Miranda Álvares, Maria Luzia

Pimentel, Adelma

Schalken de Andrade, Lorena

Silva, Maria de Nazareth

Portuguese

Universidade Federal do Pará: Periódicos UFPA

ApresentaçãoCiência em saúde é mais que evidência: É humanidade e pluralidade dos saberes. Este volume é infinitamente especial para todos nós, pelo motivo do conjunto de mu-danças que advém na revista. Uma em destaque é a inserção no Portal de Periódicos da Uni-versidade Federal do Pará, com a adoção do sistema de editoração OJS, na qual  se afina com o registro internacional das produções científicas. A Revista Gênero na Amazônia, desde sua organização, ofereceu estudos voltados para o esclarecimento científico, social e político das mulheres e de seus leitores. Em outubro de 2022, atualizamos a linguagem de publicação, alinhada aos códigos de divulgação universais para ciência e os saberes sociais. Migramos todo o acervo de estudos publicados para este sis-tema, na qual todos podem usufruir da leitura no link: https://periodicos.ufpa.br/index.php/generoamazonia/issue/archive.Este foi um trabalho árduo e coletivo, liderado pela professora Dra. Maria Luzia Miran-da Álvares, cuja vitalidade transcende os limites geracionais; se configura em criatividade, e amplia as suas competências, fraturando os padrões neoliberais que os homens ricos e o Esta-do tentam impor às mulheres. Assim, a revista faz-se atemporal.Senso comum, Religioso, Filosófico e Científico são formas de organizar o conheci-mento elaborado pela humanidade ao longo do tempo, contribuindo para situar elementos que respondam às questões e inquietudes humanas sobre a origem da vida e da morte, como modos de produzir informação, que, por sua vez, é experiência vivida na consciência, inde-pendentemente da reflexão cognitiva. Assim, a sabedoria de mulheres que cuidam das suas comunidades com alimentos e subsídios não produzidos industrialmente é um dos elementos condutores dos textos aqui publicados. Os escritos permitem estabelecer as argumentações e as prioridades que pensadoras e pensadores escolhem para responder às questões existenciais na sociedade na qual se inse-rem. As linguagens são plurais, espelham epistemologias diversas como a fenomenológica e a narrativa que inspiram a psicologia clínica e refutam na ciência a  exclusividade da lógica das evidências. De acordo com Stelet (2020),A Medicina Narrativa pode ser explicitada como prática e disposição intelectual que permite aos médicos perceberem para além dos mecanismos biológicos: busca-se somar à leitura de sinais do corpo uma decodificação das narrativas e outros indícios verbais e não-verbais dos pacientes. Tal ha-bilidade requer abertura não apenas cognitiva, mas da esfera dos valores na experiência do encontro clínico (p. 9).O Dossiê da Revista Gênero na Amazônia adita na escritura abordagens interseccionais, alinhadas aos estudos que, no GEPEM, são desenvolvidos, desde sua fundação, por meio das linhas de pesquisa. As pautas de interesse e críticas do referido grupo são as opressões, assédios, indiferenças, desrespeitos que, principalmente, sofrem as mulheres na Universidade, nos movi-mentos sociais, nos contextos urbanos e rurais, nas áreas quilombolas, indígenas e ribeirinhas. Em relevo nos documentos, temos investigações sobre a problemática da saúde coletiva e individual nos seus contextos diversos, básico e complexo. O enfoque interdisciplinar é um Gênero na Amazônia, Belém, n. 22,jul./dez.,202210Apresentaçãofio condutor deste volume, em que raça, classe, geração e gênero são alguns determinantes sociais e historicamente estruturais que interferem no processo saúde-doença e bem-estar psicossocial. Os aspectos sobre os determinantes ora aparecem de modo direto nos textos, ora de forma transversal. As autoras e os autores nos brindam em textos que oferecem reflexões relevantes nas Ciências Socais; na Psicologia Clínica, na Gestalt-terapia, Fenomenologia, Her-menêutica, Antropologia, Filosofia e Terapia Ocupacional. Destacam-se temáticas acerca dos usos da arte, da clínica ampliada; de óleos essenciais; da meditação; e do relaxamento para superar a ansiedade e o temor pela morte.Oferecemos às leitoras e aos leitores argumentos para pensar a complexidade presente nos antagônicos processos de subjetivar e sociabilizar pessoas. Davi Miranda formula a ques-tão sobre a identidade de um transexual masculino, cuja narrativa foi apreendida durante seu Mestrado em Psicologia no Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Pará, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. O título do trabalho, “Eu quero ser um cara no mundo da vida: luta de um homem trans por reconhecimento”, denota sua crítica à homoge-neização das masculinidades no box da heterossexualidade.Lorena Schalken de Andrade; Bruna Improta de Oliveira Mendonça; Raquel Guedes Pimentel Pílon; Wanne de Oliveira Belmino e Elenrose Paesante, por meio de relatos autobiográficos sobre práticas de cuidado na atuação como psicólogas gestaltistas, discorreram sobre o apoio e suporte mú-tuo em saúde mental no cenário da pandemia da COVID 19. Em conjunto e/ou individual-mente, contribuem ao desenvolvimento de estratégias clínicas para enfrentamento das formas de ansiedade, um dos efeitos danosos consequentes deste período, associado ao antes e depois da política sanitária para o enfrentamento do Corona Vírus e do “isolamento social”. Desta forma, os materiais nos ajudam a atentar para as interrogações que, ainda, permanecem sobre a gênese do vetor pandêmico e a efetiva vacinação de caráter duradouro.Na escritura originária do seu doutorado em Psicologia no Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Pará, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Ana Paula Chagas Monteiro Leite, em companhia de seu orientador Cezar Luis Seibt, abordam sobre a reto-mada do lugar do corpo na unidade da condição humana. O estudo foi composto na forma de pesquisa bibliográfica que tematiza a dança do ventre como uma estratégia de autocuidado para mulheres do Estado do Pará,  refletindo os benefícios da dança do ventre para a saúde, como, por exemplo, a possibilidade de autoconhecimento. No escopo da sua composição textual, Raissa Costa Reis nos avaliza elementos para ex-probrar a violência obstétrica, uma prática constante nos atendimentos de saúde ofertados nas instituições brasileiras, como qualquer ato que fere a dignidade da mulher no âmbito da sua saúde sexual e reprodutiva. O texto é proveniente de uma pesquisa qualitativa-fenomenológi-ca, demonstrando a percepção das mulheres sobre atos vivenciados ao longo do atendimento recebido no seu ciclo gravídico-puerperal. Entre os resultados: a ênfase ao sentimento de desconforto das participantes do estudo ante à vivência de violências de cunho físico, verbal e institucional, que vão de encontro às diretrizes de assistência dos órgãos reguladores da saúde. Natasha Cabral Ferraz de Lima delineia uma compreensão sobre a inserção do psicólogo no contexto hospitalar, situando o percurso histórico de construção desta área de desempe-nho; e também conjecturas acerca de marcos teóricos, filosóficos e sociais do trabalho do Psicólogo no hospital. Adelma Pimentel; Luzia Álvares; Nazareth Malcher; Lorena SchalkenAPRESENTAÇÃO 11Ana Maria Campos da Rocha e Patrícia do Socorro Magalhães Franco do Espírito Santo apresen-tam uma pesquisa qualitativa visando entender, por meio de entrevistas com profissionais atu-antes no SUS; a adequação da prática clínica centrada na pessoa como perspectiva de trabalho, sobretudo no primeiro nível de atenção à saúde. Os relatos apresentados apontaram que o uso deste aporte teórico apesenta tanto limitações quanto benefícios para a clínica exercida em Unidades Municipais de Saúde localizadas no município de Belém. Leticia Marlene dos Santos Figueiredo e Adelma Pimentel analisam a proposição da Campanha de conscientização Maio Furta-cor, divulgada na rede social virtual Instagram como uma causa dedicada à sensibilização da saúde mental materna. As autoras apresentam o conceito de saúde mental materna nas publicações nesta rede, e concluíram que esta condição foi representada por diversas construções sociais habituais; contudo, a campanha aponta para  uma crítica, pro-blematizando a naturalização da vivência da maternidade. Hevellyn Ciely da Silva Corrêa; Jéssica Pingarilho Batista; Samantha Moraes Cabral Lobato te-matizam a brincadeira infantil como suporte ao desenvolvimento emocional saudável. Em tempos de consumo e pressa, criar espaços para a expressividade das crianças é um convite indispensável e relevante para o cuidado dedicado às crianças, como uma condição necessária para a sobrevivência física, psíquica e social humana. As autoras apresentam o provérbio afri-cano: “É preciso uma aldeia para educar uma criança”, que evoca a presença da comunidade como uma rede de apoio na proteção das crianças. Beatriz Evangelista de Araújo apresentou pesquisa teórica da literatura nos últimos 5 anos sobre uma temática de saúde pública no Brasil e no mundo: a ansiedade, ponderando em um enfoque fenomenológico sobre a dialética vivência e sintomatologia. No texto, situa a ansieda-de como uma condição humana que pode ser geradora de sofrimento psíquico. Maria de Nazareth Rodrigues Malcher O. Silva reflete sobre a política de saúde mental, por meio da entrevista com Livia, uma usuária dos serviços em Brasília. Descreve o cotidiano em que Lívia é autônoma protagonista, e não uma “doente” reduzida a rótulos diagnósticos ob-tidos na avaliação e tratamento psiquiátrico, baseado em medicamentos. A narrativa de Lívia desenha para os leitores e leitoras a força de resistência para reconstruir sua saúde mental, desconstruindo a lógica de tratamento pautado na cura dos sintomas. Neste percurso, a autora delineia as contribuições do paradigma de Recovery, que contribui para a superação dos estig-mas de “loucos”, historicamente, instituído ao sofrimento mental. No paradigma, as ações em saúde são holísticas, visam o empoderamento e o exercício da cidadania.No formato de relato de experiências, algumas contribuições são presentes nesta edição: Jeremias Moraes do Nascimento tece uma breve crítica da dificuldade no diálogo entre profissio-nais de saúde e mulheres que recorrem a um serviço de radiologia no município de Belém/Pará; Kellen Borges resenha o livro da escritora boliviana Julieta Paredes: “Hilando Fino: desde el feminismo comunitário”, possibilitando conhecer, pelas lentes das autoras, a discussão em-preendida sobre a história da Bolívia e sua relação com neoliberalismo, feminismo, comunida-des, entre outros assuntos. Dessa forma, a resistência é contraponto da dominação, sendo o desejo por mudanças, no âmbito da cultura e da política, pilares para rupturas com o modelo neoliberal e o patriarcado. Aponta, também, os princípios de integralidade entre corpo e alma. Ana Júlia Chaves Mel; Marcos Vinicius Monteiro Barbalho; Paula Marília Nascimento Moura; Zay Nogueira de Sales elaboraram uma resenha da coletânea de textos publicados, entre os anos 1939 e 1990, da obra Living at the Boundary (1991), de Laura Perls, retomando conceitos da Gestalt-terapia, Gênero na Amazônia, Belém, n. 22,jul./dez.,202212Apresentaçãoa partir das concepções da autora e cofundadora da abordagem gestáltica, na qual criticam o que nomeiam de “processo de invisibilização” associado a esta autora. Destacam os conceitos de agres-são, suporte, sexualidade, infância.Aproveitem a leitura!Belém/PA (Amazônia/Brasil), outubro de 2022.Adelma PimentelMaria Luzia Miranda ÁlvaresMaria de Nazareth MalcherLorena Schalken de AndradeREFERÊNCIASTELET, Bruno Pereira. Medicina narrativa e medicina baseada em evidências na formação mé-dica: contos, contrapontos, conciliações. 2020. 189 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2020.

Ciência em saúde é mais que evidência: É humanidade e pluralidade dos saberes

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