Colodete, Maria Fabris

Pereira, Oberdan José

Portuguese

Em Questao

Levantamento Florístico da restinga de Regência, Linhares / ES

Archives of the Faculty of Veterinary Medicine UFRGS

NOTA CIENTÍFICA Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 558-560, jul. 2007   Introdução  As restingas no Espírito Santo apresentam larguras variando de poucos metros até mais de trinta quilômetros no sentido oeste, como na região da foz do Rio Doce, ao norte do estado [1], sendo um dos ecossistemas mais representativos desta região [2]. No Espírito Santo as formações vegetais têm sido classificadas em onze tipos, sendo elas Formação Halófila; Formação psamófila reptante; Formação pós-praia; Formação palmae; Mata de Myrtaceae; Formação mata seca; Formação de brejo herbáceo; Floresta periodicamente inundada, Floresta permanentemente inundada e ainda Formação aberta de Ericaceae e Formação aberta de Clusia localizadas no segundo cordão arenoso [3]. Dentre os autores que estudaram as restingas ao norte do estado do Espírito Santo, podemos destacar os estudos de Pereira & Gomes [4] em Conceição da Barra, Pereira et al. [5], Pereira & Assis [6], Pereira et al. [7] em Linhares.  A vegetação analisada se encontra situada na região de Comboios e corresponde à planície costeira do delta do Rio Doce, sobre sedimentos do Holoceno [8]. Este trabalho tem como objetivo listar as espécies e seu padrão de distribuição geográfica, na formação arbustiva aberta da restinga de Regência.  Material e métodos O estudo foi realizado em Regência no município de Linhares, em área contígua à Reserva Biológica de Comboios (Decreto Federal 90.222 de 25 de setembro de 1994), no Estado do Espírito Santo, entre as coordenadas geográficas de 19º 38’ a 19º 45’ Sul e 39º 45’ a 39º 55’ Oeste. Antecedendo o trecho amostral, no primeiro cordão arenoso, a cobertura vegetal é da formação halófila, atingida esporadicamente pela ação da maré e, psamófila reptante, agrupando grande número de espécies estoloníferas. No segundo cordão arenoso, onde foi estabelecida a área amostral, a vegetação é descontinua, correspondendo a formação arbustiva aberta não inundável, sendo esta organizada em moitas. O material foi coletado e processado segundo técnicas usuais e depositado no herbário VIES da Universidade Federal do Espírito Santo e identificados utilizando a literatura e comparação em herbários.  A classificação da comunidade está de acordo com [9]. A distribuição geográfica segue proposição de Araujo [10]. Todos os indivíduos contidos nas moitas e entre moitas foram registrados, compondo a lista florística da área. As famílias estão de acordo com a proposição do APGII [11].   Resultados e Discussão O trecho analisado é enquadrado como formação arbustiva aberta, caracterizado por apresentar entre suas moitas um grande número de espécies de pequeno porte, geralmente herbáceas, distribuídas de maneira dispersa fisionomicamente com a maior parte do solo descoberta de vegetação. Esta formação é também encontrada, com denominações diferentes, em outras restingas brasileiras [12,13,14,15].  Na região de entre moitas da restinga em Regência foram determinadas dez espécies, pertencentes a nove famílias, sendo Fabaceae a de maior riqueza, com dois representantes (Tabela 1). Espécies desta região são mencionadas para outras restingas no Brasil em formações herbáceas e arbustivas abertas [12,16,23].  As espécies encontradas da região de entre moitas em Regência são citadas por Pereira & Araujo [16] para restingas do Espírito Santo, sendo que Pereira [3] menciona para a formação aberta de Clusia, Vernonia fruticulosa, Chamaecrista ramosa e Oxypetalum banksii.  Algumas espécies encontradas em Regência não são restritas à formação aberta de Clusia, ocorrendo na pós-praia [3], Ericaceae [4], florestal não inundável [17]. Na região de moitas foram determinadas 61 espécies, pertencentes a 33 famílias, sendo Bromeliaceae a de maior riqueza florística (seis espécies), seguida por Fabaceae e Orchidaceae (cinco).  Estas famílias estão entre aquelas que apresentam maior número de espécies, a primeira exclusiva para região tropical [18] enquanto a segunda possui ampla distribuição pelo mundo [19], porém são mais abundantes na região equatorial, subtropicais e temperadas [20]. Segundo Ruschi [21] o Espírito Santo é considerado um dos estados mais ricos em espécies de Orchidaceae. Em outros trechos de restinga ao longo da costa Myrtaceae, Leguminosae, Rubiaceae se encontram entre as de maior número de espécies [12, 13]. No trecho amostral ocorre Davilla macrocarpa e Levantamento Florístico da restinga de Regência, Linhares / ES Maria Fabris Colodete1 e Oberdan José Pereira2 ________________ 1. Aluna do Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas (Botânica), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Museu Nacional). Quinta da Boa Vista s/n. São Cristóvão, Rio de Janeiro / RJ. CEP: 20.940-040. e-mail: mcolodete@gmail.com 2. Professor Mestre da Faculdade de Saúde e Meio Ambiente, Faculdades Integradas São Pedro – FAESA. Rod. Serafim Derenze 331115, Vitória, ES, CEP 29048-450.  Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 558-560, jul. 2007  559 Eriope macrostachya, que são citadas pela primeira vez para o estado do Espírito Santo, não sendo também mencionadas para outras restingas do Brasil.  Várias espécies são mencionadas para diferentes comunidades vegetais, como Clusia hilariana [22] e Allagoptera arenaria [4,17,22,23]. Foram determinadas nove espécies de lianas, pertencentes a sete famílias, sendo que Apocynaceae com três espécies é a de maior riqueza, seguida de Passifloraceae (duas).  As lianas não estão restritas a esta formação, podendo ser também encontradas desde comunidades constituídas por espécies subarbustivas até as florestais, em diferentes restingas, como Oxypetalum banksii [3,4,17,24] e Paullinia weinmanniaefolia [17,23,24]. Várias espécies da região de entre moitas possuem ampla distribuição geográfica, não só com ocorrência para o Brasil, mas também para países vizinhos, e até outros continentes, como Ipomoea imperati com padrão “tropical-costeiro” TROP-S, encontrada na América Central e Sul tropical e Chamaecrista ramosa com padrão “Pantropical / Neotropical / América do Sul” TROP [10].  Na região de moitas, o padrão dominante para as espécies é “Costa Atlântica Sudeste/Sul” - SES (39,34%), seguido por “Costa Atlântica Ampla” - ATL (22,95%). O trecho analisado apresenta grande potencial para conservação, se considerar o fato desta área congregar espécies de distribuição restrita, assim como pela sua localização, possibilitando ampliação na troca de material genético com a Reserva Biológica de Comboios, em função de sua proximidade.  Referências  [1] MARTIN, L., SUGUIO, K. & FLEXOR, J.M. 1993. As flutuações de nível do mar durante o Quaternário superior e a evolução geológica de “deltas” brasileiros. Boletim IG, Instituto de Geociências, USP, Publicação Especial 15: 1-186. [2] BEHAR, L. & VIEGAS, G.M.S. 1993. Pteridophyta da restinga de Comboios, Aracruz/Linhares-ES. In: ACIESP-SP(orgs.). Anais II Simpósio de Ecossistemas da Costa Brasileira. p.134-43. [3] PEREIRA, O.J. 1990. Caracterização fitofisionômica da restinga de Setiba-Guarapari-Espírito Santo. In: ACIESP-SP(orgs.). II Simpósio de Ecossistemas da costa sul e sudeste brasileira: estrutura, função e manejo.  p.207-219. [4] PEREIRA, O.J. & GOMES, J.M.L. 1993. 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Análise florística das restingas dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. In: Esteves, F.A. & Lacerda, L.D.(eds.). Ecologia de Restingas e lagoas costeiras. Macaé: NUPEM/UFRJ. p.25-63. [17] ASSIS, A.M. & PEREIRA, O.J. 2000. Florística da restinga de Camburi. Acta Botanica Brasilica 14(1): 99-111. [18] REITZ, R. 1983. Bromeliáceas e a malária-bromélia endêmica. In: REITZ, P.R.(ed.). Flora ilustrada Catarinense. Itajaí. Santa Catarina. p.1-559. [19] LEWIS, G.P. 1987. Legumes of Bahia. Royal Botanic Gardens, Kew. 369p. [20] BURKART, A. 1979. Leguminosas: mimosoideas. In:REITZ, P.R.(ed.). Flora ilustrada Catarinense. Itajaí. Santa Catarina. p.1-299.  [21] RUSCHI, A. 1986. Orquídeas do Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro.  Ed. Expressão e Cultura. 278p. [22] PEREIRA, O.J. & ARAUJO, D.S.D. 1995. Estrutura da vegetação de entre moitas da Formação aberta de Ericaceae no Parque Estadual de Setiba, ES. In:ESTEVES, F.A. (ed.). 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TROP: Pantropical/Netropical/América do Sul; TROP-S: Tropical Costeira; PANL: Peri-amazônica Norte-Costa Atlântica; ATL: Costa Atlântica Ampla; SES: Costa Atlântica Sudeste/Sul; BRLS: Brasil Leste sul e paises vizinhos. M: Moita; EM: Entre Moita Família Espécies Padrão Distribuição Local.Anacardiaceae Schinus terebinthifolius Raddi SES RS, MG, ES, BA M Apocynaceae Oxypetalum banksii Schult.* ATL ES, BA, PE EM/M Peplonia asteria (Vell.) Fontella & E. A. Schwarz* SES S.BA, RJ, ES M  Temnadenia stellaris (Lindl.) Miers * BRLS   M Araceae Anthurium sp. ** SES ES, BA M Arecaceae Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze SES S.BA, RJ, ES  M Asteraceae Vernonia fruticulosa Mart. ex DC. ATL ES, BA, PI EM/MBromeliaceae Aechmea blanchetiana (Baker) L.B.Sm. SES ES, BA M  Aechmea nudicaulis (L.) Griseb. PANL  M  Billbergia amoena (Lodd.) Lindl. BRLS  M  Tillandsia gardneri Lindl. PANL  M  Vriesea procera (Mart. ex Schult. f.) Wittm. ATL ES, BA, PB M  Vriesea neoglutinosa Mez SES SC, RJ, ES M Brassicaceae Capparis flexuosa (L.) L. TROP Neotropical M Burceraceae Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand TROP América do Sul Tropical M Cactaceae Cereus fernambucensis Lem. ATL PE, RJ, ES, Uruguai M  Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles & G. D. Rowley SES S.BA, RJ, ES M Chrysobalanaceae Chrysobalanus icaco L. TROP-S Neotropical, África Ocidental M Clusiaceae Clusia hilariana Schltdl. ATL RJ, ES, PE M  Clusia spiritu-sanctensis G. Mariz & Weinberg SES RJ, ES M  Kielmeyera albopunctata Saddi SES ES, BA M  Kielmeyera membranacea Casar. SES SP, RJ, ES M Convolvulaceae Ipomoea imperati (Vahl) Griseb. TROP-S América Central e do Sul Tropical EM/M Ipomoea pescaprae (L.) Sweet TROP-S Pantropical M Dilleniaceae Davilla macrocarpa Eichler SES ES, BA M  Davilla rugosa Poir.* ATL ES, BA, MA M Erythroxylaceae Erythroxylum sp. -  M Euphorbiaceae Pera glabrata Baill. ATL ES, BA, PE, PB M  Sebastiania glandulosa (Mart.) Pax BRLS   EM/MFabaceae Abarema jupunha (Willd.) Britton & Killip ATL ES, BA, SE M  Chamaecrista flexuosa (L.) Greene TROP-S RS, ES, BA, CE, PI M  Chamaecrista ramosa (Vogel) H. S. Irwin & R. C. Barneby TROP América do Sul Tropical EM/M Stylosanthes viscosa Sw. ATL ES, BA, PE, RN EM/M Swartzia apetala Raddi BRLS  M Lamiaceae Eriope macrostachya Mart. ex Benth. SES ES, BA M Lauraceae Ocotea notata (Nees) Mez ATL ES, PE M Malpighiaceae Byrsonima sericea DC. ATL ES, BA, PE, PB, CE M Malvaceae Waltheria aspera K. Schum. SES RJ, ES EM/MMoraceae Maclura tinctoria (L.) G. Don TROP RS,SC,PR,SP,RJ,ES,BA,PE,CE,PI,MA,PA,AM,AC,DF,MG,MT,MS M Myrsinaceae Myrsine parvifolia A. DC BRLS  M Myrtaceae Eugenia cyclophylla O. Berg SES SP, ES M  Eugenia ovalifolia Cambess. BRLS RJ, ES, MG, RN, Argentina M  Psidium macahense O. Berg SES RJ, ES M Nyctaginaceae Guapira pernambucensis (Casar.) Lundell TROP-S América do Sul Tropical, Caribe M Orchidaceae Catasetum discolor (Lindl.) Lindl. SES ES, BA M  Cyrtopodium sp. -  M  Epidendrum denticulatum Barb. Rodr. SES ES, BA M  Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & Sweet ATL RJ, ES, SE M  Vanilla bahiana Hoehne* SES ES, BA M Passifloraceae Passiflora alliacea Barb. Rodr.* SES RJ, ES M  Passiflora mucronata Lam.* BRLS   M Poaceae Axonopus pressus (Ness.) Parodi SES ES, BA EM/MPolygonaceae Coccoloba alnifolia Casar. ATL RJ, ES, MG, PE M  Coccoloba arborescens (Vell.) How. BRLS   M Rubiaceae Mitracarpus frigidus (Willd.) K. Schum. ATL ES, PE EM/M Salzmannia nitida DC. SES ES, BA M  Tocoyena bullata Mart. BRLS  M Sapindaceae Cupania emarginata Cambess. SES RJ, ES, BA M  Paullinia weinmanniaefolia Mart.* SES RJ, ES, BA M Sapotaceae Manilkara subsericea (Mart.) Dubard SES RJ, ES, SC M Smilacaceae Smilax rufescens Griseb.* BRLS RJ, ES, BA, Venezuela EM/M* As espécies marcadas com o asterisco são lianas  /  ** Anthurium raimundii Mayo sp. nov. ined. [in Anais 34 Congr.Nac.Bot. Porto Alegre 2: 219 (1984), nom.illegit.]  Type: Brazil, Bahia, R.M.Harley et al. 17942 (CEPEC! holo. RB, K) 

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