Kloetzel, Kurt

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Cadernos Espinosanos (E-Journal)

Rev. lnst. Med. trop. Sêio Paido CDU 594.381: 4( 5 ):296-298, setembro-oi,tubro 1962 616.995.122 RESISTÊNCIA À DESSEC~ÇÃO DO AUSTRALORBIS NIGRICANS DA CIDADE DE SÃO PAULO (BRASIL) Kurt KLOETZEL RESUMO Foi investigada a resistência do A. nigricans da Reprêsa Billings de São Paulo à dessecação artificial, quer em umidade ambiente, quer a altas umidades. A sua resistência foi, de muito, inferior àquela exibida pelo A. glabratus de Pernambuco e da mesma ordem de grandeza que o A. glabratus do Dique de Tororó, Salvador. Assim foi atingido 50% de mortalidade aos 17 dias à umidade ambiente e aos 45 dias à umidade próxima à saturação, com perda média de pêso, respecti-vamente, de 23% e 33%. Entre os caramujos encontrados sôbre a terra sêca próxima à margem, ape-nas 10% se mostraram viáveis; 93% dos sobreviventes haviam perdido menos de 30% do seu pêso com a dessecação natural e nenhum exemplar perdera mais de 40%. INTRODUÇÃO Os primeiros trabalhos sôbre resistência à dessecação do Australorbis foram feitos, co-mo era natural, com o A. glabratus, consi-derado bom hospedeiro intermediário 2 , 3 , 4• Posteriormente BARBOSA i& BARBOSA 1 es-tudaram o mesmo fenômeno no A. nigricans do Estado da Guanabara, comparando o seu comportamento com o A. glabratns de Pau-lista, Pernambuco, e concluindo por uma baixa sobrevida do primeiro quando conser-vado fora da água. A possibilidade, embora remota, de que o planorbídeo das redondezas da cidade de São Paulo possa vir um dia a desempenhar papel importante na transmissão da helmin-tose, suscitou o nosso interêsse em investigar a sua resistência à dessecação. MATERIAL E MÉTODOS Os caramujos foram capturados durante o mês de novembro de 1960 na Reprêsa Bil-lings, prox1ma a São Paulo, no local deno-minado "Acampamento dos Engenheiros". Por esta ocasião o lago havia perdido muito de seu volume normal, tendo o nível das ·águas baixado cêrca de 3 metros. Foram capturados exemplares de A. nigricans tanto na vegetação marginal como sôbre o terreno descoberto, sendo rejeitados os exemplares que, já à primeira inspeção, nos pareciam mortos. Os caramujos dêste último grupo foram pesados e colocados na água. Somente 10% se mostraram viáveis. No dia seguinte fo-ram tirados do aquário, enxugados e pesados após 2 horas de exposição ao ambiente, sen-do assim determinado o seu "pêso inicial". O grupo de animais colhidos dentro d'á-gua foi colocado em aquário. Após 7 dias, durante os quais foram alimentados com al-face sêca em estufa, foram retirados e deter-minado o seu "pêso inicial". Parte dêstes caramujos foi colocada em ambiente de umi-dade próxima à saturação, outro grupo man-tido no ambiente mas sôbre uma camada de algodão inicialmente umedecido, conseguin-Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - Clínica de Moléstias Tropicais e Infec-tuosas (Prof. J. A. Meira); Depto. de Parasitologia (Prof. A. D. F. do Amaral). 296 KLOETZEL, K - Resistência à dessecação do Australorbis nigricans da cidade de São Paulo (Bra-sil). Rev. Inst. l\'.led. trop. São Paulo 5:296-298, 1962. do-se assim lenta adaptação à umidade do ambiente. A metodologia obedeceu às normas já ex-postas em nosso primeiro trabalho 4 • RESULTADOS 1. - Dessecação em condições naturais -Considerando como pêso normal do animal o pêso determinado após breve readaptação no aquário, podemos determinar a perda de água dos exemplares de A. nigricans em desseca-ção natural e capturados junto à margem do lago. Os resultados estão expostos no Qua-dro I. Nenhum dos animais apresentou per-da de pêso maior que 40% do "pêso inicial". QUADRO I Perda de pêso de exemplares de A. nigricans co-lhidos em estado de dessecação natural. Distri-buição dos animais em classes, segundo a perda de pêso percentual. Perda de pêso N• de Percentagem de (%) animais animais em cada classe o - 9 .......... 4 7,0 10-19 . . . . . . . . . . 24 41,4 20-29 .......... 26 44,6 30-39 .......... 4 7,0 Total ........ 58 100,0 2. - Dessecação no laboratório - Ani-mais em atmosfera ambiente - A perda de pêso médio e a mortalidade dêstes animais em épocas diversas da experiência estão ex-postos no Quadro II (Vide também figura 1). QUADRO II Mortalidade e perda de pêso de A. nigricans man-tidos fora d'água em umidade ambiente (150 animais). Mortalidade Perda média de Dias percentual pêso ( % do pêso inicial) 4 10 8 13 26 23 18 60 36 3 - Dessecação no laboratório - Ani-mais em atmosfera com umidade elevada -Os resultados encontram-se expostos no Qua-dro III e na figura 1. QUADRO III Mortalidade e perda de pêso de A. nigri.cans man-tidos fora d'água em umidade elevada (150 animais). Mortalidade Perda média de Dias pêso ( % do pêso percentual inicial) 11 33 17 20 37 19 49 53 23 68 62 25 -- MORTALIDADE ---- PÊSO 100% '~ .... ~~----o-_______ ------0----------0 50% 10 20 30 40 50 60 DIAS Fig. 1 - Mortalidade e pêso de exemplares de A. nig1·icans de São Paulo, em condições de dessecação artificial. As linhas com cír-culos claros correspondem a observações em condições de umidade alta e as linhas com círculos pretos, em umidade ambiente. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Êstes dados mais uma vez põem em relêvo a necessidade de condições de alta umidade para prolongar a sobrevida de planorbídeos m3.ntidos fora da água; em condições de am-biente metade dos animais haviam morrido aos 17 dias, com uma perda média de pêso de 33%, enquanto em condições de alta umi-dade esta mortalidade só ocorreu em tôrno do 45. 0 dia, quando os caramujos haviam perdido em média 23% do pêso inicial. O A. nigricans de São Paulo mostrou-se, por 297 KLOETZEL, K - Resistência à desseca!)ão do Australorbis nigricans da cidade de São Paulo (Bra-sil). Rev. Inst. Med, trop. São Paulo 5:296-298, 1962. conseguinte, menos resistente que aquêle in-vestigado por BARBOSA ,& BARBOSA 1, que exi-biu 50% de mortalidade aos 30 dias. A elevada resistência de A. glabratus quan-do mantido fora da água é por demais co-nhecida e não nos cabe repetir os argumen-tos. Entretanto será de utilidade comparar nossos dados com aquêles anteriormente ob-tidos 4 com o planorbídeo colhido no Dique do Tororó, Salvador: 50% dos exemplares dêste último sobreviveram 19 dias em con-dições de ambiente e 40 dias em alta umi-dade, dados que perfeitamente se superpõem aos apresentados no presente trabalho. Também foram semelhantes as relações "pêso inicial vs. diâmetro" para o A. nigri-cans de São Paulo e o A. glabratus de Sal-vador, dados que perfeitamente se superpõem aos apresentados no presente trabalho. Não sabemos se os caramujos acompa-nham o nível de água na época da sêca; é um ponto digno de maiores estudos, mas di-fícil de abordar. Entretanto a grande quan-tidade de conchas encontradas sôbre o ter-reno nos faz pensar que seja imperfeita a capacidade do A. nigricans de proteger-se das mudanças de nível da reprêsa. Esta par-ticularidade pode vir a ter alguma importân-cia em epidemiologia, na hipótese de even-tualmente surgir em São Paulo o problema da esquistossomose autóctone. SUMMARY Resistance o/ Australorbis nigricans from the City o/ São Paulo towards desiccatwn. W e investigated the ability of A. nigricans capture d at Reprêsa Billings ( São Paulo) to live out of the water, both at room humidity 298 and under conditions of humidity near the saturation point. The resistance towards de-siccation of this snail was found to be much lower than the resistance of A. glabratus from the State of Pernambuco and of the sarne order than A. glabratus from Dique do Tororó, State of Bahia. Fifty percent mortality was reached on the 17 th day at ambient humidity and on the 45 th day at high humidity, with an average weight loss of respectively 23% and 33%, Only 10% of the shells collected from the ground covered by the lake a few weeks previously contained alive snails; 93% of these had lost less than 30% of their initial weight and none had lost more than 40%, REFERÊNCIAS 1. BARBOSA, F. S. & BARBOSA, L. - Obser-vations on the ability of the snaff Austra-lorbis nigricans to survive out of water in the laboratory. J. Parasit. 45:627-630, 1959. 2. BARBOSA, F. S. & DOBBIN Jr., J. E. - Re-sistência do A ustralorbis glabratus à desse-cação em condições naturais. Publ. avulsas Inst. Aggeu Magalhães 1:141-144, 1952. 3. BARRETTO, A. C. - Dessecação natural e experimental de Australorbis glabratus (Mol-lusca, Planorbidae) da cidade do Salvador, Bahia. Bol. Fund. Gonçalo Moniz 13:1-24, 1958. 4. KLOETZEL, K. - Resistência à dessecação do Australorbis glabratus. Comparação entre os caramujos de Olinda (Pernambuco) e um dos focos do Salvador (Bahia). Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 1:279-288, 1959. Recebido para publicação em 4 julho 1962. 

Resistance of Australorbis nigricans from the city of São Paulo (Brazil) towards desiccation

Resistência à dessecação do australorbis nigricans da cidade de São Paulo (Brasil)

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Resistência à dessecação do australorbis nigricans da Cidade de São Paulo (Brasil)

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