Cartaxo, sarahbelle Leitte

Oliveira, Irenice Gomes de

Silva, Maria Arlene Pessoa da

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Archives of the Faculty of Veterinary Medicine UFRGS

NOTA CIENTÍFICA Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 189-191, jul. 2007  Plantas Medicinais Utilizadas na Farmacopéia Popular em Crato, Juazeiro e Barbalha (Ceará, Brasil)  Irenice Gomes de Oliveira1, Sarahbelle Leitte Cartaxo2, Maria Arlene Pessoa da Silva3   Introdução   Nas últimas décadas, estudos em etnobiologia têm sido realizados procurando conhecer e divulgar as estratégias usadas pelos seres humanos e suas relações com os recursos biológicos, assim como fortalecer conceitos e metodologias de trabalhos na área [1].  Dessa forma, é através da etnobotânica que se busca o conhecimento e o resgate do saber botânico tradicional, particularmente relacionado ao uso dos recursos da flora, conforme já salientado e demonstrado em diferentes aspectos por autores como Martin [2], Guarim Neto [3], Alexiades [4], Amoroso [5] e Begossi [6].  O Brasil possui cinco áreas de grande abundância de plantas nativas, estando entre elas o bioma Cerrado. Como acrescentam Ribeiro & Walter [7] , este é o segundo maior em área do país, ocupando 23% do território nacional (dois milhões de km2), e sendo considerado um complexo vegetacional de grande heterogeneidade fitofisionômica.  Existe carência de estudos voltados para a identificação de plantas úteis do Cerrado, principalmente quando comparadas à diversidade e à área ocupada. O desconhecimento de sua riqueza e possibilidades se torna mais grave quando se estima que cerca de 40% do bioma já tenha sido devastado sendo que o Cerrado possui somente 1,5% de sua extensão protegida por lei, o que o torna atualmente no tipo vegetacional em maior risco no país. É preciso considerar que os recursos naturais oferecidos por ele, uma vez extintos, estarão indisponíveis as futuras gerações. Entre eles, pode-se considerar os recursos terapêuticos oferecidos pelas plantas medicinais.               O interesse acadêmico a respeito do conhecimento que estas populações detém sobre plantas e suas formas de utilização têm crescido após a constatação de que a base empírica desenvolvida por elas ao longo de séculos pode, em muitos casos, ter comprovações científicas, que habilitaria a extensão destes usos à sociedade industrializada [8]. Além disso, cada vez mais se reconhece que a exploração dos ambientes naturais por povos tradicionais pode nos fornecer subsídios para estratégias de manejo e exploração que sejam sustentáveis a longo prazo. Outros autores propõem a elaboração de índices que possibilitem quantificar o uso de espécies ou famílias de plantas por exemplo, Prance, Baleé, Boom & Carneiro [9], Phillips & Gentry [10], para avaliar sua importância como recurso para as populações locais. Estas ferramentas permitem estabelecer comparações,  tanto em relação à exploração do recurso; quanto em relação às formas de seu uso, em diferentes locais e entre diferentes populações humanas.  No presente trabalho objetivou-se realizar o levantamento etnobotânico das plantas com uso terapêutico comercializadas nos municípios de Crato, Barbalha, Santana do Cariri e Jardim, estado do Ceará.  Materiais e métodos  Á área de estudo abrange os municípios de Crato, Barbalha, Santana do Cariri e Jardim – estado do Ceará. Nestes municípios dentre as principais atividades econômicas está a agricultura familiar, o cultivo da cana-de-açúcar, à fabricação de rapadura e aguardente; algumas atividades ligadas ao turismo começam a ser implementadas.  A coleta de dados foi realizada nos quatro municípios já citados. Os dados foram coletados quinzenalmente no período de agosto de 2005 a junho de 2006. Utilizou-se observação participante, entrevistas semi-estruturadas e estruturadas [11], visando a obtenção de característica sócio-econômicas dos informantes, características botânicas e ecológicas das plantas usadas para fins medicinais e suas indicações terapêuticas. Foram entrevistados 100 indivíduos adultos em cada comunidade, escolhidos com base no conhecimento com relação ao uso de plantas medicinais e procedimentos terapêuticos. Para a padronização das entrevistas foi elaborado questionário, tendo sido aplicado junto aos entrevistados. As plantas foram coletadas dos ambientes onde cresciam, na presença dos informantes e por indicação dos mesmos. Os espécimes foram prensados e quando secos foram identificados com base em literatura especializada. Quando esse procedimento não foi permitido para a identificação do material botânico, estes foram enviados a taxonomistas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). As exsicatas estão depositadas no Herbário Caririense Dárdano de Andrade-Lima e as duplicatas foram enviadas aos _____________________________ 1 Aluno do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri - URCA, Cel. Antônio Luiz, 1161, Pimenta, Crato, CE, CEP 63105-000. E-mail: nicecrat@hotmail.com  2 Aluno do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri - URCA, Cel. Antônio Luiz, 1161, Pimenta, Crato, CE, CEP 63105-000 3 Professora Dra. do Departamento de Biologia da Universidade Regional do Cariri - URCA, Cel. Antônio Luiz, 1161, Pimenta, Crato, CE, CEP 63105-000  Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 189-191, jul. 2007   190 Herbários das IES referidas anteriormente.  As espécies, com aplicação terapêutica, consideradas neste trabalho incluem, além daquelas indicadas para afecções que têm correspondência na medicina oficial, também aquelas espécies usadas para doenças e estados de desconforto que são identificados pela população local, mas não reconhecidos pela biomedicina, como, por exemplo, quebrante, inveja, feitiço, espinhela-caída, considerando-se que fazem parte do universo nosológico das comunidades estudadas [12]. As indicações foram agrupadas com base na classificação das doenças propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) [13]; as doenças ou estados que não puderam ser incluídos nesta classificação geral foram agrupados na categoria “doenças culturais”.  Resultados e discussão  O levantamento realizado totalizou 39 espécies distribuídas em 26 famílias. A família Fabaceae foi registrada com o maior número de espécies (4), seguido de Liliaceae e Euphorbiaceae (ambas com 3), como é mostrada na Tabela 1.  Em geral são ministradas as partes aéreas da planta: folhas, frutos, caules, nessa seqüência de intensidade de uso, e raiz. As plantas medicinais são mais utilizadas no tratamento contra afecções gástricas, inflamações, diarréias, dores encefálicas, dores abdominais, e como cicatrizantes.  Conclusão  Entre as espécies mais citadas se destacaram: Melissa officinalis L.; Mentha villosa  Huds. e Pimpinella anisum L. A parte mais usada são as folhas, no tratamento de cólicas, má digestão e gastroenterites.   Agradecimentos  Agradeço aos meus colegas de laboratório que me ajudaram durante o trabalho, bem como aos colaboradores taxonomistas da UFC e da UFRN que ajudaram na identificação do material botânico.   Referências   [1] BALICK, M. J. & COX, P. A. 1996. Plants, People end culture.  Scientific American Library, New York.  [2]    MARTIN, G. J. 1995. Ethnobotany: a methods manual. Chapman & Hall, London. [3] GUARIM NETO, G. 1996. Plantas usadas na medicina do Estado do Mato Grosso. ABEAS, Brasília.  [4] ALEXIADES, M. 1996. Selected guidelines for ethnobotanical research: a field manual. New York Botanical Garden, New York. [5]      AMOROSO, M. C. M. 1996. Abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas medicinais. In: L. C. Di Stasi (Org.). Plantas medicinais: arte e ciência - um guia de estudo interdisciplinar. Ed. UNESP, São Paulo. p. 47-68.  [6] BEGOSSI, A. 1998. Etnobotânica em comunidades caiçaras. In: FONSECA, V. S.; SILVA, M. I &  SA, C. F. C. (Orgs.). Etnobotânica: bases para a conservação. EDUR, Rio de Janeiro. p. 108-120.   [7] RIBEIRO, J. F. & WALTER, B. M. T. 1998. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: S. M. Sano; S. P. Almeida (Eds.). Cerrado: ambiente e flora. Embrapa Cerrados, Planaltina. p..87-166.   [8] FARNSWORTH, N. R. 1988. Screening plants for new medicines. In: WILSON, E. O. (Ed.) Biodiversity. Washington DC: Nac. Acad. Press, 521p.  [9] PRANCE, G. T.; BALEÉ, W.; BOOM B. M. & CARNEIRO R. L. 1987. Quantitative ethnobotany and the case for conservation in Amazonia. Conservation Biology. n.1, v.4, p.296-310.   [10] PHILLIPS, O. & GENTRY, A. H. 1993b. The useful plants of  Tambopata, Peru: II. Aditional hypothesis testing in quantitative ethnobotany. Economic Botany. n. 47, v.1,  p.33-43.   [11] BERNARD, H. R. 1988. Research methods in cultural anthropology. Newbury Park, CA: Sage publ., 520 p. Brasil, Ministério das Minas e Energia, 1982. Folha SD-21-Cuiabá. Levantamento de recursos naturais. Secretaria Geral, Projeto RADAM-BRASIL. RJ, 544p.   [12] BRUNELLI, G. 1987. Des esprits aux microbs-santé et societé em transformation chez les Zoró de l’Amazonie brésilienne. Tese de Mestrado, Département d’Anthropologie, Faculté des Arts et des Sciences, Université de Montréal, 471p.   [13] ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. 2000. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10ª revisão, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, v. 1, 1191p.                              Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 189-191, jul. 2007   191   Tabela 1. Plantas medicinais utilizadas nas cidades de Crato, Juazeiro e Barbalha,  estado do Ceará.  Família   Nome Popular                Nome Científico Uso/parte utilizada cajazeira Spondias mombin L. Antinflamatório/ Folhas, flores raízes e frutos.Anacardiaceae cajueiro Anacardium occidentale L. Adstringente, antidiabético, Vermífogo./ Casca do caule, raiz, folha, fruto, semente. Apiaceae erva-doce Pimpinella anisum L. Expectorante, serve para asma, cólica  intestinal, gases./ Fruto seco. Apocynaceae mangaba Hancornia speciosa Gomes Digestiva, hepática, laxante./ Fruto e látex. alface Lactuca sativa L. Conjuntivite, insônia e tosse/ Folha, talo, raiz. Asteraceae girassol Helianthus annuus L. Para contusão, enxaqueca, úlcera./ Fruto. Bixaceae urucum Bixa orellana L. Asma, colesterol, verme./ Fruto, semente e raiz. Bignoniaceae pau-d'árco Tabebuia caraiba (Mart.) Bureau Adstringente, analgésico./ Casca, folha. Boraginaceae fedegoso  Heliotropium indicum L. Analgésico, cicatrizante, laxante./ Casca, folha, semente, raiz. jatobá Hymenaea courbaril L. Balsâmico, fortificante, expectorante./ Fruto. Caesalpiniaceae tamarindo Tamarindus indica L. Vermífugo, antidiarréico, digestivo./ Folha, poupa do fruto. Carycaceae mamoeiro Carica papaya L. Antiinflamatório, calmante, cicatrizante./ Frutos, sementes. Capparidaceae mussambê Cleome spinosa Jacq. Para asma, tosse./ raiz Caprifoliaceae sabugueiro Sambucus nigra L. Cicatrizante, depurativo./ flores Caryocaraceae piqui Caryocar coriaceum Wittm. Antiinflamatório./ polpa do fruto. Chenopodiaceae mastruz Chenopodium ambrosioides L. Ácido úrico, anemia, raquitismo, verme./ Folhas. Convolvulaceae batata-de-purga Operculina alata (Ham.) Urb. Laxante; para hemorragia, gastrenterite./ Bulbo. Cucurbitaceae melão-de-são-caetano Momordica charantia L. Adstringente; para enxaqueca, hemorróidas./ Fruto e folhas. mamona Ricinus communis L. Antimicrobiana, laxante./ Semente, folha. quebra-pedra  Phyllanthus amarus Schumach. & Thonn  Antiinflamatório; para calculo renal./ Planta inteira. Euphorbiaceae velame Croton campestris A. St. – Hil. Para reumatismo, artrite, doenças venéreas./ Folha, raiz. angico Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Para diarréia, disenteria, alergia./ Casca. barbatimão Stryphnodendron barbatimam Mart. Para úlcera, impingem, depurativo./ Casca do caule, folha. imburana-de-cheiro Amburana cearensis (Allemao) A. C. Sm. Para asma, bronquite, febre, hemorragias./ Semente, casca. Fabaceae pau-ferro Apuleia ferrea Mart. ex Baillon Adstringente, depurativo./ Casca do tronco. alecrim-do-reino  Rosmarinus officinalis  L.  Para afecções do fígado, estômago, intestino, rins./ Folha, flor. erva-cidreira Melissa officinalis L. Para crise nervosa, cólica, enjôo./ Folha. Lamiaceae hortelã-comum Mentha villosa Huds. Analgésico, sedativo; para digestão e vermes./ Folha. alho Allium sativum L. Para acne, bactericida, antibiótico./ Bulbo. babosa Aloe vera ( L.) Burm. F. Adstringente, anestésica, cicatrizante./ Seiva da folha. Liliaceae cebola-branca Allium cepa L. Afrodisíaca, antibiótica, vermífuga./ Bulbo. Malpighiaceae acerola Malphighia glabra L. Adstringente, antianêmica, cicatrizante, antifungal./ Fruto. araçá  Psidium araca  Raddi  Adstringente, anti-hemorrágica, antidiarréico./ Folha, broto, fruto, raiz, casca. Myrtaceae eucalipto  Eucalyptus globulus Labill. Anti-séptico, expectorante, desinfetante, para asma./ folha. Passifloraceae maracujá Passiflora edulis Sims Calmante cardíaco, sedativo, para espasmos, vermes./ Folha, polpa do fruto. Pedaliaceae gergelim Sesamum indicum L. Para diabetes, dor de ouvido, taquicardia, cólica abdominal./ Semente. Piperaceae pimenta-de-macaco Piper aduncum L. Adstringente, diurético./ Fruto. Rhamnaceae juazeiro Zizyphus joazeiro Mart. Adstringente, antiinflamatório, cicatrizante, higienizante./ Folha, fruto, casca, raiz. Rutaceae limão Citrus limonia Osbeck Para acidez estomacal, acne, amidalite, asma./ Folha, fruto.     

Plantas medicinais utilizadas na farmacopéia popular em Crato, Juazeiro e Barbalha - Ceará, Brasil

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