Santos, Joanna Carolina Alcântara dos

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 Anais Seminário Interlinhas 2018.1 — Fábrica de Letras | 97 LADO BI: VIAS POSSÍVEIS NA FREQUÊNCIA DA WEBRÁDIO Joanna Carolina Alcântara dos Santos (Pós-Crítica\UNEB)¹ Resumo: A frequência da Web rádio apresenta possibilidade de inserções de outros discursos, como as posições políticas marcadas pelo espaço dos feminismos, LGBTQ, de negras e de negros, entre tantas outras categorizações sociais. A difusão do saber proporcionada por meio digital agencia modos de vida que, atualmente, são destacados em subjetividades consideradas diferentes que convidam a rever posturas de centralidades normatizadas. A minha proposta de estudos para o laboratório é de dialogar com as linguagens do meio de comunicação através da reflexão em três podcasts. Esta modalidade veicular de conhecimento apresenta recortes cujo programa LadoBi visa problematizar as identidades LGBTQ. O exemplo do slogan “na real e com local” é enunciado para compreender a representatividade binária de homem versus mulher com interferências de sentidos que afloram para desconstruir o lugar discursivo datado pelo sistema heteronormativo. Há leituras relevantes que põem em relevo o problema do objeto do slogan com interpretações teóricas cultivadas ao gênero e à sexualidades com Molina (2007), Camila Melo (2013), Rich (2010), Butler (2003), Paul Preciado (2014), Larissa Pelúcio (2014) que inserem conceitos de modo a trazer à tona as subjetividades. As autoras pretendem circunstanciar debates que não estejam somente girados na essência de códigos culturais subalternizados, pois, se elas remetem a uma leitura do Queer, é porque procuram análises que desestabilizem a estrutura construída pela performatividade que insistem em normatizar ou mesmo disciplinar vidas em seus estados de exceção. A expectativa é que o trabalho pelo canal da Web rádio sobre o qual almejo possa mediar as referências, bem como formas possíveis de presentificar e localizar diferenças nas diversidades de existir. Tratando de diálogos em campos mais transgressores, melhor, em espaços de menor precariedade e audíveis ao som da difusão de conhecimentos críticos, certamente, que pode haver difusão de culturas mais plurais e menos homogêneas.  Palavras-chave: Web rádio. Subjetividades. Queer.  INTRODUÇÃO Para iniciar nosso diálogo é válido apresentar um pouco dos caminhos que me trouxeram para essa análise. A minha implicação com o laboratório de web rádio no mestrado em Crítica Cultural da UNEB parte de uma aproximação anterior com essa ambientação, devido a minha experiência com a WEBRÁDIO UNEB de Conceição do Coité, durante o período de graduação em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV. No qual, pude estagiar e compreender a potência que a acessibilidade da linguagem ocasiona para a difusão do conhecimento. Voltando aos espaços de ocupação do mestrado, em dado momento, a coordenação nos incitou a pesquisar de modo a relacionar nossa pesquisa com o laboratório. Eis que o nome provisório do meu projeto, “Rotas do CU no estado da arte do pornô audiovisual” me deixou numa complicada situação diante dos agendamentos que permeiam tanto as pesquisas sobre o rádio, quanto suas programações. Para tanto, a rota possível na qual consegui conciliar diálogos com referências diante da ambientação apresentada, foi engatilhada por reflexões sobre o cu, pensando sobre ele enquanto lugar que desloca identidade, por caber e ao mesmo tempo romper com enquadramentos identitários devido a sua universalidade. Nesse aspecto, esse projeto tem buscado se enveredar em diálogos por epistemologias queer, que problematizam normatizações do sujeito, identidade e suas identificações, interpretando as vias possíveis para além das categorizações. Nessa perspectiva, se  Anais Seminário Interlinhas 2018.1 — Fábrica de Letras | 98 com o cu não consegui estreitar os laços com a Web rádio, com o queer me foi possível acessar esses estudos e posicionamento político em reverberações e enquadramentos que vem sendo abordadas no processo de difusão via web rádio de forma localizada. A mudança no meu projeto que passa de uma pesquisa quantitativa para uma qualitativa também vem impactar aqui o corpus de análise nessa conexão com o laboratório. Já que esse tipo de pesquisa permite uma interpretação considerando as subjetividades como espaço de fomento. Dessa maneira, foram escolhidos três edições do programa LADOBI para pensar suas percepções. Sendo os recortes temáticos, MPB, Música Brasileira Transviada e jornalismo queer, nos quais tiveram participação convidada e convidados fazendo reflexões que se enveredam pelas diferenças via investigações interseccionais.  Dessa forma, esse trabalho caminha refletindo sobre a Comunicação nas suas relações com a linguagem, de forma a emitir um posicionamento não neutro, que questiona esse sujeito universal hegemônico. Assim, esse trabalho é tecido aliado a contribuições sobre o queer no estabelecimento de redes de diálogos com feminismos posicionados pelas diferenças. Sendo a partir disso, dado foco nas motivações de escolha dos três podcasts, que fazem enquadramentos localizados que englobam essas questões com intuito de permitir a visualização de caminhos possíveis.  DESINFORMANDO O SUJEITO UNIVERSAL: COMUNICANDO DIFERENÇAS Pensar sobre a linguagem dos meios de comunicação nesse processo, também é pensar sobre plataformas de diálogo. Nesse aspecto, o formato do material a ser analisado escolhido, dialoga com materialidades potentes, que norteiam caminhos de diferenças, inclusive para o laboratório de Webrádio do qual faço parte. Nessa perspectiva, pensar a webrádio como ambiente para pesquisa é dialogar com um solo novo e fértil de difusão do conhecimento, que possibilita acessibilidade sem a necessidade de uma outorga pelo estado, como demais veículos de comunicação pública. Tornando-se a webrádio uma via de democratização da comunicação, que permite autonomia e propagação em baixo custo.  Para Nair Prata (2012), a tendência que agrega essa nova concepção criativa é a de “(..) web rádios com foco na convergência multimídia e páginas com usabilidade cada vez mais centrada no usuário”. Essa pluralidade de veiculações em imagens, textos, vídeos, áudios, propicia nesse contexto heterogêneo uma variedade de ferramentas, que possibilita acesso amplo, sem perder de vista o direcionamento a públicos específicos, já que um dos investimentos notórios nas plataformas digitais é de acolher internautas, capturados por elos subjetivos.  Nesse sentido, ao refletir sobre subjetividades, é importante salientar o posicionamento desse trabalho no que tange as epistemologias alternativas, que agregam no seu modo de visualizar as conduções de vozes múltiplas e suas interpelações. Sendo válido ressaltar, as problematizações do  Anais Seminário Interlinhas 2018.1 — Fábrica de Letras | 99 sujeito universal alavancada por teorias feministas que contribuíram em questionamentos com os estudos queer. Principalmente os feminismos que englobam a interseccionalidade no fomento a transversalidades e a crítica as normatividades que desumanizam possibilidades e subjetividades possíveis. Quando Anelis Molina (2007) sob uma ótica feminista, nos convida a refletir sobre a visão hegemônica, de modo a promover um olhar das minorias no âmbito acadêmico dentro das pesquisas de comunicação, ela nos atenta para os silenciamentos praticáveis em meio a interpretações e leituras dos sujeitos sobre o mundo. De modo a ser possível estabelecer pontes viáveis entre o campo empírico e o acadêmico. Nesse processo, essa concepção de minorias e maiorias, que presumem marcadores identitários é ampliada por Camila Melo (2013) ao propor uma comunicaqueer, na qual se torna possível transpassar limitações identitárias, entrecruzando possibilidades de identificações.  Desse modo, a abordagem queer a qual experimenta essa proposta, propicia a interpelação de sujeitos dando foco a problematização de identidades. Com intuito de gerar reflexões engatilhadas pela disponibilização do programa LADOBI via podcasts em suporte virtual. Para tanto, para aguçar essas visualidades, é importante visibilizar questionamentos pelos quais as possibilidades de desconstrução e desmonte do sujeito tem sido ambientados nos estudos queer, trazendo anteriormente um recorte da contribuição de feminismos que agregam diferenças.  NA FREQUÊNCIA DO QUEER: DIÁLOGOS EM REDE Para nos situar em alguns questionamentos pelos quais se desdobram os estudos queer, é importante alardear para a contribuição dos feminismos negro e lésbico, que questionam as normativas centradas num feminismo que garantia uma seletividade em agendamentos e experiências normativas brancas e heterocentradas, desconsiderando outras intersecções subjetivas. Nesse aspecto, é importante retomar o conceito de heterossexualidade compulsória, da Adrienne Rich (1990) que mesmo dentro de um viés identitário, contempla uma criticidade basilar para os estudos queer. Pois, na sua abordagem questiona o regime de normalidade, que além de se ater a fomentação da identidade lésbica, questiona bases da naturalização social das normatividades heterossexuais e os impactos que isso ocasiona para a vida das mulheres em geral, entendendo-a como uma instituição política. Tão como Luiza Bairros (1995) faz questionamentos interseccionais, alertando para a multidimensionalidade de experiências que o pessoal enquanto político abrange. Ao passo que ela dá enfoque a questão feminista não como simples descrição de experiência de opressão de mulheres por homens, mas alerta para necessidade de compreensão crítica das bases que possibilitam a manifestação dessas realidades. Nesse processo, sob influência de questionamentos as críticas feministas, a teoria queer vem derivar do encontro com de estudos culturais e do pós-estruturalismo francês, dando prioridade a  Anais Seminário Interlinhas 2018.1 — Fábrica de Letras | 100 análise de obras artísticas e midiáticas. Se por muito tempo as políticas binárias serviram de arcabouço para os movimentos identitários como uma maneira de visibilizar-se nas categorias como identificações possíveis, os estudos queer propõem uma investigação radical no que tange a normatividades políticas nas suas relações com o corpo, tendo compreensão que o sujeito situado não é sintetizado pelas categorias, sejam elas consideradas hegemônicas ou marginais. Para tal, Judith Butler (2003) atenta para as práticas de repetição social imersas nos binarismos heterocentrados, que se ocultam na naturalização de suas regras. De modo a produzir efeitos que se mesclam enquanto noções de subjetividades. Ao refletir sobre gênero, a autora pensa o conceito de performance de modo a romper barreiras entre sexo e gênero e os discursos naturalizantes, entendendo que as práticas que destoam das já naturalizadas, denunciam o status performativo do próprio natural, apresentando possibilidades de contestações possíveis a essa normatização. Já para Paul Beatriz Preciado (2014), que faz estudos de modo a dialogar com essas teorias, destaque que além do efeito de práticas culturais em diferentes esferas da experiências, ele se dá na materialidade dos corpos, sendo ao mesmo tempo construídos, como também orgânicos.  Nesse aspecto, a escolha dos programas se alia a uma proposta que engloba esses sujeitos que denunciam a naturalização das normas e suas práticas na ambientação que esses corpos acontecem, seja na música, seja no jornalismo. Buscando alçar reflexão sobre qual enfoque lhes é dado, de maneira a atentar para as noções de diferenças, entendendo a potencialidade que tem essa difusão na ruptura com a linguagem hegemônica.  Sobre a difusão desse eixo crítico, é preciso também reconhecer que o termo “queer” é pouco conhecido de significado, até mesmo nos ambientes acadêmicos. Se a significação no inglês é sinônimo para nós de “ridículo”, “excêntrico”, muitos desconhecem essa nominação. Ao passo que implicados nessa questão nominal, presenciamos reverberações coloniais, também é possível captar as conexões em rede que em outras nomenclaturas localizadas esse movimento dissidente tem dialogado. Larissa Pelúcio (2014) ao discorrer sobre o fomento a esses estudos no Brasil, alerta para a concomitância de uma conjuntura política, que no âmbito dos direitos se fortalecia de forma identitária em meados da década de oitenta e noventa. O que dificultou inclusive seu processo de difusão. Assim, refletir sobre esse aspecto da propagação impactou esse projeto a ser pensado com intento de uma interpretação localizada. Outro aspecto a ser enfocado para pensar a concepção queer, é sobre o fomento a abrangência das multiplicidades possíveis. De modo que não determina categorias de abrangência mesmo sendo possíveis diálogos com essa conjuntura. A fluidez queer abrange a multiplicidade das maneiras de subjetivação em diferentes faces das suas intersecções. Nesse sentido, Paul Beatriz Preciado (2011) interpreta que o queer abrange uma multidão de  Anais Seminário Interlinhas 2018.1 — Fábrica de Letras | 101 diferenças, que pode ou não exercer conexões em seu exercício de transversalidade nas relações de poder.  Essas inquietações tem me levado a buscar leituras de outras localidades, que falem sobre essa inquietação dissidente seja ela “queer”, “cuir”, “teoria cu”, dentre outras variações de experiências possíveis. E enquanto almejo isso pelos caminhos da pesquisa, me situo na escolha do programa de webrádio também buscando localidades nas narrativas interpretadas. Para tanto, vamos visualizar um pouco dos enquadramentos fomentados nos podcasts de modo a tornar possível uma projeção mais corporizada das questões aqui abordadas.  LADOBI: LOCALIZANDO VIAS POSSÍVEIS A pesquisa em busca de um lugar pra fomentar sobre essas questões, me fez observar o quanto a palavra queer é desconhecida, inclusive no âmbito LGBTQI+, quando se trata de busca-la como palavra-chave nas programações em rede via web rádio. E foi no encontro do programa LADOBI, que pude me enveredar por um espaço de reflexão sobre diferentes temáticas interseccionais, ao mesmo tempo que direcionado para “cultura e cidadania LGBT”. Como grande parte dos programas anteriormente pesquisados que eram voltados a esse público eram inteiramente musicais, dentre os mais de 150 programas disponibilizados na plataforma, indaguei sobre a oportunidade de fazer uma crítica Cultural abrangendo a esfera Música popular Brasileira, da então intitulada Música Brasileira Transviada. Como também, um programa temático sobre jornalismo queer devido a possibilidade de uma interpretação dessa metalinguagem nos diálogos em diferenças propiciados a partir disso. Todos os programas são de entrevistas onde em uma linguagem mais descontraída é possível dialogar com autora e autores que tem pensado e escrito sobre impactos transversais do queer nesses seguimentos.  CONSIDERAÇÕES FINAIS Sendo assim, penso serem relevantes os desdobramentos que poderão ser propiciados por essa pesquisa, tanto nas localidades pelas quais busca se enveredar, como na potência de multidões que não podem ser abarcadas, mas fomentadas em possibilidades de corporificações sem seguir sob efeitos limitantes normativos. Pensar sobre isso tendo como chão um programa de webrádio, permite que seja dada a pesquisa um foco reflexivo a culturas mais plurais e menos homogêneas. Dessa forma, espero com isso colaborar na fomentação ao conhecimento, inclusive o científico pelas vias da webrádio como suporte de propagação. Permitindo assim uma experiência de pesquisa no que tange interpelar subjetividades múltiplas, mesmo que por aqui o cu como foco temático não esteja presente.  Anais Seminário Interlinhas 2018.1 — Fábrica de Letras | 102 REFERÊNCIAS BAIRROS, Luiza. Nossos feminismos revisitados. Estudos feministas, v. 3, n. 2, p. 458, 1995. BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Editora Record, 2003. LADOBI: Cultura e Cidadania LGBT. Disponível em: < http:www.ladobi.com.br > Acesso em maio de 2018. LADOBI. Episódios. Disponível em:< https://www.ladobi.com.br/episodios/> Acesso em: junho de 2018. MELO, Camila Oliveira. Comunicação e Gênero: diálogos com a Teoria Queer. Academia.edu, 2013. Disponível em: https://www.academia.edu/6311037/Comunica%C3 %A7%C3%A3o_e_G%C3%AAnero_di%C3%A1logos_com_a_Teoria_Queer> Acesso em: dez. de 2017 MOLINA, Anelise. Epistemologia Feminista na Pesquisa em Comunicação: Mulher, Feminino e a Inclusão de Outros Corpos/Corpus, 2017. PRATA, Nair. Webradio: novos gêneros, novas formas de interação. Editora Insular, 2009. PRECIADO, Beatriz. Multitudes queer: notes for a politics of" abnormality". 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