O presente trabalho enfatiza a importância da integração da família, principalmente da mãe, na assistência à criança hospitalizada e sugere pontos que ajudariam a enfermeira a adotar essa filosofia de assistência

Dias Lima, Josefa

Ferreira Ribeiro, Maria Noemi

Portuguese

Archives of the Faculty of Veterinary Medicine UFRGS

A INTEGRAÇÃO DA FAMfLIA NA ASSISTÊNCIA A CR lANÇA HOSPITALIZADA Maria Noemi Ferreira Ribeiro :.· Josefa Dias Lima ··~· RESUMO : O presente trabalho enfatiza a importância da integra-ção da família, principalmente da mãe, na assistência à criança hospitalizada e sugere pontos que ajudariam a enfermeira a adotar essa filosofia de assistência. Para que a enfermeira possa prestar uma boa assistência à crian-ça ela precisa se conscientizar da importância de seu papel em apoiar o relacionamento mãe-filho da criança sadia ou doente. Existe na criança o intenso desejo de contato com outros seres humanos, quer seja ele primário, representando uma necessidade primi-tiva inata como a própria alimentação, quer seja ele secundário adqu iri-do quando se associa à satisfação de uma necessidade (M USSEN et alii)5. 1\lo início de sua vida, os contatos da criança com outras pessoas estão intimamente ligados a seu bem-estar e à sua sobrevivência dia a dia. Ter fome e estar saciado são estados que têm na vida do recém-nas-cido importância relativamente maior que em períodos posteriores. Com o correr dos dias e meses, a criança começa a desejar mais atenção, além da alimentação e outros cuidados físicos. FQX1, afirma que a manutenção de um relacionamento estável é uma necessidade primária da criança pequena. Geralmente a criança estabelece esse relacionamento estável com a mãe e a separação dela, por qualquer motivo, é uma experiência psicologicamente traumática, podendo até, posteriormente, influenciar em sua personalidade. • Professor Assistente da Escola de Enfermagem da UFMG . ... Professor Adjunto da Escola de Enfermagem da UFMG. Revista Gaúcha de Enfermagem Porto Alegre, 4(21: 165-168. j ul. 1983 165 A hospitalização representa para a criança a separação dos pais, da atmosfera familiar e de tudo aquilo que ela conhece e compreende. Significa entrar em um ambiente hostil e ser cercada por pessoas desco-nhecidas, em um mundo novo e amedrontador. Quase sempre, represen-t a uma separação da mãe e ininterrupção do processo de desenvolvimen-to da relação afetiva mãe-filho. Trabalhos específicos de diversos autores3.4.2 ,6 fazem referên-cia ao potencial de distúrbios emocionais causados na criança em decor-rência da separação dos pais e hospitalização. As pessoas responsáveis pela assistência à criança hospitalizada parecem não ter ainda bem clara a idéia desses problemas. Observa-se uma total discrepância entre o que foi descoberto pela pesquisa e aquilo que se faz no ambiente hospitalar, na política geral da assistência à criança hospitalizada. Há necessidade de se modificar e reformar atitudes, estruturas, regras e procedimentos hospitalares para oferecer à criança aquilo que ela realmente necessita. Uma delas consiste em, tanto quanto possível, integrar a família e, principalmente a mãe, na assistência à criança hos-pitalizada. ROMBACH7, enumera os seguintes objetivos para essa integra-ção: - Diminuir ou eliminar os problemas psicológicos decorrentes do afastamento da família, principalmente da mãe. - Diminuir a angústia e aflição dos pais afastados de seus filhos doentes e desenvolver maior confiança na equipe médica e de enferma-gem. - Proporcionar à mãe oportunidade para aprender conceitos de educação para a saúde, de execução de alguns cuidados, cuja aplicação favoreçam ou promovam a saúde da família. Na prática, a integração da família, principalmente da mãe, na assistência à criança hospitalizada poderá ser feita em vários graus. O ider.~l é a permanência da mãe junto à criança durante todo o período de sua hospitalização. Não sendo possível esta modalidade, poderão ser adotadas outras medidas que permitam o maior contato possível da mãe com a criança tais como a permanência da mãe durante o dia inteiro, durante algumas horas do dia, horário irrestrito de visita da mãe e da família . 166 Revista Gaúcha de Enfermagem Porto Alegre, 4(2): 1 65· 168, j ui. 1983 A implantação dessa filosofia de assistência em nosso país tem ainda uma série de obstáculos a vencer e exige da enfermeira uma série de mudanças de comportamento. Enumeramos, a seguir, alguns pontos que ajudarão a enfermeira a aceitar e participar da implantação efetiva da integração da família na assistência à criança hospitalizada. 1. Aprender a trabalha r na presença dos pais e junto com eles. Permitir que a mãe preste a seu filho todos os cuidados que ela desejar. Ensinar a ela as tarefas que desconheça e dar-lhe oportunidades de trei-namento. A enfermeira precisa lembrar que não existe somente uma forma de fazer as coisas. A maneira que a mãe executa um determinado cuidado pode ser tão boa como a que é determinada pela "rotina" do hospital. 2. Aprender a reconhecer as reações da mãe e dar-lhe a assistên-cia no momento que mais precisa. Aceitar as emoções da mãe, quer se-jam elas positivas ou negativas. 3. Aproveitar as oportunidades para dar educação para a saúde. Fazer uma avaliação da aptidão da mãe para aprender. Se a informação não tiver significado para ela, será incapaz de ouvir e reter o que está sendo dito. Adaptar a orientação à capacidade individual da mãe. Usar um vocabulário que possa ser entendido por ela. 4. Chamar a atenção para o comportamento da criança e ajudar a mãe a interpretá-lo. Ajudar a mãe a reconhecer e a atender as verda-deiras necessidades da criança. 5. Preparar os pais para a integração, mostrando-lhes o valor de sua participação ativa para o bem-estar da criança. Poderíamos levantar outros pontos, mas todos nos levariam à conclusão de que a enfermeira precisa se preparar para aceitar e lutar por essa filosofia de assistência à criança hospitalizada. Em outros paí-ses há uma participação efetiva da famíiia junto de seus filhos hospitali-zados. Em nosso meio, as experiências são ainda poucas e, em alguns ca-sos, restritas a pequeno grupo de privilegiados de maior poder econômi-co. SUMMARY: T he work present the increasing need of family, principal! i from the mother, participation on care of hospitali zed child and suggest some points that woulú help nurses to adopt this phylosophy. Revista Gaúcha de Enfermagem Porto Alegre, 4 (2) : 165-168, jul. 1983 167 BIBLIOGRAFIA 1. FOX, J.G. The emotional needs of the chi ld. Nursing Mirrar, Sus-sex,143(1):46-7,July,1976. 2. KUNZMAN, L. Some factors influencing child mastery of hospitali-zation. Nursing Clinics o f Noth America. Philadelphia, 7( 1): 13-23, Mar. 1972. 3. LANGFORD, W.S. Psycologic aspects of pediatrics. Journal of Pe-diatrics, St . Louis, 33(2) :242-50, Aug. 1948. 4. __ . The child in the pediatric hospital: adaptation to illness and hospitalization. American Journal of Orthopsychiatric, New York, 31 (4) :667-84, Oct. 1961 . 5. MUSSEN, P.H. et ali i. Fatores sociais no desenvolvimento. In:_ Desenvolvimento e personalidade da criança. 4.ed. São Paulo, Harper bt Row do Brasil, 1977. cap.5. 6. ROBERTSON, J. Some responses of young children to loss of ma-ternal care. Nursing Times, London,49(16):382-6, Apr., 1953. 7. ROMBACH, E.J.M.W. A integração da família na assistência à crian-ça hospitalizada. s.n.t. (mimeogr.). 168 Endereço do Autor: Josefa Dias Lima Author's Adress: Rua Santa Rita Durão, 885 30.000 - Belo Horizonte - MG Revista Gaúcha de Enfermagem Porto Alegre, 4(2): 165-168, j ul. 1983 

A integração da família na assistência à criança hospitalizada

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