A classificação de países como "frágeis" ou "falhados" tem tido alguma utilidade para alertar a
comunidade internacional para as necessidades específicas de países afectados por conflitos e
em crise, mas não parece existir consenso sobre qual o conteúdo desta categoria analítica (o que
é?), quais as causas da fragilidade e como se manifestam (como e porquê?), ou em que medida
essa fragilidade deve ser o elemento definidor das estratégias de resposta (para que serve?). Isto
é tanto mais importante se considerarmos a influência que o discurso internacional sobre
Estados frágeis tem actualmente na definição das intervenções e nas políticas de ajuda externa
dos principais doadores bilaterais e multilaterais. A investigação permitiu identificar
insuficiências significativas na operacionalização e classificação da fragilidade do Estado,
questionando a validade e utilidade do conceito para a prossecução de estratégias externas de
intervenção. Para além disso, o contexto e conteúdo das intervenções externas de peacebuilding
e statebuilding em Estados Frágeis em África revelou a veiculação de modelos estandardizados
que incorporam um "consenso de peacebuilding" e que ignoram, em grande medida, as
dimensões históricas de poder e de formação do Estado em África. A análise empírica do
Estado, ou seja, dos acordos e dinâmicas reais existentes em termos de autoridade e legitimidade
em ordens políticas de carácter híbrido, pode trazer pistas importantes para a formulação de
novas estratégias de apoio e de intervenção nos países africanos.The categorisation of some countries as "fragile" or "failed" has been somewhat useful to alert
the international community to the specific needs of crisis or conflict affected countries, but
there seems to be no agreed definition on the content of this analytical category (what is it?), on
what are the causes and manifestations of fragility (how and why?), or to what extend should
fragility be a defining element of response’ strategies (what is for?). This is of utmost
importance giving the influence that the international discourse on fragile states currently has in
defining interventions and external aid policies of the major bilateral and multilateral donors.
The research identified significant weaknesses in the operationalisation and classification of
state fragility, and questioned the validity and usefulness of the concept for the pursuit of
external intervention strategies. In addition, the context and content of peacebuilding and
statebuilding interventions in African fragile states revealed the transposition of standard
models that incorporate a "peacebuilding consensus" and to a large extend tend to ignore the
historical dimensions of power and state formation in Africa. An empirical analysis of the state
and of the agreements and dynamics that really exist regarding authority and legitimacy in
hybrid political orders, can shed light in the elaboration of new support and intervention
strategies in African countries