Bueno, Marcelo Leandro

Ranier, Thiago Gomes

Resende, Ubirazilda Maria

Archives of the Faculty of Veterinary Medicine UFRGS

NOTA CIENTÍFICA  Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 189-191, jul. 2007  Levantamento florístico nas trilhas turísticas da RPPN São Geraldo, Bonito, Mato Grosso do Sul  Marcelo Leandro Bueno1, Ubirazilda Maria Resende2, Thiago Ranier Gomes3  189  Introdução  A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) São Geraldo, foi a segunda criada pela Sema/MS através da Deliberação do Conselho Estadual de Controle Ambiental (CECA) n° 003/1998, inserida em uma área de preservação permanente (APP) e tem como objetivo manter a integridade dos ecossistemas aquáticos do Rio Sucuri, do Rio Formoso e seu entorno, associada ao desenvolvimento de pesquisas científicas, educação ambiental e do ecoturismo [1].  O rio Sucuri, localizado na região sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul, é considerado de rara beleza cênica e de importância ecológica. Sua nascente está inserida no Planalto da Bodoquena, caracterizado por um maciço rochoso calcário elevado com altitudes que variam de 450 a 650m [2], onde se encontra um dos últimos remanescentes de floresta estacional semidecidual e decidual de grande extensão, com sua qualidade preservada [3]. Essas formações ciliares desempenham relevante importância na manutenção da integridade dos ecossistemas locais, representando importantes áreas de preservação de espécies animais e vegetais e conservação dos recursos naturais [4]. Levantamentos florísticos em remanescentes de florestas ciliares, realizados em diferentes regiões do Brasil, têm mostrado que essas áreas são muito diversas quanto à composição e estrutura florística e fitossociológica como resultado da elevada heterogeneidade ambiental à qual está associada [5].  Devido às constantes ameaças e à escassez de estudos sobre a flora do Planalto da Bodoquena e áreas consideradas de entorno reforçam a necessidade urgente de levantamentos florísticos, em trechos das matas ciliares do rio Sucuri e em outros rios da região, visando subsidiar ações voltadas ao manejo, preservação e recomposição dessas formações.    Material e métodos A. Área de Estudo A Fazenda São Geraldo, possui 8.406 hectares das quais 642 hectares (7,63%) compõem a RPPN, e está localizada no município de Bonito, com sede nas coordenadas geográficas 21º 15’ 48’’ S e 56º 33’ 36’’ W (Sistema Geodésico de Referência SAD-69). A reserva engloba o Rio Sucuri (1800 metros de extensão), desde a nascente até sua foz, em ambas as margens, e o Rio Formoso, de sua junção com o Rio Sucuri a cerca de dez quilômetros a montante, em sua margem direita. Os pontos de coleta foram demarcados ao longo dos 400m da trilha da nascente e nos 170m da trilha da Barra, ambas na Mata Ciliar do rio Sucuri sentido montante. B. Metodologia  Para a amostragem da vegetação foi empregado o método de parcelas de 10 x 10m, sendo divido em 5 x 5m a cada lado da trilha ao longo de 9 pontos demarcados na trilha da Nascente e 3 pontos na trilha da Barra com intervalo de 50 m cada, totalizando 1.200 m2 de área amostrada (1,2 ha.).  As parcelas foram distribuídas ao longo das trilhas de maneira a amostrar todas as variações presumidas para a composição e abundância das espécies a partir da borda da Mata Ciliar em direção à margem do rio. Os dados foram coletados em expedições entre os meses de Abril e Maio de 2006, amostrando todos os indivíduos em seus respectivos hábitos.  O material botânico (reprodutivo e/ou vegetativo) foi prensado e herborizado pelos procedimentos usuais e identificado com auxílio de literatura especializada e comparado com exsicatas do Herbário pertencente à Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP), Campo Grande e será posteriormente depositado no Herbário desta mesma Instituição.   Resultados e Discussão Foram amostrados 271 indivíduos pertencentes a 38 famílias, 54 gêneros e 63 espécies (Tab. 1).  Das 63 espécies registradas 25 apresentaram hábito arbustivo (39,68%), 17 espécies tem porte herbáceo (26,98%), 15 espécies com hábito arbóreo (20,63%) e 8 espécies com hábito trepador (12,69%).  ______________________________ 1. Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas, Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP). Campus III: Rua Alexandre Herculano, 1400 - Jardim Veraneio - CEP: 79037-280 Campo Grande - Mato Grosso do Sul. E-mail: buenobio@yahoo.com.br 2. Professora de Botânica do Curso de Ciências Biológicas, Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP). Campus III: Rua Alexandre Herculano, 1400 - Jardim Veraneio - CEP: 79037-28 Campo Grande - Mato Grosso do Sul.  3. Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas, Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP). Campus III: Rua Alexandre Herculano, 1400 - Jardim Veraneio - CEP: 79037-280 Campo Grande - Mato Grosso do Sul. Apoio financeiro: Conservação Internacional Brasil (CI), Associação de Proprietários de Reservas Particulares do Estado de Mato Grosso do Sul (REPANS) e RPPN São Geraldo. 190   Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 189-191, jul. 2007  As seis famílias de maior riqueza florística contribuíram com 38,08% das espécies amostradas, e as demais 32 famílias com 61,90% das espécies. A família Rubiaceae, representada por seis espécies, foi a de maior riqueza, perfazendo 9,52% do total registrado. A família Leguminosae Mimosoideae representada por cinco espécies (7,93%), Moraceae representada por quatro espécies (6,34%) e as famílias Sapindaceae, Piperaceae e Verbenaceae foram representadas por três espécies cada (4,76% cada). Sete famílias foram representadas por duas espécies (22,22%) e vinte e cinco famílias foram representadas por somente uma espécie (38,07%)   Os gêneros que mais contribuíram com o número de espécies foram Tabebuia, Inga, Trichilia, Dorstenia, Ficus, Piper e Serjania, com duas cada.  De acordo Felfili et al [6], as famílias Bignoniaceae, Leguminosae Mimosoideae, Meliaceae, Piperaceae e Sapindaceae são as mais representativas nas Matas Ciliares. O índice de Shannon (H’) encontrado foi de 3,17 nats/indivíduo, também na mesma faixa encontrada para as 11 áreas de cerrado estudadas por [7], que variou entre 3,11 e 3,56 nats/indivíduo e o índice de equabilidade de Pielou (J’) encontrado foi de 0,76. Estes índices evidenciam uma alta diversidade de espécies para a área em estudo. As formações florestais associadas a cursos d’água, caracterizadas como áreas de preservação permanente são amplamente protegidas pela Legislação Ambiental Brasileira (Lei n. 4.771/65, alterada pela Lei n. 7.803/89) que estabelece exigências diferenciadas para a cobertura vegetal destinada a proteger nascentes, margens de rios, córregos, lagos e reservatórios de água. Os resultados da riqueza florística obtidos neste estudo, reforçam a importância da Legislação Ambiental Federal e Estadual, Lei n. 1.871 de 15/07/1998, [8] na manutenção e preservação de Mata Ciliares do bioma Cerrado. Elas contêm cerca de 33% do número total de espécies conhecidas para o bioma, apesar da reduzida área que ocupam (5%) em relação às demais fitofisionomias. Por conterem elementos florísticos de várias outras regiões, essas matas tornam-se importantes repositórios de biodiversidade e proteção dos mananciais [7].  A importância ecológica e beleza cênica que o rio Sucuri representa para a região sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul, demonstra extrema relevância para subsidiar ações e projetos que visem o manejo, preservação e recomposição dessa formação.   Agradecimentos  À REPAMS, CI e RPPN São Geraldo pelo apoio imprescindível a realização do projeto. À professora/orientadora e amiga Ubirazilda Maria Resende, à Marco Costacurta pelo apoio e confiança concedido e ao Thiago Ranier pelo apoio no trabalho desenvolvido.    Referências [1] BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC): Lei nº 9.985 de 18 de Julho de 2000 e Lei nº 9.985/2000. 5 ed. Brasília: MMA/SBF, 2004. p.56. [2]   BOGGIANI, P. C. Geologia da Bodoquena: Por que Bonito é bonito? In: SCREMIN-DIAS, E.; POTT, J. A.; HORA, R. C.; SOUZA, P. R. Nos jardins submersos da Bodoquena: um guia de identificação de plantas aquáticas de Bonito e região. Campo Grande: Ed. UFMS, 1999. p.10-23. [3] POTT, V. J. & POTT, A. Subsídio à conservação da vegetação aquática dos rios de Bonito, MS: Caso do rio Sucuri. [On Line] Disponível em: www.cpap.embrapa.br/agencia/congresso/Bioticos. Acesso em 13 jun. 2005. [4] MONTAG, L.F.A.; SMITH, W.S.; BARRELLA, W. & PETRERE Jr., M. 1997. As influências e as relações das matas ciliares nas comunidades de peixes do Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Ecologia 1: 76-80. [5] SANCHEZ, M.; PEDRONI, F.; LEITÃO-FILHO, H.F. & CESAR, O. 1999. Composição florística de um trecho de floresta ripária na Mata Atlântica em Picinguaba, Ubatuba, SP. Revista Brasileira de Botância 22(1): 31-42. [6] FELFILI, J,M; MEDONÇA, R,C; WALTER, B,M,T; SILVA Jr, M,C; NÓBREGA,C,W; SEVILHA, A,C & SILVA, M,C. Flora Fanerogâmica das Matas de Galeria e Ciliares do Brasil Central. In: RIBEIRO, J,F; FONSECA, C,E,L; SILVA, J,C,S., (Eds.) Cerrado: caracterização e recuperação de matas de galeria. Embrapa Cerrado, 2001. p 193-263. [7] FELFILI, J. M.; SILVA JUNIOR, M. C.; REZENDE, A . V.; NOGUEIRA, P.E.; WALTER, B. M. T., SILVA, M. A. & ENCINAS, J. I. 1997. Comparação florística e fitossociológica do cerrado nas chapadas Pratinha e dos Veadeiros. Pp. 6-11. In: L. Leite & C.H. Saito (Eds.). Contribuição ao conhecimento ecológico do cerrado. Ed. Universidade de Brasília. Brasília, DF. [8] MORELLI, S.L. 2000. Legislação Ambiental do Estado de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, Editora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. In: Battilani, J.L; Scremin-Dias, E & de Souza, A.L.T. Fitossociologia de um trecho da mata ciliar do rio da Prata, Jardim, MS, Brasil. Acta bot. Bras. v.19, n. 3, p. 597-608, 2005.      191   Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 189-191, jul. 2007    Tabela 1. Espécies catalogadas nas trilhas turísticas da Nascente e da Barra na RPPN São Geraldo, Bonito, MS. FAMÍLIAS ESPÉCIES Acanthaceae Justicia sp. Anacardiaceae Myracrodruon urundeuva (Engl.) Fr. All Annonaceae Unonopsis lindmanii Fries Apiaceae Hydrocothyle leucocephala Cham. & Schtdl. Arecaceae Sheelea phalerata (Mart.) Bur. Asteraceae Mikania capricorni Rob.  Emilia sp. Bambusaceae Guadua bambusa Humbold  & Bonplant Bignoniaceae Tabebuia umbellata (San.) Sand  Tabebuia aurea (Herb) Bromeliaceae Bromelia balansae Mez.  Tillandsia sp. Burseraceae Capidospermum halicacabum L. Celastraceae Maytenus sp. Combretaceae Terminalia fagifolia Mart. Curcubitaceae Sicyos fusiformes Cogn Euphorbiaceae Sapium cf haematospermum (M. Arg.) Hub.  Acalypha communis M. Arg. Flacourtiaceae Caesaria sylvestris Sw. Labiatae  Hyptis crenata Pohl. Lauraceae Ocotea cf velloziana (Meissn.) Mez. Leg. Caesalpinoideae Pterogyne nitens Tul.  Dipteryx alata Vog. Leg. Faboideae Phaseolus vulgaris L. Leg. Mimosoidae Acacia cf. farnesiana Willd.  Albizia sp.  Inga umbellata G. Don.  Inga uruguensis Hook. & Arn.  Mimosa sp. Malpighiaceae Indeterminada Malvaceae Wissadula subpetala (Kuntze) R.C. Fries Meliaceae Trichilia cf elegans A. Juss.  Trichilia sp. Moraceae Dorstenia asaroides Gardner  Dorstenia sp.  Ficus insipida Willd.  Ficus cf pertusa L. F. Myrsinaceae Rapanea guianensis Aubl. Myrtaceae Psidium sp. Orquidaceae Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. Passifloraceae Passsiflora sp. Piperaceae Piper angustifolium R.et P.  Piper taberculatum Jacq.  Piper sp. Poaceae Brachiaria sp. Rhamnaceae Rhamnidium eleocarpum Reiss. Rubiaceae Alibertia edulis (L.L. rich. ) A. C. Rich.  Chiococca alba Hitch.  Chomelia pholiana M. Arg.  Psychotria carthagenensis Jacq.  Randia armata (Sw.) DC.   Rudgea virbunoides (Cham.) Benth. Sapindaceae Serjania caracasana (Jacq.) Willd.  Serjania sp. Smilacaceae Smilax fluminensis Steud. Solanaceae Cestrum sp. Sterculiaceae Melochia sp. Styracaceae Styrax ferrugineus Neer et Mart Theophrastaceae Clavija nutans (Vell.) B. Stahl. Ulmaceae Celtis sp. Verbenaceae Aloysia virgata (Ruiz et Pav.) a. L. Juss.  Duranta sp.  Lantana cf. canescens H.B.K.  

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Levantamento Florístico nas Trilhas Turísticas da RPPN São Geraldo, Bonito, Mato Grosso do Sul

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