Roberto V. Ardito

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4Ardito RV. Criatividade e Ética: os Limites Corporativos na Gestão da Tecnologia e da Inovação. Reblampa 2007; 20(1): 4-6.Reblampa 200720(1): 4-6.EditorialFace aos desafios do mundo contemporâneo,torna-se fundamental discutir os limites da ética noprocesso criativo em um momento em que as empre-sas alteram suas hierarquias e burocracias com obje-tivo de criar oportunidades para o pensamento e aação criativos, como fatores fundamentais na buscapor vantagem competitiva corporativa.O desafio do educador está em compreenderque o espírito criativo precisa ser abastecido de conhe-cimento e que lampejos intelectuais não aparecemdo nada. Idéias criativas são resultado de um processocognitivo complexo.A ética corporativa tem sido assunto muito discu-tido nas empresas do mundo inteiro e a criatividadevem se destacando cada vez mais como característi-ca imprescindível para equipes e indivíduos envolvidosem processos de gestão da inovação.Estamos propondo uma reflexão objetiva e práti-ca sobre a importância da discussão ética no campoda criatividade corporativa e seus impactos no sucessoprofissional do indivíduo, bem como na performancedo negócio e sua imagem corporativa.Ao educador compete o desafio de entender odilema ético a que o jovem profissional é expostodiariamente quando submetido à pressão por resulta-dos no mundo corporativo. Ao mesmo tempo, precisaestimulá-lo a entender que a criatividade consisteem mudar a perspectiva para ver as coisas sob umnovo ângulo. É preciso levar o estudante a refletirsobre os limites da ética no processo criativo e nabusca pelo desempenho e sucesso profissional.ÉTICA E CRIATIVIDADE CORPORATIVANA ERA DOS RESULTADOSA criatividade, segundo Domenico de Massi, é orecurso mais fecundo com que o ser humano, desdesempre, procura derrotar os seus inimigos atávicos:a fome, o cansaço, a ignorância, o medo, a feiúra, asolidão, a dor e a morte. Em cada esquina do plane-ta, em cada fase da sua evolução, a criatividadehumana consegue atribuir uma forma ao caos e umsignificado às coisas.No futuro, a criatividade – em todas as áreas –será o ingrediente-chave do êxito empresarial. Quandoa tecnologia passar a ser produto comum e habitualCriatividade e Ética: os LimitesCorporativos na Gestão daTecnologia e da Inovaçãoe todos os concorrentes alcançarem o mesmo nívelde idoneidade, só a criatividade poderá fazer a dife-rença. A dimensão pessoal da criatividade consideraaspectos como filosofia, temperamento, atitudes, há-bitos e valores, assim como o conhecimento e ashabilidades. Desta forma, o jovem profissional preci-sa investir com afinco no resgate da sua capacidadecriativa e inovadora, valorizando o livre fluxo da infor-mação, compartilhando o aprendizado e desenvol-vendo novas habilidades que lhe permitam lidar comos desafios próprios desse novo contexto.O professor Victor Mirshawka, diretor-cultural daFAAP, descreve o hemisfério direito do nosso cérebrocomo sendo a essência para a evolução do pensa-mento humano e a chave para sobrevivência de todosos traumas. Ele destaca que o hemisfério direito énossa salvação, a morada da criatividade e a sede detodas as grandes idéias. O hemisfério esquerdo é olado racional, consciente e totalmente humano. Nosúltimos trinta anos, poucos temas suscitaram tantapolêmica, interesse, especulação e descobertas surpre-endentes como a mente humana no que diz respeitoàs diferenças entre os dois hemisférios cerebrais.A criatividade (do latim creatio, que significa cria-ção) é a capacidade de pensar produtivamente àrevelia das regras, é criar coisas novas combinandode maneira inusitada o saber já disponível. A pesquisacientífica da inteligência (do latim intelligere: enten-der, compreender, conhecer) só teve início no começodo século passado. Aristóteles, depois de afirmarque todos nós temos, por natureza, o desejo deconhecer, diz no primeiro livro da Metafísica que,para escapar da ignorância, os primeiros filósofosentregaram-se à filosofia, buscando a ciência paracompreender. “Aperceber-se de uma dificuldade eespantar-se é sobre tudo, reconhecer sua própriaignorância”. A construção do saber passa exatamen-te pelo enfrentamento e pela superação de aporias.Ainda que seja para sempre, voltar a encontrá-las.Os profissionais de empresas terão de aprendera construir e administrar uma organização criativa einovadora, um grupo humano capaz de prover onovo, transformar idéias em tecnologia, produtos emprocessos. A ética deixou de se limitar ao terrenoreligioso e filosófico para se tornar também um assuntoempresarial. Se o panorama nacional nos faz crerque a demanda por recursos humanos não seráEdit Ardito.p65 29/3/2007, 16:2645Ardito RV. Criatividade e Ética: os Limites Corporativos na Gestão da Tecnologia e da Inovação. Reblampa 2007; 20(1): 4-6.preenchida em curto prazo, está mais do que nahora de as instituições de ensino e as empresasbaseadas no Brasil proporem soluções que visemminimizar esse cenário e sejam capazes de transfor-mar bits e bytes em poderosa vantagem competitivapara todos.A gestão do conhecimento é vista como umacoleção de processos que governa a criação, a disse-minação e a utilização do conhecimento para atingirplenamente os objetivos da organização. A tecnologiada informação tem um papel fundamental que muitasvezes tem sido negligenciado, ou mesmo passadodespercebido, na maioria das empresas e órgãos deinformática.Mas, afinal, o que é ética? A ética é uma caracte-rística inerente a toda ação humana e, por esta razão,é um elemento vital na produção da realidade social.Ser ético é agir de acordo com os valores morais deuma determinada sociedade.ÉTICA NA GESTÃO DACRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃOO desenvolvimento da ciência e da tecnologia,no qual a criatividade e a inovação têm de estarnecessariamente presentes, é suportado por três pre-missas fundamentais: a primeira delas deve-se àexistência do cérebro humano e aos incentivos asua potencialidade; a segunda pode ser localizadana mobilização de pessoas e instituições em tornode objetivos, de bandeiras e metas geradoras dealgum beneficio estratégico ou social; a terceira refe-re-se ao esforço nacional, canalizando recursos ade-quados para a área científica e tecnológica. É somentepor meio da concretização dessas três premissasque o Brasil conseguirá vencer o grande desafio doséculo XXI.Não podemos ser inocentes e pensar que empre-sas são apenas entidades jurídicas. Empresas sãoformadas por pessoas e só existem por causa delas.Por trás de qualquer erro ou imprudência estão seresde carne e osso. E são eles que vão viver as glóriasou o fracasso da organização. Por isso, quando falamosde empresa ética, estamos falando de pessoas éticas.O mundo, segundo o Professor Francisco Paletta,da FAAP, está sendo dominado por uma multiplicidadede questões que exigem profissionais auto-renovadose com consciência em fatos como:• riqueza sem trabalho;• prazer sem consciência;• negócios sem ética;• discurso sem nenhuma prática• ciência sem humanidade;• religião sem espiritualidade e fé autênticas;• trabalho sem satisfação pessoal e auto-realização;• informações em excesso, porém desprovidasde sabedoria;• conhecimento sem compromisso com a verdade;• vida sem sincronicidade física, intelectual, so-cial, psico-emocional e espiritual;• marketing pessoal com embalagem atraente,porém com conteúdo falso e enganoso.A necessidade de fazer diferente está se tornandomais importante e decisiva à medida que as empresasdescobrem que seus métodos de operação e gestãode pessoas estão condenados ao fracasso.Como disciplina teórica, a ética sempre fez parteda filosofia e sempre definiu seu objetivo de estudocomo sendo a moral, o dever-fazer, a qualificaçãodo bem e do mal, a melhor forma de agir coletivamen-te. A ética avalia então os costumes, diz quais açõessociais são moralmente válidas e quais não são.Define o bem moral como ideal do melhor agir ou domelhor ser. E tem procurado as fontes da moral nasdivindades, na natureza ou no pensamento racional.Os países capitalistas navegam com certa desen-voltura na ambigüidade moral, já que o interessepessoal é visto como motor da economia. Seria amão invisível do mercado, ou sua ação disciplinadora,realmente capaz de gerar efeitos moralmente benéfi-cos? E em benefício de quem? Em que medida issooperaria em prol da coletividade?A chave da discussão contemporânea gira emtorno do egoísmo ético em choque com as moraissocialmente orientadas. Assim é que, nos paíseslatinos, e em particular no Brasil, rastreia-se umadupla moral social: uma moral da integridade, que éa moralidade oficial, edificante e convencional, com-pondo uma retórica pública que se difunde nas escolas,nas igrejas, nos tribunais e na mídia; e uma moral dooportunismo, que é a moral oficiosa, pragmática edissimulada, furtivamente praticada como ação entreamigos e muitas vezes celebrada pela “esperteza”de seus procedimentos.Os valores da moral da integridade são a hones-tidade, a lealdade, a idoneidade, o respeito à verdadee à legalidade, o compromisso com a retidão. Taisvirtudes desenham o perfil do ser humano de caráter,confiável, decente e digno. Quaisquer decisões eações deveriam orientar-se por princípios que, pordefinição, valem para todos. Em contrapartida, a moraldo oportunismo funciona com base em procedimentoscínicos como o jeitinho, o calote, a falta de escrúpulo.Esta moral valoriza o enriquecimento rápido e o egoís-mo, consagra a esperteza e acredita que o proveitopessoal move o mundo.A moral do oportunismo opera sob a égide dojeito – prática utilizada para contornar o excesso deEdit Ardito.p65 29/3/2007, 16:2656Ardito RV. Criatividade e Ética: os Limites Corporativos na Gestão da Tecnologia e da Inovação. Reblampa 2007; 20(1): 4-6.burocracia e regulamentações por meio do “quebrado galho”. O jeito desfruta de conotação positiva elegitima-se na consciência popular como mecanismode adaptação às situações perversas e intrincadasda sociedade.Ora, queiram ou não, as empresas convivemcom os padrões morais que suas contrapartes parti-lham. Ferir tais padrões significa estimular a desleal-dade individual aos interesses da empresa. Em razãodisso, é preciso convencionar um código de honraque ligue as organizações a seus funcionários.Ademais, as empresas têm uma imagem a res-guardar, patrimônio essencial para a continuidadedo próprio negócio. A imagem da empresa não podeser vilipendiada impunemente, nem pode ser reduzi-da à mera moeda publicitária, porque representa umativo econômico sensível à credibilidade que inspira.CRIATIVIDADE, MORAL E ÉTICAOs setores mais promissores do desenvolvimentodo país são justamente os que impõem às organiza-ções os desafios de aprender a pensar em longoprazo e investir em criatividade e inovação. A inteli-gência, conforme Kahane, é um imperativo devido afatores como velocidade dos resultados de negócios,sobrecarga de informações, crescimento global doprocesso competitivo com o surgimento de novosparticipantes, concorrência cada vez mais agressiva,rápidas mudanças tecnológicas e transformações acar-retadas pela entrada em cena global de entidadescomo a União Européia (EU) e o Acordo de LivreComércio da América do Norte (Nafta).Na era moderna, o conhecimento é o motor dodesenvolvimento. A criatividade vem se apresentandocada vez mais como uma característica imprescindívelpara equipes e indivíduos nos atuais ambientes detrabalho das empresas. O desafio da sociedade mo-derna está em poder identificar a linha tênue ondea criatividade rompe a barreira da ética e impor oslimites corporativos.Para Miller, a distinção entre lei e ética nemsempre fica muito clara para o profissional de inteli-gência que enfrenta decisões diárias num contextooperacional. Não se trata de uma diferença entrepreto e branco; pelo contrário, muitas vezes se podecair no mundo ambíguo do cinzento.Esta reflexão busca chamar a atenção dos educa-dores para a difícil tarefa de conduzir o estudante nocampo da criatividade, consciente do dilema entrecriatividade e ética. Até onde devemos estimular acriatividade sem romper os limites da ética? Até ondedevemos colocar a inteligência e a criatividade nabusca da inovação e da vantagem competitiva dascorporações sem romper as barreiras do certo ouerrado, do moralmente correto e do eticamente justo?Colocar a criatividade a serviço do ser humanoé um desafio do mundo moderno, saber caminhar nafina linha que separa o comportamento e a atitudeética é uma decisão solitária de cada um. Assim,para que os interesses pessoais não se sobreponhamaos interesses coletivos, cabe inverter a fórmula doinício dos anos 90 que celebrou a necessidade da“ética na política”. É preciso fazer “política pela ética”,com cidadãos organizados afirmando incessantementeseus direitos e atualizando seus deveres.Roberto V. ArditoChefe da Cirurgia Cardíaca do IMC deSão José do Rio Pretro - SPEdit Ardito.p65 29/3/2007, 16:266

Criatividade e Ética: os Limites Corporativos na Gestao da Tecnologia e da Inovaçao

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