Antes, Rose Beatriz

Bender, Renar João

Santos, Rinaldo Pires dos

Scherrer Montero, Cândida Raquel

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Em Questao

O Tratamento Térmico Afeta a Camada de Ceras Epicuticulares em Maçã (Malus domestica Borkh.)

Archives of the Faculty of Veterinary Medicine UFRGS

NOTA CIENTÍFICA Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 93-95, jul. 2007 Introdução  A maçã (Malus domestica Borkh.) é o fruto de clima temperado de maior importância comercial no Brasil. As medidas que reduzem as perdas por podridões após a colheita são importantes por aumentarem o período de oferta de maçãs ao longo no mercado. A redução de perdas por podridões é obtida com o manejo correto da fruta, medidas profiláticas e controle químico. A expansão da comercialização e do consumo de produtos orgânicos, livres de resíduos de produtos químicos, é uma tendência cada vez maior na atualidade, fruto da preocupação do consumidor em ingerir alimentos saudáveis e seguros. Neste contexto, os métodos físicos de controle das podridões de pós-colheita vêm ganhando maior importância, entre estes está o uso do calor. O calor pode ser aplicado de várias formas: imersão ou aspersão de água quente, vapor quente, ar seco quente, radiação infravermelha e radiação microondas [1], e radiação ultravioleta [2].  Muitos autores já estudaram o efeito do calor na conservação pós-colheita de maçãs, mostrando efeitos benéficos em termos de inibição do processo de amadurecimento e controle de podridão [3,4] e como o calor afeta a camada mais externa de ceras dos frutos. Este trabalho teve por objetivo mostrar o efeito do tratamento térmico na camada de ceras epicuticulares em Malus domestica Borkh.  Material e métodos A. Material Experimental Foram utilizadas maçãs (Malus domestica Borkh.) das cultivares ´Gala´ e ´Fuji´, provenientes da empresa produtora de maçãs Mercochem, do município de Caxias do Sul. Os frutos foram selecionados pela ausência de defeitos e homogeneidade de tamanho e ponto de maturação. B. Tratamento com calor  O experimento consistiu de cinco tratamentos, com três repetições de três frutos cada: T1=testemunha; T2=imersão em água quente a 58ºC, por 30s; T3=imersão em água quente a 58ºC, por 1min; T4= imersão em água quente a 58ºC, por 2min; T5=aspersão em água quente a 58º C, por 30s. Foram retiradas amostras para visualização em microscopia eletrônica de varredura no momento da instalação do experimento, e uma, duas, e três semanas e dois meses após a instalação. Os frutos foram mantidos em ar refrigerado a uma temperatura de 0º C, durante o período de avaliação. C. Preparação da amostra e visualização Segmentos de cinco mm2 da epiderme dos frutos foram retirados e aderidos com fita dupla face em uma lâmina histológica de vidro, de modo a permanecerem estendidos durante o processo de secagem. Em seguida, as lâminas foram colocadas em uma placa de Petri contendo sílica gel para secagem. As placas foram mantidas em um dessecador contendo sílica, durante um período mínimo de uma semana. Posteriormente, um segmento de 1 mm2 foi retirado com auxílio de bisturi e microscópio estereoscópico. A seguir, as amostras foram coladas em suportes (stubs) de alumínio, com o uso de cola prata, recobertas com uma camada de 15 nm de ouro, em metalizador Balzer e visualizadas em microscópio eletrônico de varredura JEOL JSM-6060 , sob 10kV.  Resultados A.Efeitos do calor O calor aplicado tanto por imersão como aspersão proporcionou dois efeitos distintos, visualizados sob o microscópio eletrônico de varredura: recobrimento parcial ou total das fissuras naturais das camadas epicuticulares dos frutos e derretimento parcial ou total dos cristalóides, com alteração de formato dos mesmos. B. Rachaduras na cutícula  As rachaduras naturais encontradas na cutícula dos frutos foram alteradas com uso do calor, variando conforme o tratamento aplicado. Quando se usou imersão, o padrão de derretimento e a cobertura das rachaduras foram mais homogêneos na camada cerosa (Figs. 1B e 1D). Já quando foi utilizada a aspersão, o efeito foi menos homogêneo e o recobrimento das rachaduras foi parcial, parecendo mais esparso e salpicado (Fig.1 – E e J).  O Tratamento Térmico Afeta a Camada de Ceras Epicuticulares em Maçã (Malus domestica Borkh.)  Cândida Raquel Scherrer Montero1, Rose Beatriz Antes2, Rinaldo Pires dos Santos3 e Renar João Bender4 ____________________________ 1. Eng. Agr., Mestranda do Departamento de Horticultura e Silvicultura, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 7712, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970. E-mail: candidaraquel@gmail.com 2. Eng. Agr., Mestranda do Departamento de Horticultura e Silvicultura, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 7712, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970. E-mail: rose_antes@yahoo.com.br  3. Professor Adjunto do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 9500, prédio 43423, sala 208 , Porto Alegre, RS, CEP 91501-970.  4. Professor Adjunto do Departamento de Horticultura e Silvicultura, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 7712, Porto Alegre, RS, CEP 91501-970.  Apoio financeiro: CAPES e CNPq. 94 Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 93-95, jul. 2007 C. Cristalóides O efeito do calor sobre os cristalóides epicuticulares foi bastante evidente na cv. Fuji, mais do que na ´Gala´, principalmente pela abundância destes cristalóides nesta cultivar. O derretimento parcial e alteração de formato dos cristalóides na variedade ´Fuji´ pode ser visualizado na Fig.1B.  Discussão  A transpiração, processo fisiológico que continua ocorrendo após a colheita dos frutos, envolve o movimento da água através dos espaços intercelulares e da cutícula. A cutícula e as ceras epicuticulares são uma barreira entre os organismos vegetais e o meio ambiente. Esta camada atua protegendo contra a perda excessiva de água. A presença de micro-fissuras na camada de ceras epicuticulares já foi demonstrada em outros estudos, e esta pode influenciar a permeabilidade ao vapor de água nos frutos. Muitos autores já estudaram esta camada. Faust & Shear [5] constataram o aparecimento de rachaduras em maçãs de diferentes cultivares e mencionam que estas poderiam ser devido a uma falha das ceras em manter a mesma velocidade de crescimento do tecido interno, ou ainda, que as rachaduras ocorrem como resultado da expansão do fruto durante o desenvolvimento e amadurecimento [6]. Miguire et al. [7] estudaram as micro-fissuras em maçãs cv. Braeburn e a sua relação com a permeabilidade ao vapor de água, e concluíram que a permeabilidade das rachaduras era aproximadamente 15 vezes maior que a da cutícula intacta, e que mudanças na proporção de rachaduras poderiam criar um grande efeito na permeabilidade ao vapor de água do fruto como um todo. Futuros estudos em termos de perda de massa fresca para frutos tratados com calor (e/ou o uso de ceras comerciais no recobrimento de rachaduras) podem determinar se o recobrimento parcial ou total das fissuras visualizados neste experimento de fato atuam no sentido de redução da desidratação. O tratamento térmico é utilizado para reduzir podridões de pós-colheita. Alguns autores mencionam que um dos efeitos do calor seria o efeito físico de oclusão das fraturas e microferimentos pelo derretimento das ceras existentes na camada epicuticular, desta forma protegendo o fruto da entrada de patógenos [8]. O calor utilizado neste experimento de fato alterou a camada de ceras epicuticulares dos frutos, sendo que estas se apresentaram derretidas e recobrindo total ou parcialmente as rachaduras naturalmente existentes nestes frutos.             No entanto, o tipo de tratamento térmico tem efeitos diferentes nesta camada, derretendo parcialmente as estruturas que as formam e aumentando ou diminuindo o efeito do recobrimento de fissuras.  A eficácia deste recobrimento em termos de proteção do fruto é algo que deve ser determinado para cada cultivar e/ou espécie frutífera. A oclusão de fraturas pelo derretimento das ceras epicuticulares em função do calor que se observa neste trabalho mostra que este é um dos prováveis efeitos do calor sobre os frutos e pode estar atuando como uma barreira física para evitar a entrada de patógenos nas maçãs. Cabe salientar que o calor tem outros efeitos não discutidos neste trabalho e que atuam em conjunto com o efeito físico mencionado na possível proteção do fruto contra patógenos em pós-colheita.  Agradecimentos  Agradecemos ao CNPq, pelo apoio financeiro, à empresa Mercochem, pelo fornecimento dos frutos para o experimento e ao Centro de Microscopia Eletrônica da UFRGS (CME) pelo uso dos equipamentos.   Referências  [1] COUEY, H.M. 1989. Heat treatment for control of post harvest diseases and insect pests of fruits. HortScience, 24: 198-202. [2] D´HALLENWIN, G. ; ARRAS, G.; CASTIA, T. & PIGA, A. 1994. Reducing decay of Avana mandarin fruit by use of UV, heat and thiabendazole treatments. Acta Horticulturae, 368: 387-394. [3] FALLIK, E.; GRINBERG, S.; GAMBOUG, M.; KLEIN, J. D. & LURIE, S. 1995. Prestorage heat treatment reduces pathogenicity of Penicillium expansum in apple fruit. Plant Pathology, 45: .92-97. [4] LURIE, S. 1998. Postharvest heat treatments of horticultural crops: commodity responses. Postharvest Biology and Technology, 14: 257-269. [5] FAUST, M.; SHEAR, C.B. 1972. Fine structure of the fruit surface of three apple cultivars. Journal of American Society of Horticultural Science, 110: 166-171. [6] ROY, S.; CONWAY, W.S.; WATADA, A. E.; SAMS, C.E.; ERBE, E.F.; & WERGIN, W. P. 1994. Heat treatment affects epicuticular wax structure and postharvest calcium uptake in 'Golden Delicious' apples. HortScience,  29: 1056-1058.  [7] MIGUIRE, K. M.; LANG, A.; BANKS, N. H.; HALL, A.; HOPCROFT, D. & BENNETT, R. 1999. Relationship between water vapor permeance of apples and micro-cracking of the cuticle. Postharvest Biology and Technology, 17:89-96. [8] SCHIRRA, M.; D´HALLENWIN, G.; BEM-YEHOSHUA, S. & FALLIK, E.  2000. Host-pathogen interactions modulated by heat treatment. Postharvest Biology and Technology,  v.21: 71-85 95 Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 93-95, jul. 2007 Figura 1. Eletromicrografias de varredura das ceras epicuticulares de Malus domestica cv. Fuji (coluna da esquerda) e cv. Gala (coluna da direita): testemunhas (A e F); tratamento térmico por imersão 30 s (B e G); tratamento térmico por imersão 1min (C e H); tratamento térmico por imersão 2 min (D e I); tratamento térmico por aspersão (E e J). Fissuras na camada de ceras dos frutos testemunha (A), fungos na camada cerosa do fruto testemunha (F), fissuras com recobrimento parcial e total de ceras após tratamento térmico (B, D e E), estrutura alterada dos cristalóides de ceras por efeito do calor, formação de placas provável efeito do calor no derretimento da na superfície cerosa da cv. Gala (G,H,I), efeito distinto do calor aplicado por aspersão mostrando outro padrão de alteração na camada de ceras epicuticulares ( J).  

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