PAÇO, Afonso do

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 Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: geral@csarmento.uminho.pt URL:  www.csarmento.uminho.pt  Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.  https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/     Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento    JÓIAS PRÉ-HISTÓRICAS DE MONTES CLAROS DE BAIXO, VIMIEIRO, ARRAIOLOS. PAÇO, Afonso do Ano: 1966 | Número: 76   Como citar este documento: PAÇO, Afonso do, Jóias pré-históricas de Montes Claros de Baixo, Vimieiro, Arraiolos. Revista de Guimarães, 76 (1-2) Jan.-Jun. 1966, p. 157-163.  Jóias pré-históricas de Montes Claros de Baixo (Vimieiro-Arroiolos) Por AFONSO DO PAÇO. -No decorrer das escavações arqueológicas que rea- lizámos no Castelo do Giraldo (Évora), recebismos com frequência a visita de alunos da vizinha Escola de Regentes Agrícolas instalada na Herdade da Mitra, e o contacto com aqueles jovens, em grande parte filhos de grandes casas de lavoura alentejanas, permitia-nos fazer- -lhes prelecções de arqueologia C, receber deles conheci- mentos de achados pré-históricos e de outros não s.ó das suas herdades como das da vizinhança. Foi assim que nos princípios de Novembro de 1964, o aluno João Fernandes Pereira Lopes, nos disse que numa herdade de seu pai, o Eng. Agrônomo Manuel Pereira Lopes, se tinham achado umas «argolas de ouro›› que estavam depositadas em Évora, na Polícia de Segurança Pública. « Escusado será dizer que não descansamos enquanto não vimos do que se tratava e, num dos dias de mercado, estabelecemos contacto com o Eng. Agrônomo Pereira Lopes que nos disse que de facto estavam na Polícia, onde as poderíamos ver, um grupo de espirais de ouro. Naquela Polícia foi-nos dado conhecimento do modo como o tesouro ali fora parar, conforme cons- tava de um auto que dizia : «Polícia de Segurança Pública do Distrito de Évora. 1.a Esquadra- 22 de Agosto de 1960. Ex.m° Senhor : Participo a V. Ex.a que hoje pelas 18h,45, quando passava pela Rua Cinco de Outubro, apresentou-se-me Francisco José Caeiro, de 32 anos de idade, casado, tra- balhador, ilho de Alexandre José Cotovio e de Marga- . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158 REVISTA DE GVIMARÃES rida Rosa, natural de Pavio, e residente no lugar deno- minado « Malarranha», freguesia de Pavia, concelho de Mora, declarando que no dia 20 do corrente mês, quando procedia a uma escavação de terra à profundidade de ..meio metro na propriedade de Claros Montes Debaixo, sita na freguesia do Vimieiro da qual é proprietário 'o Sr. Engenheiro Manuel. Pereira Lopes; residente em Évora, na Rua da Ladeira, n.°-25-A, encontrou *dentro de um objecto de barro uma pequena quantidade de .argolas de ouro e ainda uma pequena folha do mesmo metal, totalizando 108 gramas de peso, no valor de 2.380$00, cujo valor lhe foi atribuído pela Ourivesa- ria Lemos sita na referida Rua Cinco de Outubro desta cidade. O achado em referência ficou depositado neste Comando para os devidos efeitos e O achador declarou não desistir da quota parte que por lei lhe venha a per-~ tecer. (a) Custódio José Carlos Pimentão, Guarda n.o 135/12.110››. Parece que os factos não foram relatadosa com toda a . verdade para não agravar a*situação~ do achador. Este recolhidas as peças; calou-se e tentou' vende-las em Évora, na 'Ourivesaria Lemos, cujos proprietários, Iem- brandoàse do célebre colar de Portel que ali estivera em tempos exposto, chamaram a polícia, que, intervindo no assunto, ficou com as joias em' depósito' até que, nos termos *da lei, aparecesse o seu dono a reclama-las. * Foi-nos dada autorização para fotografar o conjunto que, conforme consta da Fig. 1, é constituído pelos seguintes agrupamentos. . I I cinco. espirais ligadas entre si, duas espirais sõ1tas, uma pequena chapa, com O peso total de 107,9 gramas assim distribuído: 9 ›› ›› grupo de espirais primeira espiral solta segunda espiral solta chapa .Í . 89,5 gramas 8,4 5,1 4,9 ›› i Fig. 1 Jóias pré-históricas de Montes Claros de Baixo ( Wmieiro, Arraiolos) . 160 REVISTA DE GVIMARÃES As cinco espirais ligadas entre si são de diâmetros diferentes e estão um tanto desarticuladas. Contudo • a primeira espiral tem sete voltas, a segunda tem quatro voltas, a terceira oito voltas, a quarta seis voltas, a quinta seis voltas, terminando todas em ponta aguçada. Das espirais soltas : a maior tem cinco voltas, a menor tem três voltas. . As duas primeiras espirais tem a parte central plana, terminando o dorso em ângulo, isto é, tem uma secção triangular. As restantes são redondas. O fragmento de chapa está muito amolgado, apre- senta três orifícios muito irregulares e sinais de fractura aos lados. O conjunto foi adquirido pela junta Distrital de Évora para o museu arqueológico em organização pela quantia de 4.046$20, vendido o grama, por se tratar de ouro fino, ao preço corrente na ocasião, isto é 378*F50. * Não são raros os achados de espirais de ouro, soltas ou ligadas entre si, quer no nosso país, quer em outras nações. Pelo que respeita a Portugal, um trabalho recente de Leonel Trindade e O. da Veiga Ferreira, refere um grupo de espirais aparecidas no concelho de Torres Vedras (1) e, em anos mais afastados, há a registar achados (1) Leonel Trindade e O. da Veiga Ferreira, «Tesouro pré- -histórico de Bonabal (Torres Vedras)>›. Revista de Guimarães, vol. LXXIV, Guimarães, 1964. JÓIAS pRÉ-HISTóRICAS DE MONTES cLARos (VIMIEIRO) 161 semelhanffifi na freguesia de Goios (Barcelos (1) e.Chaves (2) estudados pelo mestre da. joalharia arcaica portuguesa, Coronel Mário Cardozo, e SL Martinho (Alcácer do Sal (3). Manuel Heleno ao descrever o tesouro de S. Mar- tinho fala de materiais que diz idênticos, provenientes de Palmela, Rio Maior, Torres Vedras, Avis, Serpa e Cesareda, bem como de outros que se encontram no Museu de Belém aguardando publicação. Salvo melhor opinião, parece-nos que alguns dos exemplares referidos se devem considerar como simples aneis, (4) de harmonia com o achado que se fez na Gruta de S. Pedro do Estoril, de uma espiral de ouro contendo dentro uma falange (5). Espirais de bronze ou cobre com falanges 110 inte- rior também foram recolhidas em El Argar, sendo tam- bém provenientes desta estação vários braceletes em espi- ral, não ligados entre si, e mesmo um torcido, no género das jóias de Chaves acima referidas (6). ` * crgnolôgicamente estas jóias são consideradas por alguns autores como das imediações do Bronze II penín- sular OU Argárico, se bem que, como dissemos, não se tivessem encontrado exemplares deste tipo em El Argar 01.1 esta< _;õ€s afins exploradas pelos irmãos Sirene, na região entre Cartagena e Almeria (1), Mário Cardozo, «Mais uma achega para o estudo da joalharia pré~histÓrica portuguesa››. Boletim da Grupo Alcaídeú` de (2) (3) (4) (1) Faria, n.0 2, Barcelos, 1950. Idem, «Novo achado de joias pré-romanas››. Reuirta de Guímarãer, vol. LIV, Guimarães, 1944. Manuel Heleno, «_]orais pré-romanas››. Etbnox, vol. I, Lisboa, 1935. Vera Leisner, George Zbyszewski e O. da Veiga Ferreira, «Les grottes artificielles de Casal do Pardo (Palmela) et la culture du VQSC ¢zmpaniforme». Serviço: Geológico: de Portugal, Memória n.‹› 8, Lisboa, 19ó1.. . . (5) Vera Lexsner, Afonso do Paço e Leonel Ribeiro, «As gflltfias artificí2is de S. Pedro do Estoril››, Lisboa, 1964. Henri et Louis Siret, Le: premir: age: du metal dan: le :ud-est de 1'E.‹pagne, Anvers, 1887. (7) Idem, idem. (õ) 11 Í 162 REVISTA DE GVIMARÃES Quanto à sua aplicação, há quem as julgue elementos de troca como Ricardo Severo (1). Outros autores porém, como Déchelette (2), Leite de Vasconcelos (3), etc. preferem considera-las adornos de cabelo ou braceletes, o que é mais de aceitar. * No distrito de Évora não se encontram muitas jóias pré-históricas. Mário Cardozo, nas suas «Jóias arcaicas encontradas em Portugal» (4) assinala apenas as se- gumtes : Braceletes de Évora, Colar de Reguengos de Monsaraz, Colar de Portel. Os dois braeeleƒâr de Évora foram destruídos por um ourives fundidor, não se sabendo exactamente o local do seu achado (S). O colar de Regueflgor de Monsaraz desapareceu, res- tando-nos a descrição que dele fez Gabriel Pereira (6). O colar do Portel, também chamado de Évora, teria sido achado em 1883 na Herdade das Lentiscas. Adqui- rido por uma senhora Matos, legou-o a sua filha que se desfez dele em favor do pai de Joaquim Arantes Ferreira da Silva. Este tentou várias vezes vendê-la, em vão, ao nosso Governo, em excelentes condições, que respondeu com a tão estafada «falta de verba››, que serve muitas vezes para mascarar a incultura de muitos dirigentes. (1) Ricardo Severo, ‹‹Os braceies douro de Arnozela››. Por- fugdlia, vol. II, Porto, 1903. (2) Joseph Déchelette, vol. II, Paris, 1910. (3) _). Leite de Vasconcelos, Hiriária do Mareá Etnolágim Português. Lisboa, 1915.. ' (4) Mário Cardozo, «Jóias arcaicas encontradas em Por- tuga1››, Nós, A Cruña, 1930. (5) J. L. de V., «Xorca de ouro». O Arcbeologo Partuguex, vol. II, Lisboa, 1896, pág. 22. (6) Idem, idem. Manuel a"ArclJéologie Prebirtorique, JÓIAS PRÉ-HISTÓRICAS DE MONTES CLAROS (VIMIEIRO) 163 Então o Dr. J,osé de Figueiredo, Director do Museu de Arte Antiga, conseguiu que Salomon Reinach c› adqui- Museu de Saint-Germain-en-Laye, posslvel para que tesouro alentejano ficasse organi- grato referir que, risse em 1920 para o não fosse perder-se ou cair no cedinho de algum ouri- vcs (1). Quando da identificação das jóias do Vimieiro, fize- mos O r este em Évora, a em ide ser integrado no museu em zação pela sua junta Distrital, e e-nos desde o primeiro momento, este organismo determinou a sua Évora pertencia. aquisição, para que não salsse de Évora o que a (1) Sobre este colar há vária bíbliografia nacional e estran- geiro, sendo de destacar entre OS estudos portugueses c Vergílio Correia, «The Evora Gorget (a orca de ouro de ¿»~ Terra Porƒuguera, n.° 41, Lisboa, 1928. . estónio Bartolomeu Gromicho, ‹<O gorjal de Évora››. A Cidade de Évora, Boletim da Comissão Municipal de Turismo, vol. IX, Évora, 1952. ÉvO1'a 

Jóias pré-históricas de Montes Claros de Baixo, Vimieiro, Arraiolos.

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