Souza, Isa Márcia

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  Revista do Coletivo Seconba, v. 5, n. 1, p. 82-84, mar. 2021  CARTA PARA UMA PROFESSORA    Professora querida,   O IFBA, Instituto Federal Bahia - Campus Barreiras, promoveu através do GEGEF, um grupo de estudo com foco na leitura de livros sobre Gênero e sobre o Feminismo Interseccional escrito por mulheres. Que delícia de leitura e discussões!  Bebi do conhecimento e me embriaguei com tantas falas empoderadas e contra qualquer forma de racismo. Na leitura do livro “Cartas para a minha mãe” da autora cubana Teresa Cárdenas, três delas me chamaram muito atenção porque falam do chão da escola e o que pode acontecer por lá.  Na terceira carta, por exemplo, há trechos que apontam como o preconceito é passado de geração em geração e fere na alma. A escola que deveria ter o papel de formar, muitas vezes é omissa ou impotente diante das situações que a sua comunidade vivencia. Escolhi um trecho da carta para ratificar a efetividade da discriminação:  Mãezinha resolveram me colocar na escola daqui. Não gostei nem um pouco.  Tem pouca luz lá.  Sou a menina mais alta e mais preta da sala. Talvez a mais triste também. Umas das meninas se chama Sara. É clara de pele. Não sei por quê. Seu pai não é claro como ela. [...] Acho que ela sente vergonha. [...]. O amor não tem nada a ver com a cor. (CARDENAS, 2010, p. 4-5).  Pois bem professora, quantas famílias negras passam por essa situação? Não pude deixar de lembrar de mais um caso de uma turma que trabalhei no ensino fundamental. Que horror! Nunca me acomodei diante dessas situações caros leitores; pois, “Se sentes indignação perante uma injustiça, somos companheiros” (Che Guevara). Lembrei-me de você que gosta de ler e foi vítima de racismo pelos seus alunos e por um colega de trabalho. Racismo na internet, pasmem! Filha de uma professora, há 23 é servidora pública, mulher, negra; foi ferida na sua dignidade e contra a sua raça; suas raízes.    83    Revista do Coletivo Seconba, v. 5, n. 1, p. 82-84, mar. 2021  A Semana da Consciência Negra de Barreiras realizado pela - SECONBA há 16 anos, me faz (re)pensar muitos atos e omissões da minha pessoa, de muitas pessoas e da pessoa que é capaz de ferir outra pessoa  Oh lei, lei morta ou viva de letras tortas? O que diz a LDB- Lei de Diretrizes de Base da Educação sobre racismo? O que é a Lei do Racismo? O que configura o racismo no Brasil? Tem quando tempo a lei contra o racismo e o Estatuto de Igualdade Racial? O que diz o corpo da Lei 7.716/89? O que diz a lei do crime contra o servidor público? Crime na internet? Na função de educadoras, temos o dever de saber a lei e de fazer cumpri-la, mas depende de quem vai fazer cumprir. E a punição para o não cumprimento? Afinal, a vítima não fez vitimismo, denunciou na promotoria.  Já recebeu alguma carta? Acompanho os fatos. Pelo que sei até agora, NADA. Está viva em minha memória, professora, quando você mostrou que foi vítima de racismo por seus alunos e por um apoiador deles, seu colega de trabalho. Lembrei no mesmo instante do que disse o grande educador Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.  Ainda referenciando Paulo Freire, lembro que entre os estudantes tínhamos brancos e negros. O professor apoiador era branco, mas conhecedor da lei e como professor somos sabedores de tantos direitos que nos são negados e a esta. em específico, também deve ter sido vítima da negação de alguns direitos.  O que leva uma pessoa a discriminar; a ser racista? Falta de conhecimento? Formação? Cultura passada de geração em geração. Em virtude de tantos questionamentos que sempre fui curiosa para conhecer mais sobre o racismo, e a oportunidade bateu na porta. A minha leitura das cartas foi colaborativa e compartilhada quando me recordei das vivênncias cotidianas da sala de aula diversas vezes Você ainda não leu “Cartas para a minha mãe”? Pois leia, conheça sobre a realidade retratada de uma menina que na infância foi forte, resistente e não se abateu pelo preconceito.   Isa Márcia de Souza1  Barreiras, 27 de janeiro de 2021   1 Graduada em Letras, Especialista em Estudos Linguísticos: Leitura e Produção de Textos e Especialista em Formação de Gestores da Educação Básica. Professora da Rede Estadual da Bahia, no Centro Juvenil de Ciências e Cultura de Barreiras . E-mail: isa.souza@enova.educacao.ba.gov.br. 84    Revista do Coletivo Seconba, v. 5, n. 1, p. 82-84, mar. 2021  Referências  CÁRDENAS, Teresa. Cartas Para a Minha Mãe. Tradução Eliana Aguiar. 1 ed. Editora Pallas, 2010. 

Carta para uma professora

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