pode ser visualizado uma das duplas durante a dinâmica em grupo com o uso da corda-guia:16     Revista Adapta, Presidente Prudente, v. 9, n. 1, p. 13-18, Jan./Dez., 2013FIORINI, M. L. S.; NABEIRO, M. Figura 8 - Vivência em grupo: uso corda-guiaFonte: (FIORINI, 2008).Para a realização da terceira atividade foi amarra-da uma corda entre as duas traves de futsal existentes na quadra poliesportiva. Colocou-se uma argola nesta corda, sendo que a argola era livre e podia ser mo-vimentada por toda a extensão da corda. Os alunos foram vendados e individualmente deveriam andar ou correr de um lado ao outro segurando na argola presa à corda. Em cada uma das traves havia uma pes-soa, indicando, por meio de uma instrução verbal, o momento em que o aluno havia chegado ao inal da corda. Antes do início da atividade, a mesma foi de-monstrada. O objetivo foi trabalhar a independência do aluno com deiciência visual que, por meio do uso do cabo-guia pode correr sozinho, independentemen-te do tempo ou distância (WINNICK, 2004), além de poder correr para diversas direções, o modo de correr pode ser mais eiciente, com o balanço dos dois braços quase completos e, o aluno com deiciência assume um papel independente do Colega Tutor (LIEBERMAN et al., 2001). A Figura 9 exempliica a atividade:Figura 9 - Vivência em grupo: independênciaFonte: (FIORINI, 2008).Terceira etapa do treinamento para Colegas TutoresA terceira etapa do treinamento para Colegas Tutores foi realizada com um grupo de oito alunos, da turma, voluntários e selecionados pelo próprio aluno com deiciência visual, como sendo aqueles que co-mumente o acompanhavam e ajudavam durante as aulas de Educação Física, além do aluno com deici-ência visual e do professor de Educação Física.Esta etapa ateve-se ao treinamento especíico, no qual foram reforçados os modos de condução do alu-no com deiciência visual que pode ser segurando no braço do colega tutor, ou então, com a corda-guia; a importância da instrução verbal e a utilização desta como primeira fonte de informação dada ao aluno com deiciência;  evitar puxões e empurrões, devendo sempre se identiicar ao aluno com deiciência quando estiver se aproximando e, auxiliar e proteger o aluno com deiciência do perigo.O treinamento especíico iniciou-se com uma conversa com os nove alunos e com o professor de Educação Física, para pontuar e enfatizar as questões trazidas pelos desenhos e vivenciadas em quadra, nas etapas anteriores. Além do diálogo, o treinamento especíico contemplou a prática de atividades que re-forçaram tópicos como: os modos de condução que podem ser o aluno com deiciência visual segurando no braço do Colega Tutor, ou então, com a corda-guia; a importância da instrução verbal e a utilização desta como primeira fonte de informação dada ao Aluno com deiciência;  evitar puxões e empurrões, deven-do sempre se identiicar ao Aluno com deiciência quando estiver se aproximando e, auxiliar e proteger o Aluno com deiciência do perigo. Ao término do treinamento especíico foi realiza-da uma avaliação, na forma escrita, com sete questões de múltipla escolha e uma questão aberta. As questões de múltiplas escolhas versaram sobre: 1) segurança do aluno com deiciência visual; 2) modos de condução; 3) aproximação e comunicação; 4) uso de objetos con-cretos; 5) feedback; 6) atividades de corrida e, 7) assis-tência física. A questão aberta era sobre a opinião dos alunos sobre as três etapas do treinamento de colega tutor e como isto poderia contribuir para a participa-ção do aluno com deiciência nas aulas de Educação Física. O objetivo era analisar o grau de entendimento dos alunos com e sem deiciência sobre o assunto; o efeito que o treinamento para Colega Tutor teve em tal turma e, reforçar todo o conteúdo transmitido a eles Revista Adapta, Presidente Prudente, v. 9, n. 1, p. 13-18, Jan./Dez., 2013  17Treinamento de Colegas Tutores como Auxílio à Inclusão de Alunos Artigos / Articles(SOUZA, 2008). Todavia, a maioria dos alunos volun-tários ainda não era alfabetizada e, por isso, a pesqui-sadora fez a leitura das questões e respostas, uma a uma, e a cada uma das alternativas de respostas os alu-nos concordavam ou não com o que estava escrito, até que chegasse a uma resposta. O aluno com deiciência visual acompanhou a avaliação e sempre era indagado se concordava com as respostas.  A Figura 10 repre-senta o registro do momento da avaliação:Figura 10 – Momento da avaliação inal.Fonte: (FIORINI, 2008).Algumas considerações Conscientes da existência, por muitas vezes, de um colega de classe que auxilia o aluno com deiciência de forma natural e espontânea, o treinamento do Colega Tutor é uma estratégia para preparar os alunos neste auxílio, tanto ao aluno com deiciência quanto ao pró-prio professor de Educação Física. Por meio do treina-mento, os alunos podem aprender vários conteúdos, como as características da deiciência e as formas es-pecíicas de ajuda. Sendo assim, o Colega Tutor trei-nado é uma estratégia de ensino que pode ser utilizada para dinamizar a aula de Educação Física no contexto da inclusão educacional e, ainda, diminuir o precon-ceito, pois apresenta muitas informações importantes para a compreensão das necessidades e das capacida-des dos alunos com deiciência. ReferênciasBLOCK, M. E. A teacher’s guide to incluing students with disabilities in general physical education. 2. ed. Baltimor: Paul H. Brookes, 2000.BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação fundamental. Brasília, DF: MEC SEF, 1998.FIORINI, M. L. S. Alunos e professor na dinâmica da inclusão: intervenção nas aulas de educação fí-sica. 2008. 89 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Educação Física) – Faculdade de Filosoia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2008.HOUSTON – WILSON, C. et al. Peer tutoring: a plan for instruction students of all abilities. Brazilian International Journal Adapted Physical Education Research, v. 68, n. 6, 1997.LIEBERMAN, Lauren. et al. (2001). A study of guide – running techniques for children who are blind. Palaestra, 20 – 26. LIEBERMAN, Lauren. O colega tutor nas aulas de educação física inclusiva. In: MENDES, E. G.; ALMEIDA, M. A. (Org.). Das margens ao centro: perspectivas para as políticas e práticas educacio-nais no contexto da educação especial inclusiva. Araraquara: Junqueira & Marin, 2010. NABEIRO, M. Os efeitos da participação do colega tutor no nível de atividade física de alunos com deiciência visual total e parcial nas aulas de educação física in-clusiva. 2002, 24 f. Relatório de Afastamento (Pós – Doutorado) – Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2002.ORLANDO, Patrícia d’Azevedo. A Inclusão e a Educação Física: Colega Tutor como estratégia de ensino. 2007. 49p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Educação Física) – Universidade Estadual Paulista, Bauru, 2007.SEABRA JUNIOR, Manoel Osmar; MANZINI, Eduardo José. Recursos e estratégias para o ensino do aluno com deiciência visual na atividade física adaptada. Marília: ABPEE, 2008.SOUZA, Joslei Viana de.  Tutoria:  estratégias de ensino para inclusão de alunos com deiciência em aulas de educação física. 2008. 136 f. 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Treinamento de Colegas Tutores como Auxílio à Inclusão de Alunos com Deficiência em Aulas de Educação Física

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